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Política

DANIEL LIMA - 17/09/2024

Juntamos nesse novo capítulo da série especial sobre as entranhas estranhas de pesquisas eleitorais três textos publicados em 2014 nesta revista digital. Como se sabe e se comprova, nossa preocupação com o desvendar dessa importante ferramenta democrática vem de longe, com mais de 200 análises de verdade, não o repasse automático de dados dos institutos especializados em, em muitos casos, enganar a plateia.

O lamentável de tudo isso, ou seja, quando se apanha o histórico destas publicações e se verifica com a cautela essencial o quanto evoluímos para valer no tratamento das pesquisas eleitorais, o que temos é uma piora considerável. As artimanhas utilizadas são    cada vez mais sofisticadas para tornar tudo ainda mais complexo e manipulável.

Ainda temos uma caminhada relativamente longa até chegar aos dias de hoje nesse escrutínio, mas,  assim como a morte, o destino está traçado de forma indelével:   pesquisas eleitorais, em larga escala de potencialidade, não passavam mesmo de artimanhas delitivas de usurpadores da legitimidade democrática, contando com ampla parceria de veículos de comunicação,  agremiações políticas e também de uma camada de supostos cientistas políticos, todos mancomunados nessa indústria de fraudes.

É, sem meias palavras, uma farra de dados e interpretações com fundamentação técnica só aparentemente consistente. O resultado, em geral, sai de acordo com o gosto do freguês. Ou dos fregueses.  Todos ardilosos. 

 

Marinho decide enfrentar Diário

no campo de pesquisas. Está certo

 DANIEL LIMA - 05/08/2014

O prefeito Luiz Marinho recusou-se a comentar o resultado da pesquisa do instituto que o Diário do Grande ABC afirma ter criado para mensurar o humor da sociedade em relação ao desempenho dos gerenciadores públicos da região, entre outras atividades. Luiz Marinho diz que desconhece a empresa que faria parte do conglomerado de comunicação do Diário do Grande ABC. 

Marinho e Diário do Grande ABC vivem em constantes combates. Geralmente o prefeito fica mal na fita porque não responde às denúncias do jornal. Mas desta feita ele tem razão. O DGABC Pesquisas, como é chamado oficialmente o instituto do Diário do Grande ABC, não será confiável enquanto sonegar transparência aos leitores e eleitores. 

Todos os demais prefeitos da Província do Grande ABC se manifestam hoje nas páginas do Diário do Grande ABC sobre os resultados da pesquisa publicada na edição de ontem. Não houve uma restrição sequer. 

A maioria desfilou o facilitarismo de apontar o mordomo como culpado. Mordomo no caso dos gestores públicos são os jornalistas que dão assessoria a eles. A máquina pública é tão conservadora e multiplicadamente auto preservadora de interesses cruzados que a corda sempre estoura do lado mais fraco. Ainda outro dia o prefeito Carlos Grana trocou quase todo o mundo do setor de comunicação. Culpa-se o mensageiro pela mensagem desagradável. 

Grana reagiu a uma pesquisa informal, aparentemente séria, que o colocou em penúltimo lugar no ranking de aprovação da sociedade. Só ganha de Paulo Pinheiro, de São Caetano. O que equivale a dizer que num campeonato da Terceira Divisão, ficou apenas à frente do Jabaquara. 

ERROS E ACERTOS 

Voltando a Luiz Marinho e às pesquisas do DGABC, o titular do Paço de São Bernardo é criticado pelo Diário do Grande ABC na matéria publicada hoje.  Segundo transcrição de declarações anteriores, nas disputas que lhe foram favoráveis à Prefeitura em 2012, Luiz Marinho reconheceu os resultados daquela instituição. Ou seja: o jornal tenta incriminar o prefeito por causa de um erro do passado, estendendo-o ao acerto do presente. 

Luiz Marinho disse a verdade quando declarou que desconhece o DGABC Pesquisas. Se ofereceu uma resposta diferente no passado, tem de arcar com o equívoco, mas não o subscrever de novo. O Diário do Grande ABC insinua que alguém que tenha matado alguém em legítima defesa agora deve ser condenado ao enforcamento porque matou alguém por descontrole emocional no passado. 

