Apenas São Caetano e São Bernardo se salvam individualmente. No conjunto da obra dos sete municípios, está claro que o Grande ABC partido e repartido territorialmente no século passado é um fracasso no Campeonato Brasileiro de Qualidade de Vida, como pode ser chamado o IPS – Índice de Progresso Social, medidor com referenciais internacionais que envolve 57 quesitos em três dimensões socioambientais.
O resultado que separa São Caetano de São Bernardo, únicos endereços que não passam vergonha na competição, pode conduzir a uma conclusão muito pouco provável de ser contestada: considerando as fundas diferenças de crescimento demográfico ao longo dos tempos, São Bernardo foi mais bem administrada do que São Caetano. Nos últimos 30 anos, por exemplo, São Bernardo aumentou a população em 228.631 habitantes, enquanto São Caetano somou novos 27.350 moradores. São Bernardo tem população de 841.066 habitantes, enquanto São Caetano conta com 172.897.
Santo André, mais semelhante a São Bernardo no campo demográfico, é um fracasso que vem de longe porque está em posição nacional muito aquém do que se poderia imaginar como ex-Capital Econômica do Grande ABC.
DUPLO VEXAME
Santo André passa por duplo vexame histórico porque perde também na contagem final para Diadema. Perder para Diadema é uma confissão formal de incompetência da atuação média dos prefeitos que passaram por Santo André.
Diadema é uma experiência relativamente bem-sucedida no campo social de partidos de esquerda que praticamente concentraram o poder nos últimos 40 anos. Mas é um endereço ocupado às pressas por caudalosas levas de migrantes de vários Estados brasileiros, principalmente do Norte e do Nordeste.
A diferença municipal na pontuação final que envolve três dimensões do Brasileiro de Qualidade de Vida coloca São Caetano apenas um pouco acima de São Bernardo. A média geral de São Caetano é de 68,38, como 46ª colocada entre 5.570 municípios brasileiros. São Bernardo ocupa a posição 49 com média geral de 68,34.
Insisto na definição de que São Bernardo contou com média geral de administradores públicos mais qualificados. Não só por questão demográfica como também orçamentária. O PIB per capita de São Caetano em 2021 (último dado do IBGE) no valor de R$ 91.107,41 é o 239º no País, enquanto o PIB per capita de São Bernardo, de R$ 69.842,36, ocupa a posição 438.
COMO DECIFRAR
Para entender o Campeonato Brasileiro de Qualidade de Vida (IPS – Índice de Progreso Social) provavelmente a melhor formula é considerar as três dimensões em que está dividido em algo como uma competição de três turnos. Ao final das três etapas, a classificação é consequência das melhores colocações em cada turno, no caso, as dimensões.
Na Dimensão de Necessidades Humanas Básicas, os melhores resultados, quando se somam as colocações de 17 indicadores divididos em quatro modalidades, é São Caetano com 4.047 pontos. E o pior é Rio Grande da Serra com 11.346. Nessa modalidade. São Bernardo soma 6.127 pontos, Santo André 8.416, Diadema 6.738. Mauá 8.941 e Ribeirão Pires 9.313. Quanto mais pontos um Município apresenta, menos qualificado está no ranking nacional.
Na Dimensão de Fundamentos do Bem-Estar, São Caetano ocupa a melhor posição com 883 pontos na soma de todos os indicadores. Santo André soma 1.367, São Bernardo 1.774, Diadema 2.608, Mauá 1.399, Ribeirão Pires 977 e Rio Grande da Serra, 4.607 pontos.
Na Dimensão de Oportunidades, a liderança regional é de São Bernardo com 5.912 pontos negativos. Os demais: Santo André, 8.757, São Caetano 8.703, Diadema 7.425, Mauá 11.009, Ribeirão Pires 10.446 e Rio Grande da Serra 11.726 pontos.
SITUAÇÕES DIFERENTES
Como se observa, a Divisão de Necessidades Humanas Básicas apresenta péssimos resultados no Grande ABC. O total de 54.928 pontos negativos (ou acumulado de posições nas respectivas dimensões) é um retrato grave do quadro regional, mas não é o pior. A Dimensão de Oportunidades é a mais complexa e carente de transformação, contando com 63.978 posições acumuladas dos sete municípios. A Dimensão de Fundamentos do Bem-Estar, com 13.615 pontos (colocações acumuladas) é a que apresenta os melhores resultados do Grande ABC.
