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Política

DANIEL LIMA - 14/10/2024

O mundo fastfoodiano anda tão loucamente superficial que o maior vexame eleitoral do PT  na disputa do primeiro turno praticamente foi ignorado. O PT da cidade símbolo do PT, berço do presidente Lula da Silva, que está presidente da República pela terceira vez, não foi sequer ao segundo turno. Mesmo contando com candidato fortíssimo à disposição.

O PT de Luiz Marinho ficou no banco de reservas e escalou o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira. Uma barbaridade de equívoco. A caçapa foi cantada aqui em duas análises que reproduzo abaixo para que desmiolados de redes sociais não me atribuam o título de engenheiro de obra feita.

É claro que tanto numa quanto noutra análise há contextos que precisam ser relativizados, mas o principal está intocável: o PT escolheu muito mal o concorrente em São Bernardo. 

PRESENTE PARA MARCELO

O PT do presidente Lula da Silva e do duas vezes prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, ficou em terceiro lugar na corrida eleitoral. Perdeu a vaga para Marcelo Lima e  Alex Manente. Poderia estar no segundo turno provavelmente com Alex Manente. A parte dos votos da chegada ao segundo turno de Marinho sairia do estoque de Marcelo Lima. O eleitorado de ambos tem muitas porções semelhantes e essas porções semelhantes estão na periferia.

Marcelo Lima ganhou um presente e virou favorito à sucessão de Orlando Morando da indicada Flávia Morando, que chegou em quarto lugar.

A disputa do primeiro turno em São Bernardo envolveu um Quarteto Maluco. Havia duas vagas para quatro candidatos fortíssimos. Os números finais provaram isso. Mas seriam outros, relativamente, se Luiz Marinho não fosse descartado. O PT na Presidência da República entendia que o deputado Luiz Fernando Teixeira daria conta do recado.

HÍBRIDO INSUFICIENTE

Não só não deu como levou alguma parcela da militância a atribuir a derrota ao fato de que Luiz Marinho teria sido corrosivo à candidatura de Luiz Fernando por força de aproximação durante a campanha. Há estrábicos em todos os tipos de atuação humana. Os militantes que tentam transferir a Luiz Marinho a derrota de Luiz Fernando não entenderam o babado eleitoral.

O que seria entender o babado eleitoral? Simples: Luiz  Fernando foi um candidato petista híbrido, ou seja, um tanto ligado à classe trabalhadora e um tanto ligado à classe média mais conservadora. Como o tanto daqui e o tanto dali não formaram uma maioria, ou seja, nem tanto uma coisa nem tanto outra coisa, quem se ferrou foi o PT.

Traduzindo tudo isso, é o seguinte: Luiz Fernando Teixeira não tem representatividade na classe média e tampouco na classe dos trabalhadores que permitiria virar maioria entre os eleitores mesmo num turno em que dois concorrentes seriam finalistas. Muito menos se fosse à etapa decisiva.

MARCELO DECIDIRIA

Luiz Marinho, o candidato ideal para concorrer, chegaria ao segundo turno com certa folga, mesmo numa disputa como a desta temporada, mas também estaria fadado a perder. Principalmente se enfrentasse Alex Manente ou Flávia Morando. Marinho só teria fôlego rumo à vitória se Marcelo Lima o apoiasse para valer. Os votos mais populares, da Classe Média Baixa, também Classe Média Precária, se somariam aos votos de pobres e miseráveis. 

Para entender tudo isso com fundamentação técnica, o princípio é a exposição de votos consolidados no primeiro turno em São Bernardo. Luiz Fernando Teixeira chegou em terceiro com 23,09% dos votos válidos. Abaixo do líder Marcelo Lima com 28,64% e do segundo colocado Alex Manente com 26.55%. Flávia Morando chegou em quarto com 21,38% dos votos válidos.

Como seria se Luiz Marinho fosse o candidato do PT? O princípio básico dessa especulação é o fato de que Lula da Silva ocupa a presidência da República, o que, em resumo, implica força motora muito maior do que se fosse candidato derrotado ou mesmo preso.

