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Administração Pública

DANIEL LIMA - 07/08/2023

O Trem da Felicidade de 78 meses de gestão de Paulinho Serra não é um trem qualquer. Quem está dentro acha o Trem da Felicidade de Paulinho Serra um trem bom demais. Quem está fora, acha o trem desalmado.  

O Trem da Felicidade de Paulinho Serra para os convidados selecionadíssimos é um Trem-Bala. O Trem da Felicidade de Paulinho Serra para quem está fora tem tudo de Maria-Fumaça.  

O Trem da Felicidade de Paulinho Serra é para poucos. Selecionadíssimos. O Trem da Felicidade para quem está de fora, é um Trem Fantasma. Um trem assustador para a maioria.  

O Trem da Felicidade de Paulinho Serra partiu da Estação Ferroviária Celso Daniel, em Santo André, em janeiro de 2017. A viagem prometida tem como destino o ano de 2053, quando Santo André vai festejar 500 Anos. O Trem da Felicidade de Paulinho Serra é pretensioso.  

O roteiro é improvisado. Somente agora, em 2023, projetou-se um marco temporal de 500 Anos. E mesmo assim mal-copiado do projeto Santo André Cidade Futuro, deixado por Celso Daniel antes de morrer e que descortinava Santo André do Ano 2020. Que já passou. E só piorou com o tempo que passa. 

O Trem da Felicidade de Paulinho Serra tem sete vagões ocupados por convidados especiais. Gente que se incorporou à Administração de Paulinho Serra. A Maria-Fumaça partiu como se Trem-Bala fosse.  

Conheça o Trem da Felicidade de Paulinho Serra.  Uma viagem rumo ao futuro que está no passado de despreparo para lidar com uma cidade que exige reestruturação completa.   

 ILUSIONISMO ECONÔMICO 

Paulinho Serra já chegou a afirmar com a candura dos espertalhões ou dos ignorantes que um único investimento (que ainda não se consumou) geraria crescimento imediato e anual de 10% do PIB. Uma fábrica de energia nuclear? Uma nova montadora de veículos, sem concorrência nacional e internacional? Não, um entreposto de hortifrutigranjeiro, ou seja, um distribuidor de alimentos, que praticamente não gera Valor Adicionado – ou gera muito pouco.  

Paulinho Serra não entende de Economia e tem horror a quem lhe opõe resistência e o alerta sobre cálculos oportunistas sem bases técnicas.  

O vagão do Trem da Felicidade de Paulinho Serra reservado a alquimias numéricas e estatísticas na Economia é uma das maiores bobagens da gestão do tucano.  

Em janeiro de 2017, Paulinho Serra perdeu a oportunidade de delimitar publicamente a responsabilidade que lhe cabia ao assumir uma Santo André que vem de um passado tenebroso de endereço regional que mais perdeu riquezas no Estado de São Paulo durante as últimas quatro décadas.  

A indústria familiar e de pequeno porte de Santo André foi dizimada durante os anos 1990, principalmente, entre outros passivos. O 168º lugar no ranking do PIB per capita no Estado é um farol esclarecedor. Santo André despenca ano após ano.  

Mas Paulinho Serra prefere percorrer o caminho do triunfalismo irresponsável. Não faltam ignorantes ou ingênuos a lhe estender o tapete vermelho de subordinação reverencial.  

Só restou à Economia de Santo André uma cadeia produtiva – dos químicos e petroquímicos – da qual depende em larga escala orçamentária,  mas que absorve poucos empregos industriais. Santo André conta no geral com apenas 13 empregados setor de produção para cada 100 trabalhadores com carteira assinada. Nos anos dourados eram mais de 60 para 100. E os setores de comércio e de serviços são de baixo valor agregado.  

Mas a turma que cantarola músicas de grandeza que não existe mais segue no comboio. Canta o hino de Santo André com vigor. Principalmente a estrofe que diz respeito a “Viveiro Industrial”. O Trem da Felicidade de Paulinho Serra está esquadrinhado num modelo de aprovação inconteste às declarações do anfitrião. Quem não aceitar, fica fora.  