O empresário de transporte coletivo Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC, está muito mal assessorado nas lides jornalísticas. A credibilidade do jornal é atingida duramente quando lança um instituto de pesquisas sob suspeição permanente. Jamais o jornal publicou uma reportagem sequer, uminha sequer, mostrando do que se trata isso que já chamei de fantasminha estatístico. 

A seriedade do Diário do Grande ABC junto ao leitorado e eleitorado em geral fornece combustível retaliatório aceitável quando trata de uma questão tão importante como a tomada da temperatura avaliativa da Província do Grande ABC sobre os mandatários públicos sem expor de forma clara e cristalina o ferramental metodológico que vai a campo. 

Já fiz série de observações sobre as debilidades estruturais do DGABC Pesquisas. Há erros imperdoáveis. Mesmo a sondagem que acaba de ganhar as páginas do jornal é uma constelação de dúvidas. Repetem-se falhas. 

MARGENS ELÁSTICAS 

O universo individual de 400 entrevistas em cada um dos Municípios e a margem de erro de cinco pontos percentuais para baixo e para cima são incompatíveis com os princípios de razoável certeza sobre os resultados. 

Se 400 entrevistas podem ser uma extravagância na pequenina Rio Grande da Serra, em Santo André e São Bernardo, além de Mauá e Diadema, são modelos sujeitos a imperfeições volumosas. A margem de erro uniforme para municípios tão distintos é provavelmente uma conceituação que não resiste a questionamentos de especialistas independentes. 

Sabem lá os leitores e eleitores o que significam cinco pontos percentuais de margem de erro? Simples: quem tem aprovação de 30% da população, pode ter 35% ou apenas 25%. Faz diferença e tanto. No caso dos resultados das sondagens para o governo do Estado e para a Presidência da República, a diferença entre os principais competidores pode se estreitar tanto que talvez até se anule. 

A aplicação do princípio metodológico de que um candidato em primeiro lugar perde cinco pontos percentuais ao mesmo tempo em que o segundo ganha cinco pontos percentuais fornece o combustível necessário para que, lá na frente, se justifiquem mudanças aparentemente incompreensíveis do eleitorado utilizando-se a margem de erro que de fato chega a 10 pontos percentuais. 

Ainda estou em dúvida se vou analisar os resultados publicados nas edições de domingo e segunda-feira do Diário do Grande ABC. No fundo, nada se alterou significativamente ante o histórico de que o PT tem mais votos na região do que na média paulista e brasileira de pesquisas publicadas por outros veículos em tempos semelhantes. 

O que me intriga mesmo é que a falta de transparência do DGABC Pesquisas se dá não só na explicitação da suposta estrutura científica de que seria dotado como também na fuga de respostas que a ação do candidato Paulo Skaf impetrou na Justiça Eleitoral, obtendo precariamente a suspensão da publicação dos resultados. 

Todos os pontos restritivos da ação do candidato do PMDB não foram sequer tocados nas matérias-resposta do Diário do Grande ABC. Não me parece que essa obscuridade seja boa companheira a quem como este jornalista entende que pesquisas eleitorais são um instrumento importantíssimo à democracia e que não podem ser barradas do baile de informações aos leitores e eleitores, mas que, em contrapartida, também não podem ser algo com que se possa contar qualquer que seja o jornal como salvo-conduto à desinformação, quando não à mistificação, parente próxima da manipulação. 

 

Margem de erro alta é margem de

manobra em pesquisas eleitorais

 DANIEL LIMA - 01/10/2014

Quanto maior a margem de erro mais a margem de erro se transforma em margem de manobra em pesquisas eleitorais e se pesquisas eleitorais se submetem à margem de manobra tudo indica que a margem de erro é apenas um efeito marquetológico para ludibriar o distinto público. Entenderam? Se não entenderam, leiam novamente o enunciado propositalmente embaralhador à compreensão. 

Dois pontos percentuais de margem de erro já dão um senhor salvo-conduto aos institutos de pesquisa, porque para mais ou para menos a banda que parece estreita fica larga com quatro pontos percentuais de imunidade. Imaginem então margem de erro de cinco pontos percentuais, que, no limite técnico-conceitual significa 10 pontos de diferença entre os candidatos quando se jogam para cima os números de um e para baixo os números de outro.  

