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Administração Pública

DANIEL LIMA - 07/11/2023

Se todos os prefeitos estão (ou poderiam estar) no Clube dos Prefeitos, oficialmente Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, então o endereço apropriado é o Clube dos Prefeitos do Grande ABC para o encaminhamento desse desafio: tratem de estabelecer um marco inicial histórico já neste 19 de dezembro, quando a entidade completará 33 anos de criação. Vocês têm mais de um mês para criar oficialmente o Dia da Regionalidade.  

Parece bobagem de quem não tem o que fazer a sugestão de criar o Dia da Regionalidade, mas nem sempre o que parece o é de fato. Símbolos ajudam a construir história.  

O Dia da Regionalidade com que sonho é o pontapé inicial a uma reconfiguração inescapável do Clube dos Prefeitos lançado sob a inspiração do então prefeito Celso Daniel naquele final de 1990, seis meses depois que criei a melhor revista regional do País, LivreMercado, então um acanhado tabloide em papel sulfite que, vejam só, encetou uma reviravolta no jornalismo regional.  

ENXUGAR GELO 

O Dia da Regionalidade é sugestão-desafio ao comando atual do Clube dos Prefeitos, que tem o prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira, como prefeito dos prefeitos. Marcelo Oliveira, na toada atual, vai ser apenas mais um prefeito dos prefeitos que passou pelo Clube dos Prefeitos sem alterar a rota de improdutividades. 

Essa premissa não é discriminatória. É compulsória. Duvido que sem uma sacudidela para valer, dessas que alteram completamente o rumo de mesmices que o Clube dos Prefeitos aperfeiçoou em forma de desperdício regional, o atual prefeito dos prefeitos e seus colaboradores mais próximos alcançarão os resultados de que tanto precisamos. Vamos continuar a enxugar gelo como os antecessores enxugaram. E seguiremos desfiladeiro econômico abaixo. 

Instaurado emblematicamente, o Dia da Regionalidade deveria na sequência ser aprovado por todos os Legislativos da região, numa operação política vigorosa que sinalizasse prioridade à gestão coletiva de quase três milhões de habitantes.  

DUVIDANDO  

Duvido que o Dia da Regionalidade venha a ser levado a em conta porque o que se leva em conta na maioria das gestões públicas municipais da região é o aqui e agora, quando não o aqui e o daqui a pouco, no caso as eleições do ano que vem. 

Não vou desfilar neste texto a imensidão de propostas e sugestões para que o Clube dos Prefeitos saia do buraco em que se meteu por uma infinidade de razões, mas o que pretendo mesmo para evitar mal-entendido é que alguém imagine que o Dia da Regionalidade seja uma marca festiva no sentido vazio de ser. Nada disso. 

Dia da Regionalidade seria um grito de libertação desse Arquipélago Cinza, expressão que utilizei outro dia para tentar mostrar aos leitores o quanto perdemos tempo ao ignorar a lição básica de nossa geografia e demografia: somos de fato, preto no branco, uma grande cidade, uma grande cidade multiformas, mas uma grande cidade. 

Inventaram de dividir essa imensidão de gente em sete partes e o tempo provou que se cometeu um suicídio gerencial, administrativo, político e tudo o mais.  

O emancipacionismo municipalista é um déficit sociológico, econômico, social e tudo o mais. Sei que não é nada agradável e politicamente correto lembrar essa besteira provada e comprovada pelo tempo, mas é o que se tem a fazer.  

MUDANÇA INDISPENSÁVEL  

Se fosse para ser uma maria-vai-com-as-outras, ficaria em casa cuidando das minhas cachorras, apenas isso. Prefiro fazer as duas coisas e muito mais. O silêncio covarde não me apetece. É isso que alguns não compreenderão jamais, ante a maioria solidária que sempre me dá suporte complementar a seguir nesta cruzada.  

Já que a bobagem foi feita e consumada, consolidada e aboletada, o jeito é correr atrás de correções. O Dia da Regionalidade poderia detonar processo regenerativo de uma institucionalidade que foi para o chapéu.  

Mas não será com voluntarismo, mesmo com a aprovação dos sete Legislativos ao Dia do Indústria, que chegaremos lá. O Clube dos Prefeitos precisa de muita coisa a partir de um regime profissional de comando.  

