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Imprensa

DANIEL LIMA - 18/03/2024

Passados três dias desde que editamos as respostas do vereador Ricardo Alvarez (PSOL) na série Entrevista Especial lançada recentemente, já podemos expor nossas ponderações que se seguem ao fim de cada intervenção do vereador do PSOL de Santo André.

Agora podemos escrever – e com isso evitar contaminações prévias – que Ricardo Alvarez foi implacável com a gestão de Paulinho Serra. Distribuiu de cabo a rabo pancadarias tanto pontuais quanto estruturais sobre os já mais de sete anos de gestão do tucano.

Ricardo Alvarez praticamente não observa uma única ação positiva de Paulinho Serra. Contrapõe-se de forma dura, rigorosa, sem complacência. Trata-se de um rescaldo evidente do que tem passado como combativo oposicionista no Legislativo de Santo André, endereço no qual se pratica o que a maioria das casas de Lei do país expõe diariamente. A oposição não tem vez.

Nesse caso, não se trata de juízo de valor, ou seja, de que os oposicionistas seriam, em regra, qualificados para produzir mudanças. É uma questão puramente processual, de tradição nacional.

Diferentemente das edições anteriores de Entrevista Especial, decidimos incorporar nossas avaliações ao pé de cada resposta já publicada. Então, para que os leitores tenham entendimento do que se segue, teremos o questionamento de CapitalSocial seguido de respostas do entrevistado e imediatamente em seguida, o que seria uma espécie de réplica em forma de “ponderações”.

RICARDO ALVAREZ -- Antes de iniciar as respostas, quero ressaltar a importância desta iniciativa de Capital Social e sua, Daniel Lima, com essa série de “Entrevista Especial”, que está ouvindo as diversas vozes sobre a conjuntura política, econômica e social de Santo André e da nossa região. Sobretudo em ano de eleição, mas ainda mais nos dias atuais, sabemos da importância de uma imprensa livre e capaz de ouvir e dar espaço para todos os lados numa democracia.

Sem dúvida, essa proposta de escuta dos agentes envolvidos na política e na vida da população, sem privilegiar determinado candidato, candidata ou grupo político e econômico hegemônico permitirá aos seus leitores e leitoras, mas também aos eleitores e às eleitoras, conhecer e avaliar com mais propriedade as diferenças gritantes de projeto político que estão postas para Santo André e para a nossa região nestas eleições. Santo André precisa de mudanças! 

PONDERAÇÕES – Os extremismos na mídia e das redes sociais formam uma corrente até agora incontrolável com poder bélico que confunde do que esclarece. Tudo muito diferente dos tempos de calmaria em que só havia um time em campo e o País era sequestrado por versões aparentemente incontestáveis, mas na prática distantes da realidade do cotidiano. Benditas escaramuças. O tempo incrementará, quem sabe, uma desova de bom-senso que permitiria identificar uma realidade hoje difusa, confusa e prevalecentemente fugidia em cada canto de radicalismo. Saímos, portanto, de uma falsa democracia e chegamos a uma falsa anarquia. O melhor é pensar que estamos num regime de contraditório amalucado, exasperante, mas também reflexivo e perscrutador para quem sabe eliminar os insumos deletérios.

CAPITALSOCIAL – De zero a dez, sem considerar a pasta de Desenvolvimento Econômico, qual é a nota que o senhor atribui aos sete anos de gestão do prefeito Paulinho Serra?

RICARDO ALVAREZ – Nota 3. O foco da gestão do prefeito Paulo Serra (PSDB) nesses sete anos de mandato foi desmontar as políticas públicas que funcionavam na cidade, aprofundar relações duvidosas com empresários e fazer propaganda para fingir que os problemas, que são muitos, não passam de intriga da oposição. Predomina no governo a Serrolândia: uma cidade que existe apenas dentro do gabinete do prefeito, mas que não se reproduz nas relações cotidianas de vida dos andreenses.

Um exemplo claro está na área da Cultura, que já foi referência nacional. A tentativa de aterramento da Concha Acústica da praça do Carmo, o fechamento da Casa da Palavra sem qualquer explicação, o desmonte das Escolas Livres, a desvalorização de artistas locais, o Teatro Municipal sem programação, o Museu de Santo André completamente abandonado, literalmente caindo aos pedaços.

No mundo se debate intensamente ações de combate ao superaquecimento global, mas por aqui prevalece a poda drástica e a retirada de cobertura vegetal de parques e jardins, tudo regado à propaganda de criação de uma “Floresta Urbana”. Mas as enchentes, cada vez mais trágicas, não deixam dúvida de que o problema é grave e não está sendo devidamente cuidado.