Para se ter ideia que ajuda a organizar a bateria de lamentações do separatismo territorial do Grande ABC em meados do século passado, a problemática Capital, com quatro vezes mais habitantes e um território que é o dobro da região, ocupa a 25ª colocação no Campeonato Brasileiro de Qualidade de Vida. Com PIB per capita (70.196,86) inferior ao de São Caetano, e apenas um pouco acima de São Bernardo, a cidade de São Paulo soma 15.669 pontos (as colocações) na contabilidade das três dimensões. São 6.278 em Necessidades Humanas Básicas, 3.586 em Fundamentos do Bem-Estar e 5.805 em Oportunidades. O Grande ABC, não custa repetir, soma 54.928 em Necessidades Humanas Básicas, 13.615 em Fundamentos do Bem-Estar e 63.978 em Oportunidades.
Dividindo o total geral (132.521 pontos) por sete municípios, como se fosse apenas um, o total de pontos seria de 18.931 -- acima dos 15.669 da Capital, ou 17% acima. Individualmente, Santo André contabiliza 18.540 pontos negativos, São Bernardo 13.813, São Caetano 13.633, Diadema 16.771, Mauá 21.349, Ribeirão Pires 20.18.540 e Rio Grande da Serra 27.679.
COMPLEXIDADE DA CAPITAL
A complexidade de gestão da Capital mais populosa do País seria muito mais dramática se houvesse passado pela fragmentação territorial do Grande ABC. A tendência de perda de qualidade de vida aumenta conforme fatores demográficos mais acentuados. As melhores posições na classificação geral são predominantemente de municípios de porte pequeno e médio sem conurbações típicas de metrópoles.
A campeã Gavião Peixoto, de 4.797 moradores no Interior de São Paulo, totaliza apenas 6.855 pontos (posições) negativos. Mesmo grandes cidades do Interior do Estado têm melhor qualidade de vida que o Grande ABC e a Região Metropolitana de São Paulo. Campinas, por exemplo, de 1.185.977 habitantes, ocupa a posição 31 no ranking nacional. Jundiaí, também no Interior, próxima de Campinas, com 460.313 habitantes, é a terceira colocada nacional. Já Guarulhos, com população um pouco superior a Campinas, com 1.345.364 habitantes, não brilha tanto porque está inserida na Região Metropolitana de São Paulo e por isso ocupa a posição 132 no ranking nacional.
PRIMEIRA DIMENSÃO
A Dimensão de Necessidades Humanas Básicas conta com quatro divisões. Em Nutrição e Cuidados Básicos estão Cobertura Vacinal (Poliomielite), Hospitalização por Condições Sensíveis à Atenção Primária, Mortalidade Ajustada por Condições Sensíveis à Atenção Primária, Mortalidade Infantil até cinco anos e Subnutrição. São Bernardo tem a melhor média com 79,99, resultado que garantiu a posição 832 no País.
Na divisão de Água e Saneamento constam os indicadores de Abastecimento de Água em Rede de Distribuição, Esgotamento Sanitário Adequado, Índice de Abastecimento de Água e Índice de Perda de Água na Distribuição. A melhor média entre os sete municípios da região é de São Caetano com 97,12 -- resultado que coloca o Município na 11ª posição nacional.
Na divisão de Moradia, constam quatro indicadores: Domicílios com Coleta de Resíduos Adequada, Domicílio com Iluminação Elétrica Adequada, Domicílio com Paredes Adequadas e Domicílios com Piso Adequado. O melhor resultado da região é de São Caetano, com média de 88,04, o que garantiu a posição 352 no Brasil.
Completando a Dimensão de Necessidades Humanas Básicas, o indicador de Segurança Pessoal é liderado na região por Rio Grande da Serra, com média de 76,84, o que garantiu a posição 1.094 no ranking nacional. O indicador é composto por Assassinatos de Jovens, Assassinatos de Mulheres, Homicídios e Mortes por Acidente de Transporte.
SEGUNDA DIMENSÃO
Na Divisão de Fundamentos de Bem-Estar, a melhor posição regional é de São Caetano, com média geral de 73,30 pontos, situação que coloca o Município na posição 32 no ranking nacional. Essa Divisão conta com quatro macroindicadores: Acesso ao Conhecimento Básico, Acesso à Informação e Comunicação, Saúde e Bem-Estar e Qualidade do Meio-Ambiente.
Em Acesso ao Conhecimento Básico, São Caetano apresenta o melhor resultado regional com média de 84,26 pontos. Os indicadores são: Abandono no Ensino Fundamental, Abandono no Ensino Médio, Evasão no Ensino Médio, Distorção Idade-Série no Ensino Médio, Ideb no Ensino Fundamental e Reprovação Escolar no Ensino Médio.
