O que você vai ler em seguida são as últimas edições da newsletter Capital Digital Online, uma das ferramentas que utilizei para conduzir a Redação do Diário do Grande ABC durante nove meses, entre julho de 2004 e abril de 2005. Se você não acompanhou essa epopeia reproduzida aqui nos últimos tempos, terá a oportunidade de estar bem informado, porque o que se segue é um balanço geral.
A edição de 6 de abril de 2005 não foi compreendida por muita gente da corporação do Diário do Grande ABC. A questão era simples: já havia detectado movimento da diretoria daquela empresa para defenestrar profissionais da Redação com base em critério que considero obsoletos, baseado exclusivamente na hierarquia salarial.
Quem mais ganhava, mais estava ameaçado. Em outras circunstâncias, caso o jornal dispusesse de gordurinhas de profissionais experientes, uma mescla de demissões de salários elevados e baixos até poderia ser analisada, embora contrariasse flagrantemente o Planejamento Estratégico Editorial.
Entretanto, na situação em que se encontrava aquele produto, que dependia demais de um grupo muito restrito de profissionais capazes de segurar as pontas, os cortes seriam um suicídio. Como de fato o foram depois de minha saída, em 21 de abril, e de praticamente todos os demais, nos meses seguintes. O Diário do Grande ABC de um pretendido, prometido e iniciado Plano Real do jornalismo regional em 2004 virou na sequência o inverso da reviravolta corinthiana nesta temporada, quando um primeiro semestre aterrorizante deu lugar a um segundo semestre memorável.
EDIÇÃO NÚMERO 38
Grande ABC, quarta-feira, 6 de abril de 2005.
Um teste sobre mudanças implantadas
na Redação do Diário do Grande ABC
Os membros do Diário do Grande ABC, de todas as instâncias hierárquicas, têm a oportunidade de, ao responder o teste que se segue, constatar até que ponto estão preparados e informados sobre as mudanças implantadas no jornal desde que se deflagrou o Planejamento Estratégico Editorial, em 21 de julho do ano passado.
Esse teste afere, sem subterfúgios, o ponto exato em que se encontram a atenção, o conhecimento, a capacidade analítica e, acima de tudo, o comprometimento dos colaboradores com o jornal que vai diariamente às ruas.
É verdade que nem todos os colaboradores têm obrigação de responder corretamente à maioria das questões. Da mesma forma, não devem ficar impunes, sob o ponto de vista ético, ao emitirem juízo de valor sendo portadores de desconhecimento do assunto.
Outros colaboradores, principalmente na medida em que os quadradinhos do organograma se cristalizam em andares superiores, provavelmente estarão incomodados com eventuais dificuldades de compreender as grandes transformações que ocorreram e ainda estão ocorrendo na Redação, porque não conseguem diferenciar uma boa matéria de uma matéria mambembe.
Tomara que, nesse caso, se tornem mais participativos e mais inquietos, no bom sentido, com o futuro do jornal. E que saibam distinguir a diferença entre o passado e o presente. Que tenham, portanto, a humildade e o discernimento de, quando mencionarem qualquer ponto de vista sobre o produto, que, ao menos, não cometam o pecado da ignorância.
A quantas indagações o leitor deste teste estaria apto a responder? Se forem menos que 50%, está na hora de acompanhar mais de perto o que se passa na Redação, antes de emitir qualquer parecer. Se forem entre 50% e 70%, já pode se considerar habilitado a sentar-se com a equipe de Redação para debater com mais profundidade o futuro do jornal, porque estamos abertos a colaborações. Se forem acima de 70%, parabéns, porque está por dentro do que já foi realizado e, mais do que ninguém, tem obrigação moral de somar forças para que o projeto tenha continuidade. Independentemente de o autor continuar ou não na corporação. Vamos, pois, ao teste.
Pergunta — Qual foi a grande transformação conceitual aplicada no jornal e que está expressa de forma escancaradíssima nas chamadas de primeira página?
Pergunta — Quais foram, em função das mudanças, os principais temários que pontuaram o noticiário do jornal nos últimos oito meses?
Pergunta — O que foi introduzido de novidade nas editorias de Economia, Política Regional, Esportes, Cultura&Lazer e Setecidades?
Pergunta — Por que foram eliminadas as reuniões de pauta da manhã?
Pergunta — Por que as reuniões de pauta do período da tarde passaram a ser realizadas mais próximas da noite?
Pergunta — Quem passou a frequentar diariamente as reuniões de pauta, além dos quadros de comando da Redação?
Pergunta — Quem frequenta, na medida das necessidades, as reuniões de pauta?
Pergunta — Qual foi a grande transformação na relação entre o jornal e a comunidade?
Pergunta — Quais foram os critérios-eixo para a introdução dessa novidade no organograma informal da publicação?
Pergunta — Qual é a principal preocupação dos editores e dos repórteres para tornar cada edição mais comprometida com a qualidade do produto?
Pergunta — Qual é o grande adversário à produção do jornal com mais qualidade editorial?
Pergunta — Qual foi a grande notícia relacionada a São Caetano e cujo tratamento recolocou o jornal na rota da credibilidade naquele espaço municipal?
Pergunta — O que significa “evento especial, cobertura especial”?
