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Economia

DANIEL LIMA - 12/09/2022

O primeiro ciclo do governo federal petista segue sendo condensado nos pontos mais relevantes do Grande ABC nessa minissérie. Os oito anos de Lula da Silva, de crescimento econômico da região, sempre tendo como referência os estragos deixados pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, foram contrapostos pelo fracasso na implantação da Universidade Federal do Grande ABC (UFABC). 

Mostramos na sequência duas das dezenas de textos que produzimos sobre a UFABC na região. Desde antes da implantação do projeto até o ano de 2012. Os resultados subsequentes, mais próximos destes dias, ficarão para a segunda etapa, quando os seis anos do governo de Dilma  Rousseff serão avaliados. 

Lamentavelmente, o desempenho da UFABC é um fracasso anunciado por este jornalista, à frente, então, da revista de papel LivreMercado, antecessora deste CapitalSocial digital.  

Uma leitura atenta do que se segue dará a dimensão sustentável do quanto a UFABC pode ser catalogada como um desperdício de investimentos federais na região.  

Afinal, no ponto que mais interessava e continua a interessar (o Desenvolvimento Econômico de uma região em processo continuado de esfacelamento produtivo e de qualidade de vida) a universidade praticamente nada realizou.  

 

Universidade Federal é boa para

o ego regional; e para o bolso? 

 DANIEL LIMA - 17/06/2005

 

Ainda não tenho razões consolidadas para afirmar com a certeza certeira dos comedidamente otimistas que a UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) resolverá pelo menos parte de nossos problemas socioeconômicos. Sim, porque se a função da instituição não for planejadamente essa, ou seja, de nos retirar da penumbra depois do apagão fernandohenriquista, não teria sentido despender-se tanto dinheiro. 

Chegaremos, como se sabe, a estimados R$ 150 milhões anuais para a manutenção da obra acadêmica, quando a UFABC estiver a plena carga com 20 mil alunos. Com esse dinheiro, regularmente aplicado durante duas décadas em reestruturação econômica, o Grande ABC provavelmente reequilibraria forças econômicas duramente abaladas nos anos 90. 

GRANDE ENRASCADA 

Por que desconfio de que a UFABC é uma grande enrascada em vez de encaminhar soluções? Reconheço que a autoestima de Gata Borralheira do Grande ABC necessita doidamente da universidade, para que possa exibi-la ao Brasil varonil que imagina ser a região uma obra prima de comprometimento social. A UFABC nos retiraria, pressupostamente, do isolamento acadêmico público de nível superior, segundo versões mais ufanistas. Por que então desconfio? 

Porque os gestores da obra ainda ontem beijada e lambuzada pelo presidente da República, segundo relato de hoje do Diário do Grande ABC, não têm a intimidade necessária e o conhecimento básico dos pontos positivos e negativos da economia da região. 

DESPREZO À PLURALIDADE 

Ora, sem conhecer o terreno regional, é excesso de confiança acreditar que aqui se plantando tudo dá. A concepção pedagógica da UFABC deveria suprir-se de série de debates dos quais participassem agentes privados de áreas vitais da economia regional, como autopeças, montadoras, cosméticos, química e petroquímica, e, por que não, titulares de universidades privadas e públicas municipais que colocam a mão na massa diariamente. 

Os primeiros poderiam dar encaminhamentos mais pragmáticos à operacionalização curricular da UFABC, voltados para aperfeiçoamento, complementaridade e ineditismos na associação de interesses entre capital e academia. Os segundos impediriam sobreposições curriculares que tornariam os investimentos federais mais produtivos. 

ASSOCIAÇÃO COMPULSÓRIA 

Dissociar a implementação da UFABC das necessidades de reestruturação econômica do Grande ABC, cujas dores dos efeitos da globalização ainda não terminaram, é um risco que se comete ao se alinhavar as áreas em que a escola superior em fase de aprovação pelo Senado se apresenta como salvação da lavoura regional. 

Sem entrar em detalhes sobre as grades anunciadas pelo Ministério da Educação, saltam à vista movimentos sincronizados na mesma direção, o primeiro ao enfatizar o caráter tecnológico da iniciativa e o segundo ao transparecer que se formatou um pacote padrão supostamente encaixado às prioridades do Grande ABC. O problema é que o cruzamento desses dois vetores não oferece garantida de que os formandos atenderão às demandas do mercado regional e, pior dos mundos, que terão demanda para preencher. 

