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Política

DANIEL LIMA - 03/12/2024

Para a Folha do Datafolha e o Datafolha da Folha tudo é válido, desde que se alcancem os resultados desejados, de acordo com o projeto editorial e muito mais das duas organizações siamesas. Em julho do ano passado tratei de mais uma manobra da Folha de S. Paulo, agora sobre liberdade de expressão. As minúcias de c contrapontos estão logo abaixo. Os leitores que façam juízo de valor próprio. Todo mundo tem direito à opinião, mas argumentação é um patamar muito acima de impressões ou mesmo convicções. Liberdade de expressão condicionada já no apito inicial do jogo de avaliação de um instituto de pesquisa é jogo de cena de resultado deliberadamente preparado. Acompanhem: 

 

Datafolha manipula pesquisa

sobre liberdade de expressão

 DANIEL LIMA - 05/07/2023

Para o leitor não acreditar na conversa mole de um ou de outro de que estou aqui para espinafrar o Datafolha da Folha, porque do Datafolha da Folha teria bronca, essas coisas, vou dar um exemplo que, na sequência, explicará tudo o que resumo na seguinte frase: o Datafolha coloca um risco à realidade dos fatos quanto se traveste de linha auxiliar da Folha de S. Paulo. 

E como isso é uma constante na trajetória do Datafolha, que surgiu do ventre da Folha de S. Paulo, o melhor é se precaver.

A falta de sorte do pessoal do Datafolha é que sou louco (também) por estatísticas, por pesquisas, por essas coisas que usam a ciência para, em muitas situações, vender ilusões e meias-verdades, quando não mentiras inteiras. 

A frequência com que o Datafolha quebra a cara de números e interpretações fajutos é alucinante.

PROFUSÃO DE ERROS 

Na última campanha eleitoral para a presidência da República foram vários os casos. O mais vergonhoso se deu no primeiro turno, quando o Datafolha apontou vitória de Lula da Silva por 14 pontos de diferença, ficando muito próximo de liquidar a fatura. O resultado especulado foi o corolário de meses e meses de manipulações.

Como se viu nas urnas, o Datafolha errou estrepitosamente. A diferença não passou de quatro pontos percentuais. De 14 pontos para quatro pontos o que temos é uma distância quilométrica em matéria de aferição do ambiente político-eleitoral. Um médico que errasse proporcionalmente tanto ao projetar o estágio de enfermidade de um paciente certamente teria dificuldades diante dos parentes da vítima. 

O resumo da ópera antes que me lance a apontar uma de muitas novas falhas do Datafolha que saiu a campo com nova pesquisa é que sofro dolorosamente por ter paixão por pesquisas, consumindo que consumo tudo que é de literatura a respeito. 

FESTIVAL DE FAKE NEWS

O Datafolha é um festival de fake news, porque alimenta as fornalhas da Folha de S. Paulo e de muitos outros veículos de comunicação  -- Rede Globo, por exemplo.

Ou seja: o Datafolha é muito mais que o Datafolha e ganha sobrevida que praticamente o imuniza como Instituto de pesquisa porque os consumidores de informações têm memória curta e em muitas situações fanatizada. 

Vamos então a novo descaramento e desmascaramento do Datafolha? 

Preste atenção o caro leitor se a resposta à seguinte pergunta seria a mesma diante de duas situações postas:

Primeiro – As pessoas devem ter o direito de dizer o que pensam nas redes sociais?

Segundo – As pessoas devem ter o direito de dizer o que pensam nas redes sociais, mesmo que isso ofenda alguém?

Antes de estabelecer uma conexão explicativa entre as duas frases, faço um parêntese com duas perguntas semelhantes ao conceito utilizado.

Primeiro – Você ama intensamente a sua mulher?

Segundo – Você ama intensamente  a sua mulher, mesmo ao descobrir traição?

JOGADA MAROTA 

O que quero dizer (e o exemplo não carrega nada de machismo, porque o inverso também funcionaria como explicação)  é que a condicionalidade no caso da pesquisa do Instituto Datafolha encaminha a resposta a outro destino.  

A criminalização do enunciado formulado pelo Datafolha vem logo após a vírgula, com advertência condenatória ostensiva. É claro que o pós-vírgula conduz a resultado adulterado. Não é exagero correlacionar a advertência contida no enunciado a censura prévia de cunho autoritário.

Voltem os olhos e atenção aos dois enunciados do Datafolha que reproduzi acima. Fixem os olhos e vejam o quanto seria potencialmente diferente o conjunto de respostas se não houvesse interferência para adicionar mais corrente de água em direção aos desejos de restringir as redes sociais. 

Notem os leitores que não estou metendo o bedelho crítico na avaliação em si das redes sociais e o tamanho do espaço disponível eticamente à participação dos usuários. O que exponho é simplesmente uma observação quanto à desclassificação sumária do Datafolha nesse quesito.