 VALE-TUDO POLÍTICO 

Esse é um vagão barulhento, mas também constrangedor. Insuportavelmente barulhento e insuportavelmente constrangedor. Paulinho Serra e seu grupo fizeram tantas e boas com o embaralhamento de peças político-partidárias que, mesmo quem participa ativamente, tem dificuldades em entender o que se passa.  

Há tantos interesses em jogo que não existe a menor possibilidade de que prevaleça sintonia que se reflita em positividades na gestão. Positividades nesse caso é encontrar o caminho que Santo André trilharia no campo econômico com reflexos sociais. 

No vagão dos políticos e assessores de políticos do Trem da Felicidade de Paulinho Serra não é possível estabelecer consenso que se consuma obrigatoriamente no vagão do Ilusionismo Econômico. Enquadrar quem deve falar exclusivamente bem da Administração com gente de negócios é uma coisa; obter o mesmo resultado na turma que lida com votos e poder, é outra.  

O Trem da Felicidade de Paulinho Serra só tem desavenças no vagão político-partidário. É verdade que em muitas situações, quando se sentem inseguros e ameaçados, o jogo de conveniências prevalece e os entendimentos, mesmo que temporários, resistem às idiossincrasias. Mas logo vem o dilúvio de ambições individuais que geralmente não coexistem com sinergias amplas.  

O cada-um-para-si-e-o-resto-que-se-dane impera, mas nada que, claro, seja impossível de reparação.  

A ordem unida é que os opositores externos não tenham vez. E podem ser cooptados a qualquer momento. E de cooptação eles entendem. Muitos foram adversários externos antes. A sensibilidade da Administração do anfitrião do Trem da Felicidade sempre está à flor da pele.  

No vagão do Trem da Felicidade de Paulinho Serra o compartimento político-eleitoral deveria ser de plástico não muito rígido para que pudesse ser expandido ante tensões. Mas especialistas que o frequentam prescindem disso. Eles são maleáveis o suficiente para se adequarem ao espaço.  

O Trem da Felicidade de Paulinho Serra no campo político-eleitoral pode ser tudo, mas é eficiente. Ou melhor: eficaz, porque os resultados são obtidos à custa da sociedade. Santo André vive um ambiente tirânico. Tudo tem de passar pelo Paço Municipal. Há avalanche retaliatória a impactar quem ousa resistir.  

 VIVEIRO ASSISTENCIALISTA 

À parte o valor ético do marketing orquestrado e efetivado, festeja-se um compartimento do Trem da Felicidade de Paulinho Serra no qual os convidados comemoram de verdade e sem a menor preocupação o objetivo alcançado. São os representantes das entidades sociais que se engajaram no projeto da primeira-dama, Carolina Serra.  

O Moeda Verdade, programa em que plásticos viram alimentos e votos, foi lançado com sucesso. Tanto sucesso que Carolina Serra se elegeu deputada estadual com quase toda a votação concentrada em Santo André. É uma deputada estadual-municipal recordista na história da região. Mais de uma centena de instituições foram catequisadas.   

É tanta gente excluída da sociedade -- mas boa de voto porque voto garante a continuidade do projeto -- que o vagão do Trem da Felicidade de Paulinho Serra precisou ser diferenciado dos demais.  

Deu um trabalho danado convencer a logística da viagem rumo ao Ano 2053 sobre a importância de reservar dois vagões em vez de apenas um. O comboio já estava definido, os custos do combustível calibrados de acordo com o número de vagões, mas deixar o assistencialismo fora de uma zona de privilegio seria uma afronta à primeira-dama.  

Uma faixa foi estendida em cada um dos dois vagões, com letras garrafais. “Viveiro Assistencialista”. Quando a Administração descobriu, mandou que as retirassem. Quiseram saber a autoria, mas não se descobriu.  