Na Saúde a trama se repete: as filas no atendimento e a falta de medicamentos expõem uma realidade dramática aos munícipes que necessitam do serviço público. O que se vê são fachadas atraentes que encobrem problemas estruturais.

Na mobilidade urbana, ônibus velhos rodam em número maior do que o exigido em contrato, o Conselho Municipal de Transportes não existe e os empresários ainda recebem pesados subsídios milionários pelos péssimos serviços prestados. É sintomático que enquanto no Brasil várias cidades discutem implementar a Tarifa Zero, aqui tivemos aumento de passagem e o trabalhador e a trabalhadora pagam uma tarifa de R$ 5,70, mais caro do que na cidade de São Paulo.

Os problemas se acumulam. Santo André é campeã de roubos e furtos de veículos na Grande São Paulo, conforme publicou a Secretaria de Segurança do Estado. A Guarda Civil Municipal hoje tem um efetivo 20% menor do que quando Serra assumiu em 2017. Apesar disso, o que se viu foi a propaganda do óculos inteligentes que sequer foram comprados.

Serra entregou o Semasa (eficiente e rápido no atendimento) à Sabesp. O resultado foi um aumento de 23% na conta de água e esgoto acima da inflação, além da piora no atendimento. E agora a Sabesp está na fila da privatização do governador Tarcísio, o que aponta para precarização ainda maior.

Os servidores foram abandonados, cargos em comissão foram aumentados assim como o número de secretarias, agora pomposamente denominadas de Núcleo. Órgãos públicos entregues para partidos e deputados, mas a propaganda fala em “austeridade, modernidade e choque de gestão”. Serrolândia se fazendo presente.

Predomina a falta de diálogo com a população. Protestos de rua são recebidos como ofensas inaceitáveis, críticos são bloqueados nas redes sociais do prefeito, reivindicações são tratadas como sabotagens e os Conselhos Municipais são acessórios de segunda categoria. O prefeito não gosta da contribuição dos munícipes e, por isso, desvaloriza instrumentos fundamentais de construção de políticas públicas.

E o que o governo fez de fato pela população vulnerável de Santo André, além de distribuir cestas básicas doadas pela própria população sob intensos disparos de flashes?  

PONDERAÇÕES – Ricardo Alvarez está forrado de razão ao colocar em polos distintos a Santo André do passado e a Santo André da gestão de Paulinho Serra no campo de integração social. Vivemos desde muito tempo, conforme denúncia deste jornalista, um mundo municipal cor-de-rosa.

CAPITALSOCIAL – Isoladamente, qual é a nota de zero a dez que o senhor atribui à área de Desenvolvimento Econômico da gestão do prefeito Paulinho Serra?

RICARDO ALVAREZ – Aqui a nota é ainda mais baixa: 2. A área de Desenvolvimento Econômico dessa gestão mostrou-se um completo desastre. Aliás, eu trataria como Subdesenvolvimento ou Retrocesso Econômico o que vem sendo feito pela Prefeitura. E não se trata aqui de culpar secretários, pois o que conta é a política geral do governo.

Serra endividou Santo André para as próximas gestões, com financiamentos a longo prazo que pouco ou nada retornaram para a cidade, novos empréstimos e calote no recolhimento patronal ao Instituto de Previdência dos Servidores.

Gasta onde não deve e economiza onde é essencial. Os empresários de ônibus receberam em 2023 mais de R$ 53 milhões e, neste ano, mais de R$ 27 milhões (em apenas 2 meses), ao mesmo tempo fez um corte de linear de 25% em todas as secretarias em 2023 e em 2024, o contingenciamento no orçamento atingiu a casa dos 31% em pastas como Saúde, Serviços Urbanos, Habitação e outras. A exceção, claro, são as pastas de Comunicação e de Chefia de Gabinete, por que será?

A cidade sofre com desemprego e empregos desqualificados, de baixa remuneração e precários. De acordo com o Sebrae (Data MPE Brasil), o setor que mais emprega em Santo André é o comércio varejista com 15,3% das vagas, seguido de serviços para edifícios e atividades paisagísticas, com 10,3%. No setor industrial quem mais emprega é a construção civil, com 4,1%. Construção de prédios residenciais de classe média em bairros nobres e sua manutenção é o que Serra deixará de legado no desenvolvimento econômico em seus 8 anos de gestão.

PONDERAÇÕES – A gestão de Paulinho Serra é mesmo e sem dúvida um período que terá consequências nada agradáveis no futuro. O protecionismo da mídia tornou Paulinho Serra prefeito perfeito, que não resistirá ao tempo. Nem mesmo até o fim do mandato. Já no primeiro dia de primeiro mandato, Paulinho Serra deveria constituir força-tarefa dedicada em tempo integral a buscar saídas que, primeiro, estancassem o empobrecimento de Santo André e, em seguida, que introduzisse politicas públicas que operacionalizassem medidas práticas de recuperação. O que se viu em cinco dos sete anos já apurados foi a queda de 34 posições no ranking de PIB per capita no Estado de São Paulo.