Escrevo a propósito dos resultados que o DGABC Pesquisas, instituto vinculado ao Diário do Grande ABC, apresentou há duas semanas tanto para a Presidência da República como para o governo do Estado. O DGABC é um enorme ponto de interrogação de credibilidade metodológico quando visto por gente que não se conforma com opacidade e quer muitas luzes, luzes e mais luzes sobre tudo que diz respeito ao interesse da sociedade, mesmo uma sociedade invertebrada como a da Província do Grande ABC. 

Tenho uma birra indisfarçável com margem de erro de cinco pontos percentuais porque como consumidor ávido por dados estatísticos, inclusive eleitorais, uma de minhas paixões, sinto-me entregue às baratas quando a elasticidade dos resultados permite manipulações antes e depois das disputadas. 

MARGEM ESPECULATIVA 

Entendo que mais que margem de manobra, margem de erro de cinco pontos percentuais é margem a todo o tipo de especulação. Quem adota medida tão flexível quer mesmo é se safar de eventuais fracassos estatísticos que uma margem mais estreita escancararia, por mais cautelar que uma margem de dois pontos, por exemplo, seja em favor dos responsáveis como blindagem a surpresas de última hora. 

Me diga o caro leitor se é possível considerar empate técnico entre dois candidatos sendo que o primeiro colocado conta com 55% dos votos e o outro com 45%? Pois é assim que a margem de erro de cinco pontos percentuais para cima e para baixo define uma sondagem porque quem tem 55% pode ter 50% e quem tem 45% pode ter os mesmos 50% ou mesmo quem tem 55% pode ter 60% e quem tem 45% pode ter 40%. Convenhamos que essa é uma brincadeira numérica de mau gosto que somente os estatísticos acovardados são capazes de proporcionar. 

Voltando aos números do DGABC Pesquisas, constato ao ler o material publicado em 14 de setembro que Marina Silva apontada como primeira colocada em todos os municípios locais, em manchetíssima de primeira página do Diário do Grande ABC, só estaria tecnicamente em primeiro lugar em São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires caso seja aplicada a margem de erro de cinco pontos percentuais. Nas demais cidades (Santo André, São Bernardo, Diadema e Ribeirão Pires), conforme se mexe no tabuleiro da margem de erro, poderia se caracterizar empate técnico com a presidente Dilma Rousseff. Aos incrédulos, passo adiante os exemplos. 

EMPATE TÉCNICO 

Em Santo André, o DGABC Pesquisas apontou que Marina Silva contava com 33,7% dos votos estimulados, contra 26,4% de Dilma Rousseff. Incrementem a margem de erro para cima na candidatura de Dilma Rousseff e a presidente da República salta para 30,4%. Sincronizadamente tire cinco pontos percentuais de Marina Silva e a ambientalista cai para 28,7%. Pronto, a diferença caracteriza empate técnico. Agora, experimentem injetar cinco pontos percentuais nos números de Marina Silva, que saltaria a 38,8% e retirem cinco pontos percentuais de Dilma Rousseff, que cairia de 26,4% para 21,4%, e está feita a lambança. 

Em São Bernardo se daria algo semelhante: Marina tem 36,3% dos votos contra 27,8% de Dilma Rousseff. Quando se aplica a margem de erro  de cinco pontos para mais e para menos, Marina pode ter 31,3% e Dilma Rousseff 32,8%. Ou Marina pode ter 41,3% e Dilma Rousseff 22,8%. Não é de lascar? 

Em Diadema os números de Marina Silva sairiam dos 36% da pesquisa do DGABC para 31% na condição de margem de erro para baixo, contra 33,8% de Dilma Rousseff primariamente com 28,8%, ou os números de Marina saltariam a 41% e os de Dilma mergulhariam nos 23,8% quando aplicada a margem de erro de cinco pontos percentuais para baixo. 

Em Rio Grande da Serra os 38,3% originais de Marina Silva poderiam ser 33,3% contra 40,3% de Dilma Rousseff ao se incrementarem cinco pontos percentuais aos 35,3% originais, como também poderiam ser 43,3% favoráveis a Marina Silva contra 30,5% de Dilma Rousseff ante a aplicação do viés de mais para a opositora e o viés de menos à petista. 

