Clique aqui para imprimir




Política

DANIEL LIMA - 02/05/2024

Não sei e a maioria não sabe, mas o melhor é saber alguma coisa. Gilvan Júnior pode ser o próximo prefeito de Santo André. Como Zacarias, Eduardo Leite, Bete Siraque, Coronel Sardano. Mais uns que outros, não interessa.

A propagação da escolha de Gilvan Júnior ontem em rede regional de aplicativos surpreendeu apenas os alienígenas e quem não acompanha a política regional. Convenhamos, é a grande maioria. O nicho de bem-informados em política regional já desconfiava da definição. Uma minoria que não pode ser tratada como opinião pública. Tampouco a informação como Segredo de Polichinelo.

Teremos cinco meses antes do primeiro turno das eleições para retirar uma tonelada de dúvidas e abrir a janela de uma pancada de esclarecimentos sobre Gilvan Júnior.

Seria Gilvan Júnior um prodígio da Administração Pública? Seria Gilvan Júnior um estagiário surpreendente? Seria Gilvan Júnior um aprendiz preparado adredemente para servir aos patrões que não apareceram no Paço Municipal de Santo André mas mandam com as respectivas cotas nos destinos do Paço Municipal? Seria Gilvan Júnior um iluminado?

Tudo isso e muito mais poderão ser uma fonte de informações valiosas e seguras.

UM BOM MENINO

O que mais me inquieta quando pergunto sobre Gilvan Júnior, seja ao telefone ou eventualmente frente a frente, com as dificuldades que ainda tenho de cumprir agendas externas, é que o candidato do Paço é um bom menino.

Sempre que ouço essa frase, um bom menino, fico arrepiado. Mesmo quando sou eu que digo numa conversa em que prefiro não esticar o assunto. Quando digo que alguém é um bom menino tenho receio de que possa camuflar alguma coisa com o reducionismo mitigador.

Esforço muito para retirar mais detalhes sobre o bom menino Gilvan Júnior. Ser um bom menino sem detalhadamente é mesmo uma expressão desafiadora.

Gilvan Júnior saiu de supostamente comandar um pequeno negócio de secos e molhados familiar para o coração da Administração de Paulinho Serra. Uma Administração, que todos sabem, é especializada em efeitos especiais aliados a uma sensibilidade social estratégica.

BOM E RUIM

Bom de voto e ruim de governo, Paulinho Serra não deveria servir de inspiração administrativa a ninguém que reconhece a derrocada econômica histórica de Santo André. Já do ponto político-eleitoral, Paulinho Serra e seus marqueteiros são extraordinariamente competentes. Pegaram o nicho de pobres e miseráveis com o projeto Moeda Verde e outras fontes formidáveis de assistencialismo de uma cidade empobrecida. Fez da mulher deputada estadual com votação inédita.

A turma de classe média do Bairro Jardim e vizinhança geralmente vai de acordo com o ritmo de manada. Os mais críticos agem em nichos que não influenciam o placar final.

Celso Daniel, mil anos à frente de qualquer prefeito de Santo André, penou para conquistar a classe média, mesmo pertencendo à classe média tradicional. Era visito como um estranho no ninho. Naquele tempo a classe média de Santo André era proporcionalmente muito maior e com perspectiva muito melhores. Hoje é decadente em larga escala. A mobilidade social foi para o chapéu.

Restará saber como essa classe média vai se comportar diante de um até prova em contrário monossilábico Gilvan Júnior. Celso Daniel tinha essência cultural e verbalização política, embora não fosse um exemplar de carisma. Gilvan não se mostra nem uma coisa nem outra até agora.

Gilvan Júnior vai herdar uma avalanche de votos de Paulinho Serra ou a escolha que o beneficiou e que provocou rupturas envolvendo vários aliados vai causar dispersão diante da diversidade de candidatos na prateleira posta no mercado de votos?  

MENINO-PRODÍGIO?

Fosse um menino prodígio, como supostamente o seria por ser jovem e ascender rapidamente numa Administração repleta de veteranos, Gilvan Júnior provavelmente não reuniria tanta insatisfação de parceiros de jornada da Administração Paulinho Serra. Ou então tem tanta luminosidade que esses mesmos parceiros se sentiram ofuscados e ofendidos.

Acredito mais na primeira hipótese. O Coronel Sardano, o vereador então aliado Eduardo Leite e o vice-prefeito Luiz Zacarias, declaradamente, afastaram-se do Grupo dos Nove Privilegiados que disputariam as duas vagas de finalistas da chapa situacionista. Tudo não passava, como se sabe, de um golpe de suposto verniz democrático.  

