O plano é tão perfeito, mas tão perfeito, que é isso mesmo que você acabou de ler na manchetíssima de hoje: qualquer um pode ser prefeito de Santo André a partir de janeiro de 2025, como resultado da eleição prevista para o ano que vem. Qualquer um mesmo. Desde que qualquer um seja o qualquer um escolhido a dedo.
Esse qualquer um, portanto, não vale para todos os lados político-partidários. O qualquer um ou mesmo um qualquer pode ser prefeito de Santo André porque estará atreladíssimo ao grupo de controla o Paço Municipal. O prefeito Paulinho Serra participa do grupo.
Com qualquer um ou um qualquer nada vai se alterar. Aliás, um qualquer não falta como concorrente preliminar. Mas todos se acham bons da boca.
A cidade que despencou no PIB por habitante nesse século, ocupando a 265 posição entre os mais de 600 municípios do Estado de São Paulo, que se vire. Afinal, se como todas as cidades a população está mais preocupada com Jair Bolsonaro e Lula da Silva, tudo fica mais fácil para manipular o painel que é dos controladores agrupados.
NOME É DETALHE
O nome do próximo prefeito de Santo André é apenas um detalhe, como tem sido nos últimos seis anos, independentemente de qualidades e deficiências do atual prefeito, Paulinho Serra.
É importante ressalvar sempre a relatividade de uma coisa e de outra coisa de Paulinho Serra.
Paulinho Serra pegou o bonde andando. Tem parte ínfima de responsabilidades, as quais não podem, por outro lado, ser minimizadas. Ele responde de acordo com o tempo de plantão.
O grupo que controla o Paço Municipal seguirá controlando o Paço Municipal. É um grupo multifacetado de interesses múltiplos que se resumem a preservar o Poder Executivo, o Poder Legislativo e amortecer outros poderes constitucionais ou paralelos.
GRUPO ECUMÊNICO
O grupo conta com políticos de carreira, políticos iniciantes, eminências pardas, empresários mais que manjados na área imobiliária, principalmente, e também instâncias supostamente insuspeitas, sobre as quais prefiro me acautelar por absoluta falta de segurança pessoal e profissional.
Se levei um tiro no rosto de graça imagine no caso de expor tudo o que tenho, inclusive com provas.
Santo André é um microcosmo político-administrativo e social do País. Mais que isso: conta com condimentos específicos e próprios provocados pele empobrecimento nas últimas quatro décadas a bordo de desindustrialização incontida e mascarada.
Seja qual for o candidato do Paço Municipal de Santo André no ano que vem a vitória estará garantida. Até porque, pelo andar da carruagem, o PT vai fazer de conta que enfrentará o grupo controlador do Paço, que também tem fortes ligações com petistas.
MORANDO É A META
Preferirão os petistas graduados reforçar a possível candidatura de Alex Manente ou nome próprio para combater o grupo de Orlando Morando em São Bernardo. Um grupo que não suporta a independência de Orlando Morando.
O ecumenismo político e ideológico no Paço Municipal de Santo André é prova provada de que intolerantes que não suportam divergências mesmo que exacerbadas, como temos no ambiente nacional, não sabem o quanto é prejudicial a uma sociedade a ausência do contraditório.
Prejudicial inclusive para quem está no poder, quem está com a bola sob controle. A ausência de adversário é um caminho à acomodação e ao abuso.
O grupo que controla o Paço Municipal de Santo André desde muito tempo, mas principalmente nos últimos seis anos, porque se juntaram conservadores e esquerdistas, esse grupo tem tanto controle, tanto controle, que se dá ao luxo de brincar de democracia interna.
MUITOS CONCORRENTES
Como assim? Estimula tantas candidaturas de protegidos daqui e dali que, ao fim da corrida preliminar, quando sairá o nome para valer rumo às urnas eletrônicas (mesmo?) o que teremos será caudalosa votação como consequência de acordos rigorosamente gerenciados pelo conglomerado que mantém os cordéis do Paço Municipal.
Os concorrentes preliminares (Sardano, Chehade, Gilvan, Zacarias, Botaro e tantos outros) fingem que têm a preferência dos controladores do Paço Municipal. No fundo, cada um deles sabe que pode ser apenas uma peça sem grande importância no tabuleiro previamente desenhado. Ou uma peça especial que, vitoriosa, vai estar subordinada à engrenagem de pesos relativos de mando e desmando.
