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Política

DANIEL LIMA - 09/08/2024

Acordei hoje decidido a protelar a promessa que fiz ontem aos mais de dois mil  formadores de opinião e tomadores de decisões que constam do meu smartphone. Não contabilizo leitores espalhados por grupos independentes de meu controle e dos quais participo passivamente, em regra. E também do site, que é o carro-chefe.

Prometi escrever sobre o destino do vice-prefeito de Santo André, Luiz Zacarias, líder absoluto no campeonato regional eleitoral de perseguição e discriminação, quando não de desumanização.

Não me sinto seguro para escrever sobre os próximos 60 dias de Luiz Zacarias. Há cordilheira de senões, dúvidas, certezas, contradições e tudo o mais.

Fosse Luiz Zacarias um indicador econômico, ao invés de ativo político-partidário-eleitoral, não ousaria escrever um parágrafo sequer tendo o que tenho no momento, ou seja, uma insegurança informativa medonha.

Entretanto, como Luiz Zacarias não tem nada a ver com Economia, que não pode ser objeto de especulações do mesmo grau, como Luiz Zacarias é um ator político, não custa nada navegar por águas revoltas sem cometer o crime de deixar de comunicar o distinto público que muito do que seguirá nos próximos parágrafos é fruto de equilíbrio mambembe entre certezas e dúvidas.

Quando certezas e dúvidas se aliam involuntariamente, ou se confrontam compulsoriamente, talvez a palavra que melhor defina o contexto é mesmo especulação. Então vamos especular com base em fundamentos sedimentados.

Sim, existe a especulação pela especulação, que não passa de prestidigitação, e especulação fundamentada, que é um caminho saudável rumo à realidade dos fatos.

Passemos adiante alguns pontos relevantes a qualquer tipo de análise envolvendo Luiz Zacarias. A ordem numérica não tem necessariamente peso hierárquico,  que fica a critério de cada leitor, que também é eleitor, quando não consumidor, e também torcedor. 

1. O caso do cinema de Paranapiacaba suscitou suspeitas infundadas, embora configurasse patetice eleitoral. Zacarias participou lateralmente do evento. Poderia ter sido  protagonismo e dar aos adversários o que eles querem e lutam para ter, ou seja, sua ilegibilidade. Como participou lateralmente, ou seja, quase como um goleiro que não sai na foto numa penalidade máxima decisiva, não cometeu crime algum. Palavra de Alberto Rollo, especialista ouvido pelo Diário do Grande ABC e, em seguida, suprimido de todas as matérias do Diário do Grande ABC e de outras publicações impressas e digitais.

2. Por dever de transparência, caso não confundisse campanha eleitoral com gestão pública, o prefeito Paulinho Serra deveria ter levado ao público a gravação do evento. Paulinho Serra disse, como prefeito, que Luiz Zacarias teria sido mencionado durante o cerimonial. Mesmo que seja verdade, a situação não colocaria Zacarias como agente ativo no evento. Se Paulinho Serra usaria de má-fé ao dizer o que não poderia provar, o problema ganha foro que ultrapassa a ética pública. Encaminha-se, portanto, a um certo grau de oportunismo  institucional para defenestrar o concorrente.

3. O grupo político no qual Zacarias contava com apoio de coligação partidária não se importou com a candidatura. Pior que isso: deu corda à ilegitimidade castradora da candidatura do vice-prefeito. Uma matéria publicada no jornal Estado de São Paulo praticamente decretou a cassação branca do candidato com a deserção dos partidos coligados. Os coligados a Zacarias poderiam ter chegado ao mesmo destino na frágil  embarcação de Zacarias sem passar a mensagem de abandono. Poderiam ter agido em solidariedade a Zacarias para, em seguida, encontrarem medidas éticas de caráter preventivo sobre o esvaziamento eleitoral do candidato. Tudo dentro de uma lógica eleitoral respeitosa e, ainda mais, produtiva.

4. Antes disso, de forma afoita, o candidato do Paço Municipal, Gilvan Júnior, seguiu orientação de conselheiros políticos e praticamente decretou estado de expectativa de cassação da candidatura de Zacarias. Gilvan Júnior afirmou categoricamente que a suposta irregularidade em Paranapiacaba seria levada à Justiça Eleitoral. Era só  questão de tempo. E tempo nesse caso é o período mais apropriado para desmontar a barraca da competitividade de Zacarias.

