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Economia

DANIEL LIMA - 29/05/2025

Generoso e preocupado, vou prestar uma gentileza ao prefeito Marcelo Lima e ao secretário de Desenvolvimento Econômico (minha nossa senhora!) Rafael Demarchi. Apresento aos leitores a marcha da contagem do emprego industrial com carteira assinada em São Bernardo no período de 1985 a 2019.

Tenho resultados até 2024, mas nesse período complementar,  pós-2019,  os dados não estão desagregados por setor. Por isso, me prendo ao que está discriminado nas diversas atividades industriais.

Faço essa gentileza ao prefeito da Capital Econômica do Grande ABC, principalmente, porque tenho certeza de que ele não dispõe dos dados e muito menos de conhecimento minimamente teórico. Como conto com uma coisa e outra coisa e não sou egoísta, compartilho o material  porque arquivei uma pesquisa feita por dois acadêmicos da Universidade Municipal de São Caetano (USCS), Jefferson José da Conceição e Gisele Yamauchi.

DESINDUSTRIALIZAÇÃO

Pena que o brilhante trabalho de pesquisa não tenha similaridade interpretativa. Afinal, minimizou, quando não negou, a desindustrialização do Grande ABC. Ou seja: os dois acadêmicos fizeram um inventário utilíssimo, mas registraram a façanha negacionista de que o processo de esvaziamento industrial da região era sistêmico, profundo, destruidor, interrompido circunstancialmente por alguns soluços de recuperação que se esgotava em seguida. 

Já que estou metendo mais uma vez a mão na massa para tratar desse assunto, agora com foco no emprego formal de São Bernardo, aproveito essa nova incursão de responsabilidade social para sugerir a jornalistas da região que leiam com atenção.

Dessa forma, não vão publicar imprecisões especialmente durante campanhas eleitorais nas quais favorecem incompetentes ou maldosos que trocam as bolas e atribuem a terceiros a dança de carteiras de trabalho.

MENTIRAS ESTIMULADAS

Como já escrevi muitas vezes, fake news são uma serpente de tonalidades mutáveis cujos responsáveis, quando na mídia tradicional, pretendem dar roupagem de verdade e  conferem às redes sociais o monopólio da desinformação.

Os ministros do Supremo, analfabetos em jornalismo, podem cair nessa conversa mole para boi dormir, mas quem é do ramo não resiste a questionar profanações éticas.

O prefeito Marcelo Lima e o secretário Rafael Demarchi, incensados por esse tipo de jornalismo, têm diariamente a oportunidade de se defrontarem com outra matriz de informação. Eles devem detestar. Como fazem parte do ilusionismo da imprecisão, quando não da parcialidade, provavelmente querem tudo menos ver o autor desse contraditório. Faz parte do enredo. Estou cantando e dançando de preocupação.

QUEDA DE 52,3%

Vamos então aos dados desses 35 anos de emprego formal em São Bernardo, ou seja, entre 1985 e 2019. São Bernardo viu derreterem nas fábricas nada menos que 52,3% do universo de trabalhadores, ou 71.016 carteiras de trabalho. Dividam esse total por 550 empregos deixados pela Toyota, que se escafedeu recentemente para a região de Sorocaba, e vão verificar que foram embora o equivalente a 129 fábricas iguaizinhas. Eram precisamente 135.666 empregos industriais de estoque de São Bernardo em 1985 e sobraram 64.650 em 2019. Nos últimos anos houve leve recuperação, mas, como disse, sem detalhamento setorial.

Vamos agora mostrar setorialmente o que ocorreu nesse período, sempre com dados dos dois professores que, insisto, negaram desindustrialização na região. Vejam, antes dos números, o que escreveram no trabalho de alto valor de pesquisa quantitativa: “A referida evolução do emprego e dos estabelecimentos reflete, sobretudo, a reestruturação produtiva e as transformações tecnológicas ocorridas no período, que resultaram na acentuada eliminação de postos de trabalho”.

Notaram que os dois acadêmicos evitam a todo custo qualquer coisa que lembre desindustrialização? E o estudo, de 2019, completava 19 temporadas seguidas após a primeira edição da revista de papel LivreMercado, criada por este jornalista, abordar a quebra industrial da região. Nada de chute. Já havia disponível muita informação sobre isso. Vamos agora, agora sim, aos números setoriais. 

SETOR METALÚRGICO

Em 1985,  o setor Metalúrgico de São Bernardo registrava 14.184 trabalhadores com carteira assinada. Já na ponta da pesquisa, em 2019, o total chegava a 5.216. Uma queda de 63,26%. Em 1995, primeiro ano do mandato de Fernando Henrique Cardoso, eram 9.625 trabalhadores contratados. Em 2002, quando FHC deixou o governo, eram 6.567.  Nos oito anos seguintes, com dois mandatos de Lula da Silva, o estoque chegou a 8.625 trabalhadores. Em 2016, auge da depressão de Dilma Rousseff, eram 6.273. No Grande ABC como um todo foram perdidos 51,39%v dos empregos no setor metalúrgico.