Pergunta — Quem são os principais responsáveis pela liquidação prática do banco de horas?
Pergunta — Como foi possível evitar que a empresa pagasse quase R$ 1 milhão com o saldo do banco de horas?
Pergunta — Por que o banco de horas é o pior inimigo da qualidade editorial do jornal?
Pergunta — O que acontece com as autoridades que visitam o jornal em relação ao que se praticava antes?
Pergunta — Qual é uma das principais pregações do comando de Redação em relação às matérias que fogem da rotina?
Pergunta — Por que o comando de Redação decidiu centralizar todas as demandas do Departamento Comercial?
Pergunta — Por que o comando de Redação decidiu descentralizar esse próprio comando na área editorial, compartilhando decisões com editores, com editores-secretários e secretários-editores?
Pergunta — Nos últimos oito meses, quantas vezes a manchete principal do jornal deixou de tratar de questões regionais?
Pergunta — O que o jornal tem publicado sistematicamente todos os domingos como filosofia do compromisso com a sociedade do Grande ABC?
Pergunta — Na Editoria de Economia, o que foi implantado conceitualmente para evitar que o jornal voltasse a ser objeto de descrédito?
Pergunta — Que verbete antes excomungado pela política editorial do jornal passou a ser utilizado sem temores quando situações assim o exigem?
Pergunta — Quais foram os temários-chave do jornal durante esses oito meses de trabalho?
Pergunta — O que era e o que é o Consórcio de Prefeitos, em função do foco de cobertura do jornal?
Pergunta — Na área de política regional, qual foi uma das principais medidas introduzidas de modo a dar mais qualificação ao noticiário?
Pergunta — Que preparação se faz para manter a linha editorial do jornal diante da perspectiva de feriado prolongado, quando a projeção é de escassez de temários quentes, com ameaça de quebra da filosofia nuclear do produto por causa do esquema de revezamento de folgas?
Pergunta — O que aconteceu com a cobertura recente sobre os erros de lançamento do IPTU de Santo André em relação a um passado não muito distante?
Pergunta — Qual é a metodologia que passou a ser aplicada para definir a manchete principal de primeira página?
Pergunta — O conceito de introdução de fontes de informação no jornal sofreu alguma alteração?
Pergunta — Por que ainda temos muitos jornalistas cujos nomes não aparecem frequentemente nas páginas do jornal, assinando matérias?
Pergunta — Qual é o nível dos repórteres e dos editores, editores-secretários e secretários-editores?
Pergunta — Por que o comando de Redação é terminantemente contrário ao sistema convencional de medição de produção?
Pergunta — Como era o tratamento de primeira página antes e depois da implementação do Planejamento Estratégico Editorial?
Pergunta — Como era e como passou a ser a produção de
“Nossa Opinião”, o Editorial do jornal?
Pergunta — Qual é o grau de vulnerabilidade à rotatividade dos quadros de Redação que, em última instância, pode comprometer o projeto plurianual de recuperação editorial do jornal?
Pergunta — Qual a nota que o diretor de Redação dava ao jornal quando chegou, quanto dá hoje e o que espera dar ao final da projetada reformulação plurianual de 60 meses?
Pergunta — Qual é a nota que o diretor de Redação dá ao Estadão e à Folha de S. Paulo, veículos para os quais olha com atenção?
Pergunta — Qual é a filosofia central do diretor de Redação em relação ao que era o jornal antes, o que é agora e o que pretende que seja em 60 meses?
Pergunta — Houve aumento do efetivo de Redação depois da chegada do diretor de Redação?
Pergunta — Como o diretor de Redação do jornal avalia a afirmação de que é indispensável entregar a linha editorial do jornal à comunidade?
Pergunta — Como está a incidência de erros de troca de fotos no jornal?
Pergunta — Como está a incidência de erros de informações e ortográficos no jornal?
Pergunta — O que o diretor de Redação quer dizer quando afirma que um jornal é como um supermercado?
Pergunta — Entre uma manchete principal de primeira página que enalteça o Grande ABC e outra que mostre suas mazelas, qual é publicada pelo jornal nessa nova fase editorial?
EDIÇÃO NÚMERO 39
Grande ABC, quinta-feira, 7 de abril de 2005
Pergunta: Qual foi a grande transformação conceitual aplicada no jornal e que está expressa de forma escancaradíssima nas chamadas de primeira página?
Resposta: De fato, pela primeira vez na história de forma tão intensa, tão constante, tão sólida, o Diário do Grande ABC vem se apresentando como sua própria denominação assim o exige: um jornal de informações e análises comprometidas de fato com a regionalidade. Mais que isso: com a regionalidade no interior da Região Metropolitana de São Paulo, redondíssima novidade. Essa postura editorial tem provocado série de transformações internas, só possíveis porque o quadro de profissionais da Redação, em todas as áreas, está comprometido com o Planejamento Estratégico Editorial que apresentamos no final do primeiro trimestre do ano passado e que começou a ser aplicado com a minha chegada, em 21 de julho.