TRÊS SE SALVAM 

Nos outros três municípios da Província do Grande ABC, segundo os dados do instituto de pesquisas do Diário do Grande ABC, Marina estava solidamente na liderança porque a explosiva margem de erro de cinco pontos percentuais não demoliria o capital de votos amealhado pelos entrevistadores. 

Em São Caetano Marina somou 38,5% ante 18,3% de Dilma Rousseff, em Ribeirão Pires chegou a 39,8% contra 24% da petista e em Mauá atingiu 42,8% ante 25,3% de Dilma Rousseff. 

Tudo isso que escrevi a título desclassificatório da margem de erro de cinco pontos percentuais já utilizada pelo Diário do Grande ABC em outros trabalhos perde a validade analítica mas mantém a robustez exemplificadora se a margem de erro da pesquisa realizada para a presidência da República em 14 de setembro for diferente desses enunciados.  

Como o jornal publicou a matéria sem especificar esse que é um ponto elementar à interpretação dos números, e como estou longe de ter certeza de que são realmente cinco pontos percentuais, tanto quanto não tenho certeza de que a margem é mais estreita, deixo para os próximos dias eventuais explicações. Até porque, deve vir por aí a última pesquisa do DGABC antes das disputas do próximo domingo e a publicação terá condições de esclarecer a metodologia nesse ponto. Pelo menos nesse ponto. 

Tomara que seja menos, muito menos, porque, assim, os resultados apresentados oferecem um campo de exatidão mais adequado a eventuais, por que não dizer necessárias, interpretações sobre o movimento das águas de 14 de setembro e da próxima data da nova operação que visa antecipar os resultados na região.   

 

Aécio e Marina derrubam dados do

DataDiário e tornam pesquisa inútil  

 DANIEL LIMA - 07/10/2014

Acabo de formatar planilha dos resultados previstos pelo DataDiário (ou DGABC Pesquisas), instituto criado pelo Diário do Grande ABC (com toda a opacidade possível) para desvendar o mundo político-eleitoral da Província do Grande ABC. Se a disputa à Presidência da República fosse equivalente a consultar uma cartomante, provavelmente o leitor jamais repetiria o gesto. O DataDiário fracassou redondamente porque em 62% dos resultados possíveis das disputas presidenciais deu-se mal. 

Entretanto, há atenuantes que, a bem da verdade e da coerência, precisam ser expostos. A cartomancia do DataDiário tem contrapontos, portanto. E esses contrapontos podem servir para blindar os resultados caso se despreze a crítica como ferramenta contributiva. 

Aécio Neves e Marina Silva derrubaram nas urnas de verdade as premissas de projeção de resultados expostos pelo DataDiário. O instituto que ninguém sabe como funciona porque nem o responsável principal pela metodologia vem a público expor ideias, propostas e análises, caiu do cavalo no mínimo por conta de nuances da disputa presidencial mais acirrada da história. Mas também pode ter sido por erros estruturais e metodológicos.  Vai ser difícil conhecer a verdade.  

Publicados na edição de sexta-feira, 3 de outubro, antevéspera do pleito, os dados do DataDiário foram recolhidos em campo entre segunda e quarta-feira daquela semana. Ou seja: não captaram os efeitos pouco explorados na sequência pela mídia metida a imparcialidades burras sobre o desempenho flagrantemente superior de Aécio Neves frente a Dilma Rousseff e a Marina Silva no debate da Rede Globo. 

Como não foi a campo após o debate, o DataDiário permaneceu congelado e quebrou a cara. Talvez seja o caso de acertar os ponteiros às próximas disputas. Ou o DataDiário encurta a distância temporal entre o trabalho de campo, a publicação do material nas páginas do jornal e o dia das urnas, ou correrá sempre o risco de perder credibilidade. Se mantiver o conceito do cronograma exposto no primeiro turno destas eleições, terá a vantagem de se auto proteger de desclassificação sumária, porque, paradoxalmente, continuará com a defasagem dos dados como aliada sem correr o risco de, compactando as três etapas, mostrar as possíveis deficiências, sacramentadas em temporadas passadas. 