ROMPENDO BARREIRAS

As outras âncoras que projetariam Luiz Marinho ao segundo turno envolvem o próprio Luiz Marinho. Na primeira vez que se elegeu prefeito de São Bernardo, em 2008, com Lula da Silva na presidência, quem ocupava o Paço era William Dib, um conservador de centro. Marinho concorreu com Orlando Morando, indicado por Dib, e venceu com 48,27% dos votos no primeiro turno e 58,19% no segundo turno.

Quatro anos depois, em 2012, com a petista Dilma Rousseff na presidência, e ainda distante da catástrofe das pedaladas fiscais e do impeachment, Luiz Marinho se reelegeu em primeiro turno com 65,79% dos votos. Alex Manente concorreu pela oposição e contabilizou 30,94%.

Outra candidatura de Luiz Marinho que serve de sustentação à teoria de que estaria no segundo turno em São Bernardo desta temporada com pelo menos 30% dos votos válidos (portanto, muito acima de Luiz Fernando Teixeira) foi a disputa pelo governo do Estado em 2018, quando o PT ainda sofria as dores e os dissabores de Dilma Rousseff e de escândalos. Marinho concorreu com João Doria, Paulo Skaf e Marcio França, todos nomes da pesada estadual, e somou 25,72% dos votos válidos.

MAIS VOTOS

Para completar a trajetória de votos de Luiz Marinho, em 2022 se elegeu deputado federal com 13,96% de votos em São Bernardo. Só ficou atrás, e mesmo assim residualmente, dos 14,21% dos votos válidos destinados a Alex Manente. Mas o PT fez muito mais votos que Alex Manente quando se consideram ao menos dois outros concorrentes à Câmara Federal: Vicentinho Paulo de Silva (que se elegeu com votos em outras praças) somou 3,00% dos votos em  São Bernardo, enquanto Guilherme Boulos somou outros 4,12%. Some tudo isso e também os votos ideologicamente marcados pelo petista e assemelhados, e se tem a força potencial de Luiz Marinho.

Não se tem informações sobre a grau de responsabilidade de Luiz Marinho por não ter  convencido Luiz Marinho a ser candidato a prefeito em São Bernardo. Ou de Luiz Marinho ter preferido rejeitar Luiz Marinho e privilegiar o Ministério do Trabalho, onde está lotado como titular em Brasília. O fato é que Luiz Marinho que cedeu espaço a Luiz Fernando ferrou com os planos de Luiz Inacio Lula da Silva ver São Bernardo retomada.

O símbolo maior do petismo foi mais uma vez entregue a opositores. De fato e para valer mesmo, neste século, e também anteriormente, o PT só governou São Bernardo durante os oito anos de Luiz Marinho. O recado que o PT de São Bernardo passa para o PT Estadual e o PT Nacional é evidente: não toma conta da própria cidadela. 

DIADEMA MAIS VERMELHA

A vizinha Diadema é mais avermelhada e mais respeitada internamente pelos petistas, embora não tenha o tamanho simbólico de São Bernardo. Desde 1982,  PT e congêneres da esquerda socialista só não administraram Diadema durante os oito anos do conservador Lauro Michels  - quando os escândalos e Dilma Rousseff levaram o PT a nocaute. As digitais ideológicas da esquerda estão impressas e sólidas em Diadema. Em São Bernardo, Luiz Marinho, Luiz Fernando Teixeira e Luiz Inácio Lula da Silva acabam de enfraquecer ainda mais.

Por que enfraquecer ainda mais? Vou tratar disso outra hora. Há complexidade que precisa ser cuidadosamente esmiuçada. Mais que isso: uma complexidade desprezada pela preguiça analítica do PT e que por isso mesmo tende a custar caro ao futuro do partido no Grande ABC. Como se a situação no País fosse menos grave. Nordeste fora, claro.

Vamos então às duas análises que mostram o quanto o PT flertou com a derrota em São Bernardo. Até conseguir o intento. 