5. Zacarias foi abandonado pelos partidos coligados. Só lhe restou o PL de Valdemar Costa Neto. O mesmo Valdemar que praticamente cobrou de Zacarias o alinhamento ao Paço Municipal, numa forçada de barra de mil faces. Uma das quais é que o marqueteiro de Paulinho Serra, Duda Lima,  é braço do marketing do presidente nacional do PL.

6. Zacarias foi jogada às traças, mas tem um ativo político que lhe dá fôlego com algum grau de influência subjetiva no eleitorado. Trata-se do número 22, marca registrada do presidente Jair Bolsonaro, cujos seguidores não podem ser subestimados. Há potencial de votos complementar à própria individualidade de Zacarias.

7. Não se tem ideia do quanto do estoque de votos vivos em Santo André estaria destinado à candidatura de Zacarias. Pesquisas sérias escasseiam. Há números para todos os gostos. Pagou, levou. O Instituto Paraná seria o mais consistente. Mas nem sempre os dados de institutos mais qualificados são traduzidos nas páginas de jornais com fidelidade. Há manipulações evidentes.

8. O conceito de votos vivos em favor de Zacarias, portanto, ganha  flexibilidade que não pode ser  subestimada. Ainda falta muita gente a incorporar como eleitores ativos nos municípios da região. Dois terços dos eleitores, até a semana passada, não sabiam em quem votar quando entrevistados sem o uso de cartela identificadora. Ou seja:  mesmo nos votos estimulados, há mais que uma brecha, há um imensidão de indecisos. Voto estimulado está sujeito a deserções.  

9. Exatamente por conta disso, ou seja, de votos que dependem de estímulos que as campanhas incrementam quando postas às ruas, exatamente por conta disso e da  debilitada estrutural , a tendência é de que Zacarias perderá força e incremento populares. Traduzindo: nestes dois meses de campanha, o potencial de votos de Zacarias estaria comprometido. Isso quer dizer que ele chegaria com menos robustez nas urnas. Seu capital eleitoral seria esvaziado parcialmente.

10. Talvez fosse tudo diferente se nos dias seguintes à ingenuidade em Paranapiacaba, Zacarias contasse com retaguarda técnica e estratégica e se colocasse de imediato contra os opositores que acenavam com a criminalização eleitoral inconsistente. Zacarias deveria ter ouvido quem lhe sugeriu para deixar o campo defensivo ao convoca entrevista coletiva para denunciar o encabrestamento a que tentariam submetê-lo tendo a Justiça Eleitoral como espada permanente a lhe decepar a cabeça de competitividade. Ao vacilar, desprezando a iniciativa, caiu no redemoinho de auto salvacionismo,  abandonos deliberados, traições e mesmo de maledicências.

11. O que restaria a Luiz Zacarias nos meses que se seguem é bastante frágil, aparentemente, porque os apoiadores financeiros costumam desaparecer em horas de indecisão e tormenta. Aliás, esse era o objetivo da oposição ao lhe enfiar a espada da inexigibilidade no pescoço com data marcada. Justamente na reta de chegada da disputa é que se aplicam mais recursos financeiros e de organização da tropa. Resta saber quanto o PL vai destinar a campanha. Não se deve esperar quase nada. Valdemar Costa Neto é um tesoureiro que escolhe com extremo cuidado o quanto vai liberar tendo como premissa resultados práticos de votos nas urnas e cooperação pós-disputa, sempre de olho numa fatia de poder administrativo que gera votos em disputas subsequentes. Uma roda-viva mais que conhecida e consagrada na política.

12. Aparentemente Zacarias estaria inabilitado a empreender reviravolta eleitoral entre outras razões porque tempo perdido na política dificilmente é recuperável. Ao acreditar numa reação de suporte eleitoral dos então parceiros de jornada, Zacarias deixou passar a oportunidade de um contragolpe que deixaria o candidato do Paço Municipal isolado, já que os demais preferiram reprovar ou se abster de desencadeamentos do caso do cinema.

13. Seria necessário algo tão extraordinário na campanha eleitoral em Santo  André que, diante de um eleitorado atônito com eventuais acontecimentos, faria a roda da reconfiguração preferencial ganhar tanta velocidade que botaria de cabeça para baixo todas as avaliações do momento. Esse fator extraordinário não passaria pelo ambiente estritamente político-eleitoral, como algum fenômeno popular mais que improvável. Teria relação direta com fatores extras, no campo de criminalidade, por assim dizer. Como se noticiou ainda ontem nas principais mídias do País.

