O que será do Clube Metropolitano dos Prefeitos (oficialmente Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de São Paulo) agora sob o controle do governador Tarcísio de Freitas?
O ponto de exclamação na manchetíssima aí em cima é uma forçada de barra provocativa. Pode transmitir a sensação de entusiasmo com o retorno?
É apenas um recurso gráfico que pode ser interpretado ao bel-prazer pelos leitores. Depende do humor de cada um. E do conhecimento específico da matéria, claro.
Seria uma exclamação debochada? Seria uma exclamação que pretendesse transmitir a ideia de “finalmente!”?. Seria uma chamada crítica aos prefeitos de agora e do passado que passou sem que nada fizessem? Façam suas escolhas, entre tantas variáveis.
Certo mesmo é que os desafios são imensos, complexos, convexos e tudo o mais. O Clube Metropolitano dos Prefeitos jamais funcionou. Mesmo quando não existia, mais havia instituições que o fizeram brotar.
Desde que foi fundado, o Clube Metropolitano dos Prefeitos é uma mistureba de individualismo e partidarismo regados a municipalismos. Será diferente agora? Tenho mais esperança do que expectativa.
PESO DO PASSADO
O passado condena a tal ponto a incapacidade consorciada do Clube Metropolitano dos Prefeitos que, entre escolher a esperança ou a expectativa como simbolismo de responsabilidade social implícita do jornalismo, optei pela primeira.
Quem acha que esperança e expectativa são farinha do mesmo saco de sensibilidade está enganado. Podem até ser parentes próximos, mas divergem na essência.
Esperança é metafísica pura de torcer para que tudo se encaminhe favoravelmente, desconsiderando-se fatores materiais, técnicos, influências do passado e perspectivas futuras. É a torcida organizada em forma de ilusão.
Expectativa é sentir segurança de probabilidades de sucesso mesmo que gradual, porque é exagero pretender transformações em velocidade compatível com as emergências consolidadas.
Portanto, entre esperança e expectativa, repito, fico com a primeira. E isso é péssimo. A avaliação vale praticamente para tudo que envolva o setor público em regime de compartilhamento de programas. E isso vale para o mundo inteiro, menos nos regimes ditatoriais que impõem decisões goela abaixo. As exceções confirmam a regra.
GEOMETRIA DE ERROS
O drama metropolitano que vivemos há muitas décadas é o exagero na dose de incompetências horizontais, verticais e transversais. Uma Kama Sutra de equívocos
Há no mundo em geral imperialismos doutrinários que afastam potenciais conexões. Com o Clube Metropolitano dos Prefeitos não foi diferente, desde que gestado em 2011.
A prova maior de fracasso do Clube Metropolitano dos Prefeitos (e que reproduz a inoperância do Clube dos Prefeitos do ABC Paulista, embora faixas largas da mídia cor de rosa tenha tentado vender ilusões) é que desde 2019 a organização foi desativada.
Ou seja: em plena turbulência da Covid-19, a agremiação se isolou de vez. Cada um correu atrás do próprio prejuízo. Destruíram, pela individualidade insana, qualquer perspectiva de eficiência no combate à pandemia.
Este texto faz apenas um voo panorâmico sobre o Clube Metropolitano. Essa instituição representa 22 milhões de habitantes da Grande São Paulo. Uma população que se aperta em oito mil quilômetros quadrados, um décimo dos quais na região. Trata-se de volume humano enorme. É o dobro do Estado do Rio Grande do Sul e algo semelhante ao Estado de Minas Gerais.
Basta essa comparação para estabelecer o patamar sobre o qual os prefeitos da Região Metropolitana de São Paulo e tantas outras autoridades atentem para a importância, gravidade e prioridade das temáticas, todas a partir do carro-chefe de Desenvolvimento Econômico Sustentado.
ESQUECER O PASSADO
E é aí que a roda do pragmatismo responsável e produtivo pega. É preciso que alguma surpresa institucional ocorra de modo a desmontar uma engrenagem enferrujada que persiste em ditar os caminhos a percorrer, sempre de forma decepcionante. Estou me referindo exatamente ao carro-chefe.
