O mercado imobiliário é uma fonte de verdades escondidas porque negociadas e também um manancial de especulações que também são negociadas. Não sei se o leitor entendeu.
Vou tentar destrinchar o assunto num dos setores em que a banda podre empresarial é altamente lucrativa a dano da sociedade.
Tenho experiência profissional mais que comprovada para abordar a questão. Fui duramente perseguido pela bandidagem ética do setor que, por ser bandidagem, desequilibra o jogo da saudável concorrência em que a meritocracia prevalece.
A condição suburbana do Grande ABC é elemento adicional à festança dos mercadores imobiliários, embora na Capital pouco vigiada pela Velha Imprensa ruim de pauta a farra também seja ampla.
EMPREITEIRAS URBANAS
Tanto é verdade que a chamada Máfia do ISS vai completar uma década e praticamente não puniu dezenas de bandidos empresariais flagrados em delito. Acharam alguns bodes-expiatórios que confirmaram a regra de barreiras contra os infratores de verdade.
As empreiteiras urbanas, ou seja, os mercadores imobiliários que controlam o uso e ocupação do solo na região graças aos contatos de elevadíssimos graus de aderência de forças políticas, são uma farra do boi em matéria de prevaricação.
É mais que conhecida a suposta entidade de classe que também supostamente agrega o setor imobiliário do Grande ABC. A eficiência da entidade é semelhante à atuação da maioria das unidades da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
TUDO DOMINADO
Aliás, sobre a OAB, começo a ouvir e a ver agora diagnósticos de jornalistas, especialmente da crônica eletrônica. O que eles descobriram agora já o fiz há mais de uma década, quando comecei a observar atentamente o desempenho das unidades locais.
Há sincronia fina entre os dirigentes da OAB na região e os respectivos paços municipais. Mais que isso: prefeitos de plantão atuam incisivamente para controlar as respectivas OABs. São operações de guerra. A OAB vive da tradição e como neste País tradição vira eficiência e tantas outras coisas, nada se altera mesmo para valer.
Outros segmentos institucionais da região (e essa é a praxe nacional de faz-de-conta-que-sou-independente) se comportam exatamente assim, ou seja, na esteira dos mandachuvas políticos de plantão.
FALSA DEMOCRACIA
Essa é uma democracia falseada que protege os poderosos de plantão que se perpetuam em muitos endereços municipais. Grupos políticos há muito tomaram conta do barraco de usurpação das organizações sociais e corporativas.
Escrevo a propósito do mercado imobiliário hoje porque não faltam insinuações de que o prefeito Orlando Morando estaria dançando conforme a música de interesses não exatamente idôneos.
Quem faz essa trajetória editorial é o Diário do Grande ABC, que, todos sabem, ou deveriam saber, anda às turras com o prefeito da principal cidade do Grande ABC.
ESCANCARADO DEMAIS
É preciso ser muito tapado o leitor que não decifra questões escancaradamente subjetivas (isso mesmo, escancaradamente subjetivas) que permeiam o noticiário.
O Diário do Grande ABC vem publicando série de matérias sobre negócios imobiliários em São Bernardo.
Uma notinha na edição de hoje dá conta subliminar de que Orlando Morando teria sido presenteado pela Construtora Patriani com uma cobertura de um lançamento de alto padrão na região do Fórum de São Bernardo. Justamente ao lado, para ser preciso, do empreendimento Marco Zero, da MBigucci, negócio que desvendei completamente, com provas irrefutáveis, de impropriedades engavetadas por todos os órgãos supostamente de vigilância da sociedade, casos da Procuradoria da Prefeitura de São Bernardo e do Ministério Público Estadual.
O empreendimento da Construtora Patriani quando referenciado ao Marco Zero da MBigucci, não pode ser observado apenas sob o ângulo geográfico, por assim dizer. Tanto num caso quanto no outro, as áreas eram públicas. E foram negociadas atendendo a desenhos específicos.
TUDO DESVENDADO
No caso do Marco Zero, que desvendei completamente, tratou-se de escândalo sufocado pelos poderosos de plantão. Já no caso da Construtora Patriani, o que temos até prova em contrário são especulações.
O ruim de especulações que morrem como especulações é que verdades consolidadas como o caso Marco Zero da MBigucci podem ter conotação igualmente especulativa. Ou seja: a esculhambação vira norma interpretativa de quem consome informação.
Colocam-se alhos e bugalhos no mesmo cesto de idiossincrasias para potencialmente salvar a honra manchada de quem pecou e enlamear a honra honrada de quem não teria pecado.
Para dar conta disso, minha sugestão ao prefeito Orlando Morando é que trate as questões imobiliárias de São Bernardo com transparência.
ATENÇÃO AO CONTRIBIUINTE
Não que deva ser constantemente pautado por quem eventualmente tem interesse específico em desgastar sua imagem, mas quando houver mesmo e para valer uma relação socialmente responsável com os contribuintes.
Como não escrevo sem as devidas provas (e são dezenas de exemplo nesse sentido) vou permanecer por enquanto ao lado do prefeito de São Bernardo nas questões imobiliárias (há outras áreas públicas que estão na fita para serem monetizadas).
O erro do prefeito de São Bernardo, insisto, é não dar bola para o Diário do Grande ABC ou para qualquer mídia que coloque em questionamento determinadas decisões ou pretensões da Administração.
E o erro de veículos de comunicação é o tratamento desigual a situações potencialmente iguais ou semelhantes envolvendo prefeitos dos sete municípios da região.
TUDO LIBERADO
Houvesse na região um organismo público preocupado para valer com a higidez ética de gestores públicos, questões que conduzem a dúvidas ou especulações seriam tratadas em regime de urgência.