CRIOULO DOIDO  

A linha de montagem do processo de criação da Universidade Federal do Grande ABC foi um samba do crioulo doido. Vá lá que os trâmites políticos para chegar à consumação da proposta com a assinatura do presidente da República tenha sido competente, até porque seria atestado de dispersão desprezar a presença histórica de um representante regional no posto máximo em Brasília. 

O drama que alguns ainda tentam disfarçar foi a inútil e descartada operação curricular entregue à então presidente do Consórcio de Prefeitos do Grande ABC, Maria Inês Soares, à época chefe do Executivo de Ribeirão Pires. 

PROFESSORA DO CAOS 

Professora que não sabe diferenciar entre produção e produtividade, Maria Inês fez do encaminhamento técnico da UFABC festival político, com assembleias populares e inconsequentes durante o período eleitoral. Chegou ao cúmulo de anunciar um grupo de trabalho do qual não constava sequer um representante das cadeias produtivas mais importantes da economia regional. 

É verdade também que os representantes da livre-iniciativa do Grande ABC — entidades de classe, principalmente — mais uma vez deram provas de que não conseguem sair dos respectivos casulos corporativos. Durante todo o período de ensaio geral para a UFABC os dirigentes empresariais se mantiveram na situação do motorista que, sinal vermelho, observa passivamente o condutor do veículo ao lado ser assaltado por trombadinhas do trânsito. A paralisia no infortúnio criminal desses dias tempestuosos até se justifica, porque ninguém está a salvo de elevar as estatísticas. 

OMISSÃO TOTAL  

Já no caso institucional é diferente. Trata-se, de fato, de quase incontornável vocação à omissão entre outras razões para não ferir melindres ou em muitos casos também porque produz inibição e constrangimento a intimidade entre parte dessas instituições e o Poder Público. 

Gostaria de estar imensamente enganado. Afinal, não se trata de competição o ato de escrever favoravelmente ou contrário à iniciativa de dirigentes petistas do Grande ABC. A impressão é que se projeta o teto de uma casa ainda sem alicerces definidos. 

Precisamos reestruturar a base econômica da região conforme as sacolejadas macroeconômicas que agitam a embarcação automotiva, principal fonte de nossa riqueza produtiva. Estamos perdendo posições a cada nova rodada de investimentos internacionais globalizados que privilegiam China, outros países asiáticos e também o Leste Europeu. 

E OS EMPREGOS?  

Desconfio de que vamos diplomar tecnólogos para empresas que estarão em outra geografia econômica, porque empregos aqui não teremos disponíveis para atendê-los. Ainda não se descobriu a fórmula mágica para dar empregos numa região em que escasseiam empreendimentos. Vai nos custar muito caro cada diplomado da UFABC. Nossa capacidade de absorção, já extremamente escassa, provavelmente será ainda mais estreita no futuro próximo. 

Não temos um plano de voo de dinamismo econômico regional que contemple especificidades municipais. O suprimento de mão-de-obra qualificada, que adviria da UFABC, seria um desperdício. Aliás, já é um desperdício mesmo sem a UFABC mas com o mercado de ofertas das universidades já instaladas. Nossos universitários viraram pau para toda obra num mercado de trabalho tão exigente em qualificações acadêmicas como retraído em remuneração exatamente porque abundam desempregados e contraem-se vagas. 

A Universidade Federal do Grande ABC infla nosso ego gataborralheiresco, mas continuaremos de bolsos vazios porque Educação e Economia são irmãos siameses do desenvolvimento sustentado. Estamos ensaiando passos unilaterais. A lógica é do tropeço. 

 

UFABC fracassa por culpa do

PT e dos coronéis da Província 

 DANIEL LIMA - 10/08/2012

 

O fracasso pedagógico, curricular e também institucional da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) é de inteira responsabilidade da classe política da Província do Grande ABC, em especial do PT, e também dos coronéis que trataram aquele que poderia ser um grande diferencial à recuperação econômica com desdém ou com interesse partidário exacerbado.  

O desabafo não tem nada a ver com suposto oportunismo, por conta da avalanche de greves no setor público, inclusive na UFABC. Trata-se de mais um balanço que faço dessa escola que confirma o Complexo de Gata Borralheira de uma região que se pretendeu de vanguarda no País. Pura bobagem e jogo de cena dos tempos dos metalúrgicos que, ao contrário do que propagaram, estavam preocupados apenas e legitimamente com os próprios bolsos.  