 

Luiz preocupado com

Luiz indicado por Luiz

 DANIEL LIMA - 27/08/2024

O ex-prefeito e atual ministro de Estado Luiz Marinho está preocupado com os passos de tartaruga eleitoral do deputado estadual e candidato à Prefeitura de São Bernardo Luiz Fernando Teixeira. Luiz Inácio Lula da Silva está inquieto com o mesmo Luiz que tira o sono de Luiz.

Luiz Marinho disse ao Diário do Grande ABC que Luiz Fernando precisa se tornar mais popular. Se Luiz Marinho disse isso -- e disse mesmo--, é sinal de que tem pesquisas internas que não deixam dúvida sobre o que o ambiente político em São Bernardo expõe com evidências especulativas.

Mais que pesquisas internas, Luiz Marinho deve acreditar nas pesquisas externas, publicadas sempre com desconfiança de que sejam mais fumaça do que fogo, as quais também não dão a Luiz Fernando muito gás.

O gás que falta a Luiz Fernando e que Luiz Fernando tenta minimizar ao dizer o que disse ao UOL é o gás que insiste em não aparecer nas pesquisas que Luiz Fernando condena, porque os adversários que as contratam apontam auto favoritismo e esquecem de quem não as compraria, no caso Luiz Fernando. 

POPULARIDADE BAIXA

Na mencionada entrevista ao UOL, o próprio Luiz Fernando confessa que está longe de ser popular em São Bernardo, mesmo depois de três mandatos no Legislativo Estadual e de ter participado como peça importante, embora pouco pública, de dois mandatos do prefeito Luiz Marinho. Além disso, dirigiu o time de futebol da cidade, vendido assim que deixou a Prefeitura com a chegada de Orlando Morando.

Se Luiz Marinho está preocupado com Luiz Fernando isso significa mais que dose dupla: é mesmo a confirmação de dose tripla de inquietação. Afinal, Luiz Inácio Lula da Silva quer recuperar nesta temporada de votos a cidadela mais emblemática do partido.

Luiz Inácio jamais foi candidato em São Bernardo. Alçou voos mais rápidos e extensos, quando não gloriosos. E ajudou a dividir São Bernardo em vermelho. Primeiro contra os azulados tucanos, agora com os amarelados conservadores bolsonaristas e tarcisistas.  

MELHOR DO PARTIDO 

Não quero aprofundar a escolha do PT em São Bernardo. Luiz Marinho, duas vezes prefeito e ministro de Lula em várias situações, preferiu ficar fora do jogo e indicou Luiz Fernando. Não havia outra saída senão recorrer ao braço direito de oito anos de Administração em São Bernardo, entre 2009 e 2016.

Marinho conheceu o céu da gastança do final de segundo mandato de Lula da Silva e viveu o inferno nos dois últimos anos de Dilma Rousseff.  O PT pós-Dilma foi reduzido a quatro prefeituras no Estado mais rico da Federação.

Luiz Fernando Teixeira é um híbrido eleitoral, tipo carro movido a bateria e a combustível. O petista ainda não convence os mais conservadores. O eleitorado mais popular mantém um pé atrás.

Luiz Fernando Teixeira tem como passivo eleitoral o fato de que não é nem reconhecido com segurança pela massa de sindicalistas e trabalhadores e tampouco pela classe média tradicional. É uma janela entreaberta.

Para abrir de vez a janela e caminhar mais em direção ao segundo turno, mas a uma vitória na suposta finalíssima, Luiz Fernando precisaria seguir algumas recomendações. São muitas, mas coloco como prioridade uma questão de fundamentação ética e de confiança de quem leva a vida a sério e a política como ferramenta de transformações: pare de transferir o quinhão de responsabilidade do PT e do movimento sindical a terceiros na tentativa de sofisticar mentiras sobre a desindustrialização de São Bernardo.