CAPITALSOCIAL – Que tipo de distinção o senhor faria em ter o modus operandi do Congresso Nacional com o governo Lula da Silva e o Legislativo de Santo André com a Administração de Paulinho Serra?

RICARDO ALVAREZ – Posso dizer que a situação é inversa se compararmos os dois legislativos. No Congresso Nacional, o Centrão, sob o comando do deputado Arthur Lira (PP-AL), quer comandar o Brasil e o Orçamento Nacional. Não admitem o fim do Orçamento Secreto, que na prática deixava o Executivo refém do poder Legislativo e entregava o destino do País nas mãos de deputados e deputadas cooptadas por Lira. Lula fez bem de acabar com o Orçamento Secreto e precisa enfrentar essa gente para colocar em prática o programa popular e democrático que venceu Bolsonaro nas urnas.

Aqui em Santo André é o contrário, o prefeito envia projetos fundamentais, que interferem diretamente na vida dos andreenses, para serem aprovados em 24h, sem a possibilidade de qualquer discussão com a sociedade ou mesmo com o Legislativo Municipal. Enfiou goela abaixo da população a entrega do Semasa para a Sabesp, a privatização do Serviço Funerário… e pressiona a Câmara para que aprove seus projetos da noite para o dia, literalmente. Em muitos casos, propostas complexas como o Orçamento Municipal e o aumento do IPTU, como ocorreu neste ano de 2024, com valores bem acima da inflação, sem qualquer possibilidade de debate.

Lula discute com o Congresso. Paulo Serra atropela votações e exige aprovação imediata de projetos que oneram os andreenses sem ouvir nem mesmo a sua base na Câmara, que muitas vezes vota contrariada. Como já falamos, a especialidade desse governo tucano é anular a participação popular.

Para que você tenha uma ideia, a Prefeitura tem articulado essa sua ampla base de apoio na Câmara de Santo André para rejeitar os nossos Requerimentos de Informação, que são um instrumento fundamental de fiscalização do poder executivo. Na prática, não quer dar informações do que faz com dinheiro público. Lembrando que a fiscalização é uma das prerrogativas do poder legislativo. Mas não vamos desistir, tudo que o governo rejeita, que são assuntos delicados para o Paço, nós acionamos a Lei de Acesso à Informação para esclarecer a sociedade sobre o que está acontecendo. 

PONDERAÇÕES – O que se vê nos legislativos em geral no País, em qualquer espaço hierárquico, municipal, estadual e federal, é praticamente o mesmo modelo de mandonismo de quem se sente o poderoso da vez, seja no Executivo, seja no Legislativo. O enredo conta com protagonistas diferentes, mas o desenlace é sempre o mesmo: o apoderamento do Legislativo ou do Executivo nas casas de leis. Em Santo André quem manda é o Executivo. Em Brasília, o Legislativo. Nos dois casos, sempre com disposição irrefreável a concertos combinados.

CAPITALSOCIAL – O senhor faria alguma distinção entre a gestão de Paulinho Serra e do antecessor Carlos Grana quando se coloca à apreciação um olhar abrangente ou entende que há diferenciações temáticas que mereceriam ser separadas?

RICARDO ALVAREZ – A diferença de projetos é nítida. Enquanto o governo do PT traz preocupação social e busca de participação popular nas decisões públicas, a atual gestão é assistencialista, decide os rumos do orçamento municipal dentro de quatro paredes, com meia dúzia de empresários que defendem o mercado privado, mas enriquecem com dinheiro público. A vitória nas urnas não significa um cheque em branco para qualquer governo. É preciso construir políticas públicas com base no plano de governo eleito e em diálogo com a sociedade.

O que a atual gestão faz é o contrário, basta ver o desmonte nas políticas públicas existentes, muitas construídas pelo governo do PT, e como esse governo gasta o dinheiro público atualmente. Um exemplo recente: a Prefeitura contratou uma empresa por R$ 785 mil, por seis meses de serviço, para realizar um estudo sobre a privatização do Serviço Funerário, que foi aprovado a toque de caixa na Câmara, por imposição do executivo, sem qualquer discussão com a sociedade.

Veja o que foi o desastre da privatização em São Paulo. O que a gestão Serra faz muito bem é marketing e deixa de lado a construção de políticas públicas consistentes. 

PONDERAÇÕES – Também sem considerar juízo de valor sobre as declarações de Ricardo Alvarez nos critérios de privatização, é certo que a Administração Paulinho Serra tem uma dificuldade enorme em lidar com iniciativas de mudanças que envolvam o Estado, no caso o Município, e as forças do mercado. Existe uma incapacidade de tornar a transparência carro-chefe do processo. Onde falta luz, prevalece a desconfiança.