FORA DO PRUMO 

Mas não é somente isso que está fora do prumo em relação ao título da matéria publicada na edição de domingo da Folha de S. Paulo. “61% dizem que não se pode postar o que quiser nas redes” é uma falácia numérica também. 

Aliás, isso é recorrente na transposição dos dados do Datafolha às páginas da Folha de S. Paulo. Tudo muito calculado e que tem a finalidade de avalizar a linha editorial do jornal. 

Vou reproduzir alguns trechos da matéria da Folha de S. Paulo para, em seguida, analisá-los:  

Em meio a um debate central da vida contemporânea, acerca dos limites da liberdade de expressão, o Datafolha apurou o posicionamento dos brasileiros. Para 61%, não é possível postar qualquer coisa em redes sociais, enquanto 38% creem que a regra deveria ser esta. O instituto confrontou 2.010 pessoas com a seguinte afirmação: “As pessoas devem ter o direito de dizer o que pensam nas redes sociais, mesmo que isso ofenda alguém”. Colheu, a seguir, o índice maior de discordância com a frase – para 44%, uma posição convicta e para 17%, parcial. Já 25% optaram pela concordância completa, ante 13% que o fizeram parcialmente. (...). No corte político, dado que a discussão foi engolfada pela polarização brasileira de forma mais acentuada depois que o Supremo tribunal Federal iniciou o inquérito das fake news, em 2019, eleitores de Jair Bolsonaro em 2022 discordam menos da afirmação (PL, 54%) do que os do hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 66%).

SEM NEXO 

O Datafolha alimenta a  Folha de S. Paulo com conclusões gelatinosas, ou se a interpretação é exclusivamente da Folha de S. Paulo, o Datafolha só fornece a matéria-prima mal arranjada. Explico mais uma vez, porque em outros textos é impossível não ter observado a questão.

Trata-se do conceito embutido nos números que saltam do Datafolha. Vou ser específico. Como pode afirmar a Folha de S. Paulo que 61% dos eleitores pesquisados dizem que não se pode postar o que quiser nas redes se de fato os dados do Datafolha indicam que 44% assim se pronunciaram, ou seja, com convicção, enquanto outro 17% o fizeram de forma parcial, ou seja, reticente? 

Já imaginaram se o enunciado estatisticamente sustentável, ou seja, sem a advertência indutivamente condenatória à liberdade de expressão, fosse transmitida ao entrevistado para que ele, entrevistado, manifestasse seu ponto de vista? 

É claro que o resultado seria outro. Da mesma forma que os resultados seriam outros do outro lado do balcão da entrevista, ou seja, entre os eleitores que se manifestaram favoráveis à liberdade de expressão mesmo advertidos pós-vírgula de que seu posicionamento seria algo  abusivo. 

MARGEM DE ENQUETE 

Tudo que o Instituto Datafolha produz deveria passar por escrutínio de especialistas que não tenham rabo preso com ninguém no campo político e social. 

O que o Datafolha faz sistematicamente, quando a oportunidade se lhe oferece no campo de conceitos da Folha de S. Paulo, é fazer das tripas coração para que haja  conciliação de coerência entre os dois veículos, ou seja, um retroalimentando o outro e ambos espalhando definições que contaminam o ambiente comportamental e político. 

Agora, para completar, cito também o que já cansei de escrever sempre que o Datafolha entra na jogada. A margem de erro de dois pontos para cima ou para baixo, que dá sustentabilidade técnica aos resultados, é aviltantemente desrespeitada e atropelada. 

PARTE DO UNIVERSO 

Vou dar um exemplo: como foram entrevistados 2.010 eleitores, as respostas estaticamente falando, só valem para esse conjunto de entrevistados. Quando se retiram dados suplementares de grupamentos ouvidos, a margem de erro de dois pontos percentuais par mais ou para menos estoura e o que é pesquisa vira enquete. E enquete não tem estofo estatístico confiável.

Usando o texto da Folha sobre o Datafolha, e que reproduzi acima, não tem validade estatística que “no corte político, dado que a discussão engolfada pela polarização brasileira, de forma mais acentuada depois que o Supremo Tribunal Federal iniciou o inquérito das fake news, em 2019, eleitores de Jair Bolsonaro (...) discordam menos do que os de hoje de Luiz Inácio (...). 

Para que essas números fossem sustentáveis, seria preciso ouvir 2.010 eleitores de Bolsonaro e 2.010 eleitores de Lula da Silva, não o que se ouviram, ou seja, 2.010 eleitores de Lula e de Bolsonaro, juntos e misturados.

O Datafolha da Folha na ânsia de confirmar eternamente um sincronismo político e ideológico, combustível do instituto e do jornal, não respeita os limites técnicos e éticos. Com isso, a credibilidade vai para o ralo do bom-senso, mas as falcatruas alimentam os poderosos que estão a decidir tudo arbitrariamente num País em que democracia é uma farsa. 



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