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Imprensa

DANIEL LIMA - 05/07/2023

O santo editorial do Diário do Grande ABC sempre bateu com o santo administrativo do prefeito Paulinho Serra. Bateu muito antes até de Paulinho Serra virar prefeito de Santo André.  

O Santo editorial do Diário do Grande ABC não bate com o santo administrativo do prefeito Orlando Morando. Mas o santo editorial do Diário do Grande ABC já bateu com o santo administrativo de Orlando Morando.  

Por que o santo que bate de um lado e já bateu do outro já não bate mais dos dois lados? 

A resposta vai muito além da suposição de que temos casos metafísicos e supostamente inexplicáveis. Não é nada disso. E nada de muito disso ou daquilo.  

FLORES E PEDRAS  

O Diário do Grande ABC faz escolhas editoriais como tantos veículos de comunicação de tamanhos variados. Já o fez no passado antes de ter as cotas adquiridas pelo empresário Ronan Maria Pinto.  

Possivelmente o que difere os santos de preferência e de rejeição do Diário do Grande ABC seja mesmo a calibragem de lantejoulas e de apedrejamento. 

Há certa inapetência ao acerto de contas que não impacte a integridade do jornal como veículo confiável nestes tempos em que as redes sociais não deixam passar nada e, mais que isso, turbinam interpretações.  

Por mais que um veículo de comunicação da chamada Velha Mídia se esmere em caprichar no santo que veste e no santo que desveste, há sempre um farrapo de descuido que pode comprometer a mensagem final. Essa turma da Internet não dá sossego, como se sabe.  

Tenho disponível uma imensidão de exemplos que ratificam a duplicidade ostensivamente conflitiva de tratamento ao santo administrativo de Santo André e ao santo administrativo de São Bernardo nas páginas do Diário do Grande ABC.  

PAU NO ORLANDO 

Resumiria tudo com exemplos captados na edição de sábado último, separando aos leitores duas publicações do Diário do Grande ABC. 

A primeira foi publicada como Editorial (o espaço em que o jornal manifesta posição oficial) e a segunda numa página de política.  

Na primeira,  o santo administrativo de São Bernardo é discriminado pelo santo editorial do Diário do Grande ABC. O conteúdo do material jornalístico é impreciso e equivocado, quando não abusivo.  

O segundo revela o desvelo com que o santo do Diário do Grande ABC e o santo de Paulinho Serra se cruzam e se alinham. Mesmo em situação nada confortável, que é resultado de um contexto, que é, extensivamente, um grande escorregão.   

Primeiro, vamos ao Editorial do Diário do Grande ABC e às considerações que se fazem necessárias para tipificar o duplo e contrastante tratamento editorial a um santo e a outro santo.

 Faz três meses que os dados oficiais do governo federal estão traduzindo em números a tragédia de São Bernardo na questão do emprego. Enquanto as seis coirmãs regionais colaboraram para que o Grande ABC fechasse os cinco primeiros meses com desempenho altamente positivo no setor, com saldo de 6.994 postos de trabalho, criados desde janeiro, o município administrado pelo prefeito Orlando Morando (PSDB) enfileira um resultado ruim atrás do outro. Há razões complexas por trás da questão, sendo o processo de fuga das indústrias, que se iniciou com a saída da Ford, em 2019, a principal delas. A cadeia automotiva sente os efeitos deletérios do fenômeno da desindustrialização. A região registrou (...). Na outra ponta do ranking, São Bernardo foi o destaque negativo, com déficit de 344 colocações. (...). Como São Bernardo se encontra em um bloco cuja atividade econômica é homogênea, com características bastante semelhantes em seus setores econômicos, o fato de ser a única das cidades a caminhar sistematicamente na contramão do Caged expõe falha do município na execução de suas políticas de manutenção de empregos. (...). A localidade, que tem se isolado das vizinhas em uma tática incompreensível no momento em que a força da regionalidade faz a diferença na busca por bons resultados, começa a pagar um preço alto pela segregação geográfica imposta pelo governo Orlando Morando. É uma pena que a coesão benéfica esteja perdendo espaço para a individualidade nefasta.   