CAPITALSOCIAL – Desde que a Administração de Celso Daniel se interrompeu, qual sua visão geral sobre a Administração da Prefeitura de Santo André, após quatro titulares diferentes?

RICARDO ALVAREZ – Desde o governo do saudoso Celso Daniel (PT), época em que eu também era vereador, Santo André e o Grande ABC vem passando por uma mudança de características econômica e social e ainda não encontrou a sua nova vocação. Se antes éramos uma cidade industrial, pujante com um mercado de trabalho ativo, hoje temos parte da cidade como dormitório para quem trabalha fora.

O desafio é fazer com que esse morador e moradora ocupem a cidade, consumam no comércio local, frequentem os espaços públicos e assim Santo André retome a pujança e a produção que tivemos naquela época. Aliás, o protagonismo deste período Celso Daniel se deve muito à visão de futuro que ele imprimia na administração pública.

Ele era capaz de ler a realidade e, coletivamente, encontrar rumos e caminhos práticos, que colocaram a cidade como destaque nacional em diversas áreas. Para além da produção industrial, tínhamos a Cultura como destaque, por exemplo, justamente ao contrário do que acontece atualmente. Lembremos o papel da gestão regional com o Consórcio de prefeitos ou a Agência de Desenvolvimento Econômico que buscavam soluções regionais de governança pública.

Hoje, estamos a reboque de uma elite financeira e hegemônica que influencia muito o governo, mas pouco se preocupa com os andreenses. Ao contrário, explora ao máximo a condição que já é precária de boa parte da população, haja vista a questão dos ônibus, como já comentamos.  

PONDERAÇÕES – Santo André e os demais municípios da região viraram uma pálida lembrança dos momentos mais bem azeitados de uma regionalidade que Celso Daniel, despertado pelo Fórum da Cidadania, colocou como pauta principal de gestão municipal e regional. A decepção destes tempos é generalizada e Paulinho é parte relevante do fracasso. Afinal, dirigiu o Clube dos Prefeitos sem qualquer brilho. Pior que isso: utilizou tanto o Clube dos Prefeitos quanto a Agência de Desenvolvimento Econômico como peças de um tabuleiro de ambições políticas pessoais.

CAPITALSOCIAL – Qual sua avaliação sobre o grito de revolta da Receita Fiscal de Santo André em protesto contra a Administração de Paulinho Serra, levando o caso ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo?

RICARDO ALVAREZ – É o resultado do sufocamento das divergências. Fundamental levar o problema aos órgãos competentes. Importante lembrar ainda que o Tribunal de Contas do Estado apontou Santo André com preocupante endividamento. Segundo o relatório, a pior situação entre as dez maiores cidades é a de São José dos Campos, que tem 99,33% da receita comprometida com despesas correntes, seguida de Santo André, com 95,3%.

PONDERAÇÕES – Apesar da denúncia grave dos servidores municipais ligados às finanças, a gestão de Paulinho Serra preferiu o silêncio. Isso é metodologia. Os moradores de Santo André não têm acesso a informações fiscais nem quando os responsáveis pela área fazem denúncias públicas.

CAPITALSOCIAL – Qual é a melhor prática administrativa da gestão de Paulinho Serra?

RICARDO ALVAREZ – Acho que sem querer já falamos sobre isso. O destaque disparado da Administração Paulo Serra é o marketing! A gestão investe muito e com sucesso para distorcer a realidade da nossa cidade. Um dos maiores problemas hoje apontado pela população é na área da Segurança. O que a gestão faz? Enche o Paço Municipal de viaturas das polícias Militar, Civil e Municipal, com helicóptero, secretários, comandantes, armas… e saem todos com a sirene ligada fazendo muito barulho com captação de imagem para colocar na rede social do prefeito.

Eu pergunto: qual o resultado prático disso? Nenhum, absolutamente NENHUM. E a população que está na rua sabe do que estou falando. Enquanto não tiver investimento em políticas públicas de verdade, com a valorização e a qualificação dos profissionais da Segurança, aliado ao atendimento social e humanizado no dia-a-dia, inteligência, tecnologia e prevenção não teremos um bom resultado.

Outro exemplo nítido é o problema da arborização urbana. Essa gestão vem cortando árvores sistematicamente há anos. Só no entorno do parque Ipiranguinha, foram cerca de 30 remoções totais de árvores centenárias. O mesmo ocorre no Parque Central (José Cicote). Nós mesmos questionamos sobre vários casos de remoções completas pela cidade em que a Prefeitura não justifica a retirada.