A regionalidade no sentido metropolitano é a nossa doutrina, é o nosso chão, é o nosso referencial. Agora os jornalistas do Diário não são mais induzidos a assistir ao Jornal Nacional para reproduzir, na edição seguinte, a manchete da Globo. A manchete é nossa, porque vivemos aqui. O paradoxo da globalização é nosso guia: estamos antenados com tudo o que ocorre no mundo, mas temos de centralizar nosso fogo no território majoritariamente consumidor de nossas páginas. O calabouço dos limites físicos da publicação nos leva a imprimir o critério de prioridade nas definições de cobertura jornalística. Sem Complexo de Gata Borralheira.
Aliás, é exatamente isso que fazemos há 15 anos à frente da revista LivreMercado, disparadamente a melhor publicação regional do País. Não é a mais importante, evidentemente, porque esse é um trono histórico do Diário do Grande ABC. Mas em matéria de qualidade existe um profundo fosso que, em nove meses ainda incompletos de atuação, juntamente com nossa equipe, conseguimos tornar menos pronunciado.
O exercício do jornalismo só tem razão de ser se contiver um viés indissolúvel: o compromisso com a sociedade a que atende. É algo como uma ação pública que não pode estar ao sabor de interesses localizados. Não haveria razão alguma de fazer jornalismo — e o faço há 40 anos, desde 14 anos de idade no Interior do Estado — se a objetividade de resultados de consolidação da cidadania em múltiplas extensões não fosse obcecadamente buscada como operação conjunta de todos que vestem a camisa da empresa.
Por isso e resumidamente que adotamos no Diário do Grande ABC o conceito inabalável de Diário do Grande ABC. Não de Diário da TV Globo, ou algo parecido.
EDIÇÃO NÚMERO 40
Grande ABC, segunda-feira, 11 de abril de 2005
Pergunta: Quais foram, em função das mudanças, os principais temários que pontuaram o noticiário do jornal nos últimos oito meses?
Resposta: A decisão de regionalizar de verdade o Diário do Grande ABC levou a equipe de Redação a se concentrar no manancial de temáticas locais. Isso significa que todas as editorias, como são chamados os departamentos em que se subdivide a Redação, passaram a dar absoluta prioridade aos valores econômicos e sociais mais próximos. Dessa forma, não faltaram oportunidades em que a equipe foi submetida ao que chamaria de prova de comprometimento com a regionalidade, porque uma megacidade de 2,5 milhões de habitantes reúne diversidade fascinante.
É verdade, também, que a cobertura regional do Diário do Grande ABC tem, exatamente pela subdivisão territorial, um componente complicador. Não faltam exemplos de pauta em que é indispensável ouvir fontes de todos os municípios. Diferentemente, portanto, de uma Capital, por exemplo, onde se ouve apenas um secretário de Finanças, apenas um secretário de Saúde, e assim por diante. A fragmentação territorial do Grande ABC implica esforços múltiplos porque o integracionismo obriga a elasticidade de informações por municípios aparentemente deslocados da pauta original.
Um exemplo desse expansionismo está na cobertura das novas unidades da Febem projetadas para São Bernardo e Diadema. O assunto é obrigatoriamente regional. É impossível informar qualificadamente o leitor se não houver vasculhamento factual e muitas vezes histórico no tratamento dispensado aos menores infratores na região, entre outros pontos relevantes. Os leigos em jornalismo provavelmente não imaginam o que essa especificidade do Diário do Grande ABC exige de empenho e determinação dos profissionais da empresa.
Sem exagero algum, face aos percalços econômicos dos anos 90, com reflexos diretos sobre o genoma social, o Grande ABC é o maior laboratório socioeconômico do Brasil. Já fundamentei essa convicção em diferentes locais, sempre com o espírito de repassar à audiência o testemunho de quem jamais se furtou a mensurar os acontecimentos que aqui se registraram em velocidade incompatível com o mínimo de capacidade assimilativa. Lamentavelmente, durante largo período desse verdadeiro turbilhão que estiolou a geografia regional, o Diário do Grande ABC não conseguiu capturar as múltiplas faces dos acontecimentos. Mas essa é uma outra história.
Isso mesmo, uma outra história, mas tem tudo a ver com os conceitos do Planejamento Estratégico Editorial que preparei para o jornal. Foi por essas e outras que alçamos às manchetes de primeira página do jornal, com nossa equipe, de forma frequente, assuntos como Rodoanel, produção industrial das montadoras e de outros setores de relevância econômica na região, elevação da capacidade do Pólo Petroquímico de Capuava, crise política em Mauá, sequência histórica do anúncio ao desfecho da morte de Luiz Tortorello, implacabilidade no acompanhamento das eleições municipais, descalabros da Febem, percalços dos administradores públicos locais em áreas vitais como enchentes e saúde, crise do sistema de segurança pública, Consórcio de Prefeitos e sua nova realidade, além de série de estudos que mediram desde a autoestima regional até novos hábitos de consumo dos moradores dos sete municípios.
Anteriormente ao período da regionalidade explícita, o jornal tratava esses e outros assuntos sem a mesma impetuosidade doutrinária. Produziam-se irreversíveis vazios na sequência dos acontecimentos às vezes anunciados com estardalhaço. A flacidez de acompanhamento de alguma forma contribuía para o arrefecimento de soluções. A missão do jornal como mobilizador de decisões estará consumada na exata medida em que se portar como cão farejador incansável. Os consumidores de informação jornalística, principalmente em situação geocultural como a que vivemos, têm relação com o jornal semelhante à dos telespectadores com os folhetins novelescos: estão sempre na expectativa de que o desenlace dos acontecimentos seja detalhadamente esmiuçado. Abandonar o campo informativo sem que todos os pontos em questão sejam explicados gera frustração e quebra de confiança.
