Vou chamar de Voto Convicto o grande ponto de interrogação da disputa eleitoral em Santo André. O Instituto Paraná, nas páginas de torcida organizada do Diário do Grande ABC, aponta a liderança do candidato governista Gilvan Júnior nesse quesito. Nada mais natural. Gilvan é favorito para ir ao segundo turno.
Além de Voto Convicto, vou tratar também de Voto Vulnerável e de Voto Declarado. São as etapas de uma pesquisa eleitoral até chegar a resultado precário de uma pesquisa eleitoral a três semanas da disputa real. Resultado precário no caso de Santo André e de tantos outros municípios em que há vários adversários na luta pelos votos.
O que o Diário do Grande ABC promove nas entrelinhas e nas linhas, nas manchete de primeira página e na manchete de pagina interna, é a possibilidade de Gilvan Júnior ganhar no primeiro turno. A afinidade entre o jornal e a Administração de Paulinho Serra é conhecida de todos.
JORNAL DO LÍDER
O jornal tem o direito de apoiar quem quiser. Talvez exagere na construção do horizonte próximo. Os dados do Instituto Paraná ainda são tecnicamente suscetíveis a interpretações variadas. Nessa escala, a definição no primeiro turno não é a mais aconselhável.
Quem continuar a ler o que começo a destrinchar não se arrependerá. Os torcedores organizados provavelmente não vão querer saber de pontos e contrapontos. Eles são fanáticos.
O Voto Convicto entra em campo exatamente diante da anunciada possibilidade de a disputa se encerrar no primeiro turno. É disso principalmente que vamos tratar. Você vai entender. Até porque, se não entender, desista de tentar interpretar pesquisas eleitorais e siga sendo apenas um torcedor organizado de personalidade coletiva.
GROSSO VULNERÁVEL
Já escrevi dezenas de vezes sobre o critério metodológico do Voto Espontâneo, como é chamado o resultado à pergunta do entrevistador que chega ao entrevistado para saber a quem será destinado o voto em questão. O Voto Espontâneo quando enunciado pelo entrevistado é o Voto Convicto. Portanto, Voto Convicto é o voto mencionado de forma espontânea a um dos candidatos.
Pergunta: Em quem você vai votar para prefeito de Santo André?
Não votarei em nenhum deles.
Vou anular meu voto.
Ainda não sei.
Vou votar em branco.
Essas alternativas em detrimento do Voto Convicto estão na cabeça e nas respostas dos eleitores entrevistados que não apontaram nenhum candidato específico. Esse caudal forma o passivo do Voto Convicto.
Na pesquisa que está hoje nas páginas do Diário do Grande ABC, 60,2% dos eleitores entrevistados optaram por uma dessas alternativas. São os eleitores que optaram por Brancos, Nulos e também eleitores que disseram que não votariam em nenhum dos candidatos e também não saberiam em quem votariam. Portanto, o latifúndio dos que não souberam ou não quiseram responder foram muito mais da metade do total entrevistado. Uma barbaridade, quando se sabe que estamos a três semanas da disputa.
SUSTENTABILIDADE BAIXA
O grau de sustentabilidade do Voto Convicto não passa de 35,5 %. A maioria, portanto, passa a constar do grupo do Voto Vulnerável. E o que é Voto Vulnerável? É o voto levado à segunda etapa da pesquisa, quando se apresenta uma cartão circular com o nome de todos os concorrentes. Aí a maioria salta do muro do desconhecimento ou de outra coisa. O Voto Vulnerável é mais conhecido como Voto Estimulado.
Como o Voto Vulnerável é estruturalmente resultado do Voto Estimulado, se reveste compulsoriamente de uma porção representativa de precariedade. Não se encontram dados científicos sobre a solidez e a fragilidade do Voto Vulnerável. Certo mesmo é que se trata de um voto suscetível a mudança na reta de chegada, segundo efeitos práticos das campanhas dos candidatos.
Tudo seria mais ou menos resolvido se constasse do questionário do Instituto Paraná, no caso da pergunta relativa ao voto espontâneo, o Voto Vulnerável, qual seria a convicção de que o candidato que escolheria em seguida seria mantido até as urnas. O Voto Vulnerável auxilia os institutos de pesquisa a terem respostas prontas diante de eventuais surpresas.
CAPITAL TEM MAIS
O terceiro tipo de voto a ser observado é o Voto Desperdiçado, que consiste nas sobras do resultado final da pesquisa. No caso da rodada de pesquisa do Instituto Paraná em Santo André, 16,9% dos entrevistados formam o contingente de Voto Desperdiçado.
Os eleitores do Voto Desperdiçado resistiram a qualquer escolha e se mantiveram entre os que não sabem, não responderam, nenhum e brancos/nulos. O Voto Declarado é o voto líquido final do processo. É o voto assegurado pelos eleitores depois da ultrapassagem do Voto Vulnerável e da resistência ao Voto Desperdiçado.
O total do Voto Convicto em Santo André, centralidade desta análise, é muito inferior quando se compara com a participação do Voto Convicto em São Paulo. O Datafolha da Folha de S. Paulo divulga hoje a nova rodada de votos na Capital e o total de Voto Convicto chega a 60%.
Supostamente, portanto, o grau de vulnerabilidade dos votos dos eleitores da Capital estaria menos suscetível a grandes movimentações. Portanto, a margem de manobras de marketing se estreita. Não custa repetir que 60% do eleitorado paulistano contra 40% do eleitorado de Santo André já definiram em quem votar. Entraram no grupo do Voto Convicto.
A tendência na Capital é de que o Voto Convicto ganhará mais impulso nos próximos dias, mesmo partindo de um patamar mais elevado do que em Santo André e nos demais municípios da região. Sim, na região, porque Santo André de baixa consistência do Voto Convicto não é exceção, mas a regra.