Quando as reclamações começaram a aumentar, o que a gestão fez? Tirou da cartola um Plano Municipal de Arborização Urbana, depois de uma visita do prefeito à COP28, que aconteceu em dezembro de 2023, em Dubai. Não discutiu com ninguém, não trouxe especialistas para debater uma solução viável. Ficou sete anos sem tratar dessa questão. Aí vem com esse “Plano” artificial de “solução”. Tanta gente que poderia contribuir com isso aqui em Santo André… Puro marketing!

PONDERAÇÕES – O preço da generalização de descrédito da gestão de Paulinho Serra é a consequência natural com que a Administração trata os consumidores de informação. Prevalece a via unilateral de feitos memoráveis, como se Santo André fosse um paraíso. A dopagem da sociedade com um triunfalismo acrítico tem o contraponto de desclassificação sem limites.

CAPITALSOCIAL – Qual prática administrativa de Paulinho Serra o senhor alçaria à condição de reprovação total?

RICARDO ALVAREZ – A falta de transparência, a arrogância e falta de participação popular no governo são sem dúvidas as marcas que vão ficar dessa gestão. Política não se faz anulando quem pensa diferente. Ao contrário, as críticas são salutares e servem para abrir os olhos do gestor atento e para mostrar os problemas por uma perspectiva que os seus aliados não enxergam.

PONDERAÇÕES – A Administração Paulinho Serra é anunciada sistematicamente como fortaleza de sucessos continuados, embora raramente seja colocada à prova de contraditórios de agentes da sociedade. O cerco protecionista se fechou diante de omissões e covardia.

CAPITALSOCIAL – Supondo-se que o senhor seja eleito prefeito, acha que seria possível compatibilizar com equilíbrio a necessidade de Santo André encontrar o rumo econômico e cuidar de políticas ambientais?

RICARDO ALVAREZ – Em primeiro lugar, quero esclarecer que não sou candidato a prefeito. A eleição do nosso mandato em 2020, com a primeira cadeira do PSOL para o legislativo de Santo André, foi uma grande conquista do nosso partido. Por isso somos pré-candidatos à vereança, a fim de buscar a ampliação dessa conquista, e trabalhamos ativamente pela unidade do campo da esquerda nas próximas eleições.

Mas sem fugir da pergunta: é mais do que possível, é uma obrigação de quem almeja assumir o comando da cidade. Na nossa visão, não existe desenvolvimento econômico sem a preservação do meio ambiente. Estas pautas não são independentes uma da outra, nem há conflito entre elas. Sobretudo em Santo André, onde mais da metade do território da cidade fica em área de manancial e de preservação.

Possuímos uma riqueza natural incalculável e o valor desse patrimônio é ainda maior se preservado. A nossa querida vila de Paranapiacaba é uma pérola encravada no meio da Mata Atlântica, com um potencial enorme de desenvolvimento ecológico com preservação ambiental. Mas temos que levar essa preservação e valorização ambiental também para a área urbana.

A arborização urbana, a criação de parques lineares, o incentivo para utilização de terrenos urbanos para plantação, o cuidado com os rios e a desimpermeabilização do solo são ações mais do que necessárias à melhoria da nossa vida na cidade. Sem isso, não temos como atingir um nível razoável de qualidade de vida no curto prazo e colocamos em risco a nossa própria existência no longo prazo.

PONDERAÇÕES – Nada a acrescentar.

CAPITALSOCIAL – Santo André caiu 39 posições no ranking estadual de PIB per capita desde a posse de Paulinho Serra e se considerando dados oficiais até 2021. Qual é a avaliação que o senhor faz tendo como princípio o fato de que a escalada regressiva é constante ao longo dos anos?

RICARDO ALVAREZ – Como já falamos, Santo André tem mudado as suas características ao longo dos anos. Passamos de uma cidade industrial no passado recente para uma cidade em parte de serviços e em outra, dormitório. Precisamos encontrar uma nova vocação e isso exige criatividade e ousadia diante das políticas públicas. A começar pela valorização do que temos e do que somos.

Cabe ao Poder Público, fazer a ligação entre as universidades e os especialistas nas diversas áreas, com as empresas e indústrias locais, por exemplo. Esse é um caminho para racionalizar o que somos e utilizar o que temos para dar uma guinada a fim de estagnar e reverter essa regressão pela qual passamos nos últimos anos.

Cidades inteligentes, eficientes e eficazes passam hoje pela relação direta com os centros produtores de conhecimento e tecnologia. A UFABC tem papel vital neste processo.