EQUÍVOCOS DEMAIS   

O primarismo argumentativo do Diário do Grande ABC mistura-se ao tamanho da aversão ao santo de São Bernardo. A medição da temperatura do emprego formal é uma equação tão complexa e longeva que não pode se circunscrever a um período escasso de tempo, de cinco meses. Ao longo da história, com base em dados que garimpamos há 34 anos, quem mais perdeu empregos especialmente industriais na região é Santo André e também São Caetano. A participação do emprego industrial em Santo André em relação ao conjunto de empregos não chega a 11%, menos da metade de São Bernardo. As médias salariais no setor, então, são disparadamente maiores em São Bernardo. A  desvantagem em quantidade e qualidade não pode ser atribuída ao prefeito Paulinho Serra. Vem de longa data. Tanto quanto nos demais municípios da região que contabilizam déficit. No caso específico dos últimos anos, um trator passou pela região em forma de maior recessão da história e até agora, como temos analisado, os efeitos seguem fortes e danosos. A recessão contratada pelo governo de 14 anos do PT, e que desaguou no governo de Dilma Rousseff, é a síntese da tragédia. Estabelecer o marca inicial da desindustrialização de São Bernardo na saída da  Ford é o fim da picada. Qualquer catálogo telefônico antigo comparado à lista de empresas atuais provará que o desaparecimento de indústrias vem de um passado que tem forte ligação com o movimento sindical, com a guerra fiscal e com o fim da inflação incendiária, a partir do Plano Real. 

FLORES PARA PAULINHO    

Agora, vamos ao noticiário no qual o prefeito Paulinho Serra, cujo santo é fiel ao santo editorial do Diário do Grande ABC, recebe tratamento especial. Veja a notícia sob o título “Ex-secretário do Consórcio vai gerir comissão eleitoral PSDB/Cidadania:

 Durante a posse como presidente executivo da federação PSDB/Cidadania no Estado de São Paulo, realizada na noite de ontem na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), o prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), informou que Orlando Faria (PSDB) irá comandar a comissão eleitoral, cuja criação será a primeira ação do chefe do Executivo andreense no novo cargo. “O Orlando é a pessoa certa para essa missão. O Fernando Henrique dizia que a nossa luta não é para ter uma vitória no dia seguinte, mas sim para criar um horizonte de alternativas. Só criaremos esse horizonte com debate e boas práticas. Será através desse método que sairemos daqui ainda mais fortes “, disse o novo presidente. O objetivo da nova comissão, segundo Paulo Serra, é buscar novas lideranças no Estado, a fim de fortalecer a parceria entre as siglas para as eleições de 2024 e 2026. “Nossa força não pode ser apenas estética. Temos que mostrar que há inteligência fora dos extremos, no centro democrático. Por isso vamos a campo buscar lideranças, vereadores, prefeitos, deputados, para termos o maior número possível de candidatos nas eleições de 2024 e 2026”, disse o prefeito andreense e novo presidente da Federação. Orlando Faria foi secretário adjunto de Governo, secretário de Turismo, secretário-chefe da Casa Civil e secretário de Habitação da Prefeitura de São Paulo na gestão Bruno Covas (ex-PSDB)/Ricardo Nunes (MDB). Em 2022, assumiu como secretário executivo do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, a convite de Paulo Serra, que presidiu a entidade até o fim do ano. A comissão também será responsável por contar a debandada de prefeitos e lideranças das duas siglas a outros partidos, provocada, em grande parte, pelo assédio das articulações do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), como o PL. “Perdemos alguns quadros, é ruim, claro, mas também foi um movimento natural. Afinal, o PSDB perdeu o governo do Estado depois de 28 anos. Agora temos que impedir que esse processo se mantenha, ou até aumente, fortalecendo o que já temos com novas lideranças”. (...)  “Estamos em um novo ciclo e sei que o PSDB é muito importante para o Brasil. Tenho certeza que o partido, assim como a Federação com o Cidadania, será muito bem dirigido pelo Paulo Serra, que é um grande exemplo de gestor público”, disse Eduardo Leite em uma gravação de vídeo apresentada durante a posse.  

