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Imprensa

DANIEL LIMA - 23/09/2024

Nesta que é a 17ª edição desta série especial. Esmiuço o período em que dirigi o Diário do Grande ABC como diretor de Redação, entre julho de 2004 a abril de 2005. Juntei para este novo capítulo três edições da newsletters OmbudsmanDiário. Como se sabe, o período imediatamente anterior à posse como diretor de redação foi marcado por minha atuação como primeiro e único Ombudsman do jornal (a segunda experiência foi na segunda década desta século).

Na edição de 24 de junho de 2004, quando o Santo André começou a decidir a Copa do Brasil com o Flamengo, produzi duas edições da newsletters OmbudsmanDiário, encaminhadas a diretores, acionistas e editores da publicação. Os textos que se seguem são da edição número 12 e 13.

Em seguida, a edição de número 14 daquela newsletters, publicada em 25 de junho de 2004, reproduzia um dos capítulos do Planejamento Editorial Estratégico que preparei para comandar o Diário do Grande ABC. Tratamos sem subterfúgios da inoperância técnica (e dos estragos consequentes) do Conselho do Leitor, novidade introduzida anteriormente. 

Faço uma exposição crítica àquela iniciativa e, mais que isso, apresento alternativa muito mais interessante ao enriquecimento do produto: um Conselho Editorial integrado por especialistas em várias áreas. 

 EDIÇÃO NÚMERO 12 

É preciso compreender o sentido de regionalidade que aplicaremos na linha editorial do jornal para que não se caia na armadilha do reducionismo simplificador. Regionalidade não tem nada a ver com provincianismo. Não faremos do jornal uma repetição diária dos veículos semanários que vivem e sobrevivem de releases dos governos municipais e de empresas privadas que contam com assessoria de imprensa.  

O conceito de regionalismo contemporâneo prende-se ao desafio de vasculhar cada centímetro quadrado do território dos sete municípios do Grande ABC sem perder de vista o encaixe metropolitano. Também não poderemos desprezar aspectos nacionais e internacionais.

Traduzindo a equação: nosso regionalismo jamais se desgrudaria do ambiente metropolitano e muito menos dos sacolejos globalizantes, mas não cometeria a insanidade de, literalmente, tentar agarrar o mundo, enquanto a essencialidade de sua própria gênese territorial escapa entre os dedos da dispersão. 

Teremos, em função das circunstâncias econômicas e financeiras, de promover uma espécie de escolha de Sofia; ou seja, definir um padrão de cobertura predominantemente regional mesmo que isso custe redução do espaço nacional e internacional. Precisamos ganhar o jogo em nosso quintal de forma massacrante, da mesma forma que perdemos quando partimos para a luta em campo adversário.

Queira-se ou não, jogar o jogo do noticiário nacional e internacional com os grandes conglomerados de comunicação é uma batalha inglória. O que não significa que devemos abandonar o barco.  

É evidente que não, até porque a medida contraria o conceito de regionalidade contemporânea. O que temos de executar -- e esse é um caso de decantação -- é a busca de novas vertentes de cobertura nacional e internacional que fuja da dependência do noticiário das agências. Apresentaremos um projeto específico sobre isso, mas não numa primeira etapa.

O grande mote que pretendemos apresentar é a captura de um regionalismo moderno, instigante e evolucionista. Algo jamais mostrado na história dos jornais metropolitanos presos a pautas federalizadas com soluços, apenas soluços, locais.

Faremos um Diário do Grande ABC Metropolitano, ou seja, estaremos conectados permanentemente a tudo que nos rodeia, sobremodo nos campos que mais de perto atingem nossos leitores. Não podemos minimizar o fato de que estamos incrustados numa região metropolitana de 39 municípios e 18 milhões de habitantes, que representam quase metade do PIB estadual e cerca de 20% do PIB nacional.  

Nosso território preferencial é o Grande ABC. Nosso território complementar é a Grande São Paulo. Somos -- a Grande São Paulo -- um Estado de Minas Gerais em população e muito mais em economia. Somos quase o dobro dos 420 municípios do Rio Grande do Sul. A Grande São Paulo é um País tratado sem zelo pelos meios de comunicação. O Grande ABC está no interior desse gigantesco painel humano e precisa ser devassado para ser entendido. 