PONDERAÇÕES – É uma boa notícia o vereador Ricardo Alvarez chamar a UFABC para o jogo do Desenvolvimento Econômico de Santo André (e da região). Essa é uma bandeira de CapitalSocial desde antes de a universidade ser aprovada há mais de 15 anos. Nenhum prefeito até agora jamais colocou a UFABC na linha de prioridade de um projeto desenvolvimentista. E a recíproca é verdadeira.  A UFABC está na região, mas não pertence à região.

CAPITALSOCIAL – Da lista de nove nomes que o prefeito Paulinho Serra expôs outro dia como potenciais candidatos do Paço muitos já foram descartados. Sobraram poucos. O senhor apontaria um nome de preferência não para votar, é claro, mas como sinalização de que o próximo mandato seria mais produtivo?

RICARDO ALVAREZ – O próximo governo de Santo André será mais produtivo com a saída deste grupo político que dirige a cidade há quase oito anos. Estamos na construção de um movimento que busca uma unidade inédita entre partidos de esquerda em Santo André. Por enquanto envolve as federações PSOL/Rede Sustentabilidade e Brasil da Esperança, dos partidos PT/PCdoB/PV. Caminhamos para construir uma candidatura com o PT na cabeça de chapa e o PSOL como vice.

Estamos discutindo e dialogando com as bases de cada partido. O PT já indicou o nome da professora Bete Siraque como a candidata que pode encabeçar essa chapa. Nosso coletivo defende o nome do companheiro Bruno Daniel para cumprir a importante tarefa de representar o PSOL como vice na disputa pela Prefeitura. Mas o processo de definição da indicação de nosso partido ainda está em andamento. Uma possível chapa com Bete Siraque candidata a Prefeita e Bruno Daniel vice, para além da simbologia da união, uma vez que estes foram o segundo e o terceiro colocados, respectivamente, nas últimas eleições municipais, tem um potencial enorme de votos e acreditamos que pode nos levar ao segundo turno em outubro.

O problema na questão levantada é que os indicados (prefeito e vice) serão completamente ofuscados pelo prefeito Serra, sem a necessária independência e seguidores deste modelo de gestão que nos opomos. Terão baixa ou nenhuma vocação para a construção de um novo modelo de gestão pública. Prevalecerá o continuísmo, sem nenhuma sombra de dúvida.

PONDERAÇÕES – A esquerda de Santo André perfila-se entre as representações sociais e econômicas responsáveis pelo controle total da sociedade durante a Administração de Paulinho Serra. Santo André viveu nos últimos sete anos um regime ditatorial entre outras razões porque a esquerda combativa virou figuração. Democracia não se constrói com omissões.

CAPITALSOCIAL – O ritmo de crescimento da Receita Total de Santo André nos últimos anos está bem acima dos ganhos da População Economicamente Ativa. Mesmo com esse quadro, o senhor manteria a política de arrecadar sem olhar para o conjunto da obra de assalariamento?

RICARDO ALVAREZ – É responsabilidade da Prefeitura garantir um ambiente de desenvolvimento econômico e social para nossa cidade. Por exemplo, nos últimos anos, assistimos passivamente o recuo no potencial econômico de nosso parque industrial e, consequentemente, de muitos postos de trabalho na região. E não houve um único movimento significativo do prefeito de Santo André para tentar reverter o quadro.

Então, respondendo diretamente à pergunta, nosso projeto de cidade tem como um dos principais eixos a manutenção dos postos de trabalho que já existem, além do estímulo à geração de empregos que garantam direitos, dignidade e renda para a população andreense.

Neste sentido, é fundamental construir parcerias, por exemplo, com a UFABC, no sentido de garantir um processo de qualificação profissional e, na outra ponta, estimular as empresas para a contratação dessa mão-de-obra local e absorção de conhecimento gerado localmente nos processos produtivos.

Nossa posição territorial estratégica, a existência do Consórcio e da Agência e Desenvolvimento (que precisam ser atualizadas em seu funcionamento e composição), as possibilidades abertas de diálogo com o governo do presidente Lula e o plano do Presidente anunciado em janeiro de 2024 denominado a “Nova Indústria Brasil”, com R$ 300 bilhões em financiamentos para o setor até 2026, são possibilidades abertas e pouco exploradas pelo prefeito Serra, que levou o Consórcio a um racha e pouco dialoga com o governo federal.

Também é importante que a Prefeitura amplie programas próprios como as “Frentes de Trabalho” e que estude a implementação de programas municipais de transferência de renda, visando atender à população socioeconomicamente mais vulnerável.

PONDERAÇÕES – Santo André é um caso de difícil resolução econômica por inúmeras razões já analisadas à exaustão por este jornalista. Mas, jogar a toalha da desistência sem lutar é algo muito grave, tanto por negligência ideológica quanto por omissão social. A Santo André deste século (assim como o Grande ABC) é diferente da Santo André do século passado. A mistura das duas ainda não foi identificada por lideranças ou supostas lideranças que olham o copo meio cheio e despreza o copo meio vazio quando, de fato, o copo meio cheio significa o passado, antes da chegada do novo século, e o copo meio vazio é a realidade das duas últimas décadas. Quem enxergar o meio copo vazio como um copo inteiramente cheio vai matar a charada do estágio socioeconômico da cidade e da região como um todo.

