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Imprensa

DANIEL LIMA - 09/10/2024

Juntei três edições da newsletters OmbudsmanDiário neste novo capítulo que resgata minha passagem pelo Diário do Grande ABC há exatos 20 anos. Contratado para comandar a Redação do jornal, atuei durante pouco mais de um mês como primeiro e único Ombudsman da publicação, enquanto se resolviam  problemas acionários que atrapalhavam minha posse.

Na edição, de 2 de julho de 2004, tratei do quesito que chamei de “operacionalidade”, do Planejamento Editorial Estratégico. Era a edição 23 da newsletters.

A edição de número 24, de 2 de julho, pode ser considerada histórica. Afinal, entre os vários assuntos que abordei estava a repercussão da maior conquista do futebol da região, registrada dois dias antes: a conquista da Copa do Brasil pelo Santo André diante do Flamengo em pleno Maracanã. Aquele resultado quebrou uma rotina que mantinha com vigor: a newsletter do dia primeiro de julho não foi distribuída a acionistas, diretores e editores do Diário do Grande ABC porque paguei o preço das comemorações. Aliás, explico essa vagabundagem mais que justa.  

A edição de número 25 revela um outro capítulo em que foi dividido o Planejamento Editorial Estratégico .O que se segue refere-se ao que chamei de “Relacionamento Externo”, em cinco  julho de 2004.  

 EDIÇÃO NÚMERO 23

Somente um diagnóstico que leve em conta o dia-a-dia de produção conseguirá aferir sem maiores riscos o grau de eficiência, de eficácia e de ineficiência do jornal. A diferença entre eficácia, eficiência e ineficiência é a mesma entre um goleador que marca gols em profusão mas inúteis contra adversários de baixo nível e sempre nega fogo quando se vê confrontado com a imperiosidade de decidir; um goleador que distribui artilharia harmoniosamente, sempre nos momentos mais delicados, sempre quando um gol faz a diferença de pontos preciosos; e um goleador em fim de carreira, incapaz de recuperar a velha forma e que, portanto, vive única e exclusivamente do passado. Eficiência é fazer o melhor com mais agilidade, com alta rentabilidade individual, com amplo compartilhamento coletivo. Os artilheiros mais confiáveis são aqueles para os quais não converge toda a atenção de seus companheiros, mas são capazes de integrar-se de tal forma ao conjunto que extraem dessa simbiose os melhores resultados. 

Detestamos apressar o passo sobretudo quando não contamos com fluxo de informações que consubstanciem argumentos. Entretanto, nos últimos dias, por força das circunstâncias e depois de receber relatório com nomes, datas de contratação, funções e salários dos profissionais da área de conteúdo do Diário do Grande ABC, chegamos a algumas conclusões precárias, mas que, nos primeiros 30 dias de trabalho, poderão configurar-se autênticas veredas sobre as quais introduziremos nossa metodologia.

Aparentemente, há número desproporcional de profissionais de áreas-fim em relação às áreas-meio. Profissionais de áreas-fim são aqueles cujos nomes podem diariamente ser identificados pelos leitores, porque têm trabalhos assinados. Profissionais de áreas intermediárias estão na retaguarda. Suas identidades raramente chamam a atenção dos leitores porque o mercado consumidor é implacável com as aparências: não se compra um produto editorial pela retaguarda operacional, mas pelo pelotão de frente dos formuladores de textos e fotografias. 

Esse desbalanço -- insistimos em dizer que se trata de constatação sujeita a revisão durante o período de diagnóstico -- poderia denunciar o enquadramento da área de conteúdo do Diário do Grande ABC na saia justa de um verbete que causa calafrios em quem procura encurtar sempre e sempre e de forma pragmática a distância entre dois pontos: burocratismo. Isso mesmo. Há cheiro de burocratismo no ar -- ou melhor, no relatório que recebi e que espero não reúna a amplitude que inicialmente vislumbro. Não consigo entender -- e jamais vou ceder à tentação de me convencer de algo absolutamente sem nexo -- que jornalistas contratados para escrever e exercer outras funções correlatas não consigam dar o recado inteiro. 

