Pelo andar da carruagem de nomeações já definidas e de nomeações especuladas, tudo indica que Marcelo Lima vai mexer no time completo de secretários que herdou de Orlando Morando. Ter gente de confiança é cláusula pétrea na gestão pública. Escala-se uma mistureba de técnicos, de políticos em atividade e de políticos que buscam ir mais longe. Feirões de vaidade e egocentrismos são corriqueiros.
Talvez fosse interessante a Marcelo Lima um pouco de cautela na avaliação de nomes e ocupações. Que Marcelo Lima entenda que a escolha do time principal de uma Administração Pública precisa ser ponderada. Pressões dentro do grupo vitorioso e de forças externas não podem influenciar além da conta.
A lógica da substituição de peças por conta de personalização de uma gestão, de uma nova gestão, é a tradição. Mas isso não quer dizer que seja irredutivelmente o certo. A generalização pode induzir a erro. E o custo à máquina pública vira uma bola de neve, com o ônus se espalhando na sociedade.
EXPERIÊNCIA PRÁTICA
Sou obrigado a mencionar um caso profissional para a exposição que não pareça exclusivamente teoria. Ao assumir a direção do Diário do Grande ABC em 2004 (20 anos antes também tive a responsabilidade de cuidar da Redação daquele jornal) não efetivei nenhuma mudança. Em seguida, vieram apenas dois reforços. Em nove meses o jornal era outro porque a base tinha experiência e era de boa qualidade.
Muito antes, em 1990, comecei do zero a produção a melhor revista regional do País. E o fiz com cautela, de acordo com orçamento baixíssimo. O tabloide do primeiro número e de muitas novas edições em seguida virou uma revista física de gabarito, embora já o fosse mesmo em formato tabloide.
Marcelo Lima não tem experiência alguma no Poder Executivo, exceto como vice-prefeito e secretário temático do prefeito Orlando Morando, período breve para autoproclamar-se experiente. Passou a vida como vereador. Como deputado federal não teve tempo de mostrar serviço. Aprontaram uma armadilha que o retirou da função.
TIME DE CONTRASTES?
O time que o prefeito eleito Marcelo Lima começou a escalar na semana passada vai ganhar novos nomes nesta semana. Há contraste inicial. Marcelo Lima nomeou o médico-infectologia Jean Gorinchteyn para a Secretaria de Saúde e Rafael Demarchi, herdeiro da família Demarchi, como secretário de Desenvolvimento Econômico.
Talvez um não se recorde do outro, ou seja, Rafael e Jean desconheçam o conflito que viveram quando a Covid-21 abalou o mundo. Candidato a prefeito em 2000, período periclitante do vírus chinês, Rafael Demarchi fez declarações pesadas contra a chefia governamental de São Paulo, a cargo do marqueteiro João Doria.
Rafael Demarchi criticou, como bolsonarista, as decisões do governador. A operação tranca-tudo foi bombardeada pelo então concorrente ao Paço Municipal. No fundo, as críticas eram mesmo dirigidas ao próximo secretário de Saúde de São Bernardo, Gorinchteyn, à frente da pasta estadual.
Jean Gorinchteyn não pode dizer que não era o responsável pela política do governo do Estado de então. Ele chefiava a pasta e participava o mais que podia das entrevistas diárias preparadas pelos assessores do governador. A cada novo dia tínhamos um festival de excessos exibicionistas. João Doria tornou-se renegado por larga faixa do eleitorado a ponto de a política o expulsar de campo.
QUESTÃO DE TEMPO
Somente o tempo responderá à analise cautelosa que faço sobre o conjunto da obra de secretários do prefeito Marcelo Lima. Não será fácil o prefeito eleito sustentar a qualidade da Administração de Orlando Morando, expressa, entre tantos indicadores, no Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros, o mais responsável e prestigiado estudo sobre a qualidade de vida dessa esfera de poder.
Cada peça que Marcelo Lima mexer nesse troca-troca de nomes do time de Orlando Morando, porque em time que se ganha também se mexe, desde que não seja em excesso, cada peça alterada terá repercussão geral tanto na estreiteza espacial da individualidade de cada escolhido como na amplitude em forma de equipe.
