O ex-prefeito Carlos Grana quer voltar a ser prefeito de Santo André depois que o Instituto Paraná em pesquisa recente o colocou como principal concorrente num cenário mais factível com a disputa. Já escrevi sobre isso. Carlos Grana agora está dividido entre o vespeiro federal das plataformas de aplicativos em inúmeras atividades e o formigueiro local de uma montanha de pretensos candidatos à Prefeitura de Santo André.
Há perspectiva de que Carlos Grana conta preliminarmente com o apoio do governo federal petista.
Tanto que está incorporado ao Ministério do Trabalho e Previdência Social, do ministro Luiz Marinho, ex-biprefeito de São Bernardo. Mais que isso: vai atuar incisivamente num programa de alta visibilidade.
NOTÍCIA DESAGRADÁVEL
Essa notícia não agrada ao Paço Municipal de Santo André e entorno mais que numeroso de um conglomerado de partidos e candidatos à sucessão do prefeito Paulinho Serra.
Até outro dia se trabalhava com idiossincrasias político-partidárias nada surpreendentes.
Tentava-se desclassificar a candidatura de Carlos Grana. No mundo da política, como se sabe, não há limites.
Já há indicativos de que o situacionismo de Santo André, que também poderia ser chamado de absolutismo diante do esfacelamento da oposição, terá de começar a precificar a disputa de outubro do ano que vem.
MUDANDO FLUXO
Deserções podem ocorrer para reforçar a equipe de Carlos Grana. Seriam deserções de petistas que se acomodaram na gestão de Paulinho Serra e o sonho de aperfeiçoar o modelo russo, entre outros.
Carlos Grana não é uma versão atualizada e tampouco direitista de Jânio Quadros, mas tudo indica que ele vem aí. Só não teria a vassoura como símbolo. O PT prefere simbologias mais sofisticadas de um marketing reconhecidamente eficaz.
O futuro que já começou para Carlos Grana fora do território de Santo André para dar uma arremetida rumo ao Paço de Santo André não é dos mais tranquilos. É mesmo um vespeiro.
VESPEIRO DE APLICATIVOS
Carlos Grana foi convocado pelo governo federal para exercer expertise reconhecida: aproximar as partes aparentemente inconciliáveis em busca de regulamentação das plataformas de aplicativos.
Empresários, organizações sindicais e governo sob o comando de Luiz Marinho buscariam uma solução para tornar civilizado ou menos incivilizado um setor que os petistas relacionam à carnificina trabalhista.
Carlos Grana é mestre em contemporizações e aproximações, mas não necessariamente é frouxo em soluções como alguns sugerem no mundo político após a gestão da Prefeitura de Santo André entre 2013-2016.
Ter Carlos Grana como interlocutor é premissa de que o governo federal não subestima as dificuldades que já está encontrando para costurar uma solução com níveis de ruídos os mais discretos possíveis.
TAREFA ÁRDUA
Não é exagero acreditar que Carlos Grana terá nesta temporada e na temporada seguinte, ano que vem, duas competições de fogo.
As plataformas de aplicativos sob arcabouço de legalidade razoavelmente compatível com os sonhos de uma relação capitalista menos desumana são desafio e tanto.
O ministro Luiz Marinho não chamou seu amigo Carlos Grana apenas por conta de laços pessoais, claro. Os obstáculos são enormes. Carlos Grana não segue o estereotipo de sindicalista raivoso que povoa a realidade e a imaginação no Grande ABC.
ENQUADRAMENTO
Outro dia Luiz Marinho disse coisas que muitos desconhecem sobre os aplicativos. Vejam um trecho:
“É preciso controlar a atividade. É a civilidade sendo praticada. É preciso pensar no enquadramento em si da atividade econômica. O que são as plataformas? Empresas de quê? Tem desde banco, empresa de tecnologia, logística, há uma enormidade de razões sociais. Tem de ter uma ação, um enquadramento. Tem de ser uma atividade. Esses trabalhadores não têm vínculos trabalhistas nem acesso aos mesmos direitos trabalhistas das demais categorias” – disse Marinho.
Vencer a disputa eleitoral em Santo André não é uma escala subordinada à pauta das plataformas de aplicativos. Enfrentar a maquinaria de Paulinho Serra e sua turma é como estar num formigueiro.
CONJUNTURA NACIONAL
Não se deve cansar de repetir que muito do que possivelmente poderá ocorrer em Santo André vai depender do desempenho do governo federal petista.
Se o governo Lula da Silva estiver bombando (algo que pode sim ocorrer, mesmo que temporariamente num País em que o Estado fracassou ao longo de décadas) os efeitos colaterais locais serão sentidos.