ERROS E ALERNATIVAS 

Dos 24 resultados possíveis à corrida presidencial, desdobrados dos números apontados pelo DataDiário e os efetivamente consumados nas urnas, 15 bateram com a cara na porta da imprecisão. A maioria por conta do avanço final pós-debate de Aécio Neves e da queda de Marina Silva. Foram contrapontos não só da atuação dos candidatos no debate da TV Globo como também de outros desenlaces pré-eleitorais. 

É fácil entender a existência de 24 resultados interiorizados na disputa pela presidência da República na Província do Grande ABC. Somos sete municípios. Cada Município contou com três possibilidades de placar, um para cada concorrente de peso ao Palácio do Planalto. Três vezes sete significam 21 micro-resultados municipais.  Os outros três resultados sintetizam o desempenho individual final dos candidatos no conjunto dos sete municípios da Província do Grande ABC. Assim, chegamos a 24 resultados. O DataDiário acertou nove e errou 15. 

Em Santo André, o DataDiário errou feio, muito longe da margem de erro de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, no resultado final de Dilma Rousseff. A petista contava com 35,06% dos votos válidos do DataDiário na pesquisa publicada em 3 de outubro. Nas urnas de verdade, de 5 de outubro, ficou com 27,64%. Os votos a Aécio Neves chegaram a 36,26% três dias antes, segundo os entrevistadores do DataDiário. E registraram 40,70% nas urnas eletrônicas.  Já Marina Silva manteve em Santo André trajetória coerente com o quadro nacional: no DataDiário contava com 32,66%, mas caiu para 25,86%. No placar de Santo André, portando, um acerto e dois erros do DataDiário. 

VITÓRIA PREVISTA 

Em São Bernardo, o placar se repetiu com duas derrotas e uma vitória do DataDiário. O sucesso foi consumado na votação da petista Dilma Rousseff: foram 36,24% pelo DataDiário e 32,79% nas urnas. Aécio Neves e Marina Silva produziram estragos: Aécio contava com 23,96% no DataDiário e obteve 36,25% nas urnas. A ambientalista saiu de 33,65% nas páginas do Diário para 25,23% do eleitorado oficial. 

Em São Caetano, o DataDiário contabilizou três erros e, com isso, aumentou a carga de passivo regional. O instituto previu 21,06% de votos válidos a Dilma Rousseff. As urnas deram apenas 14,90%. Um erro crasso, dada a estabilidade eleitoral da candidata petista. Já em relação a Aécio Neves o DataDiário previa 41,90% dos votos válidos. As urnas deram 60,05%. Também um excesso de diferença. Com Marina Silva os estragos foram semelhantes: dos 28,47% dos votos previstos pelo DataDiário, a candidata caiu para 18,93%. 

Em Diadema, o DataDiário acertou nos números de Dilma Rousseff, mas se deu mal nos demais. A previsão de que a presidente teria 39,29% dos votos válidos foi praticamente avalizada pelos 41,18% das urnas. Com Aécio Neves a diferença foi abissal: o DataDiário projetou 16,94% dos votos válidos e o tucano alcançou 25,51%. Marina Silva também se deslocou demais da margem de erro ao passar dos 38,23% anunciados pelo DataDiário para os 27,52% das urnas. 

PONTO POSITIVO 

Também em Mauá os erros do DataDiário prevaleceram. De novo, dois a um de passivo. O acerto, acreditem, foi configurado na votação de Marina Silva. Dos 40,56% projetados pelo DataDiário, consolidaram-se 36,54% nas urnas. Por incrível que pareça, a ambientalista não foi afetada, em Mauá, pelos estragos provocados pela desconstrução de imagem deflagrada pelos marqueteiros de Dilma Rousseff durante duas intensas semanas. Se acertou com Marina, o DataDiário errou nos outros dois candidatos em Mauá: Dilma Rousseff teria 38,06% dos votos pelo DataDiário, mas caiu nas urnas reais para 30,94%; Aécio Neves saiu de 18,53% e alcançou 27,19%. 

De novo o placar negativo de dois a um se repetiu em Ribeirão Pires. O DataDiário previu acertadamente 27,82% dos votos válidos à petista, e as urnas lhe deram 27,19%. Já os 22,54% de Aécio Neves viraram 36,56% nas urnas. Marina Silva desabou muito além da conta média no País: caiu dos 44,96% projetados pelo DataDiário para 29,84% nas urnas. 