Em Acesso à Informação e Comunicação, a liderança regional também é de São Caetano com 75,44 pontos, posição 206 no ranking nacional. Os indicadores desse macroindicador são Cobertura de Internet Móvel (4G/5G), Densidade de Internet Banda Larga Fixa, Densidade de Telefonia Móvel e Qualidade da Internet Móvel.
O terceiro indicador da Dimensão de Fundamentos do Bem-Estar é Saúde e Bem-Estar, com os quesitos Consumo de Alimentos Ultraprocessados, Expectativa de Vida, Mortalidade entre 15 e 50 Anos, Mortalidade por Doenças Crônicas Não Transmissíveis, Obesidade e Suicídio. A liderança regional é de Mauá com 69,42 pontos em média, ou a posição 78 no Brasil.
Completando a Dimensão, o macroindicador Qualidade do Meio Ambiente envolve cinco indicadores: Área Verdes Urbanas, Emissões de CO2 por Habitante, Focos de Calor, Índice de Vulnerabilidade Climática dos Municípios (IVCM) e Supressão da Vegetação Primária e Secundária. A melhor posição regional é de Diadema, com média de 68,68 pontos e a posição 63 no Brasil.
TERCEIRA DIMENSÃO
Por fim, na Dimensão Oportunidades, o melhor resultado regional foi registrado por São Bernardo, com a média geral de 51,13 e a posição 221 no ranking nacional. Essa divisão conta com quatro macroindicadores: Direitos Individuais, Liberdades Individuais e de Escolha, Inclusão Social e Acesso à Educação Superior.
O indicador Direitos Individuais é liderado na região por São Bernado com 47,87 pontos, resultado que garante a posição 130 no ranking nacional. Fazem parte desse macroindicador as seguintes especialidades: Acesso a Programas de Direitos Humanos, Existência de Ações para Direitos de Minoria, Índice de Atendimento à Demanda da Justiça, Resposta a Processos Previdenciários, Resposta a Processos Familiares e Taxa de Congestionamento Líquido de Processos.
O indicador de Liberdades Individuais e de Escolha é liderado na região por São Bernardo com média de 62,77 pontos, colocando-se na posição 188 no ranking nacional. Fazem parte desse indicador: Acesso à Cultura, Lazer e Esporte, Gravidez na Adolescência (menores de 19 anos), Índice de Vulnerabilidade da Famílias do Cadastro Único (IVCAD) e Praças e Parques em Áreas Urbanas.
O indicador de Inclusão Social é liderado na região por Ribeirão Pires com 43,76 pontos, o que representa a posição 4.960 no ranking nacional. Os itens incluídos no indicador: Famílias em Situação de Rua, Paridade de Gênero na Câmara Municipal, Violência contra Indígena, Violência contra Mulheres e Violência contra Negros.
Completando a Dimensão de Oportunidades, o macroindicador Acesso à Educação Superior é liderado na região por São Caetano com 74,35 pontos, ou a posição 17 no ranking nacional. Compõem o indicador: Empregados com Ensino Superior, Mulheres Empresas com Ensino Superior e Nota Mediana do Enem.
CONSTRUÇÃO DO ÍNDICE
O índice varia de 0 (pior) a 100 (melhor) e corresponde à média simples dos resultados do IPS das três dimensões. A nota de cada dimensão, por sua vez, é a média simples dos resultados de cada componente. E, por fim, os resultados dos componentes são gerados a partir de pesos obtidos entre os indicadores.
Desenvolvido em parceria entre o Imazon, Fundação Avina, iniciativa Amazônia 2030, Anattá, Centro de Empreendedorismo da Amazônia e Social Progress Imperative, o IPS Brasil é baseado exclusivamente em dados públicos e atualizado anualmente. A ferramenta permite acompanhar tendências e medir a efetividade de políticas públicas em tempo real.
A construção do IPS Brasil 2025 seguiu metodologia rigorosa baseada no padrão internacional do índice. A escolha dos 57 indicadores usados no cálculo obedece a critérios como relevância social ou ambiental, foco em resultados, uso de dados públicos e confiáveis, atualizados e disponíveis para, pelo menos, 95% dos municípios do país.
Cada dado passa por modelagem estatística detalhada, que inclui normalização, verificação de qualidade, definição de valores de referência e aplicação de pesos definidos por Análise de Componentes Principais (ACP).