Há profissionais no Diário do Grande ABC que simplesmente desapareceram dos radares de identificação explícita do produto. Basta lançar mão da coleção no arquivo e confrontar as assinaturas dos autores das matérias e das fotografias com o quadro de colaboradores. É claro que trabalham, porque senão não estariam na empresa, mas trabalham provavelmente mal: exatamente por serem os mais experientes não conseguem se comunicar diretamente com os leitores, expondo conhecimentos em forma de matérias, de artigos, de posicionamentos que ajudam a dar personalidade ao produto. 

O que se passa, então? Na medida em que escrevemos, mais nos arriscamos a garantir que há um emaranhado funcional no setor de conteúdo do Diário do Grande ABC que afronta os critérios de produtividade. Por mais que o cotidiano seja intenso -- e o é realmente numa redação de jornal diário -- não existe justificativa sustentável para o editor desaparecer das páginas -- exceto a burocracia, evidentemente. A multifuncionalidade já mencionada contribuirá imensamente para recolocar as peças nos devidos lugares. Editor que não escreve é como pedreiro que não assenta tijolo, é como cantor que não canta, é como piloto que não dirige; ou seja, é a negação descarada da função. 

Provavelmente, muito provavelmente, por força dessas mais que evidentes anomalias estruturais em que se privilegia sobremodo o tecnicismo funcional em detrimento da exploração do potencial de cada profissional, o Diário do Grande ABC apresente a singela marca de conferir a boa parte de seus colaboradores um sistema de banco de horas que premia enormemente a mão-de-obra e sacrifica terrivelmente o produto. Enganamo-nos ao afirmar ainda outro dia que há funcionário da área de conteúdo que já gozou de férias de 60 dias por conta do banco de horas. Desconhecia até então que há situações mais alarmantes -- um colaborador teria descansado quase 120 dias corridos. 

Não são apenas os dias corridos que corrompem e desmantelam qualquer enunciado voltado à qualidade do produto. Também há operações pinga-pinga, bate-volta, de três, quatro, cinco dias de descanso remunerado. Essa intermitência funcional é quase tão danosa quanto os casos de turismo remunerado. O Diário do Grande ABC talvez tenha se esquecido da lógica acaciana de que, ao desprezar o consumidor de informação em favor de vantagens funcionais a seus colaboradores, o mesmo consumidor surrupiado pela imprecisão das informações também pode -- e geralmente o faz -- esquecer o jornal. 

Já imaginaram se uma linha de produção de qualquer coisa menos dependente de cérebro -- as linhas de montagem de veículos, por exemplo, cada vez mais automatizadas -- também contasse com esse disparate metodológico? É provável que os casos de recall seriam muito mais frequentes e o comprometimento da imagem da companhia não se tornasse apenas uma tempestade passageira. Fossem as férias curtas ou longas no campo editorial uma ousada inovação de se tirar o chapéu, as telenovelas da Globo provavelmente se inspirariam nesse modelo de reformismo funcional, retirando de cena durante vários capítulos importantes personagens de seus dramalhões sempre bem dirigidos. Um jornal não é outra coisa senão uma grande telenovela, com a vantagem de que há novos personagens a cada dia a acrescentar mais interesse dos leitores. Um jornal com uma equipe de colunistas de peso regional, por exemplo, segura a audiência. Como descartar que entre os colunistas estejam os editores, por exemplo? 

Ainda sobre essa questão -- a questão das férias prolongadas ou intermitentes decorrentes do banco de horas -- algumas conclusões emergem menos como especulação e mais como experiência prática. Primeiro: se há profissional cuja dispensa dos afazeres pelos quais foi contratado incide perfil tão escandalosamente antiprodutivo, é sinal de que não faz parte das necessidades vitais da empresa. Segundo: a negativa dessa avaliação, ou seja, de que o profissional em constante vacância funcional não estaria na lista dos improdutivos, requer da estrutura funcional urgente modificação. Qual é a solução? Controlaremos todos os setores de conteúdo da empresa num primeiro instante e, em seguida, repassaremos aos responsáveis por área os conceitos que serão imediatamente aplicados e que, em resumo, constarão do seguinte enunciado: em situação de normalidade, nenhum profissional deve gozar de período de férias ou de qualquer malabarismo de descanso que ultrapasse os limites convencionais ditados pela legislação, pelo bom senso e pelo dogma de que o produto está em primeiro lugar. 