Tudo o que estiver ocorrendo na Região Metropolitana de São Paulo deverá nos interessar detidamente. Nossos indicadores sociais e econômicos não podem se circunscrever à geografia do Grande ABC. Temos de correlacioná-los, sempre que possível, com os espaços que nos rodeiam.

A influência do Rodoanel Oeste, que contemplou a chamada Grande Osasco, nos abalou fortemente como espaço socioeconômico, conforme mostramos em matéria baseada em dados estatísticos do Instituto de Estudos Metropolitanos. Não podemos ficar desatentos a isso. As autoridades públicas, privadas e sociais precisam reagir ao quadro. Não devemos cair na tentação de nos lambuzarmos com estatísticas domésticas, puramente regionais, quando o mundo que nos envolve proximamente ou não, reage de forma mais incisiva. 

Um exemplo do que parece melhorar, mas que não passa de ilusão estatística, está no ranking de criminalidade do Instituto de Estudos Metropolitanos. Apresentamos queda nos registros de homicídios dolosos e também em roubos e furtos de veículos, mas aumentamos os casos de roubos e furtos diversos. Na classificação final, que abarca os três quesitos, perdemos posições e seguimos entre os piores municípios economicamente mais importantes do Estado. Até mesmo São Caetano caiu pelas tabelas. 

Como se explica isso? Simples: os investimentos e as ações de combate à criminalidade no Grande ABC não fluíram à altura da maioria dos demais municípios. Ou seja: em termos comparativos, estamos piores do que antes, mesmo que os números absolutos de um ou outro indicador apresentem avanços. Quem sabe e explora a importância da qualidade de vida para atrair e manter investimentos entende o significado dessa equação.

Confrontam-se centenas de municípios nos mais diversos quesitos. O capital, como se sabe, não tem fronteiras. E a flacidez do tecido social do Grande ABC converteu-se em adversário à atração de empresas. 

Portanto, regionalidade não pode ser confundida com encarceramento territorial. Devemos estar ligadíssimos aos eventos que nos rodeiam, às medidas que se operam em áreas mais próximas ou não. Como se explica que Guarulhos está anunciando 13 novas indústrias que no ano passado se beneficiaram de um regime fiscal que abate os custos do IPTU e mesmo do ISS de construção, enquanto nós, depois de quatro anos da instauração de guerra fiscal semelhante no Grande ABC, só enlaçamos uma única indústria, em Ribeirão Pires? 

São muitas as explicações, justificativas e desculpas. Tratamos desse assunto na revista, mas quando abordamos num jornal, cuja capacidade de mobilização é a marca registrada dos veículos diários, a probabilidade de mudanças e reações será maior.

A tabelinha entre sensibilização de revista e mobilidade de jornal adquire contorno especialíssimo de otimismo sustentado. Atirar sob o tapete o debate em torno de questões como essa -- a competitividade regional -- é acreditar em Papai Noel. 

Somos cidadãos metropolitanos em intensidade quase semelhante à de cidadãos do Grande ABC. As fronteiras locais são mais tênues que as demarcações metropolitanas. A migração diária de trabalhadores que se deslocam internamente entre os sete municípios é mais intensa que a observada em relação a movimentações em direção a outros territórios da metrópole, mas tem-se acentuado o universo de traslados menos convencionais.

Isso eleva a responsabilidade editorial de transmitir informações mais elásticas sem perder as raízes regionais. É preciso situar o morador do Grande ABC no contexto metropolitano. Explicar-lhe, por exemplo, a vantagem de uma megaobra viária anunciada por São Bernardo. Ou a construção da Avenida Jacu-Pêssego. O que tanto uma quanto outra vão representar de alternativas de locomoção e também de geração de riquezas. 

Há quase duas décadas atravessa parte de nossas fronteiras municipais uma escandalosa serpentina metropolitana, na forma do extenso trecho do sistema de trólebus, que começa na zona leste da Capital, cruza Santo André, São Bernardo e Diadema e desemboca na Capital. Um arco de integração, cujos reflexos sociais e econômicos jamais foram estudados. Quanto das demandas por educação e saúde públicas dos municípios atendidos pelo sistema de trólebus não teria sido adicionado pelas facilidades de transporte? 