Está provado e comprovado que não será com voluntarismo no sentido mais amplo do significado, ou mesmo com profissionalismo dependente de cores partidárias e ideológicas, que o Clube dos Prefeitos poderá tornar-se engrenagem à recuperação regional.  

Precisamos mesmo de gente qualificada, que entenda principalmente do riscado econômico comprometido com desenvolvimento social.  

COMO FÓRUM DA CIDADANIA  

O Clube dos Prefeitos enveredou pelos mesmos descaminhos do Fórum da Cidadania, o maior movimento social regional de que se tem conta na história, e que vibrou durante a segunda metade dos anos 1990. O Fórum da Cidadania quis abraçar o mundo, colecionar desafios e propostas. Por conta disso, se desmanchou.  

O Clube dos Prefeitos acrescentou tantos penduricalhos à estrutura de objetivos a ponto de os galhos comprometerem o tronco reformista. Só poderia comprometer mesmo, como desabaram as árvores na tempestade do final de semana e desabam as árvores durante tempestades menos tormentosas. 

Enquanto as supostas lideranças da região (supostas é o mínimo que a cautela recomenda expressar) não compreenderem que nada adiantará senão centralizar programas, projetos e ações em torno do Desenvolvimento Econômico, o Clube dos Prefeitos jamais se desvencilhará da letargia.  

O Dia da Indústria, portanto, é espécie de senha ao ingresso da região na obviedade determinada pela besteiragem de ter-se dividido em sete partes desiguais, desorganizadas entre si, concorrenciais entre si, gataborralheiras por completo entre si e também, ou principalmente, em relação à Capital tão próxima.  

UM SORTILÉGIO?  

O leitor há de perguntar a razão de expor essa proposta, a proposta do Dia da Indústria, se não acredito que a medida venha a ser tomada pela presidência rotativa do Clube dos Prefeitos, ou pela direção executiva do organismo, a cargo do ex-prefeito de Diadema, Mário Reali. 

Ora bolas, porque a engrenagem da vida individual, institucional e também coletiva às vezes é movida por sortilégios, pelo imponderável, pelo inusitado. Quem sabe num dia como hoje, o prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos, Marcelo Oliveira, esteja iluminado e alguém lhe entregue uma cópia deste texto? Não custa nada tentar. 

Mais que uma cópia deste texto, já imaginou se o prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos decidisse vasculhar o acervo desta revista digital e se desse conta de que, apenas sob a marca de “Clube dos Prefeitos”, há disponíveis nada menos que 849 textos, a maioria dos quais de referência direta a essa organização tão pobre de resultados? 

Vou até o acervo e encontro a primeira análise que fiz sobre a atuação do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, o Consórcio de Prefeitos. Foi em 20 de setembro de 2007. Já sob a denominação original, Consórcio Intermunicipal, são 532 matérias. Repararam como temos história registrada?  

PRIMEIRA MATÉRIA  

A primeira matéria com a marca de Consórcio Intermunicipal é de 1996, uma entrevista que fiz com Fausto Cestari, dirigente de entidades empresariais. Antes disso, LivreMercado também publicou muitos textos sobre o Consórcio Intermunicipal, mas ainda esse material não foi transposto a essas páginas digitais, publicados que foram na fase anterior à transformação da publicação em formato físico de revista.  

Não custa nada, em nome da coerência reproduzir alguns trechos da primeira análise que fiz utilizando a marca “Clube dos Prefeitos”, na edição de 20 de setembro de 2007. Leiam alguns trechos sob o título “Presidente arredio”:  

PASSADO REVISTO 

Talvez por mau aconselhamento, talvez por ingenuidade, talvez por qualquer outro talvez, o prefeito de Rio Grande da Serra, Adler Kiko Teixeira, presidente do Clube dos Prefeitos do Grande ABC, não tenha levado mais a sério a proposta da revista LivreMercado, com base em enquete junto ao Conselho Editorial, de proceder a aproximação que descortine aquela instituição da sociedade regional. Uma grande oportunidade que Kiko Teixeira teria para expor posicionamento individual quando não coletivo a respeito do assunto, muito além de linhas frias e pouco compromissadas da carta que enviou a este jornalista em resposta àquela proposta, foi colocada à sua disposição durante o cerimonial da entrega do Prêmio Desempenho Empresarial, terça-feira no Primeiro de Maio Futebol Clube. 