Longe de mim imaginar que está em franca evolução na área de conteúdo do Diário do Grande ABC uma grande fuzarca funcional em que, deliberadamente, se construiu um banco de horas cuja finalidade principal seja sangrar a qualidade do produto. Embora essa suspeita seja apenas especulação, não conseguimos encontrar justificativas e explicações para o saqueamento permanente da engrenagem editorial. Quem seria capaz de opor-se à projeção que deslocaria maliciosamente o banco de horas do Diário do Grande ABC para a passarela carnavalesca da locupletação geral e irrestrita dos colaboradores? Como estabelecer e exigir valores laborais à fixação e à manutenção de um núcleo editorial cujo amanhã seja a continuidade do ontem se parte dos colaboradores desaparece da linha de produção e, dadas as peculiaridades do descanso, acaba mesmo sem querer se desvinculando do compromisso social do produto?

 EDIÇÃO NÚMERO 24

Suspendemos a edição convencional desta newsletter de ontem por várias razões: comemoramos até de madrugada o título do Santo André, vivemos o último e extenuante prazo de fechamento da edição de julho da revista LivreMercado e, também, passamos duas horas sobre o carro do Corpo de Bombeiros que desfilou com os campeões da Copa do Brasil. A participação nos festejos de madrugada e da tarde-noite de ontem é elemento importantíssimo à coleção de vetores sociológicos para um jornalista que procura estar ligadíssimo às questões do Grande ABC. Juntei, no caso, a fome com a vontade de comer.

Esqueci de dizer que também tive de produzir, a toque de caixa, uma matéria específica sobre a conquista do Santo André para LivreMercado. Foram 15 mil caracteres que tentam explicar porque aconteceu o que aconteceu no Maracanã -- mas sob aspectos não vasculhados pela mídia impressa diária. 

PRIMEIRA PÁGINA (I)

O jornal vestiu a camisa do Grande ABC com a capa de quinta-feira integralmente dedicada à vitória do Santo André. Nada mais justo. 

PRIMEIRA PÁGINA (II)

Santo André voltou a ser destaque na edição de hoje. Nada mais justo, também. 

COPA DO BRASIL (I)

Não li nada no jornal sobre o mercado de camisas do Santo André durante a disputa dos jogos com o Flamengo e, principalmente, após a conquista do título. Há informações de que os estoques se esgotaram. Não valeriam flagrantes de populares nas ruas com as cores do clube? 

COPA DO BRASIL (II)

A edição da conquista do título em suplemento especial preencheu todas as necessidade de informações dos leitores, mas os espaços reservados ao jogo e variáveis no Maracanã poderiam ser mais amplos. 

COPA DO BRASIL (III)

Faltou emoção na cobertura do passeio de duas horas dos campeões pelas ruas de Santo André. Vou escrever sobre o assunto no Capital Social Online. Há certos momentos da vida profissional em que a emoção jamais pode faltar. Principalmente quando acompanhada de conteúdo. Santo André é uma cidade traumatizada pela morte do prefeito Celso Daniel e encontrou na vitória do Santo André um momento mágico de recuperação. Posso garantir, porque acompanhei as duas situações. O jornal parece ter medo de assumir posições que não são outra coisa senão jornalismo puro. 

COPA DO BRASIL (IV)

O jornal não conseguiu traduzir o que aconteceu ontem no Paço Municipal durante recepção aos campeões. Os leitores não souberam qual foi o tom da recepção da Administração Pública aos heróis do Maracanã. Escrevo sobre o assunto no "bate-pronto" de CapitalSocial Online. Afinal, estamos às vésperas das eleições municipais e a politização da conquista poderia ser um prato interessante. Ou a "despolitização", como foi o caso. O prefeito João Avamileno só deu uma estocada em Luiz Tortorello, como mostra o Clique ABC de hoje. 

