A pergunta que faço para mim mesmo e que estendo a quem interessar possa é a seguinte: o que vai ser de Santo André após as eleições deste ano, qualquer que seja o resultado das urnas?
Teremos a continuidade do regime imperialista em processo de aperfeiçoamento, teremos uma ruptura histórica que finalmente colocaria o contraditório como prova de cidadania desperta ou a emenda seria pior que o soneto a ponto de o que parece ser a libertação de forças políticas não passaria mesmo de uma chuva de verão exclusivamente de votos e protelatória do ambiente vigente?
A centralidade de minhas preocupações sociais, políticas e econômicas no território de 180 quilômetros quadrados e de mais de 700 mil habitantes, tem razão de ser.
A resposta é o fato de Santo André, embora tenha perdido o título de Capital Econômica do Grande ABC, ainda conta com força emuladora do que chamaria de Capital Informal do Grande ABC.
LIDERANÇA NEGATIVA
Traduzindo: Santo André ainda mantém a aura de que conta com intelectualidades e também com uma classe média em quantidade e qualidade prevalecentes na região como formadora de opinião. Trata-se de erro crasso. O
o que restam são guetos, apenas guetos. A bobagem sem tamanho leva todo mundo regional no bico. A vizinhança é mais pobre ainda.
Como sou um cidadão regional, fico à vontade para dizer o que penso e conheço. Muitos dos nascidos em Santo André e que por isso mesmo se acham melhores do que os não-nascidos, ainda se arvoram detentores de patentes sociais que não combinam com efetivas ações cidadãs. As aparências, como se sabe, são uma máscara à enganação.
De fato e para valer mesmo – e vamos ser sinceros nisso, por gentileza – não passamos de uma região de baixa identidade cultural, esportiva, política e tudo o mais. Somos a soma e a divisão de cidades individuais e cidades coletivas separadas por emancipacionistas interesseiros. Santo André é o suprassumo disso. vem do passado do século que passou a estrutura socioeconômica em estado de persistente quebra da mobilidade social.
ARQUIPÉLAGO CINZA
Já defini a situação da região em dezenas e dezenas de textos. Arquipélago Cinza é um dos disponíveis no mercado de incompetências coletivas.
Dentro desse contexto realista, que somente os exagerados contestariam, Santo André sobrevive do passado em que, de fato, no ambiente regional, contava com a maior parcela de elites pensantes e decisórias.
Também essas lideranças se foram em larga escala por razões biológicas e concorrenciais. A centralidade econômica, política e trabalhista se deslocou de fato, mas não culturalmente, a São Bernardo de Lula da Silva e seus rapazes intrépidos. Nada que provocasse salto de qualidade do pensamento médio de novas lideranças. Muito pelo contrário.
Feita essa digressão, vamos ao que interessa. E o que interessa pós-eleições municipais é isso mesmo que escrevi logo abaixo da manchetíssima de hoje. O que vai ser de Santo André levando-se em conta que hoje predomina um regime imperialista a partir do Paço Municipal e sobretudo da ascensão do grupo de Paulinho Serra ao comando da Prefeitura?
DOMÍNIO COMPLETO
Sem perda de tempo, imperialismo no caso de Santo André é a realidade fática de que está tudo dominado porque se vendeu a imagem pautada por ações pragmáticas de que o grupo de Paulinho Serra manda e desmanda na cidade, com amplo suporte midiático. O mesmo grupo tem pretensões de estender controle a outras cidades locais. São ensaios em fase de execução. Mas aí o buraco é mais embaixo. São cidadelas difíceis de ceder.
Quem contestar essa realidade é maluco da cabeça ou usufrui do imperialismo, mesmo que apenas lateralmente, com migalhas, por assim dizer. Exemplos não faltam no dia a dia do noticiário político deste período de turbulência.
São exemplos mais escrachados para o que ocorre ao longo dos anos de forma discreta. Quem não reza pela cartilha dos mandachuvas e mandachuvinhas do Paço Municipal cai em desgraça caso não aceite cooptação. E as matizes de cooptação são as piores possíveis, porque derivam de subjugação. Poucos alcançam privilégios porque o trem das onze já está lotado. Alguns pensam que há vagas. São idiotas juramentados.
TRES DESTINOS
Agora, finalmente, entram as eleições municipais. Temos três candidaturas que parecem unidas em torno de um objetivo em comum: tirar o grupo de Paulinho Serra da Prefeitura e da vida de Santo André.