Na área de saúde o tempo vai dizer até que ponto a eficiente mas combatida competência do atual secretário Geraldo Reple é peça descartável diante de um substituto estelar. No Desenvolvimento Econômico a situação é menos problemática para Marcelo Lima, mesmo sendo Rafael Demarchi o que é, ou seja, uma grande incógnita.
RANKING ESCLARECEDOR
Na saúde, os dados do Ranking dos Municípios Brasileiros , que envolve os 404 endereços mais importantes do País, são amplamente favoráveis à Administração de Orlando Morando. Já em Desenvolvimento Econômico, inexiste, mas está longe de ter aprofundado a herança maldita pós-Dilma Rousseff.
Restando ainda os resultados desta temporada, em fase de apuração, São Bernardo de Orlando Morando terminou sete dos oito anos de dois mandatos ocupando a posição 49 entre 404 em Desenvolvimento Econômico do Ranking dos Municípios. Para uma cidade com as características históricas de São Bernardo, e que somente neste século aumentou em 400 mil habitantes a população, é inegável que os números são relativamente satisfatórios.
Em Gestão Social, onde estão indicadores de Saúde, entre outros, São Bernardo ocupa a posição 18. No indicador de Qualidade de Saúde está na posição 33 e no indicador de Acesso à Saúde está na posição 41.
Para se ter ideia do quanto São Bernardo está melhor que a vizinha Santo André, ao longo dos anos badalada pela mídia, em Gestão Social a posição geral é 67ª, com a posição 231 em Acesso à Saúde e a 91ª posição em Qualidade da Saúde.
Como se observa, a parametrização da Saúde de São Bernardo nos próximos quatro anos não fugirá da bitola de repercussão de eventuais mudanças de gestão não só intestinamente, com o posicionamento geral no grupo dos 404 municípios com mais de 80 mil habitantes, como também de Santo André, não propriamente uma cópia demográfica, econômica e social de São Bernardo, mas próximo disso.
MANCHETES E REALIDADES
As manchetes de jornais podem indicar eventuais e supostas mudanças a partir de janeiro do ano que vem, principalmente como resultado de relações diplomáticas mais amistosas entre o Executivo de São Bernardo e vários produtores de informações. Entretanto, quando saltarem das planilhas imunizadas de efeitos especiais detalhes técnico-científicos do Ranking dos Municípios, o desmascaramento será compulsório, tomando-se por base o passado recente.
Se na pasta de Saúde há dúvidas sobre se a ramificação rumo à diversidade operacional do atual titular será menos relevante que a especialização de um infectologista com visão, portanto, específica, na pasta de Desenvolvimento Econômico a troca de Hiroyuki Minami por Rafael Demarchi tem cara, tronco e fundilhos de projetar seis melhor que meia dúzia.
No único ponto menos robusto da Administração de Orlando Morando, não parece que o novato e até prova em contrário pouco conhecedor da matéria Rafael Demarchi impulsionará a Economia de São Bernardo.
POUCAS INFORMAÇÕES
As declarações que já recolhi na Internet sobre o assunto são tão escassas quanto inconsistentes diante da realidade da cidade duramente atingida pela maior recessão da história, os dois anos finais da presidente Dilma Rousseff. Não se pode esquecer que São Bernardo perdeu 22% do PIB Geral e 30% do PIB per capita em apenas 24 meses – 2015-2016.
Aliás, justamente porque pegou São Bernardo no fundo do poço financeiro, econômico e social, Orlando Morando pode, mesmo com a baixa produtividade da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, entregar os melhores resultados do PIB Geral após cinco anos de mandato. Ainda faltam três anos. O IBGE sempre demora, mas o novo presidente prometeu acelerar os passos.
Se houve falhas na condução de políticas domésticas de Desenvolvimento Econômico, extensão de antecessores numa cidade em que a desindustrialização vem do passado sindical, Orlando Morando soube mitigar os estragos com a maior operação de obras estruturais no setor de logística da história de São Bernardo. Já escrevi e não custa reforçar: enquanto Celso Daniel foi o prefeito dos prefeitos da região em termos institucionais, a Orlando Morando se deve conferir o titulo de prefeito dos prefeitos em mobilidade urbana.