Clique aqui para imprimir




Regionalidade

DANIEL LIMA - 07/01/2025

Em junho que está chegando nesse novo ano vão se completar 21 anos de uma proposta deste jornalista para dar dinamicidade ao Clube dos Prefeitos, eterno moribundo institucional que alguns caras-de-pau têm o mau-caratismo ou o oportunismo, o servilismo ou a idiotice de exaltar como se valesse algum tostão como organização voltada a encontrar saídas para o já velho de guerra esgotamento econômico a bordo da desindustrialização. O Clube dos Prefeitos exaltado é o Clube dos Prefeitos dos fracassados que tentam ludibriar a boa-fé. Gente sem escrúpulo.

Em julho deste ano vão-se completar dois anos desde que fiz outra série de propostas ao Clube dos Prefeitos, a maioria das quais sem parentesco com as propostas de quase 21 atrás. O que isso significa? Basta acompanhar meu raciocínio.

Foi numa edição de junho de 2004 de LivreMercado, publicação antecessora de CapitalSocial,  que fiz 11 propostas para o Clube dos Prefeitos sair da pasmaceira em que se encontrava havia muito tempo e que se esticou de forma mais incompetente e dramática no futuro que sempre chega e vira presente. Tanto que chega que chegou em forma de julho de 2023, com novas propostas. Mas convém lembrar as propostas de 2004.

“Onze propostas para o Clube dos Prefeitos” foi a manchetíssima daquela edição. Convém lembrar que esses 21 anos a se completarem com as referidas propostas não significam que somente a partir de então me dediquei a expor a situação de indolência operacional e estratégica do Clube dos Prefeitos. E tampouco as propostas de 2023 significaram alguma possibilidade de, cansado de guerra, desistir do combate.

DESDE SEMPRE

Desde que o Clube dos Prefeit0s é Clube dos Prefeitos, tenho me dedicado às questão de competência da entidade. O Clube dos Prefeitos foi lançado em dezembro de 1990,  nove meses após a primeira edição da revista LivreMercado, sob meu comando editorial e claramente voltada à regionalidade até então desprezada por todos.

A revista LivreMercado foi a primeira publicação regional a tratar de questões regionais sob o ponto de vista regional. Ou seja: sem a fragmentação de noticiário e, mais que isso, com a sistematização de informações metabolizadas como análises. Um show de bola em matéria de jornalismo. Inauguramos o placar regional de jornalismo muito além da informação rasa e com estrutura editorial inabalável.

Mas vamos ao que interessa, no caso as propostas que fiz à mudança de rota do Clube dos Prefeitos, tanto em 2004 quanto em 2023. Vou reproduzi-las em seguida sem inserir qualquer intervenção no texto original, inclusive com a supressão ou não de uma vírgula sequer.

Mantenho integralmente as propostas que se seguem e que estão basicamente atualizadas como prova provada do quanto o Clube dos Prefeitos se perdeu nas brumas do tempo.

Não faria restrição alguma ao que se apresenta. A nova turma à frente do Clube dos Prefeitos e que faz promessas de novos dias de regionalidade não deveria perder a oportunidade de, além de consumir o que se segue,  como também vasculhar o acervo de CapitalSocial. São 36 anos de muita avaliação.

MAIS SUGESTÕES  

Ao longo das temporadas acrescentei sugestões à dieta de regionalidade do Clube dos Prefeitos, mas praticamente nada se levou adiante. Aliás, sequer se cogitou qualquer inovação. Um organismo morto e enterrado como prática para valer de obrigações compulsórias não seria mesmo capaz de oferecer qualquer resposta.

Como, entretanto e ao que parece, a nova turma de prefeitos estaria disposta a meter a mão nesse treco horroroso que só existe como prática de medidas restauradoras do Desenvolvimento Econômico do Grande ABC na cabeça e nas intenções de charlatães, não custa nada acreditar que iniciativas seriam tomadas.

Certo mesmo em meio a esse caos institucional é que temos um novo colegiado de prefeitos que podem ficar na história regional. Basta que  se dediquem para valer por um Clube dos Prefeitos reorganizado, reoxigenado e repaginado como fonte de inspiração a iniciativas que há muito se aguardam.