Por razões que o tempo poderá explicitar, nenhum dos dissidentes do Grupo dos Nove Privilegiados abriu o jogo sobre eventuais insatisfações com o rumo que estava mais que na cara seria tomado, ou seja, da indicação de Gilvan Júnior.

GENIALIDADE OU CONTROLE

A preferência por Gilvan Júnior constava das opções do Paço Municipal. Era uma determinação do dono do Diário do Grande ABC, Ronan Maria Pinto, um dos comandantes de grupos de controlam o Paço Municipal de Santo André.

Sei que não gostam  e, mais que isso, detestam, quando não, ameaçam através de terceiros, esse tipo de revelação. O que posso fazer senão reproduzir em letras de forma a realidade dos bastidores e das oficialidades da Administração de Paulinho Serra?

Não dá para mentir aos leitores que também são eleitores. Se entendem que se trata de relações malévolas, por assim dizer, quem sou eu para censurá-los? Só os exponho como fator explicativo, sem adjetivações, exceto por entender que quase todos não têm interesse social que resvale na prioridade de controle do Poder Público.

Pois é no meio dessa turma sincronizada com o Paço Municipal  que Gilvan Júnior se encontra em forma de adoração. Das duas, uma: ou é um gênio de relacionamento pessoal e corporativo que dominou com classe todos eles, a ponto de ser ungido candidato do Paço, ou é exatamente a reprodução do perfil desejado a ser controlado por aqueles de maior influência na Administração de Santo André. Inclusive do prefeito-perfeito.

UMA ÚNICA CONVERSA

Só conversei com Gilvan Júnior uma única vez, na condição de jornalista e ele de secretário. A impressão que guardo é de que é um jovem afável, simpático, pronto para uma boa conversa. Mas também me pareceu muito à vontade como agente público, convicto dos poderes que deteria.

Quero dizer com isso que em nenhum momento transpareceu alguma coisa que o colocasse como agente público qualquer. Não sei se você me entende, mas sabe aquela coisa de estar num lugar e captar a mensagem de que o interlocutor age com o desembaraço típico de dono da casa, de patrão, por mais que não exiba arrogância. É assim que vi Gilvan Junior.

Não foram poucas as pessoas com quem mantive contatos e busquei informações sobre o ungido de Paulinho Serra. Repito que senti no ar alguma coisa estranha. Talvez não falassem mais do que o necessário porque o patrono de Gilvan, o empresário Ronan, é visto com certa preocupação por gente do Paço Municipal.

Gilvan é o filho politico de Ronan, dizem todos. Há testemunhos que os colocam em visitas a empresários para comunicar a candidatura ao Paço Municipal. E isso não é de hoje. Quem acha que Santo André é cosmopolita, cai do cavalo. É uma província onde tudo se sabe. Basta perguntar. Só não se sabe tudo de Gilvan Junior.

ENTREVISTA PRESENCIAL

A candidatura de Gilvan Júnior é reflexo escarrado da Administração de Paulinho Serra de incansáveis apresentações de fanfarras de triunfalismo e de dissimulação. Cercaram Gilvan Junior de todos os cuidados para não o exporem ao público. Nas entrevistas encomendadas, fala o mínimo e o redundante.

As redes sociais deram a Gilvan Júnior um pouco de visibilidade nos últimos tempos, preparando-o ao anúncio da candidatura mais que evidente para quem é letrado em política, não para a maioria que passa batida.

Gilvan Júnior não encanta, sequer prende a atenção, mas tem aquela coisa de jovem educado, prestativo, que não se encontra dentro ou fora da política. Paulinho Serra no início de Administração era bem melhor que ele.

Gostaria e vou tentar levar a cabo uma entrevista com Gilvan Júnior. Uma entrevista diferente das que ando produzindo com diversos agentes públicos nesta temporada de votos. Gostaria de fazer uma gravação frente a frente. Nesse caso, tenham a certeza que encontrarei muitas respostas que uma entrevista por e-mail não seria capaz de traduzir.

CELSO INSUPERÁVEL

Quando entrevistei Celso Daniel em 1996, logo após consagrar-se vencedor em Santo André, na disputa com um Duílio Pisaneschi apoiadíssimo pelo Diário do Grande ABC, saí com a convicção de que estivera com um politico diferenciado. Mais tarde, ao entrevistar o mesmo Celso  Daniel, gravador em punho, durante uma viagem de ônibus a São Carlos, como torcedor do Santo André, saiu uma das melhores entrevistas de minha vida.

