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Política

DANIEL LIMA - 10/10/2024

O segundo turno eleitoral em São Bernardo se transformou em indigesto Triângulo das Bermudas para Alex Manente. A finalíssima programada para o dia 27 coloca o ex-vice-prefeito e ex-deputado Marcelo Lima às portas da sucessão de Orlando Morando, depois do apoio anunciado ontem pelo prefeito e a família Morando. Manente não terá como sair da enrascada.

A sociologia eleitoral, em condições normais de tempo e pressão, é pouco elástica em caso como o registrado no primeiro turno em São Bernardo. Ou seja: Alex Manente deverá patinar nas próximas semanas. Já o mundo de Marcelo Lima ganharia amplo aumento de votos.

Se tivesse que apostar hoje, especulativamente, num placar para o segundo turno em São Bernardo, apostaria em Marcelo Lima numa proporção de 60% a 40% com viés de alta. A equação é matemática, política e social, transformada em voto nas urnas.  Pode chamar tudo isso de sociologia do voto que não é exagero. 

FAVORITISMO EVIDENTE

Para compreender o favoritismo de Marcelo Lima é preciso juntar aos votos que somou no primeiro turno, a maior parcela dos votos direcionados a Flávia Morando e também a parte mais robusta dos votos recebidos pelo petista Luiz Fernando Teixeira. Esse é o Triângulo das Bermudas eleitoral de Manente. Contra isso não há quem possa. Só o Imponderável.

Alex Manente deverá somar aos votos que já teve uma parcela menor dos votos de Flávia Morando, quase nada dos votos do Partido dos Trabalhadores do deputado estadual Luiz Fernando Teixeira e, dentro de toda esse arcabouço, uma parcela de votos estimulados pelo governador Tarcísio de Freitas, que o apoiaria. Essa combinação é uma espécie de formatação rígida. Quase que um círculo de ferro insuficiente à maior flexibilidade de composição eleitoral do adversário.  

Tudo isso que estou escrevendo tem a ver com a lógica eleitoral, mas não se pode subestimar o imponderável. Exatamente por ser imponderável esse eventual peso relativo de votos fica no banco de reservas de expectativas. Isso quer dizer que talvez nem entre em campo mesmo que fragilizado. Imponderável fragilizado seria a ocorrência de algo com algum impacto, mas sem grande poder  para alterar a marcha da contagem.

ENCRALACRAMENTO

A única saída que Alex Manente teria para equilibrar o jogo eleitoral no segundo turno tornou-se inviável não só porque hostilizou o candidato petista durante todo o primeiro turno como também porque anunciou o apoio do governador Tarcísio de Freitas. Ou seja: ao mesmo tempo que abriu as portas a um governador popular, mas que também será percebido sensorialmente como apoiador do grupo de Orlando Morando que apoia Marcelo Lima, Alex Manente fechou o corredor aos petistas. Um fechamento compulsório, porque não combinaria Tarcísio de Freitas e o PT no mesmo barco.

O Triângulo das Bermudas eleitoral que faz a embarcação de Alex Manente afundar é formado, portanto, pelo apoio situacionista do grupo de Orlando Morando a Marcelo Lima, pela situação consolidada de votos de Marcelo Lima, primeiro colocado no primeiro turno, e também pelo potencial dos petistas da periferia em apoiar a candidatura de Marcelo Lima, independentemente da vontade da cúpula petista.

Embora faltem estudos para definir cromossomos dos votos em São Bernardo, está mais que na cara que o voto popular de periferia está mais concentrado nos candidatos Marcelo Lima e Luiz Fernando Teixeira, com a família Morando vindo a seguir.

TURNO COMPLICADÍSSIMO

À falta de um mapa eleitoral completo de São Bernardo, aposto na  mistura de intuição e de conhecimento mínimo da localização de estratos sociais no Município.

A candidatura de Flávia Morando, que  naufragou no intento de chegar ao segundo turno das eleições mais dramáticas da história de São Bernardo,  precisa ser detalhadamente analisada, mas há um ponto que parece indescartável. Da mesma forma que Alex Manente obteve mais votos do que os esperados no centro expandido em que a Família Morando sempre obteve os melhores resultados proporcionais, na periferia bem frequentada pelo titular do Paço Municipal, Marcelo Lima avançou bastante e superou inclusive o PT de Luiz Fernando Teixeira.

Trocando em miúdos: somando-se os votos perdidos no centro expandido para Alex Manente e os votos fugidios na periferia para Marcelo Lima, Flávia Morando sofreu vazamentos relevantes  na contabilidade final. Mas mesmo assim não figurou num quarto lugar desclassificatória. A distância que a separou do segundo lugar e do segundo turno ostentados por Alex Manente foi de apenas 21.317 votos válidos. Metade disso mais um voto a colocaria na etapa final da disputa, substituindo a Manente.

OUTRO CENÁRIO

Da mesma forma que o retrato do primeiro turno com essas nuances decretou a derrota de Flávia Morando, agora no segundo turno de apoio a Marcelo Lima os votos potenciais serão um reforço considerável. Alex Manente correrá sempre em faixa bastante inferior.

A pergunta que poderia ser respondida em termos especulativos giraria em torno do desenrolar do segundo turno caso Orlando Morando decidisse juntar-se ao governador Tarcísio de Freitas e apoiar Alex Manente.

Os resultados do primeiro turno são o farol mais apropriado à resposta. E a resposta é a seguinte: o primeiro turno em São Bernardo possivelmente seria fichinha, uma brincadeirinha de parque infantil em termos de emoção, quando comparado a um segundo turno devastador. Tranquilizantes reforçariam a dieta dos concorrentes e assessores.

Um dos maiores erros táticos que os candidatos cometem no primeiro turno potencialmente encaminhador a um segundo turno é queimar pontes que  teriam de atravessar. As duras críticas de Alex Manente ao PT, depois de enamorarem durante muitos anos, são praticamente irrecuperáveis no curto prazo. No caso, nas três semanas que separam o primeiro do segundo turno.

No caso de Marcelo Lima, o que tivemos no primeiro turno foi uma habilidade impressionante em projetar-se ao segundo turno. Da mesma forma que se colocou como participante e herdeiro natural da gestão aprovadíssima de Orlando Morando, na condição de ex-vice-prefeito e ex-secretário de Obras, poupou adversários de acidez verbal. Marcelo Lima seguiu plano de voo sem grandes trepidações. Não criou tempestades e tampouco plantou obstáculos ao diálogo com  grupos de excluídos do baile do segundo turno.



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