Mas o que esperar de um País no qual quadrilheiros envolvidos na Operação Lava Jato estão deitando e rolando na praça e voltam a ocupar cenas de crimes?
Digo por experiência própria: todas as vezes que precisei do suporte do Ministério Público Estadual em questões comprovadamente delitivas, jamais contei com uma ação efetiva, contundente, profilática.
A imunidade aos mandachuvas juramentados no Grande ABC está estabelecida numa teia de mútuas proteções. Quem não conta com retaguarda jurídica está condenado a ser condenado, por mais razões e provas que disponibilize.
CASOS DIFERENTES
Outro exemplo em que se cristalizaram descalabros com o dinheiro público? Os escândalos na Fundação do ABC, esse riquíssimo clube da saúde do Grande ABC, são tão fartos quanto impunes.
Minha expectativa é de que o prefeito Orlando Morando, de alguma forma, dê um tratamento público de comunicação mais transparente a determinadas questões especulativamente ou não levantadas pela mídia.
O noticiário do Diário do Grande ABC ocupa esse perfil. O jornal faz insinuações que têm como resposta um vazio oficial que não combina com a demanda da sociedade consumidora de informação.
Reproduzo abaixo a parte mais importante do texto que escrevi recentemente sobre a compra dos dois terrenos públicos que confrontam a MBigucci e a Patriani.
No caso específico do negócio da Patriani, a insinuação do Diário do Grande ABC é de que o prefeito Orlando Morando teria recebido um presente milionário.
No caso da MBigucci, sou o único jornalista que escreveu sobre o assunto. E, repetindo, com provas caudalosas.
Patriani desmascara MBigucci
em arremate de terreno público
DANIEL LIMA - 18/07/2022
Era uma vez duas imensas áreas públicas tão próximas quanto em bairro nobre de São Bernardo. Os dois terrenos privilegiadíssimos foram levados a leilão com 14 anos de diferença. A primeira área foi arrematada na bacia das almas, denunciada por CapitalSocial e engavetada sem investigação pelo Ministério Público. A segunda seguiu os rigores do preço ditado pela temperatura do mercado.
Conclusão? A MBigucci pagou muito mais barato que a Patriani. Uma diferença estimada, por baixo, em mais de R$ 45 milhões, valor corrigido pela inflação do setor de construção civil, o INCC. Os atualizados R$ 34.944.000 milhões que a MBigucci pagou pelo terreno deveriam ser R$ 81.3999,99 milhões. Bastaria que o preço do metro quadrado pago pela Patriani fosse o referencial mínimo, o indexador ético e moral da transação.
MUITOS MILHÕES
No terreno arrematado pela MBigucci, em julho de 2008, ergueu-se o maior empreendimento imobiliário da empresa: o Marco Zero de escritórios, lofts e apartamentos, além de área de comércio e serviços. O terreno arrematado foi um negócio da China antes do Coronavírus.
As construtores Patriani e MBigucci são gigantes no Grande ABC. Perto das maiores da Capital são pequenas, mas o poder de fogo regional é extraordinário. A Patriani ocupa a 61ª posição entre as 100 maiores construtoras e incorporadoras do País. A MBigucci está na 75ª colocação.
ESCÂNDALO DENUNCIADO
A MBigucci já foi maior. Nos tempos de PT no poder municipal de São Bernardo era tão atuante que não faltavam ilações de que teria acionistas informais a embalar os negócios. A MBigucci tinha o condão de ganhar muitas licitações de terrenos públicos em São Bernardo. A fonte secou com o prefeito Orlando Morando.
A MBigucci está no centro de um escândalo investigado, apurado e denunciado por CapitalSocial há mais de uma década. Foram necessários 14 anos depois do primeiro leilão para que se dessem números do tamanho do arremate da MBigucci.
O tempo é mais que o Senhor da razão. Também é o Senhor do desmascaramento mesmo que involuntário. Afinal, Bigucci e Patriani são rivais cordiais. Têm representantes harmoniosos no Clube dos Construtores do Grande ABC, um lobby de uma minoria da classe especialmente junto às instâncias públicas. Representatividade de verdade é heresia. O clã Bigucci domina o Clube dos Construtores desde sempre.
Os R$ 45.627,83 milhões apurados agora, em valores de fevereiro deste ano, representam nada menos que 122 apartamentos de dois dormitórios e 55 metros quadrados em bairro de classe média em São Bernardo. Para ser mais preciso, esses apartamentos poderiam estar disponíveis no próprio entorno dos dois terrenos leiloados em datas diferentes pela Prefeitura de São Bernardo.
PRIMEIRO LEILÃO
O leilão da primeira área, vencido pela MBigucci e denunciado por CapitalSocial, foi realizado em julho de 2008, durante a administração de William Dib. Houve de tudo para que não houvesse nada que atrapalhasse o negócio.
O segundo terreno, arrematado pela Patriani, se deu agora em fevereiro, sob a gestão de Orlando Morando. O preço do metro quadrado pago pela construtora de Valter Patriani está, segundo analistas do setor, dentro das condições conjunturais do mercado imobiliário. Quase 60% acima do preço do metro quadrado, em valores atualizados, quando confrontado com o leilão arrematado pela empresa de Milton Bigucci uma década e meia antes.
MÁFIA DO ISS
Mais tarde, em 2013, a MBigucci se envolveu no maior escândalo imobiliário do País, da Máfia do ISS da cidade de São Paulo. Antes, foi denunciada pelo Ministério Público do Consumidor de São Bernardo como campeã regional de abuso contra a clientela.
A MBigucci não participou do leilão do segundo terreno, em fevereiro último. Mais que isso: não participou de nenhum de dezenas de leilões de áreas públicas de São Bernardo durante o mandato de Orlando Morando. A MBigucci preferiu bater asas em direção a Santo André.