EDIÇÃO NÚMERO 41
Grande ABC, terça-feira, 12 de abril de 2005
Pergunta: O que foi introduzido de novidade nas editorias de Economia, Política Regional, Esportes, Cultura&Lazer e Setecidades?
Resposta: Como se sabe, essas editorias são chamadas “quentes”, porque tratam do dia-a-dia. A quase totalidade das informações locais do jornal que circula diariamente deriva da atuação dessas editorias. O que mais intensificamos nas relações com profissionais responsáveis por essas áreas, predominantemente nas reuniões de pauta de final de tarde, é o caráter de regionalidade e de contextualização do noticiário.
Regionalidade é o sentido de trazer para a geografia regional e também metropolitana o conteúdo de informações produzidas pela equipe de jornalistas. Não só isso: repassamos a todos a importância de terem foco em determinados assuntos, esgotá-los ao longo de coberturas e, acopladamento ou não, inserir novos temários para ações análogas. Trocando em miúdos: o jornal não pode ficar descoberto em assuntos que dizem respeito ao interesse dos leitores. E quais são os maiores interesses dos leitores?
Poderia discorrer laudas e laudas para responder de forma organizadamente científica à indagação, mas serei breve: basta acompanhar as pesquisas de opinião fartas em períodos eleitorais e não menos disponíveis em outros momentos para constatar que questões como saúde, educação, desemprego, meio ambiente, habitação, segurança pública, trânsito e mais algumas lideram a lista de inquietação da população. Não perder de vista essa lógica, avançar e aprofundar o noticiário são medidas mais próximas dos anseios de leitores também consumidores, também eleitores, também torcedores, também motoristas.
Isso tudo, alçado ao ambiente de produção, significa os elementos com os quais temos de lidar diariamente para que a clientela se sinta integralmente atendida. É lógico que não basta pura e simplesmente acompanhar esses temários. O jornal precisa de qualidade informativa, de informação redonda; enfim de robustez que, todos sabem, é processo demorado. Principalmente quando se assume uma Redação sem eira nem beira durante muitos anos, esfacelada em princípios, em conceitos, em relacionamentos pessoais.
É claro que também há variáveis nesse conjunto de temas preferenciais de cobertura no dia-a-dia. As demandas da Editoria de Economia são outras e assim são tratadas. O triunfalismo de outros tempos, escondendo-se a realidade de depauperação econômica e social do Grande ABC, foi para a lata do lixo. Não podemos, em nome de suposta regionalidade construtiva, nos permitir a mentira descarada, a mascaração desmedida. A responsabilidade de informar não pode se subordinar a qualquer tipo de interesse, menos ou mais grave em delituosidade ética.
Fizemos história com o jornalismo que aplicamos na revista Livre Mercado exatamente porque não nos deixamos levar pelas forças de pressão. Esmiuçamos, com nossa equipe, os últimos e mais tenebrosos 15 anos da história econômica e social do Grande ABC. Fomos fundo. Desobstruímos os obstáculos. Retiramos a máscara de prestidigitadores numéricos. É isso que o Diário vem efetivando de uns tempos para cá, depois de período longamente sombrio. Não fundamos e não mantemos à toa o IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos). O IEME é nossa prova-dos-nove contra dilapidadores numéricos e estatísticos.
Tudo isso pode parecer superficial ou menos importante para quem não vive a realidade do Grande ABC ou, mesmo vivendo, é suficientemente relapso no tratamento de questões de cidadania e de responsabilidade social. Somente quem viveu intensamente aqui pelo menos na última década e meia sabe a relevância de insistir-se na pregação de um jornalismo antenado com os efeitos socioeconômicos da abertura de fronteiras alfandegárias mais estúpida que este País já viveu, combinada com a artificialidade do poder da moeda nacional e com as deletérias taxas de juros.
É isso tudo e muito mais que procuramos repassar aos editores e repórteres, além de secretários-editores, editores-secretários e secretários-secretários. A conceituação de cobertura jornalística envolve o interesse público regional conectado com nuances nacionais e internacionais. Não somos uma ilha de regionalidade. Não podemos jamais transformar o mote do jornal em objetivo provinciano. Regionalidade sem metropolização e sem globalização não passa de caricatura editorial. No Planejamento Estratégico Editorial que formulamos para o Diário do Grande ABC essa diferenciação está explícita. É verdade que há dificuldades de aplicação. Nem poderia ser diferente para quem enxergava de forma difusa o que pressupunha a linha editorial da publicação, de fato uma colcha de retalhos.
Para completar: destilamos entre os repórteres, editores e secretários o princípio de que a demanda externa é uma espécie de estouro da boiada que precisa ser organizada, sob o preço de impingir ao veículo uma confusão dos diabos em termos de informação. Nem tudo que vem da sociedade é interessante para o jornal. Há movimentos diversos a permear grupos de pressão que ao longo de anos exploraram a fragilidade editorial do jornal. Não faltaram os espertalhões que se locupletaram das páginas do jornal. Qualquer vacilada, qualquer descuido, eles mostram as garras novamente para impor informações vazias, falsas, interesseiras, quando não desonestas.