A primeira-dama não foi, porque se o fosse iriam dizer que a primeira-dama quis passar por cima do prefeito de “Viveiro Industrial”. E isso a primeira-dama não faria. Mas as más línguas dizem que ela é bem melhor de marketing do que o marido. Ela enxergou o óbvio, ou seja, a matéria-prima do empobrecimento de Santo André como produto eleitoral de primeira hora. Ele, o prefeito, o marido, não viu o outro óbvio: a economia segue descarrilhada, dependente do Polo Petroquímico e de duas pneumáticas. Haja coração.   

 PARCEIROS MAGNATAS   

O vagão do Trem da Felicidade de Paulinho Serra comporta com discrição o que muitos chamam de magnatas dos negócios. Gente que, como em toda Administração Pública, aproxima-se do prefeito de plantão, quando não e mais frequentemente financia a campanha do potencial prefeito, e faz negócios imperdíveis no decorrer do mandato.  

Muitos deles, exploradores da boa-fé, constam até de catálogos sob medida de beneméritos. Têm até departamentos corporativos para propagarem solidariedade aos desvalidos. Sempre com o dinheiro dos outros, claro.   

Falta luminosidade no vagão dos magnatas. É proposital. Quanto mais os convidados a ocupar as poltronas aveludadas forem mantidos em segredo visual, menos serão identificados externamente.  

Há gente endinheirada demais no vagão dos magnatas, mas também há gente de pequeno porte financeiro. Tudo de acordo com a lei da oferta e da procura de interesses cruzados e entrecruzados.  

As miudezas financeiras do vagão dos magnatas foram discutidas antes do embarque, no período de planejamento. Os roteiristas do Trem da Felicidade de Paulinho Serra dividiram-se. Houve quem vetasse os pequenos, mas os pequenos ganharam força porque se desconfiava que eles, conhecedores e praticantes em menores proporções do sistema, poderiam propagar os segredos do sucesso dos grandes.  

Não é porque participam de quinquilharias orçamentárias que os pequenos deveriam ser ignorados, argumentou um dos estrategistas do Trem da Felicidade.  

Houve também quem lembrasse que o pequeno de hoje pode ser o médio de amanhã e o grande do futuro não muito distante. É a mobilidade empresarial observada com atenção por quem é especialista em literatura de relações entre empreendedores ambiciosos e políticos ávidos por recursos.  

Uma casa de carne que se torna o maior frigorífico do País é sempre mencionada como medida cautelar de incentivo aos pequenos. Custaria muito vacilar e perder uma bocada.  

O vagão dos magnatas do Trem da Felicidade de Paulinho Serra conta com cortinas rígidas. Não se abrem. Mantêm os convidados longe do ambiente externo. Dos pontos turísticos que passam pelas janelas. Das misérias que passam pelas janelas. Não vale a pena serem identificados.  

O segredo do negócio com o setor público é não transmitir a ideia de que a especulação fundamentada vire denunciação. A Síndrome da Petrobrás incomoda muita gente. Os magnatas não ocupariam o comboio caso as regras do jogo não fossem confirmadas. Eles ditam as regras.  

 LANTEJOULAS E PAETÊS 

O vagão subsequente ao dos magnatas no Trem da Felicidade foi ardilosamente ocupado por festeiros de números, eventos, títulos e tudo que diz respeito ao marketing de sucesso. Diferentemente, portanto, do que se observa no vagão anterior, a ordem é fazer o máximo de ruido possível. Ruido no caso é sinônimo de convencimento.  

Houve quem tivesse a ideia de carregar fogos de artifício na mala, mas foi advertido de que seria muito arriscado botar o braço para fora da janela e disparar o artefato.  

Um ideólogo do Trem da Felicidade de Paulinho Serra chegou ao limite dramático de advertir sobre a possibilidade de o foguete explodir dentro do próprio vagão. Contou alguns casos de acidentes de final de ano. Não precisou falar muito.  

O vagão de prêmios, títulos, indicadores e muito mais previamente combinados com os distribuidores de oferendas do Trem da Felicidade de Paulinho Serra está lotado. E, nunca é demais repetir, barulhentíssimo.  