O que se pretende dizer é que o conceito de regionalidade é tão amplo, contundente e compulsório quanto escamoteador. Exige cuidados especiais para que não seja subvertido. O entendimento será proporcionalmente maior na medida em que se sufocar o simplismo decorrente da falta de informações sistêmicas.

Um veículo de comunicação que pretende se posicionar em defesa do território em que atua -- e se entenda posicionar em defesa como expressão que não comporta deformações interpretativas voltadas unilateralmente ao cor-de-rosa desavergonhado -- deve saber distinguir o momento certo em que uma manchete ou uma foto de primeira página de um treinamento ou de um jogo do Santo André é mais importante que, em situação semelhante, o seria o noticiário envolvendo um dos grandes clubes da Capital. Ou mesmo que uma decisão de um campeonato varzeano com alguns milhares de expectadores tem maior peso que uma decisão da Copa Europeia. 

O conceito de regionalidade não pode perder de vista uma lógica operacional muitas vezes esquecida e que precisa ser reiterada para que determine o fim de ilusões e desperdícios: temos de extrair de nossos profissionais de comunicação o máximo de informação do território sobre o qual se debruçam cotidianamente.

Pretender competir com os grandes jornais da Capital no noticiário nacional e internacional sem contar com a equivalência de recursos humanos e materiais disponíveis é dar um tiro no pé. Afinal, deixamos de explorar as peculiaridades de nosso território, onde vivem nossos leitores e assinantes ávidos por informações regionais qualificadas, e nos perdemos no tiroteio de uma competição desigual. 

O investimento de uma pequena ou média metalúrgica de Diadema é muito mais importante que a notícia de novas tragédias na Palestina. A notícia internacional será publicada, evidentemente, mas não pode ganhar em importância para os fatos mais relevantes de nossa geografia.

Sempre perderemos a batalha do noticiário nacional e internacional, porque as agências contratadas nos sonegam o filé mignon. Sempre ganharemos a batalha do noticiário regional, porque teremos nossos profissionais cuidando do que interessa de fato ao nosso dia-a-dia. 

Não podemos mais ver nossos patrimônios pessoais morrerem -- como têm morrido porque ainda não inventaram a fórmula da eternidade física -- e simplesmente os ignorarmos por falta de conhecimento regional. Em contrapartida, ativos pessoais nacionais e internacionais acabam por ocupar o derramamento de nossos espaços editoriais.

Entregamo-nos a uma globalização de mão única -- onde o que vale é a globalização excludente do regionalismo contemporâneo. Os personagens que ajudam a construir de fato a história econômica, social, cultural e política do Grande ABC precisam ser valorizados em suas variadas dimensões. Reconhecer-lhes os méritos tem o significado de erguer espelhos que poderão se multiplicar em defesa da regionalidade.

 EDIÇÃO NÚMERO 13  

Estamos vivendo nesta quinta-feira os rescaldos de pós-jogo do Santo André. Fomos ao Estádio de Parque Antártica acompanhados de familiares e pudemos sentir as emoções de uma partida em que nos comportamos brilhantemente dentro e fora do gramado. Escrevo uma edição da newsletter Capital Social Online especificamente sobre o assunto. Afinal, há um ângulo do espetáculo que não foi explorado por nenhum jornal. Mas deveria ter tido tratamento específico do jornal. 

Senti a falta de uma matéria densa sobre o ambiente do espetáculo de ontem à noite fora das quatro linhas. Acho que a melhor maneira de explicar essa observação é escrevendo. E o farei. Há alguma coisa que precisa de correção de rota no cotidiano do jornal. Situações especiais exigem ações especiais.

A matéria de ambiente do Parque Antártica jamais poderia ter sido desprezada como elemento editorial de enriquecimento de informações. O jornal acertou em cheio ao levar para o topo da manchete principal de primeira página o jogo da Copa do Brasil. 