Não estamos imunes, evidentemente, a erros. Mas os tropeços já se reduziram e, enquanto estiver neste cargo martelando diariamente esses conceitos, asseguro que as inconformidades serão mais e mais minimizadas. Não podemos fazer jornal apenas para quem diariamente recebe o produto em casa e resistiu às oscilações do produto. Temos de fazer um veículo que seja reformista e que, para tanto, precisa alcançar novos públicos, aqueles que, igualmente nesse período, deixaram o jornal em segundo plano.
Contamos com 50.851 famílias da classe rica no Grande ABC e outras 223 mil de classe média-média. Temos, portanto, imensidão de leitores a conquistar.
EDIÇÃO NÚMERO 42
Grande ABC, quarta-feira, 13 de abril de 2005
Pergunta: Por que foram eliminadas as reuniões de pauta da manhã?
Resposta: Num modelo de acordo trabalhista em que o banco de horas se cristaliza como ferramenta explosiva, dizem o bom senso e a cautela administrativo-organizacional que a diagramação do tempo regulamentar dos profissionais deve ser a mais sábia possível. Chamar para o período da manhã editores-secretários, secretários-editores e secretários-secretários que deixaram o campo de ação por volta de meia-noite ou mesmo nas primeiras horas da madrugada é assinar atestado de espoliação contra mão-de-obra valiosa que depende de descanso para sustentar ritmo de produtividade. Consagrados estudos já elucidaram o grau de desgaste de profissionais de comunicação. Transformá-los em máquinas é o suprassumo da ignorância gerencial.
Mas não é só por isso que eliminamos a pauta das 11h. Introduzimos essa medida porque se mostrava contraproducente. A presença de um ou outro representante do Conselho de Redação a partir das 8h da manhã no front basta para o encadeamento à linha de montagem de informação jornalística. Desde que, eventualmente, esse profissional não estenda sua jornada de trabalho noite adentro. E é isso que se pratica. A profissional, no caso Lola Nicolás, deixa a Redação por volta do final da tarde. Sua entrada de manhã é escalonadamente seguida, ao longo do dia, por outros membros do Conselho de Redação. Até que por volta das 15h todo o efetivo dessa instância de gestão do jornal esteja espalhada por diversas editorias.
A ação de um ou mais representantes do Conselho de Redação a partir das 8h não segue o ritmo do bumba-meu-boi como os pouco íntimos da industrialização da informação poderiam sugerir. Os editores-secretários, os secretários-editores e os secretários-secretários que têm a jornada estendida até tarde, ou mesmo às primeiras horas da madrugada, tomam o cuidado de organizarem respectivas tarefas discorrendo sobre série de medidas transmitidas por meio eletrônico ao efetivo funcional que no dia seguinte desembarca na redação.
Quando assumimos a Redação do Diário do Grande ABC em julho de 2004 encontramos uma barafunda explicitada num banco de horas de três mil dias de dívida da empresa. Em negociação com representantes do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, conseguimos rebaixar um débito de R$ 950 mil para pouco mais que R$ 150 mil, pagáveis em 10 parcelas. Daí em diante, graças ao empenho e à determinação do Conselho de Redação, as diabruras de horas viraram museu. Há muito o banco de horas está sob absoluto controle. Ainda não chegamos à equação desejada porque agora temos mais colaboradores para repor horas à empresa do que a empresa em apuros. Situação, convenhamos, muito mais agradável e fácil de ser resolvida.
A desmontagem da reunião de pauta das 11h, portanto, está ancorada na própria inutilidade prática. Em nome do conservadorismo de não se mexer, o que se tornou convencional era mantido apenas porque existia, como um quadro mal acabado num dormitório de solteiro em que nenhuma peça de roupa ocupa o lugar certo. Jamais se questionou a racionalidade da chegada dos profissionais mais importantes da redação no período da manhã e os contratempos que essa antecipação da jornada de trabalho significava no dia-a-dia de cada um e, também, à própria empresa. Eficiência era o que menos importava.
Além de suprimir do cronograma a reunião da manhã, deslocamos para as 17h30 a reunião de pauta que se iniciava geralmente por volta das 15h30. Por que o Conselho de Redação alterou essa rota? Porque no começo da tarde geralmente as pautas ainda estão cruas, imprecisas, reticentes. Por volta das 18h, quando efetivamente cuidamos do que vai sair no jornal no dia seguinte, todos já contam com o desenho mais bem acabado dos fatos e não se corre o risco de chutar fora. Somente em casos excepcionais, como a morte do jogador Serginho, por exemplo, a manchete principal do jornal que sai da reunião do Conselho de Redação não se consolida na impressão do caderno por volta de duas horas da madrugada.
Há também casos em que, mesmo encerrada a reunião de pauta, dois ou três acontecimentos continuam a disputar a manchete principal. O desenrolar dos fatos nas horas seguintes decidirá quem ocupará o topo da primeira página. Talvez a melhor figura de linguagem para explicar o que é a corrida pela manchete seja o fenômeno da vida. Os espermatozoides das editorias jogam o jogo da competitividade pelos melhores espaços da vitrine do jornal. Há dias em que a pauta está recheadíssima e é preciso levar em conta aspectos conceituais para a escolha da manchete principal. Há dias de escassez absoluta, mas que sempre são salvos pelo aperfeiçoamento da linha de montagem. Uma matéria aparentemente sem tanto impacto para manchete principal de primeira página acaba turbinada por informações contextuais e, com isso, ganha maior amplitude. São inúmeros casos como esses.