FUJA DA ECONOMIA

Vou mais longe: para de dizer o que tem dito reiteradamente, num acúmulo de desprestígio. Seria melhor evitar o tema, contorná-lo com classe, do que oferecer o gol escancarado a anedotas. Cada frase em busca de justificativa é um flash de desfaçatez.

Não bastasse o movimento sindical idiossincrático embora também de positividades em determinados períodos, os dois últimos anos de Dilma Rousseff foram o período mais dramático da economia da região e particularmente de São Bernardo.

O PIB  per capita de São Bernardo caiu 30% entre 2015 e 2016. Vai demorar mais que uma década para recuperar-se. Não se faz milagre em Desenvolvimento Econômico do dia para a noite. Nem mesmo de mandato duplo. Está aí o prefeito  Orlando Morando como prova provada. São Bernardo recuperou parte do que foi perdido anteriormente com Dilma, mas ainda falta muito a recuperar. A vocação desindustrializadora de São Bernardo vem dos anos 1980 e segue resistente. Não há solução fácil como pretende Luiz Fernando e também os demais candidatos mais comedidos. 

LEGADO DE MORANDO

De qualquer modo, mesmo que ainda persistam dificuldades e, mais que isso, municípios muito mais habilitados na guerra por investimentos, favorecidos pelo Rodoanel autofágico, Orlando Morando está deixando um legado de infraestrutura logística revolucionário. Assim como Celso Daniel foi extraordinário como liderança pró-regionalidade no ambiente público, Orlando Morando o é com a coleção de obras que tiraram São Bernardo do provincianismo estrutural.

Não fica bem também ao deputado Luiz Fernando, sob os olhares do ministro Luiz e do presidente Luiz, insistir  no vitimismo do impeachment de Dilma Rousseff.  Isso é conversa mole para boi dormir. O governo Dilma é indesculpável. Tanto que o PT praticamente o excluí da gestão de 14 anos em Brasília. Só se refere aos dois mandatos de Lula da Silva.

Mas vamos deixar de lado aprofundamento econômico e ingressar mesmo que superficialmente no terreno da candidatura de Luiz Fernando Teixeira, protegido de Luiz Marinho e até prova em contrário abençoado por Luiz Inácio.

Possivelmente a escolha foi a melhor do PT em São Bernardo, mas não necessariamente a melhor para São Bernardo. Luiz Fernando é um deputado sem brilho, como a maioria dos deputados que passaram pela Assembleia Legislativa.

IMAGEM É POUCO

A imagem o credenciaria a ter certa profundidade eleitoral na classe média convencional de São Bernardo. Luiz Fernando tem gestos de pastor evangélico, fala como pastor evangélico, mas, sempre é bom ressaltar, comete o pecado de imprecisões ignorantes ou espertas a cada frase econômica.

Se  -- repito de propósito --  o próprio deputado candidato a prefeito afirmou ao UOL que mais da metade dos eleitores de São Bernardo não o conhecem, e que se tornar conhecido é fundamental, o que dizer em contrário sobre a ineficiência de parlamentar?

Mais que ineficiência, a obscuridade no sentido de transbordamento de imagem na sociedade. A popularidade pretendida não significaria que Luiz Fernando seria mais palatável do que apontam pesquisas não divulgadas.

Entretanto, mesmo com todos esses passivos sobre os quais faço um voo panorâmico, ainda acredito que Luiz Fernando ungido por Luiz Marinho e abençoado por Luiz Inácio poderá sim chegar ao segundo turno em São Bernardo.

FLÁVIA COMO GILVAN

Flávia Morando seria a rival com quem mediria forças. Flávia Morando está para o segundo turno em São Bernardo assim como Gilvan Júnior em Santo André. Contam com a máquina azeitada a incrementar o eleitorado. Tite Campanella, em São Caetano, não é diferente.

A razão da projeção favorável a Luiz Fernando  é que o peso de Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin, em menor grau, poderá fazer a escalada classificatória na reta de chegada do primeiro turno, desde que os dois principais mandatários do País (deixem o poderoso ministro do Supremo de lado) invistam mesmo com participações presenciais.