CAPITALSOCIAL – O voto para prefeito em Santo André será predominantemente municipalista em que proporção quando confrontado com a influência do voto às questões estaduais e nacionais?

RICARDO ALVAREZ – Precisamos ter claro que estamos diante de uma eleição municipal e a população sabe que o que está em jogo é a sua qualidade de vida no dia-a-dia da cidade. As políticas públicas devem ser discutidas no sentido de atender às demandas dessa população, que tem pagado caro por um transporte de péssima qualidade, sofrido com as filas nas UBSs para marcar consultas e exames, com o trânsito nas ruas, a violência que tem atingido e amedrontado a todos e todas, além de pagar caro com aumentos de impostos, como o IPTU.

No entanto, ainda estamos em um ambiente politicamente polarizado. O presidente Lula ganhou as eleições, mas o bolsonarismo e a extrema-direita radical não morreram. E é isto que precisamos combater também nesta eleição. Assim como foi a vitória de Lula, temos que ampliar a nossa base na Câmara, para que se façam discussões mais equilibradas e consistentes no parlamento. Não tenho dúvida que a população de Santo André está atenta a isso e vai realizar uma mudança de rumo na cidade, além de trazer esse equilíbrio ao legislativo. 

PONDERAÇÕES – Os pesos relativos do voto municipal, do voto estadual e do voto federal no conjunto de votos em Santo André e outros municípios vão depender de vários fatores. Um dos quais, e isso precisaria ser avaliado com máxima atenção, será a intensidade com que os agentes políticos do Estado e do ambiente federal se dedicarão mesmo a seus candidatos locais, com presenças físicas durante o período de votos.

CAPITALSOCIAL – A candidatura de Guilherme Boulos na Capital poderá influenciar a visibilidade de sua candidatura em Santo André?

RICARDO ALVAREZ – Sem dúvida que a candidatura do nosso amigo Guilherme Boulos vai influenciar positivamente aqui em Santo André. Primeiro porque não temos TV no ABC e ainda que hoje a influência da propaganda televisiva seja menor, vamos assistir ao horário eleitoral de São Paulo. Acreditamos na ampliação dos votos na legenda do partido. Segundo porque o Boulos tem uma grande capacidade de influenciar e mobilizar as massas, com um reflexo onde quer que esteja e, com a proximidade da capital, isso será ainda mais forte aqui no ABC.

O PSOL também passa por um momento de crescimento tanto nacional quanto local, em virtude do acerto na sua linha política nos últimos anos, em defesa da democracia e do apoio à candidatura do presidente Lula nas últimas eleições.

Estamos diante de um quadro de possibilidades e trabalhando por uma união inédita de partidos de esquerda que vai render frutos nas próximas eleições. A construção de uma unidade de partidos de esquerda vai surpreender muita gente.

PONDERAÇÕES – O que ocorrer nas eleições na vizinha Capital vai reverberar em algum grau nos candidatos do partido e das esquerdas na região. Não se tem a mensuração desse potencial, mas haveria sim ressonância que daria aos candidatos das esquerdas benefícios e ônus. É desnecessário lembrar que não contamos com mídia de massa. A massificação de uso de aplicativos de celulares reduz um pouco esse vácuo.

CAPITALSOCIAL – Ainda sobre essa questão, especificamente em Santo André, quando se filtra a influência do ambiente nacional, quem pesará mais no conjunto do eleitorado, o presidente Lula da Silva ou o ex-presidente Jair Bolsonaro?

RICARDO ALVAREZ – O quadro dessa eleição é completamente diferente do pleito de 2020, quando ainda estávamos no primeiro ano de pandemia da Covid, com um irresponsável à frente do Brasil, e sem as condições ideais de ir às ruas fazer o diálogo necessário com a população para construir um projeto de governo democrático, inclusivo e popular.

No fundo, os andreenses sabem do desastre que foi o governo Bolsonaro e o retrocesso que representou ao país. Ao mesmo tempo em que o trabalho do governo Lula começa a surtir efeito, com a volta do crescimento da economia e o retorno do emprego.

Lula vai ser, sem dúvida, um grande cabo eleitoral aqui em Santo André. Uma pesquisa recente identificou que 62% dos paulistanos rejeitam candidatos com apoio de Bolsonaro. Acredito que em Santo André não seja diferente.