Um veículo de comunicação move as peças de gerenciamento de recursos humanos de acordo com as características de seus comandantes, como é o caso atual do Diário do Grande ABC. Compete a quem lidera o grupo o bom senso de compartilhar a responsabilidade de tomar decisões que eventualmente possam conflitar com o tradicionalismo. Foi o que ocorreu com a supressão da reunião das 11h. O trabalho em cadeia dos integrantes do Conselho de Redação a partir das 8h é extraordinariamente produtivo na medida em que associa disponibilidade de recursos humanos e compatibilidade da carga horária contratual.
A prova cabal de que o sistema funciona bem melhor que o anterior está nas próprias páginas do jornal. Ainda estamos longe do nível de qualidade com que sonho e que, por exemplo, pela dinâmica própria de muitos anos, a revista Livre Mercado apresenta. Mas, se não houver quebra do ciclo de avanços por causa de idiossincrasias, haveremos de construir uma história diferente, recheada de bons exemplos de jornalismo competente. Aliás, em muitas edições o Diário tem conseguido chegar a esse objetivo, apesar de todas as armadilhas estruturais. E sem precisar da antiquada fórmula de reuniões formais a cada manhã.
EDIÇÃO NÚMERO 43
Grande ABC, segunda-feira, 18 de abril de 2005
Pergunta: Quem passou a frequentar diariamente as reuniões de pauta, além dos quadros de comando da Redação?
Resposta: O compartilhamento da definição da hierarquia das matérias que constarão da edição do dia seguinte do Diário do Grande ABC é a maior revolução introduzida no produto. Um grupo de 14 profissionais, líderes de suas respectivas editorias, envolve-se diretamente na formulação da edição seguinte, depois de analisados vários aspectos do produto que circulou no dia anterior. O diretor de Redação abre a palavra a todos os participantes com o objetivo específico de, numa primeira rodada de debates, reunir as avaliações sobre a edição que circulou naquele dia. Depois, segue a exposição individual para debates do que há de mais expressivo para a edição do dia seguinte.
Participam dessas reuniões diárias, de segunda a sexta-feira, todos os profissionais relacionados à Redação, de todas as editorias, do setor de fotografia e de artes gráficas. Implementou-se, com isso, a filosofia de despartamentização da Redação, algo que pode ser entendido como a relevância de que todos, absolutamente todos, enxerguem o produto como responsabilidade coletiva e de que prováveis sugestões vão se refletir num jornal melhor, eliminando-se portanto o desequilíbrio. Não adianta uma edição brilhante no esporte se na política regional a improvisação der o tom. De nada vale uma boa cobertura da economia regional se na área de Setecidades, que trata do noticiário local em vários campos de atividades, houver evidente acomodação. A tendência de os editores depositarem olhos e mentes apenas sobre as próprias crias é culturalmente arraigada no jornalismo diário. As reuniões de pauta emolduradas sob medidas multilaterais arremetem a edição para um patamar diferenciado.
Essa dinâmica que em média exige uma hora e meia diária de trocas de ideias e informações é recheada por dois novos vetores. Estamos relacionando e recebendo o Conselho Editorial integrado, como se sabe, por 101 representantes da comunidade do Grande ABC, e também repórteres de várias editorias. Sem contar, também, a presença de um representante do Departamento de Circulação, responsável pela adequação do temário de primeira página aos interesses de atendimento dos leitores que adquirem exemplares nas cerca de mil bancas espalhadas pela região. Nesse caso, uma manchete principal sobre o impasse eleitoral em Mauá determinará atendimento suplementar de tiragem nas bancas daquele Município, porque esse é um assunto que mobiliza parcela considerável da população. São muitos exemplos de equacionamento da edição seguinte aos princípios de suprimento específico de distribuição especial previamente selecionada.
A participação de conselheiros editoriais é uma inovação que aplicamos nas reuniões de pauta porque julgamos indispensável que os leitores, representados por esse grupo de especialistas nas mais diversas atividades, sentem curiosidade em acompanhar o processo de definição da edição que circulará no dia seguinte. Como é impraticável que estejam durante um dia inteiro na Redação, de forma a capturar todos os detalhes de operações multitemáticas lideradas por editores-editores, editores-secretários, secretários-editores e secretários-secretários, optamos pela sintetização dessa jornada ao integrá-los ao Conselho de Redação durante em média 90 minutos de reunião de pauta.
Os resultados têm sido extraordinários porque os conselheiros têm-nos oferecido avaliações críticas que consubstanciam o acerto do Planejamento Estratégico Editorial voltado à regionalidade dentro da metropolização e, também, propostas e ideias que passam a constar de nosso portfólio de análises. A presença de conselheiros editoriais não retira a espontaneidade de cada reunião de pauta. Sentimos que eles são partes integrantes do cotidiano de produzir jornal. Instigamo-los, em realidade, a debaterem os pontos em pauta. Aos poucos, descobrimos que todos encontramos de fato novas fontes de informações. Eles vivem intensamente suas respectivas áreas.