PASSADO REVISTO  

Dizem que Kiko Teixeira não compareceu porque teria dado ouvidos demais a línguas ferinas que deturparam o objetivo de LivreMercado e do Conselho Editorial. Se a versão for maledicente, não lhe faltará nova oportunidade para se apresentar aos conselheiros e eventualmente a outros convidados. O que sei de fato é que o prefeito de São Bernardo William Dib e o prefeito de São Caetano José Auricchio Júnior não compareceram ao cerimonial do Prêmio Desempenho porque estão em viagem internacional. O vice-prefeito José Roberto Mello representou William Dib. O prefeito de Mauá, Leonel Damo, e o prefeito de Ribeirão Pires, Clovis Volpi, que, como Auricchio, compareceram à edição de maio do Prêmio Desempenho Social, acusaram problemas de saúde. Já José de Filippi Júnior, prefeito de Diadema, é avesso a tudo que se refira à regionalidade do Grande ABC e raramente comparece a qualquer evento que ultrapasse os limites de seu território. Até mesmo das reuniões do Clube dos Prefeitos ele regularmente mantém-se distante. O vice-prefeito Joel Fonseca, sempre presente às festas do Prêmio Desempenho, mais uma vez o representou. Joel Fonseca é um homem público sempre solícito e trabalhador.  

PASSADO REVISTO  

Faço essa incursão porque é possível que alguém possa construir a fantasia de que teria havido boicote dos Executivos da região. Nada disso, posso garantir. Exceto Kiko Teixeira, os demais tiveram motivos consistentes para não comparecer e com isso deixaram de participar de evento que superlotou o Primeiro de Maio. Menos evidentemente o prefeito de Santo André, João Avamileno, sempre atencioso e preocupado com questões regionais. E que não tem medo de afirmar mesmo que indiretamente que quer a abertura do Clube dos Prefeitos, já que, coincidentemente, no dia seguinte anunciou para um grupo de convidados a reabertura do projeto Santo André Cidade Futuro, reincorporando várias lideranças nos trabalhos liderados pelo Paço Municipal. Ou seja: Avamileno ressuscita uma das joias da coroa de ação pública de Celso Daniel, em oposição, portanto, ao perfil obsoleto e egocêntrico do Clube dos Prefeitos. 

PASSADO REVISTO  

Volto a Kiko Teixeira: foi lamentável a manifestação lacônica enviada a LivreMercado sobre a inclusão de instâncias sociais, econômicas e mesmo governamentais diversas no Clube dos Prefeitos. Tanto quanto sua ausência na festa do Prêmio Desempenho Empresarial. Afinal, é tradição do maior evento regional do País reservar pelo menos três espaços fixos durante o cerimonial: o da autoridade anfitriã, o do presidente do Clube dos Prefeitos e o do coordenador-geral do evento. Foi por essas e outras, aliás, que Kiko Teixeira discursou na edição de maio. É possível que esteja este jornalista enganado, é possível que até se precipite neste artigo, mas as informações que me chegaram dão conta de que houve de fato má vontade do presidente do Clube dos Prefeitos em participar do evento porque teria se sentido atacado com a Reportagem de Capa de LivreMercado — uma bobagem que os ideólogos da malandragem semântica pretendem usar para justificar retaliações burras.  

PASSADO REVISTO  

Corro o risco de afirmar categoricamente que ele, Kiko Teixeira, perdeu uma grande oportunidade de mostrar que não faz parte da corriola sem lastro que frequenta o noticiário geralmente raso e inconsequente das páginas reservadas à política, entre outros motivos porque a própria Imprensa despreparada prefere viver de leviandades. Talvez a saída honrosa do presidente do Clube dos Prefeitos seja vir a público e dizer que não é nada do que este jornalista resolveu escrever, que houve apenas encavalamento incontornável de agenda. Se pode encontrar justificativa para a ausência, está enjaulado como presidente do Clube dos Prefeitos ao titubear na resposta à demanda por abertura da entidade, independentemente dos demais pares, entre outras razões porque a temporalidade de 12 meses de mandato não poderá jamais abortar os ideais que o alçaram ao cargo de Executivo eleito por pelo menos quatro anos. O Conselho Editorial de LivreMercado aguarda o agendamento de reunião com o presidente do Clube dos Prefeitos. 



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