SETOR MECÂNICO

Em 1985, o setor Mecânico de São Bernardo registrava 11.399 empregos com carteira assinada. Já na ponta da pesquisa eram 8.071 empregos formais. Uma queda de 29,20%. Em 1995, primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso, eram 6.849 trabalhadores. Após os oito anos de Lula da Silva, em 2010, eram 7.592 trabalhadores. Em 2002, eram 5.763. No auge da recessão de Dilma Rousseff, o setor registrava 7.648 carteiras assinadas. E em 2019, três anos após recessão, eram 8.071. No Grande ABC a queda média no setor Mecânico registrou 30,08%.

MATERIAIS ELÉTRICOS

O setor de Materiais Elétricos e Comunicação de São Bernardo registrava em 1985 o total de 2.464 trabalhadores com carteira assinada. Na ponta do estudo, em 2019, eram 2.616. Uma variação positiva de apenas 6,1%. Em 1995, primeiro ano de Fernando Henrique Cardoso, eram 4.175 trabalhadores. Em 2002 eram 3.216 Após os oito anos de Lula da Silva, em 2010, eram 3.786 carteiras assinadas. Ao final dos dois últimos anos de Dilma Rousseff, em 2016, eram 2.610. O Grande ABC como um todo perdeu no setor de Materiais Elétricos e Comunicação 66,86% dos empregos industriais com carteira assinada. Eram 17.375 em 1985 e passaram para 5,7576 em 2019. Santo André liderou a queda.

MATERIAL DE TRANSPORTE

O setor de Material de Transporte de São Bernado em 1985 contava com o total de 79.361 trabalhadores com carteira assinada. Já na ponta do estudo, em 2019, eram 29.323. Uma queda de 63,05%. Em 1995, primeiro ano de dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, eram 54.154 trabalhadores no setor. Em 2002 eram 38.968Ao fim de dois mandatos de Lula da Silva, em 2010, eram 46.836 carteiras assinadas. Em 2016, após dois anos seguidos da maior recessão econômica da história do Grande ABC, o total de trabalhadores do setor caiu para 31.350. Nos três anos seguintes houve nova queda. No Grande ABC como um todo, a perda de empregos em indústrias de Materiais de Transporte registrou 64,11% -- eram 123.333 e passou a ser 44.260. Não é preciso dizer que a indústria automotiva está ai nua e crua.  

MADEIREIRA E MOBILIÁRIO

Em 1985, a Indústria Madeireira e Mobiliário de São Bernardo registrava 4.679 empregos formais. Na ponta do estudo, em 2019, passou para 2.855. Uma queda ponta a ponta de 38,98%. No primeiro ano de governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1995,  foram registradas 2.435 carteiras assinadas. Ao fim do governo FHC sobraram 1.881 trabalhadores. Ao encerrar oito anos de dois mandatos, o presidente Lula da Silva deixou estoque de 2.287 trabalhadores. Em 2016, último ano do governo desastroso de Dilma Rousseff, foram contabilizadas 1.774 carteiras assinadas. O Grande ABC como um todo perdeu 34,26% de empregos na Indústria Madeireira e Mobiliário. Eram 9.297 trabalhadores e sobraram 6.111.

PAPELÃO E GRÁFICA 

Em 1985, o setor de Papelão e Gráfica de São Bernardo registrava 3.784 trabalhadores com carteira assinada. Na ponta do estudo, em 2019, eram 3.617. Queda de 4,39%. Em 1995, primeiro ano de dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, eram 4.244 trabalhadores formais. Em 2002, último ano de FHC, eram 3.043. Lula deixou a presidência nos oito anos seguidos com estoque de 4.309 trabalhadores. Em 2016, Dilma Rousseff deixou 3.844 trabalhadores. No conjunto dos sete municípios, houve perda de apenas 1,58% de trabalhadores no setor de Papelão e Gráfica: eram 7.663 em 1985 ante 7.542 em 2019.

BORRACHA E COURO 

Em 1985, no setor de Borracha, Couro, Pele e Fumo, São Bernardo registrava 4.609 trabalhados com carteira assinada. Em 2019, ponta do estudo da USCS, eram 1.152. Uma queda de 75,00%. No primeiro ano de dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso eram 2.317 trabalhadores. Em 2002, último ano do segundo mandato, eram 1.680. Após oito anos de dois mandatos de Lula da Silva, o setor passou a contar com 2.611 carteiras assinadas. E após os dois últimos anos de dois mandatos incompletos de Dilma Rousseff, em 2016, o total caiu para 1.469. No conjunto dos sete municípios, a queda foi de 40,48% de empregos do setor da Borracha, Couro, Peles e Fumo: eram 22.661 em 1985 e sobraram 13.488 em 2019.

QUÍMICO, FARMACÊUTICO 

Em 1985, o setor Químico, Farmacêutico e Veterinário de São Bernardo contava com 15.186 trabalhadores com carteira assinada. Já no último ano do estudo, em 2019, sobraram 11.800. Uma queda de 22,30% no período. Em 1995, primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso, eram 15.191 carteiras assinadas. Em 2002, último ano de dois mandatos de FHC, eram 13.219. Lula da Silva, em oito anos de dois mandatos, deixou estoque de 14.097. Dilma Rousseff, após seis anos de dois mandatos incompletos, registrou estoque de 11.033.  No Grande ABC como um todo, a queda de empregos no setor Químico, Farmacêutico e Veterinário foi de 20,87%. Eram 42.716 trabalhadores e passou para 33.799.



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