Também adotamos o chamamento à reunião de pauta de repórteres envolvidos em matérias de ressonância. Há situações em que somente o próprio autor tem as explicações de que precisamos para avaliar o grau de importância editorial da pauta em questão. Geralmente nessas ocasiões há defasagem entre os dados relatados pelo responsável pela área e o desenrolar dos acontecimentos. E é justamente a possibilidade de novas informações darem cores adicionais à disputa pela manchete principal da edição do dia seguinte que nos levou a solicitar periodicamente a presença do próprio repórter na linha de frente da definição editorial.
O que se desenvolve a partir da decisão de requisitar a presença do repórter na reunião do Conselho de Redação é um intenso bombardeio de finalidade explicitamente clara: conhecer a fundo a matéria-prima de informações que poderão assegurar a manchete principal da edição ou, em caso de afrouxamento dos dados, remeter o temário a rebaixamento editorial, minimizando o posicionamento gráfico. Não foram poucos os casos em que esse procedimento se efetivou. Os temários mais importantes do jornal nos últimos meses, como a doença do prefeito Tortorello, as idas e vindas da Febem, o Consórcio de Prefeitos, a Universidade Federal do Grande ABC, foram questionados diretamente aos próprios repórteres.
Há uma certeza com a adoção desse sistema que chamaria de peritagem informativa: o Conselho de Redação deixa a reunião de pauta absolutamente em ordem unida, certo de que todos os possíveis buracos foram providencialmente fechados para evitar surpresa desagradável quando cada exemplar chegar às bancas e aos assinantes. Não nos permitimos, de forma alguma, carregar para a primeira página, como manchete principal ou secundária, notícias que possam estar tecnicamente gelatinosas, com margem de risco que coloque sob suspeição a qualidade da informação.
O mais interessante nesse mergulho diário por todas as editorias é que o espírito colaborativo do Conselho de Redação se manifesta sem excessos de personalismos. Aliás, diria que não há, normalmente, egocentrismos além da conta. Seria exagero, entretanto, carregar na dose de que jornalistas não exibam porção natural e mais que indispensável de autoestima intelectual. A vantagem do coletivismo do Conselho de Redação é que eventuais exageros acabam neutralizados pelo conjunto. O suprassumo dessa verdade é a definição da manchete principal de primeira página. A sensibilidade geral prevalece não porque seja subjetiva e, portanto, vulnerável. Muito pelo contrário: o martelamento sobre os pressupostos do Planejamento Estratégico Editorial induz todos a seguir a rota da regionalidade no sentido mais cosmopolita possível do termo.
Costumo repetir aos membros do Conselho de Redação algumas definições sobre os pilares da manchete principal de primeira página. Divido a interpretação em três vetores. O primeiro é a manchete institucional, cuja impetuosidade está muito mais centrada na necessidade de fincar estacas de regionalidade, como são os temários relativos ao Consórcio de Prefeitos, à Febem, à UFABC, entre outros. O segundo é a manchete factual, estruturalmente voltada para o que é o mais impactante do dia, como um dia de cão sob águas de enchentes, a morte de Tortorello, a morte de Serginho, os novos números de desemprego ou de produção industrial, entre outros. O terceiro tipo de manchete é atemporal, e envolve questões históricas, estatísticas, comportamentais.
É claro que não há edição que resista ao factual, porque não se despreza algo que estará envelhecido no dia seguinte. O institucional tem um peso eletrizante porque é reconhecidamente uma alavanca para a mobilização de autoridades públicas e privadas no encaminhamento de soluções em favor da comunidade. A manchete atemporal preferencialmente é preparada com antecedência e se torna reserva de luxo acionada quando as outras duas modalidades não têm consistência. Entretanto, quando se corre o risco de a manchete de gaveta, como poderíamos resumir o espectro desse modelo, vir a ter o prazo de validade vencido, aciona-se o alarme e o material desloca-se da posição de manchete principal para submanchete. Essas matérias são geralmente preparadas para aproveitamento em finais de semana prolongados, mas têm impacto jornalístico forte.
Durante os nove primeiros meses de aplicação do Planejamento Estratégico Editorial no Diário do Grande ABC, somente em uma e única edição não foi possível — e muito menos tentado — utilizar o espaço da manchete principal com informação prevalecentemente de interesse regional. No caso, quem nos roubou a manchete regional de uma edição de domingo e nos fez dividir o assunto com todos os jornais do planeta foi o Papa João Paulo II, morto numa tarde de sábado.
Como papa não morre todo dia, como Jânio Quadros não ressuscitará e como o Corinthians vai demorar um ano para voltar a ser campeão do mundo, agora sob o domínio da MSI, temos a obrigação de garantir a cada reunião de pauta de final de tarde a manchete regional do dia seguinte. Esse é um dos preços de regionalidade que nos arrancam mais fios de cabelo.
EDIÇÃO NÚMERO 44
Grande ABC, terça-feira, 19 de abril de 2005
Pergunta: Qual foi a grande transformação na relação entre o jornal e a comunidade?