COPA DO BRASIL (V)

A possibilidade de desmanche do Santo André precisa ser aprofundada com um texto que situe o torcedor sobre as especulações que a imprensa especializada está divulgando. 

COPA DO BRASIL (VI)

O jogo do Santo André contra a Portuguesa de Desportos, amanhã na Capital, recoloca a equipe no pesadelo de fugir do rebaixamento por causa da perda de 12 pontos. Esse tom é importantíssimo como apresentação do jogo pelo jornal. Ou seja: a edição de amanhã deverá flutuar entre a conquista de quarta-feira e a ressaca que se poderá manifestar amanhã. 

COPA DO BRASIL (VII)

Não vou esquecer que o jornal se omitiu na avaliação da transmissão da TV Globo do jogo decisivo no Maracanã. Como leitor, fiquei frustrado. Como Ombudsman, fiquei indignado. Como jornalista, fiquei atônito. Por falar nisso: a TV Globo, estigmatizada pelo carioquismo, se comportou muito bem durante quase todo o tempo de transmissão. Inclusive Galvão Bueno. Convém aos profissionais do jornal entenderem que não vou transigir nas obrigações que me cabem. Cada linha que escrevo nesta newsletter poderá se transformar em insumo de uma obra específica sobre esse trabalho inédito para o Diário do Grande ABC. 

COPA DO BRASIL (VIII)

A nota de Cena Política sobre a preocupação de uso político da conquista do Santo André pela administração petista seria muito mais inovadora e menos especulativa se fosse transmitida a informação sobre o discurso do prefeito João Avamileno ao recepcionar os campeões ontem no Paço Municipal. 

SAÚDE EM MAUÁ

Mereceria cabeça da página 5 de Setecidades a matéria "Sucen monta armadilha em Mauá", que trata do caso dos carrapatos na mata próxima à favela do Jardim Primavera, onde moravam as três vítimas da febre maculosa. A informação -- dada a repercussão do caso -- tem muito mais relevância que o destaque dado ao título "Prevenção é o enfoque de carta do Fórum", que trata do 1º Fórum Nacional de Defesa Civil, sediado por Santo André. Sobretudo porque a matéria do Fórum é burocrática. Aliás, como tem sido a marca registrada do jornal em eventos do gênero. 

ESCOLA DE CIÊNCIA

A cronologia de obras do Parque das Ciências, projeto assinado por Paulo Mendes da Rocha, mereceria matéria mais consistente do que a notícia da página 5 de Setecidades "Parque terá laboratório em outubro". Há atraso considerável nas obras. 

SAÚDE EM SANTO ANDRÉ

Também excessivamente econômica e rasa a matéria "PA da Vila Luzita reabre após obras", que abre a página 4 de Setecidades. A saúde pública em Santo André foi tão fortemente combatida ao longo dos últimos anos (num acerto apenas parcial, porque a crise no setor é generalizada no País) que teria sido mais correto um texto denso sobre o fato de que o Pronto-Atendimento da Vila Luzita será reaberto amanhã à população, depois de oito meses fechado para reformas. Saúde é assunto prioritário para os leitores. 

PARANAPIACABA

O Festival de Inverno de Paranapiacaba começa a despontar nas manchetes de Cultura & Lazer. Acho que o jornal deveria investir para valer nesse temário com série de matérias curtas sobre os pontos de atratividade daquela vila histórica. 

UNIVERSIDADE PÚBLICA

A manchete do caderno de Setecidades deveria ser a notícia que está subestimada à direita "Ministro diz que UABC sai mesmo com debate em curso", em vez de "MEC vai avaliar todos os alunos de 4ª e 8ª séries". A UFABC (não UABC como o jornal insiste em colocar) é muito mais relevante para o debate regional. Além disso, o enfoque dado à entrevista com o ministro Tarso Genro deveria ser outro. Em vez de enfatizar que "o ministro afirmou ontem que a universidade pública do Grande ABC sairá para o ano que vem, mesmo que até lá o grupo que discute o modelo no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC não tenha encerrado o processo de elaboração de propostas a serem incorporadas ao projeto de lei", a notícia mais importante está na decisão de que as diretrizes são do governo federal. Vejam só esse trecho da matéria: "Ele (ministro) voltou a afirmar que é imprescindível o debate entre os setores da economia local e o meio acadêmico". 