Esse tabuleiro de forças supostamente antagônicas é apenas um jogo de cena. Há um fio condutor de reversibilidade de antagonismos que acondicionaria sem dificuldades as respectivas ambições pessoais.
Estar no grupo de controle, mesmo que subsidiariamente, é o que mais move os frequentadores dessa organização paralela montada dentro dos princípios democráticos sempre elásticos de que o detentor de poderes que divide a tropa propositadamente não pode abandonar as amarras da junção quando bem entender.
GRUPO CONTROLADOR
Qualquer um pode ser prefeito de Santo André. Até um qualquer pode ser prefeito de Santo André. Sempre sob o guarda-chuva do grupo controlador.
Portanto, tanto um enunciado quanto outro só tem serventia se for gestado e apurado no interior dos mandachuvas que formam a estrutura de poder da Administração Municipal de Santo André.
É assim que funciona em Santo André e em outras praças. Grupamentos semelhantes se especializam em assumir o poder central da administração pública e, em seguida, ou concomitantemente, abrem as asas e mostram as garras em direção a outros endereços. Inclusive, claro, à mídia.
Entretanto, todavia, contudo e tudo o mais, essa formulação não está garantidíssima quando se sabe que em matéria de política o certo é duvidoso, o duvidoso é provisório e o provisório pode ser até mesmo o avesso do desenho lógico.
O que isso significa? Há sempre a possibilidade de jogarem areia na engrenagem do projeto se eventualmente houver um grupo paralelo (sim, porque o grupo controlador é resultado de grupinhos paralelos) com determinada força relativa para mudar de direção.
OLHO NA VIZINHANÇA
No caso específico da política em Santo André é pouco provável que essa reconfiguração ocorra. Há um elemento estranho a aproximar com certa fidelidade os grupinhos que resultam no grupo central a ponto de superarem divergências, embora existam e devam exigir cuidados extremos.
Que elemento estranho é esse a lubrificar a maquinaria do grupo que controla do Paço de Santo André a ponto de engolir sapos internos?
Claro, claro, claro que é o gigantesco orçamento da Prefeitura de São Bernardo, pote de ouro que o mesmo grupo, com alterações nominais aqui e ali, quer dominar a qualquer custo. Inclusive com a extensão da mistureba entre petistas e conservadores.
Chega-se ao ponto, acreditem, de já existir um movimento que, à falta de eventual candidato petista no ano que vem (Luiz Marinho poderia abrir mão se não se sentir confiante na vitória) construir uma chapa com o deputado federal Alex Manente para prefeito e o sindicalista e deputado estadual Teonílio Barba para vice-prefeito.
Ou que, informalmente, aproxime os dois num primeiro turno de disputa individualizada com o compromisso de apoio ao mais bem votado no segundo turno e, em caso de vitória, compartilhamento do poder. Já houve situação assim no passado, sempre com Alex Manente como pêndulo.
A briga pelo Paço Municipal de São Bernardo é a joia da coroa da disputa eleitoral no ano que vem no Grande ABC. E envolverá gente graúda do governo estadual e do governo federal.
O possível vácuo que se abriria com a impossibilidade de Orlando Morando concorrer, porque já teria esgotado os dois mandatos constitucionais, estimula a oposição a articular uma engenharia de complementaridades de olho no eleitorado bem definido da Capital Econômica e Política da região.
Ou alguém tem dúvidas de que São Bernardo é o espaço regional onde mais conservadores e petistas disputam as urnas eletrônicas em situações semelhantes?
Como se observa, tem-se como certo que a disputa eleitoral do ano que vem em Santo André é apenas uma preliminarzinha de um grande clássico regional. É um joguinho de casados versus solteiros, enquanto na vizinha e poderosa capital regional o que teremos é um Fla-Flu de estremecer.
Por conta de tudo isso e de muito mais, há tanta preocupação com o desempenho do Clube dos Prefeitos (Consórcio de Prefeitos). É muito mais por causa das urnas eleitorais do que das urnas funerais de uma economia regional debilitadíssima também neste século.
Portanto, não se deixem levar no bico. Regionalidade é um fracasso político longevo que apenas serve de tapete de suposta responsabilidade social, mas está subordinadíssima ao calendário eleitoral e aos poderosos de plantão.