14. Voltando à questão do número 22, parece pouco provável que o ex-presidente Jair Bolsonaro decida estar pessoalmente em Santo André. Supostamente ele não daria aval público a um candidato tão duramente perseguido pelos situacionistas e desprezado pelos demais concorrentes. Uma ou outra figura de destaque do PL poderia compensar parte do desfalque de recursos e suporte de campanha provocado pelos ataques pós-cinema. Traduzindo: o 22 deve sim incrementar uma porção de votos para Zacarias, mas nada que significasse competitividade efetiva.

15. Supondo-se o vazamento de votos destinados preferencialmente a Luiz Zacarias no primeiro turno, a dúvida é saber para onde irão. Quais seriam os destinatários dos votos evadidos? Até que ponto a posição do Paço Municipal de hostilidade  a Luiz Zacarias, vice-prefeito dissidente, não significaria veto ao candidato Gilvan Júnior? O eleitorado mais engajado de Zacarias não quer ver o Paço Municipal e seus ocupantes pintados de ouro. Há ojeriza quando se referem a todos eles. Os admiradores de Zacarias não esquecem o tratamento desumano a que o submeteram  nas manchetes de jornais. Paulinho Serra comparou o vice-prefeito a um teco-teco, avião de pequeno porte  que mal se segura nos céus, enquanto dedicava a Gilvan Júnior o oposto de metáfora aeronáutica.

16. Passado o primeiro turno de votos vazantes, a pergunta se repete: qual seria o candidato finalista que mais se beneficiaria do estoque de votos de Zacarias, tanto os vazantes do primeiro turno quanto os ativos do primeiro turno? Ou seja: os votos que Zacarias efetivamente registrou no primeiro turno, em forma de resiliência, e os votos totais que obteria caso fosse finalista, que certamente não será? Traduzindo: de cada 50 votos efetivos que Zacarias somou num primeiro turno inútil, e dos 50 votos de votos evadidos também no primeiro turno, por conta de tudo que ocorreu a partir do caso do cinema, quantos estarão livre, leves e soltos no segundo turno? A maioria se dirigirá a quem, entre os finalistas, supostamente Gilvan Júnior e Eduardo Leite, se não for Bete Siraque?

17. Por conta de votos ativos e votos fugidios destinados a Zacarias no primeiro turno e por conta da soma desses dois modelos de votos pró-Zacarias no segundo turno, teremos a possibilidade de contar com um influenciador e tanto na definição do titular do Paço Municipal a partir de janeiro do ano que vem. Esse é um repositório de força político-eleitoral que, provavelmente, vai modular a campanha de primeiro turno na tentativa de usufruir o máximo do estoque de votos ativos e subjetivos de Zacarias. A possibilidade de o eleitorado cativo e o eleitorado condoído de Zacarias cravar qualquer finalista em Santo André, desde que não seja um representante do Paço Municipal, é uma ameaça efetiva à continuidade do atual grupo que comanda a cidade. Os votos potenciais do Capitão Sardano e de André Ribeiro do Viva, além de provavelmente da candidatura petista Bete Siraque, poderão significar uma frente única contra Gilvan Júnior.

18. Não parece provável, por conta de tudo isso, e tudo isso é muita coisa a dois meses da disputa, que Zacarias alcance a redenção de contar com massa de eleitores que o elejam vítima de uma engenharia maquiavélica que o transformaria em mártir e, portanto, o introduziria como um concorrente a ser resgatado em nome de uma política menos severamente cruel. A boataria em torno do ato ingênuo em Paranapiacaba força porque em geral é preferível não passar por pateta ao acreditar em bobagens inexplicáveis do que refletir sobre um incidente politicamente rudimentar, mas isento de crime eleitoral. Como em geral o eleitorado prefere o calor da emoção à contenção reflexiva, a salvação da alma eleitoral de Zacarias não chegaria à materialidade de votos no curso previsto. E o curso previsto é mesmo o definhamento da campanha, como já se constata. O erro dos algozes de Zacarias é que os mais implacáveis serão castigados nas urnas em forma de perda de votos vivos e votos evasivos do candidato do PL.



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