MATÉRIA COM OMBUDSMAN

A editora-chefe da revista LivreMercado, Malu Marcoccia, solicitou-me entrevista para explicar minhas novas funções jornalísticas. Como se sabe, sou diretor-executivo daquela que é dis-pa-ra-da-men-te a melhor publicação regional do gênero no País. Concordei com a pauta sobretudo porque para muitos leitores do jornal e da própria revista há um vácuo de informação depois de não ter aceitado o cargo de diretor de redação e, tempos depois, assumir a função de ombudsman e de colunista do mesmo jornal. Como recentemente ocupei as páginas amarelas de LivreMercado contando as razões de rejeitar a função de diretor de redação, a editora-chefe entende que esse buraco informativo que o jornal não preencheu ao me entrevistar recentemente precisa ser preenchido. 

Sobre a entrevista que concedi ao Diário como ombudsman e colunista, naquela edição de domingo, houve evidentes cortes e censura por parte de não sei quem. Provavelmente do editor-chefe que é, afinal, a instância pressupostamente final de decisões na redação. Não questionei o jornalista que me entrevistou naquela oportunidade porque jamais o constrangeria. 

Esperava que houvesse explicações por parte do autor da medida. Se o jornal apresenta esse tipo de comportamento editorial com todos os entrevistados, a situação é pior do que se imagina. 

GASTANÇA LEGISLATIVA

A Folha de S. Paulo publica hoje nova matéria sobre a possibilidade de redução do número de vereadores no País. O assunto interessa de perto ao Grande ABC. Recentemente o jornal conseguiu acertar a mão na abordagem do assunto. 

COPA DO BRASIL 

A Folha de S. Paulo voltou a apresentar a melhor reportagem sobre a decisão da Copa do Brasil, que envolve Santo André e Flamengo. Questão de abordagem. Mas o esforço da equipe da casa merece ser registrado. Lamento profundamente a dor do editor de esportes Marcelo Camargo que, segundo informações, perdeu o pai ramalhino vítima de infarto do miocárdio em pleno Parque Antártica. 

QUEBRADEIRA ESPORTIVA

Não consigo entender a razão de o jornal manter as páginas de esportes distantes do padrão gráfico das demais editorias, utilizando-se de composições quebradas. Traduzindo: as colunas de linhas irregulares dificultam a leitura, além de agredir a simetria gráfica da publicação. Desconheço qualquer outro jornal de gabarito que tenha resolvido praticar esse tipo de acrobacia editorial em contraste com as demais editorias. 

PROVINCIANISMO

Acentua-se nas páginas do jornal a exposição pública de relacionamentos institucionais que deveriam se situar nos bastidores, como é norma nos principais jornais. Um exemplo está na Economia de hoje, quando um grupo de jovens empreendedores recebido por diretores da empresa ilustra a matéria "Encontro na Acisbec discute investimento no mercado financeiro".

Outro dia foi um outro grupo, do Rotary, que ganhou as páginas do Informediário de forma ostensivamente caseira. Anteriormente, foram juízes da Comarca de Santo André. Tudo isso, repito, não se registra nos grandes jornais. É muito perigoso confundir regionalismo com provincianismo. Até porque, não faltam oportunistas que dão a vida para aparecer em páginas de jornais e revistas sem contribuir em nada com a sociedade.

Mas isso não é o mais grave: a exposição de diretores da companhia em flagrantes de relacionamento institucional doméstico tem um viés de voo ao infestado mundo de celebridades. 

QUEM TEM RAZÃO?

A matéria "Cetesb rebate afirmações de diretor regional do Ciesp", de Economia, não consegue desvendar o segredo da suposta burocracia da Cetesb no Grande ABC, acusada por um dirigente do Ciesp de Santo André que, como se sabe, pouco faz para organizar o setor industrial local. A troca de acusações conduz a uma leitura interpretativa confusa. Caberia ao jornal esmiuçar o assunto. Uma sugestão: por que não fazer uma triagem mesmo que aleatória, mas quantitativamente expressiva, de processos que deram entrada na Cetesb e o tempo médio para atendimento das necessidades dos empreendedores? A função do jornalismo moderno não é apenas registrar fatos, mas elucidá-los, principalmente. 