Não seria exatamente tirar no sentido de eliminar. Seria de tirar no sentido de democratizar as relações cotidianas, tornando-as mais salubres, sem ameaças veladas, sem perseguições disfarçadas. Ou seja: sem qualquer resquício de que se vive um ambiente de excepcionalidades.
Pergunta-se até que ponto as candidaturas de Luiz Zacarias, Eduardo Leite e Bete Siraque segurarão as pontas para valer, no sentido de entrosamento macropolítico, diante de duas probabilidades factíveis.
A primeira seria a eleição de Gilvan Júnior, o jovem representante do grupo imperialista de Santo André, no primeiro turno. A segunda seria a disputa do segundo turno.
Os dois candidatos de oposição que ficariam de fora da disputa no segundo turno estarão mesmo alinhados no objetivo de derrotarem os inquilinos do Paço Municipal ou haverá dissidência que, exatamente por ser dissidência, poderia provocar a manutenção do sistema de mandos e desmandos do Paço Municipal?
FONTES VALIOSAS
Como não sou bobo nem nada, embora seja um cretino por ainda botar alguma fé na transformação da região em algo que fuja do derretimento total da cidadania, embora tudo isso, vou ficar atento aos movimentos das pedras político-eleitorais.
Tenho uma rede de fontes de informação legais e responsáveis como interlocutores tomados pelos mesmos propósitos. As dificuldades de deslocamentos pessoais são facilmente substituídas nestes tempos de tecnologia de bolso. Meu aparelho de contatos é valiosíssimo.
Mas não são apenas minhas fontes sagradas e intocáveis, algumas até cretinas como eu, outras teimosas quando não estúpidas em determinadas temáticas, que me abastecem. Minhas percepções estão ligadíssimas nos veículos de informação.
A experiência acumulada me dá certa objetividade e certeza do que querem dizer as manchetes, as legendas, a edição, e, principalmente, as entrelinhas. Isso mesmo: entrelinhas.
MAIS QUE ENTRELINHAS
As entrelinhas dizem muito mais que as linhas impressas ou digitais, embora deva confessar que o jornalismo regional anda tão escrachadamente complicado, em larga escala das publicações impressas e digitais, que nem é mais preciso se ligar nas entrelinhas para descobrir o que pretendem manipular.
As manchetes, as linhas finas, os parágrafos, tudo está tão deliberadamente exposto que não é preciso muita atenção. Sabe aquele motociclista que dirige no piloto automático, mesmo numa avenida congestionada? É mais ou menos isso.
O que estou decidido a desvendar, e se possível antecipar, é qual das três possibilidades expostas nesta análise ganhará fôlego, musculatura e sustentabilidade político-administrativa durante o segundo turno e, principalmente , quando o novo mandato for iniciado.
Não custa lembrar que o processo imperialista vigente em Santo André, em detrimento, por exemplo, dos anos de contenção produtiva de rivalidades inúteis durante o segundo e o terceiro mandatos de Celso Daniel, encontrou na eleição de Aidan Ravin, em 2012, o pontapé inicial.
ORIGEM IMPERIALISTA
Ali se começou a fomentar o processo de controle da Administração Pública como embrião de uma concentração de poderes constitucionais e inconstitucionais. Por ter sido um processo, é claro que poucos se aperceberam da iniciativa consolidada durante os oito anos de Paulinho Serra. A fragilidade da classe política em Santo André mais que permitiu, incentivou e incrementou o preenchimento de espaços institucionais.
Talvez antes mesmo da posse do novo prefeito seja possível apontar o destino dos quatro anos seguintes de uma Santo André incapaz de reagir não só na Economia debilitada, mas no conjunto de indicadores sociais e de Administração Pública – como ficou mais que escancarado na edição de ontem nos resultados detalhados do Ranking de Competitividade dos Municípios Brasileiros.
Talvez sem a liderança subjetiva e influenciadora de Santo André, o Grande ABC não conseguiria safar-se de uma trajetória de continuado declínio. São Bernardo, Capital Econômica da região, mas de uma classe média dispersa e de viés menos reformista ainda que a debilitada Santo André, poderia ser uma opção a um cavalo de pau cada vez menos provável. Somos todos pangarés sociais. Raros entendem de cidadania. E entendem o suficiente para saber que não é aconselhável meter a mão na cumbuca em período de imperialismo.