Antes de expor os números do ambiente na região há menos de três meses de as urnas de outubro chegarem, faço uma recomendação aos juízes eleitorais: cuidado com os vigaristas à solta. Eles não suportam liberdade de imprensa e independência jornalística. Por isso é possível que tentem obstar a manutenção desse texto. Dirão com maliciosidade de prostitutas da democracia que se trata de pesquisa eleitoral.
O que temos em seguida é Placar Eleitoral, sem qualquer vínculo com Pesquisa Eleitoral. A premissa estabelecida envolve conceitos de liberdade de opinião sem infringir obrigações regulamentares definidas pela Justiça Eleitoral.
Até porque pesquisas eleitorais são deliberadamente, em larga escala, um antro propício a uma diversidade de ações delinquenciais. E Placar Eleitoral é no máximo material especulativo de números precários.
Antes de passar aos números, portanto, reitero aos juízes eleitorais um pedido caso sejam demandados a interromper esse circuito de informação jornalística, dando vez a demandantes que tratam a democracia informativa como pano de chão.
CHEGA DE FALSÁRIOS
Trata-se do seguinte: aperfeiçoem ações para retirar da praça falsificadores de dados que agem em nome de suposta sustentação estatística em forma de pesquisas eleitorais. São esses vigaristas de plantão que querem porque querem ter o controle monolítico de pesquisas sob encomenda. Tenho um manual volumoso de casos que desmascarei ao longo dos anos como provas de que não faltam prevaricadores na praça.
Tudo que se falou e se publicou até outro dia sobre a necessidade de colocar ordem metodológica no galinheiro especulativo em que se transformam as pesquisas eleitorais ficou para trás. O Brasil é uma farra. A corrupção, na raiz de muitas pesquisas eleitorais, deveria ser desmascarada.
Agora vamos aos dados: em Santo André o favoritismo atual é do vice-prefeito e candidato da oposição Luiz Zacarias. Em São Caetano quem lidera o Placar Eleitoral é o indicado do prefeito, Tite Campanella. Em Diadema a briga é boa, mas quem está na frente é o tetraprefeito José de Filippi Júnior. Em São Bernardo está dando a sobrinha do prefeito, Flávia Morando, mas Marcelo Lima cresce em segundo. Em Mauá, está dando Marcelo Oliveira, com Atila Jacomussi no cangote.
MARGEM DE MANOBRA
O que os leitores e eleitores querem saber porque saber é poder e poder é capacidade de influenciar, é o seguinte: como cheguei a esses favoritos e também aos números que relaciono mais abaixo? Não custa repetir que os números são precários, embora possam ser definitivos dentro de margem de erro elástica de cinco pontos percentuais para cima ou cinco pontos percentuais para baixo. Sabe o que significa essa margem de erro? Que o Placar Eleitoral tem a consistência impenetrável de uma gelatina.
Pesquisa séria de fato, e mesmo assim sob escrutínio metodológico, não pode ter mais de dois pontos percentuais de margem de erro. Caso contrário, é margem de manobra.
Ora, se tem tanta vulnerabilidade assim, então por que divulgar o Placar Eleitoral? Porque não difere muito de pesquisas eleitorais, que se travestem de ciência e na maioria dos casos se convertem em alquimia de interesses variados.
Entre um Placar Eleitoral declaradamente vulnerável ao tempo e às circunstâncias e pesquisa eleitorais combinadas entre as partes contratantes e executantes, o eleitor que também é leitor deve fazer escolha.
SEM MISTIFICAÇÃO
No caso de Placar Eleitoral, o que está em jogo é a independência para errar e acertar sem mistificação de cientificidade. No caso de pesquisas eleitorais, o que está em jogo é a garantia de que experimentos heterodoxos foram engendrados para dar o que se publica.