Completando o quadro regional de resultados municipais, em Rio Grande da Serra o DataDiário acertou os três resultados possíveis: os 38,68% de Dilma Rousseff viraram 36,78% nas urnas. Os 21,18% projetados para Aécio Neves foram 26,65% nas urnas e os 36,80% a Marina Silva se consolidaram em 31,18% nas urnas. 

RESULTADO FINAL 

Os três resultados que faltam, e que formam o macro resultado final do primeiro turno presidencial na Província do Grande ABC, contabilizam um acerto e dois erros do DataDiário: Dilma Rousseff saiu de um patamar virtual de 34,22% dos votos para 33,02% nas urnas. Aécio Neves saiu de 25,5%% e chegou a 37,82%. Marina, desidratada, caiu dos 34,5% projetados pelo DataDiário para os 29,00% das urnas. 

A dificuldade em preparar uma análise mais consistente dos resultados do DataDiário, contextualizando-os ao momento de manifestação dos eleitores aos entrevistadores, se deve ao fato de que nenhum outro instituto cavoucou especificamente a geografia regional em busca de algo semelhante. Por isso, o que referencia complementarmente as abordagens que preparei são os resultados do Ibope e do Datafolha em nível Brasil. Utilizei os dados prospectados pelos dois institutos em período semelhante ao que levou os entrevistadores do DataDiário às ruas. 

A dissonância do confronto do DataDiário com o Ibope e o Datafolha é que o instituto do Diário do Grande ABC não registrou o solavanco na votação de Dilma Rousseff. Já os resultados finais das urnas de verdade, quando contrapostos às projeções de antevéspera da disputa pelo Ibope e Datafolha, guardam relação com os resultados gerais apontados pelo DataDiário na região para o desempenho de Aécio Neves e de Marina Silva. 

A previsão do Ibope na antevéspera das eleições era de que Dilma Rousseff obteria 47% dos votos. O resultado das urnas apontou 41,6%. Portanto, fora da margem de erro de dois pontos para mais ou para menos. Já o Datafolha acertou praticamente em cheio na votação da candidata à reeleição, porque projetara 45%. 

PT mais consolidado 

Convém uma explicação mais que sustentável ao desempenho estável de Dilma Rousseff na Província do Grande ABC em relação aos números apontados pelo Ibope e pelo Datafolha: a região é estruturalmente mais petista que a média nacional e, portanto, menos suscetível a solavancos. O DataDiário confirmou essa realidade. 

Já nos votos contabilizados pelo tucano Aécio Neves, tanto o Ibope como o Datafolha seguiram a carruagem de surpresas. Pelo Ibope, Aécio passou dos 22% virtuais para 33,5% reais, enquanto o Datafolha saiu dos 21% virtuais aos 33,5% reais. 

A queda acentuada de Marina Silva nas urnas em relação aos números projetados pelos institutos de pesquisa não foi corroborada pelo Datafolha daquela antevéspera das eleições: o instituto ligado ao jornal Folha de S. Paulo apontava 24% dos votos à candidata, já detectando paralisia por conta da pancadaria petista antes do debate da TV Globo, e as urnas apontaram 21,3% desclassificatórios ao turno final. O Ibope errou novamente, porque previra 28% dos votos a Marina Silva contra os 21,3% consumados. 

Perguntaria o leitor a razão de os trabalhos do DataDiário terem se tornado inúteis para efeito de orientação aos eleitores que encontram nas pesquisas eleitorais espécie de bússola à definição ou avaliação do quadro eleitoral. A resposta é simples: tanto o Ibope quanto o Datafolha, em pesquisas renovadas que se seguiram à publicação, detectaram o movimento de crescimento de Aécio Neves e, como, no caso mais específico do Datafolha, de debilidade de Marina Silva, embora sem a convicção que já parecia consolidada entre boa parte do eleitorado. 

O envelhecimento precoce dos dados do DataDiário é algo a ser repensado neste segundo turno. Isso, é claro, se o Diário preferir correr o risco de eventualmente enfrentar a verdade das urnas sem contar com o respaldo da defasagem do tempo protetora dos resultados do primeiro turno. 



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