Diferentemente, entretanto, do que disse Luiz Fernando  ao UOL, Lula da Silva não é o maior eleitor extra São  Bernardo. As pesquisas apontam que o prestígio do governador Tarcísio de Freitas é muito, mas muito maior. Coisa de 10 pontos percentuais. É ponto para caramba, e que seriam reforço e tanto a Flávia Morando.

Embora faltem pesquisas confiáveis (o Instituto Paraná é o que mais se aproxima disso, mas não sai com a frequência desejada), tudo indica que o quarteto que disputa a Prefeitura de São Bernardo poderá ter configuração diferente no segundo turno, sempre com Flávia Morando ultrapassando a faixa do primeiro turno.

MARCELO CRESCE

O ex-vice-prefeito Marcelo Lima estaria hoje acima dos votos válidos de Luiz Fernando Teixeira e numa faixa semelhante a do deputado Alex Manente. A tendência de Manente cair na medida em que a reta de chegada do primeiro turno se aproxima e da melhora de Luiz Fernando, projeta dificuldades para distinguir finalistas de derrotados nesse quarteto.

Mas como é pouco  provável que a indicada de um prefeito muito bem avaliado técnica e popularmente como Orlando Morando e o trem de arranque final do PT jamais poderia ser subestimado, esses seriam os finalistas. Mas Marcelo Lima vem minando as bases mais populares do PT.

Luiz municipal, Luiz federal e Luiz presidencial não devem estar dormindo em paz quando repousam a cabeça de especulações no travesseiro de possibilidades eleitorais em São Bernardo. Luiz Fernando deixou isso evidente na entrevista ao UOL. Só está faltando usar um megafone, alugar um taxi aéreo e desembarcar na residência presidencial de Lula da Silva para clamar por socorro. Faz parte do jogo. Qualquer um faria o mesmo. Mas Luiz Fernando precisa se ajudar.   

 

Pesquisa malcheirosa como

fralda geriátrica ou infantil  

 DANIEL LIMA - 01/03/2023

A pesquisa que o Instituto Paraná publicou com destaque de manchetíssima de primeira página na edição de hoje do Diário do Grande ABC tem parentesco olfativo com o produto líquido e bruto que encharca fralda geriátrica. Fralda infantil também serve.   

Aliás, tanto faz. O cheiro é mesmo forte.  Tão forte que o melhor é atirar a pesquisa onde você jogaria a fralda geriátrica ou a fralda infantil.   

O leitor vai entender mais adiante que não estou desrespeitando nem ofendendo o Instituto Paraná. Só estou expondo um ponto de vista consolidado com linguagem de fácil compreensão e, também, similaridade.   

Quem construiu as provas que remetem à peça de descarte orgânico é o próprio Instituto Paraná.

PONTE AO FUTURO   

Há determinadas situações que, por parecerem tão ofensivas à sociedade, não merecem outro tratamento senão reação metafórica mais aguda. Os mais radicais partiriam para outro tipo de desclassificação, sem levar em conta qualquer metáfora.   

A pesquisa, mais que apressada, se refere à disputa pela Prefeitura de São Bernardo em outubro do ano que vem.   

Esse apressamento inexplicável, exceto por eventual interesse em se construírem pontes a um determinado candidato, não tem consistência elucidativa, por assim dizer, sobre o que esperar daqui a 19 meses. Ainda mais que mal saímos de disputas eleitorais de águas ainda em decantação.   

Mas isso é de menos. Pode até ser contestado, embora se duvide que qualquer argumento convença. 

ESQUECERAM MARINHO   

O que é incontestável, porque se trata de atestado de negligência, burrice, estupidez ou algo que o valha, é o potencialmente favorito candidato à sucessão do prefeito Orlando Morando não constar da lista prévia preparada e levada aos entrevistados.   

Estou me referindo ao ministro do Trabalho Luiz Marinho. O petista não é um candidato qualquer à Prefeitura de São Bernardo. Só o fato de ser ministro já seria relevante, claro.   