PONDERAÇÕES – Jair Bolsonaro superou Lula da Silva em Santo André, nas disputas presidenciais de 2022, por cinco pontos percentuais. Relativamente à operária São Bernardo, Santo André é menos intensamente de esquerda do que a vizinha. Entretanto, quando se toma o pulso das esquerdas nas últimas eleições municipais, houve retumbante fracasso nas urnas. Tudo indicaria que, se jogar para valer o jogo em Santo André, o histórico municipal de embates equilibrados poderá ser retomado.

CAPITALSOCIAL – Qual sua avaliação sobre o projeto Santo André 500 Anos anunciado pela Administração de Paulinho Serra?

RICARDO ALVAREZ – Uma peça de marketing, apenas. Serra esteve próximo do PT e foi secretário da gestão Carlos Grana e sempre navegou politicamente tentando se aproveitar do que mais rendia politicamente no momento. Saiu do governo Grana atirando, navegou no bolsonarismo (“esta cidade não será mais vermelha”) e agora busca se apropriar da imagem de Celso Daniel num plano de futuro.

São mais de sete anos de um governo que olhou basicamente para o presente. Não será nos poucos meses que restam que os 500 anos se transformarão em algo concreto e que mude a vida do povo de Santo André.

PONDERAÇÕES – Ricardo Alvarez poderia ter acrescentado à resposta, que Santo André 500 ANOS é uma clonagem mal-ajambrada de Santo André Cidade Futuro, projeto de Celso Daniel que morreu com ele. No caso, clonagem de péssima qualidade. Nem de longe seguiu o ritual de interação social e, mais que isso, a premissa básica de efetividade das balizas definidas como transformadoras. Até porque a Santo André de Celso Daniel desapareceu de qualquer vestígio de cidadania.

CAPITALSOCIAL – Se houvesse uma Bolsa de Valores com ações sinalizando para as 10 cidades economicamente mais competitivas num horizonte de 20 anos, o senhor empenharia recursos que contemplasse confiança em Santo André?

RICARDO ALVAREZ – Quando a cidade sair da mão do tucanato e o nosso movimento de partidos de esquerda retornar ao poder na cidade, todos poderão investir e acreditar nos rumos de Santo André. Ufanismo? Não, os exemplos passados mostram que uma gestão progressista é diferente pelo diálogo com os amplos setores da sociedade, pela valorização da participação popular e pelo respeito à democracia.

Somos a 15a cidade mais desenvolvida do Brasil e a 5a do Estado de São Paulo. As parcerias entre as empresas e universidades da região, como a UFABC, abre muitas possibilidades para a cidade. Isso tanto para as empresas, que precisam de mão de obra qualificada, quanto para o estudante, que está ávido por entrar no mercado de trabalho e as empresas na busca de tecnologia.

O Poder Público pode e deve fazer o meio de campo entre startups e as necessidades e demandas existentes na cidade. Isso nem demandaria grande soma de recursos num primeiro momento, mas sim de um olhar atento da administração pública na busca daquela nova vocação. É preciso mudar a lógica do atual grupo hegemônico que dirige a cidade para que num futuro próximo possamos acreditar novamente nessa Santo André pulsante e inovadora.

PONDERAÇÕES – Qualquer projeção sobre o desenvolvimento econômico de Santo André precisa passar rigorosamente por especialistas em conjunto com detentores locais de conhecimento. Santo André precisa desde muito tempo de Planejamento Econômico Estratégico porque é uma grande empresa que não sabe o que fazer com a linha de produção de riqueza e de qualidade de vida. Os posicionamentos de destaque citados por Ricardo Alvarez não se encaixam na Santo André dos dados aferidos há 30 anos por CapitalSocial.

CAPITALSOCIAL – Se o senhor fizesse uma concessão a si mesmo e desejasse ser visto como um, apenas um, parceiro de Legislativo, a quem prestaria homenagem?

RICARDO ALVAREZ – Nós temos um grande aliado na Câmara, que é o companheiro Wagner Lima (PT). A atuação da oposição, diante da vertente antidemocrática e da truculência da atual gestão, teria sido muito mais difícil se ele não estivesse ali com a gente.

Nesses três anos e três meses de mandato, Wagner foi um parceiro de primeira hora para suportar as discussões e debates, em alguns casos com falta de respeito conosco, contra os autoritários que não aceitam a existência do pensamento divergente.

Para além disso, ainda estamos juntos na luta pela união da esquerda e pelo avanço do Movimento Santo André Popular, que temos certeza trará frutos preciosos à nossa política.

PONDERAÇÕES – Nada a registrar, exceto a imperiosidade de pensamentos e ações divergentes ganharem tração para o benefício da sociedade como um topo. O regime ditatorial experimentado por Santo André nos últimos sete anos é contraproducente à dinâmica social desejada e necessária.  



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