Seguem as 11 propostas originalmente levados à sociedade consumidora de informações em junho de 2004, quando o Grande ABC já colecionava reveses econômicos com desdobramentos sociais intensos, mas longe do que vivemos neste último ano do primeiro quarto deste século. Em seguida, as propostas formuladas  há quase dois anos. 

 

Onze sugestões

para o Consórcio

 DANIEL LIMA -- 08/06/2004

1. LINHA DE FRENTE

Não coloquem os prefeitos na linha de frente das definições. O corpo técnico é mais importante, principalmente se somar-se a um Conselho Deliberativo formado por membros capacitados e multitemáticos da comunidade. Os prefeitos devem ser preservados para anunciar de forma colegiada as grandes decisões. O cargo de presidente é nocivo, porque enobrece circunstancialmente quem o ocupa e obscurece os demais. E prefeito nenhum gosta de ser figurante. Quando a conta de um protagonista e seis coadjuvantes se configura, como no modelo arcaico que está aí, o estrago é total. 

2. CONSULTORIA ESPECIALIZADA

Definam urgentemente uma pauta regional com base na contratação de consultoria especializada em competitividade econômica. Não caiam no marasmo de enxergar o Grande ABC apenas como fonte de votos de ações que procuram minimizar o viés social. O elástico de aumento de impostos municipais está-se exaurindo. Chegamos ao ponto de ruptura. O caminho das pedras passa necessariamente pela reorganização do tecido produtivo e, dadas as características fragmentadoras de regionalidade, somente uma consultoria com experiência e independência amarraria as pontas desse novelo de improdutividade.

3. PAUTA SELETIVA

Que a pauta regional seja tão seletiva quanto sistêmica. Isso quer dizer que não adianta querer agarrar o mundo. Precisamos lidar com prioridades. E quando tudo é prioridade, nada é prioridade. O Consórcio de Prefeitos andou se espelhando no modelo esquizofrênico de uma Câmara Regional que nem existe de fato e só poderia mesmo ser contaminado pela dispersão.

4. TRANSPARÊNCIA

Não repitam a bobagem autoritária de fechar as portas da entidade à imprensa. Façam exatamente o contrário: envolvam toda a mídia nos encontros para que a comunidade participe das medidas e se sinta, para tanto, corresponsável. Quem esconde informação — como a de que determinados prefeitos só comparecem às reuniões quando detêm o cargo de presidente — assemelha-se em falta de responsabilidade regional aos próprios ausentes.

5. MEDIÇÃO DE RESULTADOS

Desenvolvam mecanismos de medição do rendimento dos técnicos que dão suporte à entidade. Na medida em que a agenda for mais restrita, é possível compactar as forças de suporte em torno de objetivos vocacionados à resolução dos problemas. Mais que isso: coloquem esses técnicos e suas avaliações na mídia. Valorizem suas aptidões. Se cada profissional for visto como parceiro da gestão coletiva, os frutos advirão. Mantê-los no anonimato é uma ode à depreciação do talento individual.

6. BANCO DE DADOS

Estruturem um banco de dados minimamente competente e sintonizado com a agenda de prioridades. Não é preciso agarrar o mundo estatístico. Nada resiste à força de informações confiáveis. O Grande ABC precisa se conhecer nos pontos considerados nevrálgicos para que alcance respostas. Um Rodoanel ou um Ferroanel sozinhos ou juntos não vão fazer o verão de investimentos produtivos esperados. Uma região que não conhece suas próprias realidades será sempre incapaz de corrigir a rota e de estimular projetos de recuperação. Rodoanel e Ferroanel podem ser tanto a salvação da lavoura como presente de grego.

7. DINHEIRO PRODUTIVO

Deixem menos recursos para engordar aplicações financeiras e invistam mais em estudos específicos conectados com a pauta de prioridades. De que adianta o superávit orçamentário do Consórcio de Prefeitos se os dirigentes públicos e privados vivem nas trevas de informações estratégicas? O esquadrinhamento do território regional, sobretudo no campo econômico, é questão vital para entender o tamanho do problema.