Contamos com dois fatores que influenciam a baixa convicção do eleitorado. Sofremos histórico blecaute informativo ao não contar com horário político na televisão e a população regional é mutante em elevada proporção no campo de trabalho. Há fugas de cérebros e músculos municipais tanto internamente quanto em direção à vizinha Cinderelesca. Essa ruptura de cidadania afeta as relações sociais e faz a festa de mandachuvas e mandachuvinhas.
As redes sociais vieram para mitigar essa fratura? Vou tratar disso num próximo texto, como já o fiz de passagem em outros. Há pontos favoráveis e contrários. A capilaridade tecnológica é ditada prevalecentemente pelo ambiente estadual e principalmente federal no campo político.
PLACAR DA PRIMEIRA ETAPA
O placar do Voto Convicto em Santo André, de acordo com a pesquisa do Instituto Paraná e os extravagantes 3,8 pontos percentuais de margem de erro, aponta que Gilvan Júnior lidera com 23,2%, seguido de Bete Siraque com 4,1%, Luiz Zacarias com 3,8%, Eduardo Leite com 3,7% e o Coronel Sardano com 0,7%. Somou? Deu 35,5%.
O domínio do Voto Convicto em Santo André é do candidato governista. Gilvan Júnior conta com 65,32% desse contingente. Como tem no total de Voto Declarado, 40,4% do total, segundo o Instituto Paraná, ou seja, ultrapassada com as ressalvas já expostas a etapa de Voto Vulnerável, Gilvan Júnior avançou 17,2 pontos percentuais entre uma questão e outra. Ou 74%.
Segunda colocada na pesquisa que filtra todos os votos, com 13,4% de Voto Declarado, a petista Bete Siraque partiu de um patamar bastante baixo de Voto Convicto. Os 4,1% se transformaram em 13,4% com o Voto Vulnerável, num salto de 226,83% entre uma etapa e outra. Ou 9,3 pontos percentuais.
Não se deu nada diferente em termos de alavancagem com os outros dois concorrentes de peso em Santo André. Luiz Zacarias saiu de 3,8% no critério de Voto Convicto para 13,4% de Voto Declarado, com aumento de 9,6 pontos percentuais ou 252,63% na trajetória de Voto Vulnerável.
No caso de Eduardo Leite, com 3,7% de Voto Convicto e 12,1% de Voto Declarado, o aumento foi de 8,4 pontos percentuais que significam 227,08% entre as duas primeiras etapas. O Coronel Sardano saiu de 0,7% de Voto Convicto para 3,1% de Voto Declarado.
PRIMEIRO TURNO ARRISCADO
Expostos os números dessa escalada de Voto Convicto para Voto Vulnerável até chegar ao Voto Declarado, chego aonde pretendia para afirmar que não teria coragem de sequer insinuar o que o Diário do Grande ABC empreende no noticiário de hoje. A análise dos números sugere que a disputa, até prova em contrário, encaminha-se ao segundo turno.
Basta verificar a marcha da contagem envolvendo Gilvan Júnior e os demais concorrentes de peso. Se na primeira etapa, de Voto Convicto, Gilvan Júnior fica com 65,32% do total de votos, quando se chega à etapa seguinte, de Voto Vulnerável, a proporção cai para 40,4% em forma de Voto Declarado. Os quatro demais concorrentes somam 42,0%.
A diferença de menos de dois pontos percentuais está na margem de erro. Quando não se contabiliza os votos que o Coronel Sardano teria, a vantagem dentro da margem de erro é de Gilvan Júnior.
Dessa forma, o vereador e ex-secretário de Segurança Pública de Santo André pode ter peso relativamente importante na definição da grade de votos no primeiro turno. A saída do influenciador popular André Ribeiro do Viva reduziu a carga de votos nominativos. Não se tem ideia sobre o destino dos eleitores dele. A fatia potencial de votos a André Ribeiro Viva se aproximaria de sete pontos percentuais. Ele obteve 22 mil votos nas últimas eleições para deputado federal.
VELOCIDADES DIFERENTES
Uma pergunta que deve ser feita é até que ponto a velocidade de definição do Voto Vulnerável, mais favorável aos três principais adversários de Gilvan Júnior, se confirmaria nas próximas três semanas.
Insisto no tom pedagógico da passagem do Voto Convicto para o Voto Vulnerável e o encaminhamento natural ao Voto Declarado. No primeiro critério, Gilvan Júnior ganha de lavada, por força da imposição de um trem de jogo fortíssimo nas três últimas semanas nas ruas de Santo André. No segundo critério, de Voto Vulnerável que vira Voto Declarado, a velocidade dos adversários de Gilvan Júnior é muito superior, como mostrei acima.
Deve-se levar em conta, entretanto, que a vantagem numérica de Gilvan Junior precisa ser medida em relação ao mínimo necessário para chegar à vitória no primeiro turno.
Entenderam como a etapa de Voto Vulnerável, ou seja, do Voto Estimulado, é o grande desafio à compreensão do quadro? Gilvan Júnior perdeu o ritmo entre a primeira e a segunda etapa, mas, mesmo assim, não degradou a probabilidade de matar o jogo no primeiro turno, embora em escala aquém do entusiasmo das manchetes do Diário do Grande ABC.
Tudo isso precisa ser criteriosamente observado e analisado sem paixões. Sempre haverá um idiota disponível na praça, com ares de engenheiro de obra pronta, disposto a, competição encerrada, manipular informações na tentativa de desclassificar quem, dentro das possibilidades metodológicas aplicadas nas pesquisas, tem obrigação profissional de fazer incursões sobre eventuais cenários.