Resposta: A criação do Conselho Editorial é o amálgama entre a Redação do Diário do Grande ABC e representantes da comunidade. Ainda estamos tateando nessa aproximação se o sentido da frase for o contato físico, porque o batalhão de leitores contemplados nessa instância informal é relativamente numeroso. Entretanto, se avaliarmos sob outro aspecto, mais permeável aos tempos modernos, de proximidade virtual, por meio do ferramental da Internet, então demos passos mais que vigorosos.
Parto do princípio filosófico provavelmente revolucionário no jornalismo brasileiro, reconhecidamente autocrático, de que a função jornalística é responsabilidade pública. Por mais que o empreendimento chamado mídia seja concebido como ramal emblematicamente capitalista, e como tal deve ser gerenciado como negócio, a divisão relativa a insumos editoriais reúne todas as nuances de compromisso com a sociedade com a qual nos comunicamos. Se observado esse princípio, chegaremos à conclusão de que, na medida em que se tornar referencial de respeito e de representatividade da comunidade a que serve, o jornal será cada vez mais viável como empreendimento.
Trocando em miúdos, diria que produzir informação jornalística tem semelhança com outras atividades. O processo é metodologicamente o mesmo. Mudam-se apenas as nomenclaturas, as denominações, mas o enfoque é o mesmo: é fundamental colocar no mercado impressas em papel as informações que alimentarão o desejo dos consumidores.
A grande diferença entre produzir comunicação e outra coisa qualquer está nos efeitos sociais. Uma comunidade mal-informada ou informada longe da profundidade necessária para entender e reagir às circunstâncias e às conjunturas, será uma comunidade capenga. Os efeitos são duradouros, reprodutivos, espalham-se como metástase. Ora, se isso é tão verdadeiro quanto óbvio, por que então abdicarmos de enriquecer nossas páginas com talentos geralmente escondidos em guetos corporativos dessa mesma comunidade?
Grande parte do Conselho Editorial do Diário do Grande ABC é composto por profissionais que raramente ocupavam as páginas desse mesmo jornal. Ainda não estão ocupando na medida esperada, mas as portas estão abertas para várias alternativas de expressão de conhecimentos. Cansamos de acompanhar os mesmos e manjados personagens do cotidiano do Grande ABC, geralmente pouco consistentes na função de intérpretes da comunidade. Mais que isso: como esses personagens contavam com lugar cativo na agenda de reportagem, decidimos acrescentar mais de uma centena de identidades alternativas e suplementares.
A bem da verdade, é vício da mídia nacional centrar baterias sobre determinado número de fontes de informação. São sempre os mesmos. Há grupo de incluídos da mídia que parece dotado de suprema sabedoria. É claro que não estamos generalizando. Existem profissionais indispensáveis na interlocução entre a mídia e a comunidade, mas, na maioria dos casos, deixam-se alternativas de lado. O Conselho Editorial veio para ampliar possibilidades de relacionamento com a reportagem. Sem contar que já está demonstrando senso extraordinário de participação, envolvendo-se diretamente em debates com legisladores locais na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal, além de introduzirem-se nas páginas do jornal com artigos e ensaios de calibres variados.
A diversidade temática do Conselho Editorial é ingrediente especial desse caldeirão de interatividade. Contamos com especialistas das mais distintas áreas, prontos a serem acionados, prontos a se acionarem também. As rodadas de pesquisas que promovemos são uma forma de avaliarmos individualmente esses colaboradores. Como é pouco provável que teremos oportunidade de reuni-los todos num único evento, a virtualidade da Internet de alguma forma nos coloca frente a frente.
Contar com a interatividade do Conselho Editorial em questões-chave para o Grande ABC é também uma forma de evitarmos que antigas e desgastadas percepções de grupos que se encastelaram na mídia sobreponham-se, eventualmente, a novas configurações interpretativas de fatos. A amplitude técnico-intelectual dos conselheiros editoriais são algemas que mantêm presos os delinquentes sociais. Entenda-se como delinquentes sociais os sonegadores de ideias, os trapaceadores estatísticos, os arrombadores de imagens. Essa cadeia de criminalidades a que toda a mídia está vulnerável tem agora corredores mais estreitos e mais sensíveis à profilaxia ética e moral.
Não falta quem lance mão da numerologia do Conselho Editorial e faça correlação com os 101 Dálmatas. Se o sentido for o sentimento de fidelidade, de lealdade, de determinação, acertou-se na mosca. O número é obra do acaso. Até o último minuto do segundo tempo da confirmação de nomes relacionados, trabalhávamos com duas possibilidades: a de que não chegaríamos ao centésimo participante e a de que conseguiríamos atingir a marca. Não é que a ultrapassamos?
O Conselho Editorial do Diário do Grande ABC é único no mercado jornalístico nacional. Não se tem notícia de algo semelhante no campo internacional. Há conselhos de jornalistas, de jornalistas e diretores de empresas de comunicação e também de leitores conforme a base social de assinantes. Conselho de especialistas, independentemente de classes econômicas e sociais, só o Conselho Editorial do Diário do Grande ABC. A conversão de tantos saberes em direção a uma linha editorial regionalizada dentro de uma metrópole aponta o caminho das pedras de aperfeiçoamento constante de nossa linha de produção editorial. A sabedoria individual dos conselheiros editoriais se junta à perspicácia, à técnica e à dinâmica de comunicação como associação perfeita.