Sem minuciosos estudos e programas que conciliem o arranjo produtivo metropolitano aos arranjos e desarranjos improdutivos dos municípios da área, num total de 39, entre os quais a gigantesca Capital, sem minuciosos estudos e programas, teremos mais uma vez uma corrida destrambelhada de alto custo e baixa qualidade de respostas efetivas.
O Clube Metropolitano dos Prefeitos do passado precisa ser sumariamente esquecido. As memórias de ações intermitentes e incompletas precisam ser desativadas, caso contrário se gastará mais combustível de expectativas entre os otimistas, que logo se tornarão apenas esperançosos. Quando não, céticos.
Não ingressei no território sensorial de ceticismo com essa empreitada do Clube Metropolitano dos Prefeitos porque duvido que o governador Tarcísio de Freitas não consiga montar uma equipe técnica para dar o rimo à instituição.
LADAINHA TUCANA
Se o governador repetir a ladainha dos tucanos durante três décadas seguidas, o que teremos ao fim da linha será a destruição de qualquer sentimento minimamente suportável como sinônimo de civilização.
Despertei paixão pela metropolização da Grande São Paulo (e em seguida por tudo quanto é bloco de cooperação, nacional ou internacional), quando em 1987 atuei durante um ano como Superintendente de Comunicação da Emplasa, uma estatal do governo paulista que supostamente trataria de interesses conjugados dos municípios.
Foi uma decepção o que encontrei. A Emplasa tinha como comandante o recentemente aposentado ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski. Era a farra do emprego público ditado por interesses políticos e partidários. Mario Covas fez uma limpeza.
A decepção que colhi ao vivo não foi suficiente para arrefecer entusiasmo. Tanto que criei a revista LivreMercado, em 1990, de olho na regionalidade do então Grande ABC, que virou ABC Paulista depois de tantos fracassos cumulativos.
ECONOMIA, ECONOMIA
Portanto, não é por acaso nem coincidência, mas pura consequência, que há nos arquivos desta revista digital, somando-se os arquivos da revista de papel LivreMercado, mais de um mil textos que tratam diretamente de questões metropolitanas.
Duvideodó que exista entre os 39 prefeitos da Região Metropolitana de São Paulo (praticamente não há mulheres prefeitas, mas a mídia tão coercitiva na avaliação de gênero de autoridades não se importou com isso hoje, quando estampou a foto dos participantes do encontro no Palácio dos Bandeirantes) alguém ou alguma organização que tenha se dedicado mais às fissuras institucionais e programáticas da Região Metropolitana de São Paulo.
Por isso, acho que é obrigação chamar a atenção do anunciado secretário-geral do Clube Metropolitano dos Prefeitos, José Police Neto, à imperiosidade de chamamento de técnicos que ao longo desse período se debruçaram nas pautas da Grande São Paulo como um território especialíssimo e, portanto, determinante a tratamento preferencial.
Que Police Neto, ex-secretário de várias pastas em Santo André, concilie dinamismo como maquininha de operosidade extasiante à inteligência de buscar os melhores para tornar o Clube Metropolitano dos Prefeitos uma fonte de planejamento, projetos e ações direcionadas ao Desenvolvimento Econômico como matriz multiplicadora de respostas.
Vou voltar a essa especialidade da casa, acentuando neste trecho final a lamentação de ver que a grande mídia paulista praticamente ignorou o encontro ressuscitador do Clube Metropolitano dos Prefeitos.
Uma pena que percam tanto tempo com futricas palacianas, principalmente de uma Brasília centralizadora de tudo que cheira a esgoto nos municípios brasileiros.
O Brasil só será Mais Brasil e Menos Brasília quando o conceito de cidadania participativa ganhar musculatura sem anabolizantes triunfalistas que, como todos anabolizantes, deixam um rastro de sequelas.