Muitos dos que ocupam o transatlântico do Executivo e do Legislativo sob o controle dos grupos de Paulinho Serra poderão puxar o breque de mão de oportunismos mais que conhecidos e, com isso, reforçarem a campanha do ex-prefeito.
Seria uma reprodução com sinais invertidos da derrota de Carlos Grana para Paulinho Serra em 2016.
Carlos Grana mudou-se de mala e cuia para Brasília. Tudo indica que vai se empenhar vigorosamente na alternativa que torne a vida dos trabalhadores de aplicativos algo menos problemático do que hoje.
É claro que o mundo metalúrgico no qual Carlos Grana atuou em diferentes organizações, chegando ao comando de trabalhadores no Estado e no País, é outro mundo. Nem se compara com o fim do mundo dos aplicativos.
Só há aproximação entre os dois universos no contingente de trabalhadores: um milhão e meio para cada lado.
ANOS TERRÍVEIS
Talvez o que mais contribuiria para a candidatura de Carlos Grana à Prefeitura de Santo André seria uma participação efetiva, entusiástica e também não necessariamente vinculada ao sucesso absoluto da empreitada.
O que Carlos Grana precisaria contabilizar como agente de interesse federal seria a consolidação de ações no governo Lula da Silva para catapultar sua campanha eleitoral em Santo André. O potencial é muito maior e previsível e possível do que se estivesse entregue à própria sorte em Santo André.
O calcanhar de Aquiles na carreira política de Carlos Grana como prefeito de Santo André foi o esvaziamento da Administração na medida em que se aproximava o fim do mandato.
Tanto que acabou perdendo a disputa num segundo turno para o tucano Paulinho Serra, a quem deu espaço na própria administração como secretário mais que trapalhão de Mobilidade Urbana.
PREPANDO TERRENO
Carlos Grana teria reconhecido recentemente que não fez uma Administração Municipal das mais efetivas, mas alegaria, nesse ponto com ampla razão, que o governo federal de Dilma Rousseff, a destruidora de riquezas, determinou o resultado final.
Grana tem razão porque o impeachment da então presidente e os danos econômicos que o Grande ABC sofreu, com queda de 20% do PIB Geral nos dois anos de recessão, entre 2015-2016, liquidariam mesmo com qualquer projeto.
O que já se sabe sobre o que se ensaiaria como pré-planejamento à candidatura de Carlos Grana à Prefeitura de Santo André é que está no horizonte próximo, entre outras iniciativas, a realização de pesquisas internas.
CONHECER TERRENO
Desde que Celso Daniel se lançou pela primeira vez ao Executivo de Santo André, em 1982, o PT vasculha a opinião pública na organização de modelagem de campanha com o menor risco possível.
Avaliar o terreno em que se pisa é uma fórmula certeira de evitar casas de maribondos de surpresas e mata-burros de imprecisões.
O que parece óbvio nestas alturas do campeonato é que se desembarcar em Santo André (e nada parece resistir a essa decisão), o PT vem forte porque também o faria nos demais municípios do Grande ABC.
Em termos partidários, até prova em contrário, a centro-direita e a direita têm em Tarcísio de Freitas o catalizador de votos com a combinação de partidos aliados, mas esses partidos aliados ainda não estão bem desenhados (e, mais que isso, visíveis) em nível regional.
O PT já ultrapassou o vendaval dilmista. Tanto que Lula da Silva superou Jair Bolsonaro na contabilidade geral do segundo turno regional no ano passado. E só perdeu por quatro pontos percentuais em Santo André, onde obteve 48% dos votos.
PONTO DE PARTIDA
Se a disputa do ano que vem em Santo André se tornar algo como um clássico de resultado sempre imprevisível (menos quando o Palmeiras enfrenta qualquer um dos chamados grandes de São Paulo, principalmente o pobre Corinthians), muito se deverá ao Instituto Paraná como representação simbólica de reviravolta de um cenário que parecia completamente dominado pelo grupo de Paulinho Serra.
Por mais que se coloquem em dúvidas os resultados de pesquisas eleitorais, não haveria razão alguma, no caso daquela pesquisa do Instituto Paraná, de se argumentar que tenha sido algo arranjado.
Diferentemente disso: o resultado apresentado aos leitores do Diário do Grande ABC omitia o cenário principal, de liderança de Carlos Grana.
Quando se juntou a fome da omissão dos dados nas páginas do Diário do Grande ABC com a vontade de comer da revolta de petistas fieis a Carlos Grana, deflagrou-se o tiro de largada de uma reação até então fora de cogitação.