O jornal encontra muitas dificuldades para sistematizar informações mais complexas e, com isso, não consegue, de maneira geral, transformar insumos em textos mais consistentes. Há fragmentação demais. A reunião do Consórcio de Prefeitos com parcos representantes do setor produtivo deveria ter sido registrada na matéria num contexto de crítica ao distanciamento daquela instância com os meios de produção. 

INDÚSTRIA REGIONAL (I)

O jornal destaca hoje em Economia, página 3, que "Diadema é 5ª em ranking de empregos na indústria". A matéria está baseada em informações da Fiesp, cuja metodologia de aferição do mercado de trabalho industrial deveria ser vasculhada para dar respaldo de credibilidade. Perdeu-se mais uma vez oportunidade de ouro para cruzar indicadores. No caso da indústria, há dados do Ministério do Trabalho e Emprego, publicados inclusive pelo jornal, que poderiam consubstanciar ou não a pesquisa da Fiesp. O jornal, de maneira geral, parece sofrer de amnésia -- não se lembra no dia seguinte do que publicou no dia anterior. Já li uma crítica de filme que tem um personagem vítima dessa disfunção. 

INDÚSTRIA REGIONAL (II)

Publiquei de forma inédita na newsletter CapitalSocial Online a informação mais importante para a economia do Grande ABC nos últimos tempos, mas o jornal simplesmente ignorou, eventualmente por veleidade, provavelmente por descuido, estupidamente por alienação. Vai esperar que os concorrentes da Capital o façam. Trata-se da recuperação de parte importante a produção industrial da região no primeiro ano de governo Lula da Silva, em contraste com os oito anos de debacle do governo Fernando Henrique Cardoso. Vou escrever sobre o assunto no "Contexto" de domingo. 

ENCONTRO DE METALÚRGICOS

Burocrática a matéria "Metalúrgicos da CUT discutem rumos do sindicalismo mundial". Creio que a informação, perdida no texto, sobre a possível eleição de Carlos Alberto Grana para comandar a Confederação Nacional dos Metalúrgicos mereceria ênfase que ancorasse o título. Grana é sindicalista vinculadíssimo ao Grande ABC e poderia ser ouvido atentamente sobre o peso histórico dos metalúrgicos da região na entidade. Aumentamos ou perdemos influência na condução dos metalúrgicos, depois das grandes mudanças econômicas que atingiram o setor? Ou seja: como está o sindicalismo de vanguarda no setor metalúrgico que o Grande ABC fez emergir há mais de 20 anos? 

O jornal erra demais em produzir textos insossos quando se trata de eventos programados. É impressionante a incapacidade de pautar os protagonistas. A formalidade na apresentação do Congresso Nacional dos Metalúrgicos da CUT torna a informação oficialesca. 

FESTIVAL DE PERDÃO (I)

O jornal traz na edição desta sexta-feira mais uma benemerência eleitoral, agora à página 3 de Política Grande ABC, sob o título "Santo André facilita para devedores", referindo-se à aprovação de projeto de lei que autoriza parcelamento de tributos municipais como IPTU e ISS. A matéria está bem apurada, saiu do viés estritamente administrativo. 

FESTIVAL DE PERDÃO (II)

Na página 5 de Política Grande ABC de quinta-feira o jornal publicou a matéria "Semasa é autorizado a negociar com devedores", que dá nítidos contornos eleitorais à questão do parcelamento de dívidas de contribuintes inadimplentes. 

FESTIVAL DE PERDÃO (III)

Não estaria na hora de o jornal fazer um levantamento sobre todas as deliberações tomadas pelos prefeitos da região (com maioria nos Legislativos) para amolecer o jogo junto a contribuintes em atraso com obrigações tributárias? 