PRECIOSIDADES LOCAIS

Cultura & Lazer continua cavoucando exemplos regionais de talentos nas mais diferentes áreas artísticas. Hoje temos o trompetista Danilo Henrique Oliveira. A reabertura do Museu de Santo André também fortalece a certeza de que há vida cultural em nossa região. 

NOME TROCADO

Esqueci de registrar que numa das edições desta semana (não estou com tempo para vasculhar os arquivos), o empresário de São Caetano cuja legenda o identifica como Daniel Sanches não passa mesmo de Dênis Sanches. Exceto se ele tiver irmão gêmeo cujos pais, como os meus, tenham resolvido se render ao nome bíblico daquele maluco que enfrentou os leões. Hoje enfrentamos outro tipo de leão. 

UNIVERSIDADE PÚBLICA

Imprecisa, burocrática e superficial a matéria "Setor produtivo fica fora de mais um debate sobre UABC", em Setecidades. Aliás, tem sido uma constante o jornal cobrir mal eventos desse tipo, provavelmente por falta de metodologia mais apropriadamente jornalística. Poderia discorrer em algumas laudas sobre as incorreções conceituais e técnicas da matéria, mas prefiro a simplificação construtiva de dizer que o problema é estrutural e, como tal, torna-se muito improvável que quem quer que faça matérias semelhantes consiga desvencilhar-se de restrições. 

Participei do evento como jornalista e dirigente do Instituto de Estudos Metropolitanos, não como ombudsman e colunista do jornal. O que quero dizer com isso? Que a orientação dada por quem quer que seja para que minha participação fosse minimizada fere a ética jornalística. Aliás, não é a primeira vez que o jornal comete tal insidiosidade. E nem por isso deixei de produzir a maior coletânea de cases sobre a realidade do Grande ABC no contexto metropolitano e global.

ÁGUA TRANSBORDANDO

Os enunciados sobre a cobertura do evento da Universidade Federal valem para a matéria "Prefeita quer taxar uso da água já", de Setecidades. É indispensável melhor preparo técnico para cobertura de assuntos específicos. Por isso, uma vasculhada nos arquivos sempre é bem-vinda porque possibilita que a reportagem não se restrinja à repetição de edições anteriores. Os demais integrantes da mesa de debates foram praticamente esquecidos em favor da prefeita Maria Inês Soares e de seu chefe de gabinete. Das três uma: estavam ali apenas como marketing pessoal ou corporativo, foram desprezados como fonte de informações ou simplesmente nada disseram de interessante e, portanto, não deveriam integrar a mesa. 

PRÊMIO CONTEXTUALIZADO

A matéria "William Dib ganha dois selos de Prefeito Amigo da Criança", de Política Grande ABC, página 2, encaminha-se para o patamar que chamo de contextualização e interpretação. "Mesmo com um déficit de 5 mil vagas em creches assumido pela Prefeitura de São Bernardo, o prefeito William Dib (PSB) recebeu ontem dois selos pelas primeiras etapas do Programa Prefeito Amigo da Criança, da Fundação Abrinq. O terceiro e último selo será entregue em Brasília". Está aí, sem mistificação ou manipulação, um padrão de reportagem que dá salto de qualidade na média do que o jornal vem apresentando. 

 EDIÇÃO NÚMERO 14  

CONSELHO EDITORIAL  

Iremos substituir o Conselho do Leitor pelo Conselho Editorial. Não se trata de simples troca de nomenclatura. A mudança é muito mais substantiva, porque invade o terreno do conceito, da especificidade. O Conselho do Leitor é instância estranha no departamento-vitrine da empresa -- o editorial -- porque atinge diretamente quem está envolvido com o público e, consequentemente, com o produto final. A composição e as funções atribuídas aos conselheiros-leitores são uma anomalia porque agridem e impactam a corporação no que provavelmente deve oferecer como principal predicado: a autoestima acompanhada de senso de respeito. 

O Conselho do Leitor golpeia a autoestima porque os profissionais acabam avaliados publicamente por leigos no assunto. Por mais que eventualmente haja colaboradores do Conselho de Leitores que possam contribuir para a melhoria do jornal, a exposição de enunciados críticos da forma que se caracterizou -- em espaço fixo nas edições de domingo -- torna tão ansioso quanto receoso o quadro de colaboradores. As repercussões de intranquilidade e insegurança se refletem no produto final. Chuta-se ladeira abaixo uma bola-de-neve de impropriedades que abalam a unidade da equipe. 