8. AGÊNCIA PARCEIRA

Parem de maltratar a Agência de Desenvolvimento Econômico. Alcem a instituição desgarrada oficialmente dos orçamentos públicos à condição de parceira indissolúvel da entidade. Consórcio e Agência não podem ser pedaços de um quebra-cabeça institucional que jamais se encaixarão por causa de vaidades políticas e pessoais. A separação das duas entidades é algo como erguer um muro na entrada de cada grande área e impedir que os atacantes recebam passes dos zagueiros e dos meio-campistas. 

9. AÇÕES SETORIAIS

Fortaleçam setorialmente a ação econômica com a constituição de pelo menos meia dúzia de atividades vitais para o desenvolvimento regional, sempre na zona de aderência da grande pauta de recuperação do Grande ABC. Montadoras, autopeças, petroquímicas, químicas, comércio e serviços são pontos de relevância à aplicação de terapia rejuvenescedora de nossa economia.

10. FIXAÇÃO DE METAS

Que a Fundação Getúlio Vargas não perca a independência de analisar e monitorar o desempenho do novo Consórcio e que principalmente os membros do Conselho Deliberativo integrado por representantes da comunidade também estejam atentos à independência gerencial da FGV. Não podemos requentar o prato de quinquilharias de boas maneiras que em nada contribuem para mudanças. É indispensável que o Conselho Deliberativo seja independente e crítico no acompanhamento do cronograma de reformas da região. Mas que, também, não caia no facilitarismo de perder o foco. A fixação de metas é indispensável para o conjunto da entidade ganhar racionalidade. 

11. ARMADILHAS ELEITORAIS

Que o Consórcio de Prefeitos fuja do fatalismo desarrumador da casa em períodos eleitorais. A entidade deve ser encarada como empreendimento de toda a comunidade e, como tal, os resultados precisam estar sintonizados com o cronograma de inquietações, não com a aproximação da corrida aos votos. A solução para que esse perfil não sofra desvios está na consolidação de forças que equilibrem o jogo de responsabilidade cuja bola em quase 15 anos do figurino atual esteve sob absoluto e modesto controle dos chefes de Executivos. Por isso, o ideal seria que o Consórcio mudasse até de nome. Que se abolisse Consórcio de Prefeitos. Que fosse consagrado Consórcio do Grande ABC.  

 

CLUBE DOS PREFEITOS:

PROPOSTAS À DIREÇÃO

 DANIEL LIMA -- 17/07/2023 

1. Reorganização do sistema logístico, direcionando-o prioritariamente ao campo econômico como o envolvimento da Avenida dos Estados, Anchieta, Imigrantes e o trecho sul do Rodoanel num arcabouço de ramificações menos nobres mas importantes.  

2. Construção de estratégias para tornar realidade a Cidade do Plástico nos territórios de Santo André e Mauá, por conta do Polo Petroquímico.

3. Conversão da Universidade Federal do Grande ABC em aliada estratégica com a inserção incisiva de recursos humanos em instituições acadêmicas e produtivas das sete cidades.

4. Constituição de um Conselho Consultivo integrado por representantes da sociedade comprovadamente qualificados e não necessariamente vinculados a instituições privadas e públicas.

5. Desenvolver estudos detalhados sobre prós e contras com o anúncio de investimentos no transporte público de massa, casos do BRT e do metrô, previstos para os próximos anos, retirando-os do exclusivo conteúdo  de acessibilidade e incluindo vetores econômicos.

6. Dinâmica de comunicação social das reuniões do colegiado de modo que as assembleias tenham a participação da sociedade ao invés de se manterem como terrenos de debates secretos e inalcançáveis aos contribuintes.

7. Plano Estratégico Econômico regional que leve em conta entre outros aspectos a imperiosidade de se favorecerem políticas de sinergia e complementaridade da indústria de transformação. 

8. Plano Estratégico Econômico regional que leve em conta a necessidade de se criarem mecanismos em rede na área de serviços para beneficiar atividades específicas e gerais sem canibalismos, sobreposições e desperdícios de investimentos.

9. Introdução do mecanismo de revezamento automático na ocupação do cargo de presidente de colegiado, levando-se em consideração exclusivamente o rodizio aleatório, ou seja, sem vínculo com o momento político-eleitoral ou de qualquer outra motivação.

10. Criação de mecanismos legais que permitam a integração regional no campo de ética e moralidade públicas que motivem a participação da sociedade e dos meios de comunicação como potenciais freios a escândalos. 



IMPRIMIR