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Economia

DANIEL LIMA - 06/06/2025

O prefeito Marcelo Lima e o secretário Rafael Demarchi vão precisar rezar para todos os santos e mesmo assim se desconfia que não há escapatória: a garantia de que São Bernardo teria saldo de 100 mil empregos ao final de quatro anos de mandato está ficando cada vez mais improvável, se é possível dizer algo como improvável quando beira à impossibilidade. O melhor mesmo é que o anúncio se configura cada vez mais como marketing vexatório. A imagem de uma gestor público não pode ser sabotada pelo próprio gestor público.

O balanço dos quatro primeiros meses do primeiro ano do prefeito de São Bernardo seria positivo em situação de normalidade administrativa, mas é sofrível em relação à promessa alardeada. Tanto que está longe de encaminhar uma resposta sustentável. Esse negócio de projetar resultados sob influência populista geralmente não acaba bem. São inúmeros os exemplos na atividade pública. São Bernardo aparece de vez em quando no ranking de esquisitices. Houve quem tenha garantido um aeroporto internacional nas proximidades da Billings. A noticia foi publicada, como tantas notícias são publicadas, sem causar estranheza.

Quando uma sociedade está no fundo do poço, perde-se o senso crítico. Ainda mais agora, nestes tempos de mídia tradicional e redes sociais fanatizadas. A tecnologia chegou antes da cidadania. E a balburdia tomou conta.  

HERANÇA MALDITA

Marcelo Lima e Rafael Demarchi vão carregar essa herança maldita, exceto, como já escrevi, se houver reviravolta inimaginável no cenário econômico de São Bernardo. Quem estiver disposto a perder numa aposta que respalde as declarações do secretário está convidado a mandar uma mensagem a este jornalista.

Aceito qualquer tipo de desafio. Inclusive sair pelado em plena Marechal Deodoro em horário de pico comercial. Garanto que os fundilhos que vão fazer a festa da plateia não serão outros fundidos senão dos apoiadores da gestão de Marcelo Lima.

Com o saldo positivo de abril de 1.610 contratações, São Bernardo soma nesta temporada 3.780 vagas preenchidas. Isso significa média mensal de novos 945 postos de trabalho com carteira assinada. Quanto isso significa? É disso que trataremos em seguida.

MAIS 44 MESES

O saldo positivo desta temporada de 3.780 novos trabalhadores com carteira assinada reduz a conta dos 100 mil prometidos para 96.220. Como faltam 44 meses até o encerramento do primeiro mandato de Marcelo Lima, serão necessários, em média, 2.186 trabalhadores de saldo mensal. Quando iniciou o mandato, a média mensal necessária com base nos 100 mil era de 2.083 contratações. Vê-se, portanto, a dilatação do buraco de improbabilidade.

Considerando-se que tanto o prefeito quanto o secretário de Desenvolvimento Econômico anunciam aos quatro cantos que dois centros de distribuição (um na Anchieta e outro no Bairro Cooperativa) garantirão 30 mil empregos formais, a tarefa não parece tão difícil assim. Quem acredita nisso?

Espere o leitor que há mais dados a mencionar e a analisar. Anotem o que estou escrevendo e me cobrem quando quiserem. A tendência é de que o marcha da contagem do empregômetro em São Bernardo perca o ritmo nos próximos tempos. Ou seja: a média mensal  de contratações vai recuar.

QUADRO MACROECONOMICO

Não há como sustentar o crescimento econômico do País com gastança fiscal encabrestada por juros estratosféricos. Já não é possível mais culpar o sistema financeiro. O próprio governo caiu na armadilha de demonizar o Banco Central e agora, com o comando daquela instituição, vê o custo do financiamento da dívida pública elevar-se. Os banqueiros só festejam dinheiro público porque o Estado gasta demais. Essa é a ordem natural das coisas.

Como o garrote tributário já ultrapassou todos os limites, resta mesmo como saída uma incisiva dieta orçamentária. Quem garante que o Congresso Nacional, tomador de mais de R$ 50 bilhões do Estado em emendas parlamentares, vai abrir mão dessa caixa de Pandora que financia muitas campanhas eleitorais num jogo mais que manjado?

De volta a São Bernardo, o ritmo de empregos vai sofrer quebra e deverá aumentar o buraco mensal projetado para que o secretário Rafael Demarchi seja efetivamente nocauteado, se já não está. E o prefeito vai pagar o pato porque colocou para comandar a maior cidade da região no campo econômico um jovem sem atributos para tanto. Um moço colecionador de barbaridades.

OUTROS QUADRO ANOS  

Nada melhor para dar sustentação à improbabilidade dos 100 mil empregos em quatro anos do que tomar o pulso do mercado de trabalho de São Bernardo nos últimos quatro anos.

O leitor vai entender perfeitamente o tamanho do descompasso entre o passado do último mandato do prefeito Orlando Morando e o presente-futuro dos quatro anos do prefeito Marcelo Lima. E não há nessa comparação nada de juízo de valor sobre um e outro. A macroeconomia dita o ritmo preponderante do emprego em  São Bernardo e nos municípios em geral. As grandes transformações municipais ocorrem com diagnóstico, planejamento e iniciativas concretas que se refletem ao longo do tempo. São Bernardo é um caso à parte depois do desastre de Dilma Rousseff. O PIB desabou mais que em qualquer outro endereço nacional.

Entre 2021 e 2014, São Bernardo contabilizou saldo positivo de 41.153 empregos, o que significa média mensal de 857 carteiras assinadas. Não esqueça esse número e compare com a média mensal necessária nos 44 meses que restam para a jornada de primeiro mandato de Marcelo Lima se encerrar. Serão necessários 2.186 novos trabalhadores a cada 30 dias. Quase três vezes mais que a média dos últimos quatro anos.

A perspectiva é desoladora não só por conta do que expliquei logo acima, ou seja, a necessidade de contenção da escalada do emprego por causa do governo federal gastão. O passado dos quatro anos anteriores, de 2021 a 2024, é outro tiro no pé de perspectivas em contrário, ou seja, de São Bernardo extraordinariamente pujante em empregos formais.

Acontece que nos quatro anos que representam média de contratações mensal de 857 trabalhadores em São Bernardo, o comportamento da economia nacional foi positivo por causa da plataforma de embarque debilitadíssima.

BASE FRAGILIZADA

Não se pode esquecer que em 2021, base do crescimento do emprego na região, e particularmente em São Bernardo, iniciou-se o processo de recuperação econômica debilitadíssimo por conta da Covid-19.

O governo federal injetou muito dinheiro para evitar uma catástrofe maior. Mais que isso: a economia como um todo ganhou combustível movido a aumento da dívida pública. O espaço para nova empreitada de gastança não existe mais. Está encalacrado pelo ritmo inflacionário.

Durante os quatro anos imediatamente após a chegada destruidora da Covid-19, em 2020, o Grande ABC como um todo gerou saldo positivo de 111.053 trabalhadores, com média mensal de 2.313 contratações.

Observem que há uma coincidência desse total quanto colocado em confronto com a promessa do secretário Rafael Demarchi para os quatro anos do prefeito Marcelo Lima. A diferença, além da macroeconomia, do ambiente político e de tantas outras questões que fogem do controle municipal e regional, é que esse montante, ou seja, os 111.053 trabalhadores de saldo em quatro anos, envolve os sete municípios. São Bernardo, como expus acima, ficou com 41.153 trabalhadores desse naco de contratação, ou 37%. O saldo é semelhante à participação de São Bernardo no PIB (Produto Interno Bruto) do Grande ABC.



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