FESTIVAL DE PERDÃO (IV)

O vereador de Santo André Fernando Gomes é contraditório. Na edição de quinta-feira ele critica a administração petista ao vincular o parcelamento de débitos do Semasa ao calendário eleitoral. Na edição de hoje, no caso dos devedores do IPTU e do ISS, que tem o mesmo formato, o mesmo vereador reivindica participação. "O justo seria que essa proposta fosse assinada pelos 21 vereadores" -- disse o vereador, referindo-se ao IPTU e ISS. 

ELEIÇÕES MUNICIPAIS (I)

Está na página 2 de Política Grande ABC de hoje a matéria "Sessão extra salva verba de R$ 630 mil para São Bernardo", que tem fundo estritamente eleitoral. Trata-se da enrolação do governo William Dib em aprovar a autorização de crédito de R$ 630 mil do governo federal para construção de seis creches. O problema todo é que foi Vicentinho Paulo da Silva, deputado federal e adversário de Dib nas eleições de São Bernardo, quem solicitou os recursos. A matéria demorou para enquadrar esse que é o núcleo da morosidade. O tom teria que ser político mesmo, com complementaridade social, ouvindo-se a Secretaria de Saúde, como o jornal ouviu. 

Sinto que a cobertura das eleições em São Bernardo, que de fato já começaram, encontra dificuldades de sair de um certo grau de preocupação dos repórteres e editores. A engrenagem parece enferrujada. 

ELEIÇÕES MUNICIPAIS (II)

A matéria "Câmaras: 1,9 mil candidatos na região", de Política Grande ABC de quinta-feira, é providencial para entender a disputa pelos legislativos da região. O enfoque foi perfeito: temos 55 candidatos por cadeira de vereador, o que equivale, segundo a reportagem, à disputa pelos cursos tradicionais de Direito e Engenharia em universidades públicas. Não há leitor, por mais alienado que seja, que não entenderá essa informação. 

ELEIÇÕES MUNICIPAIS (III)

Uma boa pauta sobre a redução de vereadores no Grande ABC, que atingiu principalmente São Caetano, é ouvir de especialistas, os próprios vereadores, como ficará o jogo de composições. Os chefes de Executivos terão mais dificuldades ou mais facilidades para alcançar a maioria dos legisladores? São Caetano parece um caso excepcionalmente interessante para essa abordagem. 

CONSÓRCIO SUPERFICIAL

Ficou na superficialidade a matéria "Consórcio terá regras em 45 dias", de Nacional, página 7, relativa à informação de que o Congresso Nacional deverá definir a regulamentação das regras para o funcionamento de entidades como o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. O buraco é muito mais embaixo. A matéria peca porque insiste numa teoria furada de que falta formalizar o Consórcio para que se dê um enorme salto de qualidade, quando a realidade de fragmentação institucional da região e o modelo administrativo do Consórcio de Prefeitos são pontos nevrálgicos -- que não dependem de legislação alguma, mas de competência e menos vaidade. A formalização pode contribuir para mudanças mas não é, por si só, minimamente garantidora de transformações institucionais -- que exigem senso de regionalidade. 

PRÊMIO ABRINQ

Convém ficar de olho na possibilidade de a Prefeitura de Santo André comemorar a conquista do Prêmio Abrinq. Nada mais justo, convenhamos. João Avamileno teve, como se nota, uma semana de glória, com o Santo André e com a Abrinq. O homem é estrelado mesmo. 

PRÊMIO EDUCACIONAL

Poderia ter apresentado uma abertura mais qualificada, mais explicativa, mais convincente, a matéria "Escola de S. Bernardo é finalista em prêmio nacional de educação". A reportagem ocupa uma página inteira, mostra o empenho da jornalista mas não consegue seduzir à leitura porque falta contundência. 