Celso Daniel enxergava o futuro com clareza. A maioria dos políticos da região têm dificuldade de enxergar o passado.

Não devemos exigir de Gilvan Júnior o patamar de arrancada de Celso  Daniel entrevistado por mim ao ser eleito em 1996 após um primeiro mandato sofrível, entre 1989 e 1992. Entretanto, Santo André degringolou tanto desde então que não é possível mais ser leniente. Gilvan e todos os concorrentes devem ser escrutinados no devido tempo e com rigor.

SEGREDO DE POLICHINELO 

A participação do empresário Ronan Maria Pinto na definição do nome de Gilvan Júnior comportou uma falsa premissa, a premissa , de que se sustentaria  uma disputa para valer com outros oito concorrentes. Deu-se uma Operação Tabajara que culminou em crise. Diante do caos, só restou como alternativa tentar transformar a crise em Segredo de Polichinelo,  ou seja, a tentativa de vender um pacote de ideias que comportaria a falsa propagação de que todo o mundo tinha conhecimento da escolha de Gilvan Júnior. Bobagem.

O segredo da imposição estava restrito a um grupo fechado, dos mandachuvas. Quando a estratégia ruiu, tentou-se negar o evidente. Dar corda à falaciosa narrativa de que a escolha de Gilvan Júnior se enquadraria na teoria de Segredo de Polichinelo é subestimar o caráter e a dignidade dos demais concorrentes situacionistas ao Paço Municipal, anunciados em setembro do ano passado como potenciais candidatos.

Fosse mesmo Segredo de Polichinelo ao invés de um enquadramento muito  particular, muito reservado, tanto o Coronel Sardano, quando o vereador Eduardo Leite quanto o vice-prefeito Luiz Zacarias não teriam se afastado do Paço Municipal para concorrerem por outras agremiações.

OPERAÇÃO TABAJARA

Ao invés de Segredo de Polichinelo, o que Santo André executou desde então, em conta-gotas, foi uma permanente perda de produtividade político-eleitoral. Enfim, uma Operação Tabajara.

O Diário do Grande ABC, em notinhas de futricas, tenta desvirtuar a realidade dos fatos. Tenta fazer crer que o nome de Gilvan Júnior para prefeito era desde sempre de conhecimento geral da sociedade. Balela.

Somente CapitalSocial, ao longo dos meses, alertou para o direcionamento da escolha do nome do então secretário de Saúde. O próprio jornal procurou manter uma falsidade concorrencial que jamais existiu, inclusive com permanente citação do ex-secretário Leandro Petrin como eventual cabeça de chapa. Tudo fora decidido muito antes do anúncio da composição enganadora do Grupo dos Nove Privilegiados, de setembro do ano passado. Longe, portanto, da audiência da sociedade. Segredo de Polichinelo? Bobagem.

O próprio jornal mascara a tentativa de sofisticar uma operação deliberadamente ludibriadora ao  instalar na manchetíssima de primeira página de hoje (manchetíssima é a manchete das manchetes de primeira página) a notícia que dá conta da confirmação da candidatura de Gilvan Júnior.  O jornal só anunciara dias antes a informação numa notinha de coluna de futricas. Num barco furado de Segredo de Polichinelo. Como se os convidados sob medida no Restaurante Baby Beef representassem mais de 500 mil eleitores.

Um fato supostamente de conhecimento  público geral, o Segredo de Polichinelo, não ocuparia primeira página alguma. É algo como dizer que a Terra é redonda.

DIREITO DE TORCER

Tudo isso tem uma finalidade objetiva: retirar o dono do jornal do protagonismo de escolha. Seria muito mais simples o jornal adotar uma medida transparente de apoio público ao candidato do Paço Municipal, dando sequência, portanto, à política editorial de prefeito-perfeito de Paulinho Serra.

Ronan Maria Pinto e o Diário do Grande ABC podem escolher e apoiar quem bem entenderem, mas que o façam com transparência. Portanto, deveriam assumir publicamente o que é de fato e sem derivações um Segredo de Polichinelo cristalizado -- ou seja, todo mundo sabe que o Diário tem lado em Santo André. CapitalSocial prefere vestir a camisa do Grande ABC Sociedade Ilimitada.



IMPRIMIR