Mas Marinho é muito mais que isso: foi prefeito de São Bernardo durante oito anos. Reelegeu-se em primeiro turno. É naturalmente destinatário de memória eleitoral que deve ser respeitada.  

Até porque, como candidato a governador do Estado em 2018 e a deputado federal recentemente, foi muito bem votado no mais emblemático reduto eleitoral nacional do PT.  

Luiz Marinho é tão poderoso em São Bernardo que consegue boas votações mesmo num período em que o prefeito tucano Orlando Morando dá de braçadas. Aliás, sobre Morando, escreveremos mais abaixo.   

PALMEIRAS FORA   

Excluir Luiz Marinho de pesquisa eleitoral ao comando da Prefeitura de São Bernardo tem significado semelhante a eliminar o Palmeiras de pesquisa sobre os maiores favoritos ao título do Campeonato Brasileiro deste ano.  

Só isso (ou tudo isso) já descredencia metodologicamente a pesquisa do Instituto Paraná.  

É nesse ponto que entra em campo a fralda geriátrica e a fralda infantil, um ou outra ou as duas para aumentar ainda mais o cheiro malcheiroso que poucos gostam de sentir.   

Sem Luiz Marinho e sem que a movimentação das supostas peças de candidatos esteja realmente desenhada com certa viabilidade, quem chegou em primeiro lugar na pesquisa do Instituto Paraná foi o eterno deputado (estadual e federal) Alex Manente.    

Vou explicar como é pouco confiável o destaque dado a Alex Manente (mesmo considerando antecipadamente que a pesquisa é um descarte sem a presença de Luiz Marinho) como principal concorrente ao Paço Municipal.  

SALTO QUÂNTICO   

Segundo o Instituto Paraná, Manente tem 33,1% dos votos estimulados. É seguido de longe pelo recém-eleito também deputado federal Marcelo Lima. Seguem na classificação geral dos nomeados pelo Instituto Paraná: vereador Julinho Fuzari (9,8%), deputado estadual petista Luiz Fernando Teixeira (8,2%), o ex-vereador Rafael Demarchi (4,8%) e o secretário de Saúde Geraldo Reple Sobrinho (1,9%).  

Não saberiam em quem votar 8,5% dos eleitores entrevistados, enquanto outros 16,9% não votariam em nenhum dos relacionados.   

Como o material jornalístico do Diário do Grande ABC não reproduz a metodologia aplicada ao voto estimulado, fico na dúvida se não tivemos o caso de vício de Alex Manente constar da primeira fila na ordem alfabética, em substituição à convencional cartela esférica salomônica.   

Mas isso é de menos. O que interessa mesmo é que tanto no caso de Alex Manente como dos demais (a comprovar que a pesquisa é intempestiva), o grau de vulnerabilidade é elevadíssimo.   

MUITO RISCO   

Grau de vulnerabilidade elevadíssimo significa dizer que as escolhas de agora poderão ser descartáveis mais adiante.  

Como isso pode ocorrer? Simples: a transposição do voto espontâneo (quando o entrevistado diz em quem vai votar sem consultar lista alguma, seja esférica, alfabética ou não) para o voto estimulado é uma corrida de barreiras. Tudo pode acontecer.  

E o que pode acontecer no caso da pesquisa do Instituto Paraná? Basta comparar a sondagem resultante da pesquisa espontânea e os números da pesquisa estimulada.   

Quanto maior o percentual de votos espontâneos, mais se configura a certeza de peso relativo do voto estimulado como caminho aberto à confirmação nas urnas. Quanto menor o percentual de votos espontâneos, menos probabilidade de sedimentação do voto estimulado.   

No caso da pesquisa do Instituto Paraná, essas premissas cientificamente comprovadas vão para o beleleu.   

O grau de vulnerabilidade dos votos contabilizados em favor de Alex Manente é enorme, tanto quanto dos demais supostos candidatos.   