USO PARTIDÁRIO   

A reportagem do Diário do Grande ABC traça um quadro de triunfalismo da atuação política de Paulinho Serra, com o qual o santo se cruza em todos os momentos. A realidade é que o PSDB está em frangalhos por razões mais que conhecidas, depois de longa parceria dissimulada com o PT. O encontro retratado pelo Diário foi ignorado pela Velha Imprensa entre outras razões porque a razão prevaleceu, ou seja, os tucanos são um tecido velho, um farrapo político. Mas isso não é tudo: o prefeito Paulinho Serra meteu-se numa enrascada ao virar dirigente de uma agremiação em fim de feira e com isso precisa se virar nos trinta para, até as eleições municipais do ano que vem, para safar-se de maiores problemas no ambiente estadual, principalmente. Com uma administração recheada de petistas, Paulinho Serra bota os pés em várias canoas furadas. Para completar, assina um atestado de partidarização no Clube dos Prefeitos, do qual foi desastrado prefeito dos prefeitos em várias temporadas. Reiterou Paulinho Serra que um dos quadros do PSDB ocupou a direção executiva da instância que deveria tratar da regionalidade do ABC Paulista, no caso Orlando Faria. Alguém, por sinal, que, no cargo, jamais apresentou algo que o vinculasse a qualquer especificidade do regionalismo local. Ou seja: Paulinho Serra, como temos alertado, trabalha partidariamente em nome da regionalidade ao invés de tornar a regionalidade carro-chefe da boa política.   

AURICCHIO TAMBÉM 

O terreiro que o santo editorial do Diário do Grande ABC frequenta é um terreiro sujeito a chuvas a trovoadas e, para não se molhar e escorregar, sempre dá um jeito de se proteger.  

O Diário do Grande ABC cultiva um desempenho editorial no campo político-administrativo em que a controvérsia baseada em subjetividades dita as normas. Fatualidades também existem, claro, mas não são rotineiramente respeitadas sob o ponto de vista de resistência. 

Um exemplo? Até outro dia a administração de outro santo da praça, o prefeito José Auricchio Júnior, de São Caetano, era intensamente acalentada pelo santo editorial do Diário do Grande ABC.  

Quando se afirma “intensamente acalentada” o que se pretende transmitir é que São Caetano de José Auricchio estava no panteão da felicidade eterna.  

Por mais que eventualmente alguma peça administrativa estivesse fora do lugar, bastava um olhar de conciliação entre o santo editorial do Diário do Grande ABC e o santo administrativo de São Caetano para tudo se ajeitar.  

PARAÍSO-INFERNO  

Mais recentemente e durante um intervalo relativamente longo, o santo administrativo de José Auricchio caiu da prateleira e se despedaçou. De paraíso da humanidade de 160 mil habitantes, São Caetano virou um inferno. Nada, absolutamente mais, estava no lugar. Era um caos.  

Recentemente, de novo, deu-se uma reviravolta entre o santo editorial e o santo administrativo. Como que num passe de mágica, São Caetano voltou a ser o que era antes de ter virado o que virou. Ou seja: o santo administrativo de São Caetano regenerou-se e voltou ao desempenho intocável de antes da borrasca. 

Outros santos administrativos da região também estão frequentando o terreno editorial do Diário do Grande ABC nos últimos tempos, repetindo enredo também de outros tempos, de tempos em que o dono do Diário do Grande ABC nem imaginava virar dono do Diário do Grande ABC.  

OUTROS PREFEITOS  

Os santos das administrações petistas de Diadema e de Mauá e o santo da administração de Guto Volpi, em Ribeirão Pires, são santos que desfrutam de olhares benignos do santo editorial do Diário do Grande ABC. Não se sabe até quando os enamorados vão trocar olhares e fluídos, mas, por enquanto, estão em lua de mel. 

O santo administrativo de Orlando Morando já viveu períodos de felicidade com o santo editorial do Diário do Grande ABC. Quando presidente do Clube dos Prefeitos, entidade na qual Morando foi mais um titular a comprometer o nome que procura marcar como prefeito de São Bernardo, o santo editorial do Diário do Grande ABC sempre o colocou num altar de inviolabilidade.  

Pudesse Orlando Morando fazer o que bem entendesse, e o fez sim sem se dar conta, como os antecessores, de que o Clube dos Prefeitos é outra história, e estava lá o santo editorial do Diário do Grande ABC a lhe reservar um biombo de suposta intocabilidade.   