Por essas e outras que Pesquisa Eleitoral tem apenas uma parcela de importância na produção de Placar Eleitoral. Entretanto, não sou idiota a ponto de desconsiderar as pesquisas eleitorais. Por pior e mais inconsistente que seja na maioria dos casos, essa modalidade de procurar traduzir o ambiente eleitoral tem poder de influência. Não o tivesse, não seria tão valorizada tanto entre os eleitores quanto àqueles que as financiam e a propagam.
Mas o Placar Eleitoral que decidi lançar nesta edição e que se repetirá provavelmente a cada duas semanas, até que as eleições cheguem, reúne outros condimentos além das pesquisas eleitorais. Aliás, pesquisas eleitorais e os respectivos veículos de comunicação que as escolhem dizem muito sobre os resultados do momento.
ENGAJAMENTO E SUSPEIÇÃO
Quanto mais um determinado veículo de comunicação está engajado numa determinada candidatura, mais as pesquisas eleitorais devem ser relativizadas e passar pelo crivo da desconfiança. Há interesses obscuros subjacentes.
Bem no estilo Ricuperiano, ministro de Itamar Franco que declarou em conversa informal e desastrosa, captada por antenas parabólicas, que “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”, referindo-se aos efeitos iniciais do Plano Real, pesquisas eleitorais não podem ser devotadas, porque são em larga escala profanas.
Profissionais das pesquisas eleitorais são competentíssimos. Eles fazem tudo parecer verdade ao longo da campanha, porque parecer verdade é a estrada que leva ao pretendido cenário. Poucos ficam atentos a essa espécie de profecia autorrealizada.
O ritual do noticiário que desemboca em pesquisas eleitorais precisa ser observado atentamente. Conforme o comportamento público e mesmo de bastidores dos principais concorrentes, mais é possível aferir até que ponto as pesquisas eleitorais apontam o caminho da verdade ou da enganação.
Entretanto, para se chegar a esse estágio, ou seja, de sincronizar o ambiente subjetivo com os dados materializados, não há mágica: é preciso contar com conhecimento e cuidados sensoriais.
Quem acredita que campanha eleitoral é o caminho da salvação das almas não passa de otário juramentado. Há todo um conglomerado de especialistas em prestidigitação prontíssimo para participar do jogo, usando armas legítimas e ilegítimas que, em muitos casos, atribuem pecados próprios aos adversários que, também, não são santos.
SEM INVENCIONICES
Portanto, seria uma tremenda idiotice entender que as pesquisas eleitorais fajutas dão estrutura lógica ao Placar Eleitoral. Não vou detalhar todos os quesitos que levo em conta para traduzir tudo no ambiente eleitoral como argamassa de Placar Eleitoral. O principal mesmo é que os números não são uma fonte de invencionices, embora também estejam longe de ganhar a tessitura de algo extraordinariamente certeiro e materializável.
Luiz Zacarias lidera o Placar Eleitoral em Santo André respaldado por fatores nada desprezíveis: é vice-prefeito que capitaliza o populismo do prefeito Paulinho Serra. Mais que isso: há senso coletivo de que Zacarias foi traído pela gestão de Paulinho Serra na definição do candidato do Paço Municipal.
Como se sabe, além de perder o apoio do grupo do prefeito, ganhou manchete de jornal com tratamento humilhante: o prefeito disse que ele seria um teco-teco, sugerindo que fora preterido por um boeing.
Espertamente, a campanha de Zacarias passou por cima da idiossincrasia do prefeito, transformando-o em pretenso herdeiro da popularidade do chefe do Executivo. As redes sociais são utilizadas à exaustão a esse propósito. Zacarias tem 35% dos votos válidos no Placar Eleitoral. E nas pesquisas eleitorais? É melhor aguardar as fornadas que devem surgir.
GILVAN NA COLA
Quem está em segundo no Placar Eleitoral em Santo André é o multissecretário da gestão Paulinho Serra, o jovem Gilvan Junior, agora com os pés nas ruas e em visitas e pequenos empresários. Gilvan tem 27% dos votos, com tendência de crescimento e de chegar ao segundo turno possivelmente com Zacarias.