SUBINDO DEMAIS   

Alex Manente contou nos votos espontâneos com apenas 2,7% de apontamentos dos eleitores. Saltou para incríveis 33,1% quando os entrevistados receberam a cartela indexadora de voto estimulado.  

Agora, se preparem para uma bomba que confirma o odor da pesquisa do Instituto Paraná ao excluir Luiz Marinho da pesquisa: o petista contou com 2,2% dos votos espontâneos (contra os 2,7% de Manente, portanto). Uma diferença mínima, que, semelhantemente sob efeitos estimulados, alcançaria números próximo de Alex Manente.   

Tirar Luiz Marinho da pesquisa é tirar o Palmeiras do Campeonato Brasileiro. Uma barbaridade que poderia ser resumida também como a entrega da rapadura de uma fraude metodológica imperdoável.  

ENCHENDO A BOLA   

Os demais concorrentes também tiveram relativamente grandes saltos numéricos quando saíram do estágio de voto espontâneo para voto estimulado. Ou seja: quanto maior o salto, maior o tombo de expectativas frustradas.   

Voltando um pouco à prematuridade temporal implícita da pesquisa do Instituto Paraná, os dados dos votos espontâneos provam vulnerabilidade ainda maior que a insustentabilidade dos números preliminares dos concorrentes.   

Os registros de votos espontâneos a todos os concorrentes são tão pífios, tão marginais relativamente ao conjunto dos eleitores, que só existe mesmo uma explicação lógica: a pesquisa está completamente fora do tempo da ciência propriamente dita.  

Por quê, afinal, se dá tanta inquietação? Desconfia-se fortemente de oportunismo político com mensagem longe de ser cifrada: pretende-se encher a bola do deputado federal Alex Manente, colocando-o como concorrente forte ou como concorrente a ser considerado pelos favoritos, no caso o provável indicado por Orlando Morando, Marcelo Lima, e Luiz Marinho, caso confirme candidatura.  

DOIS RECADOS   

Por fim, a pesquisa do Instituto Paraná deixou dois recados que, agora sim, parecem consistentes.  

Primeiro, o prestígio do prefeito Orlando Morando é extraordinário, com 72% de aprovação dos eleitores de uma cidade dividida entre conservadores e regressistas, ou direita versus esquerda, e conhecida como berço do Partido dos Trabalhadores.   

Não há na região território mais combativo no campo político-eleitoral do que São Bernardo. Esteja o PT em alta ou em baixa, o PT é PT sempre. Diadema é mais avermelhada, mas não conta com oposição à altura de São Bernardo.   

Segundo, tudo indica que o apoio de Orlando Morando no ano que vem pode fazer a diferença eleitoral em favor do candidato do Paço, mesmo com Luiz Marinho numa eventual disputa.   

APOIO SUBLIMINAR?   

A única explicação que poderia dar algum respaldo ao crescimento de votos direcionados a Alex Manente entre os apontamentos espontâneos e os apontamentos estimulados é uma eventual interpretação de parte do eleitorado de que o candidato do Cidadania eternamente concorrente-auxiliar à Prefeitura de São Bernardo teria o apoio do prefeito Orlando Morando.  

Como isso é praticamente impossível, eventual fortalecimento da candidatura de Alex Manente virará pó na medida em que o eleitorado descobrir a verdade do cenário plausível no horizonte eleitoral: será Marcelo Lima ou outro candidato do Paço o concorrente que tentará fazer frente a Luiz Marinho.   

O mesmo Luiz Marinho que só não seria candidato em São Bernardo se o PT estiver em maus lençóis no plano federal. Aí o reserva Luiz Fernando Teixeira seria lançado apenas para marcar presença petista. 

Para completar, não custa lembrar os números eleitorais do ano passado em São Bernardo, quando Marinho, Manente e Marcelo concorreram aos cargos de deputados federais. Manente obteve 64.870 votos, Luiz Marinho 63.751 e Marcelo Lima 55.119 votos. Os dados não servem como referência para o futuro, porque são disputas diferentes. E principalmente porque Orlando Morando, prefeito, não concorreu.   



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