FRANQUIA CONFUSA

O jornal está cobrindo bem o caso da Le Ru Estética, franquia que deixou clientes e funcionários na mão em Santo André e São Caetano. Convém insistir na busca de esclarecimentos da empresa. Quem sabe ouvindo um dos especialistas na área de franquia para que possa traduzir o imbróglio sob o ponto de vista de direitos dos clientes, principalmente. Qual será a realidade das franquias nessa área específica? 

 EDIÇÃO NÚMERO 25 

O relacionamento com público externo é uma equação que requer desprendimento. Nem sempre é possível detectar, mas geralmente é viável abortar inescapáveis problemas. Basta querer. Trata-se do distanciamento mínimo dos formuladores editoriais e dos responsáveis acionários pelo produto que vai às ruas e as fontes de pressão. O apadrinhamento de pessoas e entidades é o desvio mais rápido para a acomodação editorial, seguida da desmoralização nem sempre impactante, mas sem dúvida suficientemente danosa. 

Premiar agentes improdutivos com mistificações deliberadas ou acríticas destila indignação mesmo que silente no seio da comunidade que conhece mais de perto o oportunismo de atores que se aproximam da mídia apenas para levar vantagem. Quando esses sanguessugas se cristalizam no poder midiático, acabam por definir o padrão ético-editorial da publicação. Se os improdutivos tomam tanto espaço, como será possível aos eventuais produtivos apeá-los do poder sem correr o risco de antagonizar-se com a mídia? 

O Grande ABC vive momento especial demais para permitir a perpetuação dessa tradição arraigada no jornalismo nacional. É preciso dar vez ao reformismo sem, entretanto, cair no viés extremo de fabricar novos agentes. Os relacionamentos institucionais do Diário do Grande ABC -- ou seja, as relações da empresa com o público externo formado por administrações públicas, entidades econômicas, legisladores, lideranças sociais e culturais, gestores e produtores acadêmicos, entre tantos -- não podem ser confundidos com a linha editorial. É verdade que uma coisa necessariamente não exclui a outra, mas também é fato que uma coisa pode contaminar a outra e destilar, como dissemos, o conceito de que mais importante do que fazer é fazer de conta que se faz, porque sempre haverá um veículo importante para sacralizar o pecado da omissão dissimulada e do despreparo escamoteado. 

O jornal, como produto e como instituição, não pode, portanto, construir relações circunstanciais ou efetivas que afetem os insumos editoriais. Dar oportunidade a todos para que participem de uma grande virada institucional do Grande ABC é ação prospectiva que tem o condão de zerar os déficits do presente e do passado. A vantagem de incrementar essa nova empreitada é que os erros acumulados deverão servir de lição. Somente um novo enquadramento editorial que dignifique quem tem garrafas para vender permitirá a reconstrução de relacionamentos entre as instituições mais importantes da região, provavelmente com o Diário do Grande ABC como catalisador dessas operações. 

Nada, entretanto, que lembre o fracasso do Fórum da Cidadania, deliberadamente uma ação do jornal que, por não ter tido o controle estratégico recomendado, cometeu o desvio múltiplo de baixa representatividade, politiquismo partidário, afrouxamento institucional, entre outros problemas. Tornar-se o centro nuclear das ações de restauração das forças econômicas e sociais da região não significa afirmar que o Diário do Grande ABC deve paternalizar as entidades. Pelo contrário: nosso regionalismo recomenda que as instituições se sintam livres de amarras que eventualmente as embalem incondicionalmente e as coloquem, portanto, a salvo de restrições e correções de rumo. 

Tivesse o Fórum da Cidadania dispensado o hierarquismo do Diário do Grande ABC, cujos vários representantes tutelaram reuniões de forma muitas vezes explícita, outras vezes implícita, provavelmente não se teria desperdiçado o mecanismo até então mais interessante de reação organizada da comunidade. Mesmo considerando-se que o Fórum da Cidadania se reduziu a apenas um ou dois representantes de cada entidade e que não demorou quase nada para a esfuziante usinagem inicial virar sucata. 