Uma algazarra que faz parte do show com dois objetivos complementares: é da natureza de quem cria fatos lançar-se a comemorações, independentemente do que dizem terceiros, e, também, encobrir ações que precisam ser escondidas, camufladas. Como a do pessoal do vagão dos magnatas.  

Os especialistas dão nome a isso: diversionismo. Os marqueteiros políticos preferem dizer que se trata de legitima defesa da gestão eficiente.  

Troféus, medalhas, láureas e tudo o mais ocupam parte do vagão de comemorações do Trem da Felicidade de Paulinho Serra. Preparou-se inclusive espécie de vitrine para exibir todas as conquistas. Dar materialidade visual é uma das melhores maneiras de tornar real o que parece ilusão.  

Tem premiação para todo gosto. De Cidade do Esporte até índice de saneamento básico. Há também fotos de eventos diversos com tomadas sob medida, exibindo aglomerados humanos. Os vazios não aparecem. Se aparecerem, como sustentar a contagem maluca de tantos milhares de participantes?  

O vagão de dados, títulos, públicos, índices e tudo o mais do Trem da Felicidade de Paulinho Serra disputou pau a pau na comissão organizadora a possibilidade de ocupar o centro do comboio, um território de passagem obrigatória quando a hora do lanche chega, quando o almoço e o jantar são uma festa.  

Mas não teve mesmo jeito. Os festeiros a qualquer preço perderam para o vagão assistencialista. Também houve quem quisesse a reserva de dois vagões, como os assistencialistas. Perdeu de novo. O vagão assistencialista teria de ser único no sentido de duplicidade. E de comissão de frente do Trem da Felicidade de Paulinho Serra.   

 MARKETING BARULHENTO 

A turma do vagão midiático do Trem da Felicidade de Paulinho Serra não é um primor de bom relacionamento como o ambiente pode sugerir. No fundo, a maioria se detesta ou gostaria de ver o próximo bem distante. A divisão de verba está na raiz da ciumeira. Há quem não suporte ter menos e quem tem mais acha que poderia ter mais ainda.  

Há, evidentemente, quem ocupe um lugar de destaque. A tradição costuma ser obedecida, mesmo que o presente lembre a história de pai rico e filho pobre.  

Os ocupantes do vagão midiático do Trem da Felicidade de Paulinho Serra utilizam-se de vendas bicolores, em azul e vermelho. Eles não veem nada que eventualmente provoque constrangimento ao vermelho e ao azul. O azul e o vermelho são irmãos siameses na Administração de Paulinho Serra.  

É o resultado da combinação de interesses de dois partidos que sempre fingiram ser antagonistas no Estado, no trem da Felicidade dos Tucanos e no Trem da Felicidade dos Petistas.  

O anfitrião do Trem da Felicidade entregou-se tanto aos vermelhos que vermelho mais parece, embora seja tesoureiro nacional de azuis depenados. E os vermelhos jogaram-se nos braços dos azulados e mais azuis se percebem.  

No vagão midiático do Trem da Felicidade de Paulinho Serra constam também servidores públicos que atuam como assessores de imprensa.  

Embora não recebam como colaboradores da mídia tutelada pelo Trem da Felicidade de Paulinho Serra, eles são muito atuantes. Produzem propagandas em forma de informação que muitas mídias reproduzem integralmente. São, portanto, extensões de redações diversas.  

Houve quem tentasse advertir que seria desaconselhável transformar em notícia particular, de um veículo de comunicação, o que não passaria de sugestão de pauta, a ser rigorosamente observada como matéria-prima válida. A ideia foi rechaçada sob olhares de desdém.  

Ninguém acredita que o leitor, ou a maioria do leitorado, teria discernimento e conhecimento suficientes para separar release, ou seja, propaganda informativa, de notícia de verdade. É mais provável que quem resiste ao sistema de inversão de valores midiáticos seja visto como industrializador de fake news.  

A verdade dos fatos mudou de lado, ou melhor, virou do avesso. O vagão do Trem da Felicidade de Paulinho Serra no campo midiático é opressivamente concentrador do caudal de informações que chegam aos consumidores como verdades independentes.  



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