Nada mais comprometedor para uma equipe do que se sentir permanentemente ameaçada por avaliações públicas formuladas por não-especialistas. 

A formalização do Conselho do Leitor nos termos atuais é, portanto, equívoco que será eliminado em sintonia com o encerramento do mandato dos atuais conselheiros. Entretanto, isto não quer dizer que a redação estará imune a avaliações internas e externas. Pelo contrário: estabeleceremos medidas cautelares que permitirão medições permanentes do conjunto da redação e também por editoria sem que a medida tenha qualquer conotação de desconfiança e de desautorização, quando não de subversão dos preceitos profissionais. 

Não podemos desconsiderar nessa decisão -- aliás, é o ponto nevrálgico da questão -- que o conteúdo editorial do Diário do Grande ABC, face as atribulações conhecidas de todos, encontra-se em momento decididamente complicado e, portanto, extremamente delicado. Não é de bom alvitre a adoção de qualquer instância avaliativa -- principalmente por leigos -- que exponha publicamente ou mesmo internamente os pecados da publicação. 

Estimula-se a insegurança individual e coletiva, caminho mais curto para a instabilidade emocional e técnica de profissionais que exigem dose diária de estímulo, combinada com senso crítico emanado de quem conhece o ritual da atividade. 

Ou seja: o Conselho do Leitor seria uma peça de carpintaria editorial aproveitável com adaptações que não convém ressaltar agora, mas num contexto diferenciado do atual. Não existe estrutura técnico-emocional para suportar o strip-tease a que são submetidos os jornalistas por leitores que, por mais boa-vontade e interesse que tenham, nem sempre conseguem retirar as peças com um mínimo de competência. O produto que vai às ruas precisa ser entendido de forma muito mais integrada do que simplesmente numa censura pública ao deslize ortográfico. 

Já a introdução do Conselho Editorial significará grande salto de qualidade do jornal rumo à comunidade. Diferentemente do Conselho do Leitor, que vive à caça de descuidos léxicos e analisa superficialmente os assuntos sobre os quais o jornal se dedica a levantar, o Conselho Editorial será integrado por profissionais residentes e atuantes na região. Serão especialistas em diversas áreas. Caberá a esses membros, juntamente com alguns jornalistas da equipe de redação, a tarefa de construir coletivamente um novo perfil de produção do jornal, absolutamente sintonizado com o macroplanejamento editorial. 

Caberá ao Conselho Editorial não a procura de escorregões da língua pátria, obrigação técnica de quem está na redação, mas a introdução de conhecimentos específicos na linha editorial do jornal. 

Os membros do Conselho Editorial que fazem parte da comunidade trarão experiências vividas para o interior do jornal, sempre em encontro coordenado pelo diretor editorial e pelos editores-chefes do Diário do Grande ABC e de LivreMercado. Especialistas em educação, marketing, urbanismo, transporte, segurança, meio ambiente, legislação, economia, entre tantas outras áreas, vão integrar-se à redação como cérebros complementares. Serão espécies de consultores a quem poderemos reservar, também, espaços editoriais como colunistas fixos ou eventuais.

Formularemos um código específico de atuação dos membros do Conselho Editorial. Estabeleceremos algumas condições que darão ao organismo caráter de compromisso exclusivo, evidentemente sem remuneração, mas nem por isso excluído de eventuais programas de compartilhamento de marketing que trataremos de definir na sequência de nossos trabalhos. 

Haveremos de tornar o Conselho Editorial tão respeitado que suas repercussões em muito colaborarão para o fortalecimento editorial do jornal e o aperfeiçoamento da linha editorial da revista. Os integrantes do Conselho Editorial serão convidados pelo diretor de redação porque cada peça requisitada fará parte de uma engrenagem de complementaridade temática que não se esgotará nos conhecimentos individuais específicos. Avançará inexoravelmente em direção aos macros pressupostos de reorganização da companhia na área editorial.



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