A osteoporose econômica do Grande ABC, que perdeu 39% do PIB industrial ao longo dos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, é a prova cabal de como o Diário do Grande ABC fracassou editorialmente no suposto exercício de atuar como guardião da comunidade, como expressa o mote "100% Grande ABC". Pior que a perda econômica que só a Editora Livre Mercado detectou e martelou incessantemente é a omissão do jornal em, mesmo com uma afiliada denunciando os descasos econômicos locais, regionais, estadual e federal, manter linha editorial amorfa, defensiva. 

Ora, isso é a mais irritante prova de que o relacionamento que o Diário do Grande ABC mantinha -- e ainda mantém -- com a comunidade regional, sobretudo os tomadores de decisão, não vale um tostão furado. Denunciamos à frente da Editora Livre Mercado, em sucessivas matérias, a letargia dos agentes econômicos, governamentais e sociais. Nada que repercutisse na consciência dos responsáveis editoriais do Diário do Grande ABC. Ou se trata de muita incompetência ou os inter-relacionamentos beiraram o estapafúrdio, com o jornal se obrigando a omitir-se em assunto tão escandalosamente candente. 

De qualquer forma, a crise econômica é mais localizadamente profunda no Grande ABC do que em qualquer outro território do País. Mostramos em análises impressas na revista e também nos três livros que escrevemos nos últimos dois anos as razões dessa diferença. Fundamentalmente a resposta se prende à nossa matriz automobilística. O terremoto macroeconômico que desabou sobre nossas cabeças nos entregou de bandeja o retrato fiel de nossas instituições, todas forjadas no período de riqueza compulsória. Não temos capacidade de reação individual ou coordenada porque as entidades políticas, econômicas, culturais e sociais ainda navegam nas águas passadas dos tempos de glória de investimentos em profusão nesta região. Suas estruturas estão corroídas. 

Quando muito, essas organizações funcionam como escritórios de prestação de serviços aos associados. Nota zero, entretanto, como organizações preparadas para o jogo da interlocução produtiva com quem decide a sorte de cada um dos 2,4 milhões de habitantes da região. Aplaudimos aventureiros locais e visitantes que nos colocam na boca um torrão de ilusão e execramos os poucos que ousam botar a boca no trombone porque estão cansados de esperar por medidas corretivas. Aos primeiros, lantejoulas; aos segundos, tomatadas e batatadas. 

É esse Grande ABC traumatizado pelas políticas econômicas que se seguiram à abertura comercial e inerte em suas representações econômicas, políticas, sociais e culturais que olham para o próprio umbigo, que exige uma nova arremetida editorial. É preciso fazer acordar e vitaminar esse moribundo. E não será com novos lances de compadrios que veremos esse corpo quase inanimado ganhar musculatura de atleta depois de período de tratamento cuidadoso, meticuloso, monitorado pelo bom senso. Ou aplicamos uma nova fórmula de entendimento dos papéis que devem cumprir os agentes individuais e coletivos que compõem o tecido regional, ou estaremos adiando a autópsia de que certamente não haveremos de escapar diante do estouro da boiada da globalização. 

O jornalismo politicamente correto praticado há tempos pelo Diário do Grande ABC -- em larga escala assemelhado a outras publicações diárias -- não pode reincidir na queda no buraco negro de confundir alhos de entidades de vigorosa representatividade com bugalhos de entidades representativas no sentido burocrático do termo. Críticas que se façam a organizações sociais, econômicas e políticas do Grande ABC ainda são confundidas com retaliações pessoais. No nosso caso, até mesmo velhos amigos acabaram se afastando de nosso convívio porque imperou a responsabilidade social inerente do jornalismo. É muito mais cômodo o apadrinhamento dos amigos e dos conhecidos, mas essa fórmula se comprovou nefasta para a região. 

Quem perde tanta riqueza em poucos anos e se mostra incapaz de qualquer reação -- pior do que isso, a maioria procurou esconder a realidade em cada esquina de desemprego e em cada fábrica abandonada -- há muito já entregou a rapadura do compromisso com a seriedade e a dignidade. Nossas entidades de classe econômica, política, social e cultural estão vegetando. Mas, com a proteção do jornal, sempre se sentiram, ou pretendiam fazer-se crer, no melhor dos mundos.



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