Mais tarde, quando Orlando Morando já não era presidente do Clube dos Prefeitos nem o santo administrativo se cruzava mais com o santo editorial do Diário do Grande ABC, as críticas ao passado na instituição emergiram.  

DEUS E DIABO  

Essa mania que o Diário do Grande ABC tem de divinizar prefeitos amigos e satanizar prefeitos rebeldes, como pode ser definida ou resumida a relação com Paulinho Serra e Orlando Morando, não é uma mania que o fortaleça diante de olhos mais críticos. 

Talvez a maior sorte e uma sorte lotérica do Diário do Grande ABC nesse vaivém constante embalado por bruxarias de santo editorial e santo administrativo é que não se detectam essas nuances.  

Os consumidores de informações, no geral, não sabem ler jornais. Pensam que sabe, mas não sabem diferenciar o tratamento com base em fatos semelhantes e versões divergentes.  

O santo administrativo de Paulinho Serra jamais poderá se rebelar contra o santo editorial do Diário do Grande ABC porque o nível de protecionismo e de privilégio com que é contemplado faz crer que existe algo mesmo sobrenatural a tanta camaradagem.   

SEGREDOS PROTEGIDOS  

Há certos segredos a envolver os dois santos, o santo editorial e o santo administrativo, que não convém perscrutar. Talvez se o fizesse fosse excomungado por todos os santos. Certo é que as obscuridades da gestão de Paulinho Serra, sem contar a mediocridade em observar o futuro sem o marketing furado de Santo André Cidade Futuro, estão sempre no cofre da indisponibilidade pública.  

O santo administrativo de Paulinho Serra tem poderes que supostamente barram qualquer curiosidade do santo editorial do Diário do Grande ABC.  

Já o santo administrativo de Orlando Morando precisa tomar cuidado redobrado, porque o santo editorial do Diário do Grande ABC não despreza um pedacinho de eventual invasão de domicílio. 

PODE TUDO  

Acredita-se muito nos meios sincréticos que o santo administrativo de Paulinho Serra é tão poderoso que nada, absolutamente nada, ganhará as páginas do santo editorial do Diário do Grande ABC que venha a provocar complicações. Já o santo administrativo de Orlando Morando que se cuide porque tudo, mesmo que nada, sempre estará pronto à guilhotina.   

É essa disparidade e essa deformidade de tratamento que colocam o santo editorial do Diário do GrandeABC sob suspeição. Quem não é do ramo, mas do ramo desconfia acredita que há exagero tanto de um lado quanto do outro lado dos dois santos administrativos. O primeiro santo, de Paulinho Serra, não seria tão puro e o segundo santo, de Orlando Morando, não seria tão impuro. 

Certo mesmo é que existe uma rede de proteção imensa a tornar o santo administrativo de Paulinho Serra distante de qualquer desconforto.  

Pode fazer o que bem entender, pode privatizar o Semana sem transparência, pode lidar com a privatização dos cemitérios sem o menor cuidado, pode movimentar o mercado imobiliário com os apadrinhados empresariais, pode, pode, pode fazer o que bem entender que o santo editorial do Diário do Grande ABC jamais vai contraria-lo.  

RESERVA DE MERCADO  

A dúvida que persiste entre os fiéis e os fariseus em Santo André quando o assunto é o santo administrativo de Paulinho Serra se concentra em tentar medir quem tem mais proteção do santo editorial do Diário do Grande ABC, se o prefeito-amigo Paulinho Serra ou se sua mulher, dona Carolina, eleita deputada estadual depois de uma companha em que se fecharam todas as porteiras de acesso eleitoral e a concentração temática em tornos dos desvalidos de uma cidade empobrecida garantiria sucesso total.  

Quase 90% dos votos da deputada se concentraram nas urnas de Santo André. A rede de apoiadores envolveu gente que frequenta todos os andares da Prefeitura.  

Essas ponderações não inserem juízo de valor sobre as qualidades e deficiências da primeira-dama como agente pública. Há informações agregadas que a colocam como gestora pública superior ao marido. Mas isso pode ser intriga da oposição.  

O que se coloca é simplesmente uma operação-voto que deu certo porque não teria como não dão certo. Reserva de mercado funcionou internamente até mesmo no período do Regime Militar na área de computadores. Até que se descobriu o quanto foi nefasta. 



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