Gilvan é jovem, ruim de discurso, beneficiário dividido de Paulinho Serra no que é bem avaliado pelos eleitores, mas não oferece segurança alguma de que seja diferente de Paulinho Serra na pasta mais importante de uma cidade dilacerada nos últimos 40 anos: o Desenvolvimento Econômico largado às traças.
Gilvan Júnior sentiu o golpe da artimanha de Zacarias, aquela jogada de ser o potencial herdeiro de Paulinho Serra. Tanto que numa entrevista ao Diário do Grande ABC fez referência à suposta invasão de domicilio eleitoral.
Diferentemente de Paulinho Serra, não pareceu irritado com a tática adversária; apenas incomodado. Talvez pesquisas eleitorais privativas, ou seja, não levadas ao público, tenham detectado o sentimento de parte da população favorável a Zacarias. Num trecho de entrevista ao Diário do Grande ABC, Gilvan Júnior preferiu a sutileza de valorizar o legado do prefeito como ambição natural do vice-prefeito alijado de apoio. Entendeu por que há determinados noticiários que dão indícios de revelações mantidas sob guarda?
Ainda concorrem em Santo André com possibilidades de sucesso a petista Bete Siraque e o ex-petista Eduardo Leite, vereador que até foi cogitado como prefeiturável do grupo situacionista. Bete Siraque tem 20% dos votos e Eduardo Leite 18%. Tendência do Placar Eleitoral para o próximos 30 dias? Algumas chuvas e tempestades . Outros dois inscritos mas de potencial de votos ainda a ser observado são o influenciador digital André Ribeiro do Viva e o vereador Coronel Sardano. Eles constam da relação do Instituto Paraná que lançou entrevistadores nas ruas de Santo André nesta semana, com previsão de encerramento da pesquisa amanhã. Os números, sempre sob desconfiança, podem indicar alguma mudança? É melhor esperar.
TITE NA FRENTE
Em São Caetano a perspectiva é muito favorável ao candidato do prefeito José Auricchio no Placar Eleitoral. Tite Campanella conta com 65% de possibilidades de vitória, ante 35% do pela terceira vez candidato mais forte, Fabio Palacio.
Enfrentar a máquina em São Caetano é diferente de enfrentar máquinas nos grandes municípios, nos quais a dispersão de interesses e de controles sucumbe à demografia mais complexa socialmente.
São Caetano é a cidade mas conservadora da região. O turno único histórico da disputa é um longo aprendizado de quem está no poder. Tite Campanella ganhou com isso ao se juntar ao time do prefeito que tem de fato a ex-secretária de Saúde, Regina Maura Zetone, como companheira de chapa.
Fortalecido politicamente também fora da esfera municipal, o prefeito José Auricchio só seria surpreendido com eventual derrota, como em 2012, quando lançou Regina Maura Zetone, diante de eventual catástrofe pré-eleitoral. Placar Eleitoral? 65 a 35% dos votos válidos restritos aos dois candidatos. Tendência de estabilização dentro de uma margem de segurança um pouco elástica, mas não surpreendente a ponto de provocar surpresa.
FLAVIA DESAFIA
Em São Bernardo, a sobrinha do prefeito Orlando Morando supera Marcelo Oliveira, Luiz Fernando Teixeira e Alex Manente. Qual seria a situação no momento? 36%, 25%, 22% e 17%. O jogo disputado em São Bernardo é mais de segundo turno do que de primeiro, como também o é e Santo André.
Quem passar para o segundo turno vai para um tudo-ou-nada. Aí o Placar Eleitoral dependeria de perdas e ganhos de relacionamentos entre os concorrentes na primeira etapa. Por isso se explorou uma declaração de Flavia Morando, que se referiu aos adversários de forma crítica. A jovem desafiou os concorrentes a apresentarem currículos de empreendedorismo, não exclusivamente de políticos. Flavia comandou com sucesso até outro dia a rede de supermercados da família.
A campanha de Luiz Fernando Teixeira parece não ter saído às ruas, limitada a guetos sindicalistas e populares do PT. O deputado estadual não decolará se não contar com o apoio da cúpula nacional petista, sobretudo do presidente Lula da Silva. Foi estranho que na semana passada Lula da Silva tenha feito visita ao prefeito de Diadema, com evidente mensagem eleitoral, e não tenha dado uma esticadinha a São Bernardo.
Visto com desconfiança pelos sindicalistas e longe de gozar de prestígio na classe média, Luiz Fernando Teixeira precisa rezar para que o vice escolhido, o ex-prefeito Willian Dib, seja o milagreiro da vez nos bairros da classe média. Com a concorrência de Flavia Morando e Alex Manente, parece improvável.
MARCELO AVANÇA
Enquanto isso, Marcelo Lima, ex-vice-prefeito de Orlando Morando e ex-deputado federal cassado politicamente por causa de uma variante de infidelidade partidária, bota os pés nas ruas e mãos às obras. Disputa com Flavia Morando o direito prático de ser observado como herdeiro do prestígio popular do prefeito.
No caso de Alex Manente, mesmo com todo os recursos extra eleitorais de emendas parlamentares cada vez mais robustas e do Fundo Eleitoral, cada vez mais generoso, haveria poucas possibilidades de ganhar tração.
Provavelmente vai mais uma vez fazer o que é sua especialidade: negociar o futuro apoio a novo mandato parlamentar.
PETISTAS LIDERAM
Em Diadema, o tetraprefeito José de Filippi Júnior está 10 pontos percentuais acima de Taka Yamauchi, até outro dia titular de autarquia de obras na Capital e que perdeu duas vezes a disputa na cidade, última das quais por pouco mais de cinco mil votos. Filippi é um dos mais próximos aliados do presidente Lula da Silva.
A visita do titular do Palácio do Planalto na semana passada para uma inauguração mostra que a perspectiva de apoio físico na reta de chegada é mais que provável. Os 55% 45% dos votos válidos do Placar Eleitoral favorável a Filippi não são uma sentença definitiva, mas uma vantagem que precisa ser considerada. Diadema avermelhada não é a mesma do passado, mas também não perdeu a cor. O vermelho ganhou nova gradação, mais suscetível a fissuras.
A situação em Mauá, entre o também petista Marcelo Oliveira, em primeiro mandato de titular, não é diferente de Diadema. O adversário é Atila Jacomussi, que, como prefeito, recheou o currículo com complicações com a Policia Federal. Surpreendentemente, se elegeu deputado estadual em 2022. Composições partidárias e mesmo a definição da chapa de Jacomussi tendo por base complementariedade de perfil podem tornar a disputa em Mauá ainda mais dramática do que se tem hoje. O Placar Eleitoral de 55% a 45% pode ter alterações no futuro.
PESOS EXTERNOS
Não custa lembrar que além dos fatores locais, próprios da cultura política de cada Município, esta é uma temporada de desdobramentos que alertei há muito tempo: o ambiente ideológico estadual e nacional pode influenciar de tal maneira que o voto municipalista em larga medida não teria a segurança de intocabilidade como em outros tempos.
E por enquanto, entre o governador Tarcísio de Freitas e o presidente Lula da Silva, o eleitorado, comprovadamente observado nas pesquisas, coloca fichas de mais prestígio na mesa do governador. Seriam as pesquisas eleitorais também nesse quesito um ancoradouro de falcatruas? É provável que não. Lula da Silva comete pecados demais a cada santo dia. Tarcísio de Freitas é um bolsonarista com cara, apenas cara, de tucano.
E Jair Bolsonaro? O prestigio popular do ex-presidente deverá ser reavaliado depois da repercussão do caso das joias, uma pedra no sapato de idoneidade do maior agente público da direita no País. Nada poderia, ao que parece, reduzir os efeitos positivos de candidatos contarem com o apoio de Bolsonaro. Lula está vivo e no poder como garantia disso.