Aliás, o então presidente Lula da Silva se referiu aos tempos de sindicalismo exatamente nestes termos. 

LONGO COMBATE  

Alguns pontos precisam ser enfatizados neste texto. Leitores desta revista digital aparecem do nada, o que acho muito bom, mas de vez em quando causam algum tipo de estresse a exigir explicações em mensagens eletrônicas privativas. O principal aspecto que dá suporte a este artigo é que sou um velho combatente do modelo da UFABC.  

Aliás, o mais antigo, renitente e empedernido. Tudo muito natural, porque acompanhei de perto (e escrevi muito) sobre as baboseiras que marcaram os bastidores e as ações oficiais rumo à aprovação desse que seria um monumento à convergência de grande parte da agenda da regionalidade da Província do Grande ABC.   

VOCAÇÃO EXPLÍCITA  

Já em sete de agosto de 2004, antes portanto da instalação da UFABC, escrevi um artigo na coluna “Contexto” no Diário do Grande ABC (onde era diretor de Redação) sob o título “Obviedade plástica”. Adverti com a ênfase conhecida (e muitas vezes combatida, quando não levada à Justiça pelos prevaricadores sociais de sempre): “Tem-se a impressão de que as trapalhadas jamais se esgotarão porque se retroalimentam da improvisação. Agora, o que se programa no festival de desvio de foco recheado de populismo disfarçado de democracia são audiências públicas nos legislativos da região”.   

Recuperando aquele artigo, e explicando os parágrafos entre aspas catapultados a este texto, estava me referindo à iniciativa da então presidente do Clube dos Prefeitos, Maria Inês Soares, petista então prefeita de Ribeirão Pires.  

FESTIVAL POLÍTICO  

Ela tomou a decisão de transformar em atos políticos e eleitorais a expansão dos debates sobre a criação da UFABC a plateias de parcos conhecimentos específicos, quando o bom senso e a cautela indicavam que deveria compor-se com núcleos de especialistas em competitividade de educação e econômica.  

Competitividade sim, escrevi, “porque é exatamente esse facho de luz que deve nortear a identificação de preciosidades teóricas que nos retirem da escuridão prática em que nos encontramos”.  A justificativa para o título daquele artigo (“Obviedade plástica”) foi construída parágrafo por parágrafo, mas provavelmente o que menciono em seguida seja o mais definidor: “Diferentemente de um ou outro protagonista do jogo econômico do Grande ABC, incapaz de perceber o aporte de novos insumos químicos e petroquímicos que estará na alça de mira dos investimentos no Polo de Capuava, escancara-se a porta de uma vocação compulsória da UFABC.  

MAPA DA MINA 

Sim, a conversão de insumos petroquímicos em material plástico, cujo aproveitamento industrial é subestimado no Brasil, é o mapa da mina da reação do setor de transformação do Grande ABC sob bases empregatícias, não apenas de geração de tributos. 

O consumo de material plástico no Brasil não chega a 40% da média dos países mais industrializados. Temos, portanto, uma ampla e confortável pista para imprimir velocidade e romper a fita de chegada num horizonte de década e meia”, escrevi.  

Parafraseando Roberto Carlos, foram tantas as emoções que cercaram a aprovação e a modelagem da Universidade Federal do Grande ABC que talvez tenha faltado mesmo, ou faltou de verdade, racionalidade.  

TUTELA PETISTA 

Mas o que fazer se a classe política da Província deixou-se engolfar pela tutela petista no projeto, uma tutela perniciosa porque seguiu uma retórica de falsa democracia? 

E os coronéis provincianos então, encastelados (muitos deles ainda continuam por aí a mandar e a desmandar ante covardes que fazem de tudo para imaginar que estão de pé, quando dobram os joelhos a cada esquina) nas respectivas corporações?  

SEM EMPRESÁRIOS 

Simplesmente aceitaram que uma comissão montada pelos petistas excluísse qualquer representação empresarial, num jogo de cartas marcadas e de resultados que só poderiam ser o que temos desde que a UFABC ganhou concreto, alunos e professores na Avenida dos Estados e aos poucos se espalha pela região.  

Não fosse tudo isso uma barbaridade, as subsedes da UFABC são saudadas com o mesmo entusiasmo dos indígenas ante o desembarque dos invasores travestidos de descobridores.  

PURA ENGANAÇÃO 

Hão de dizer os enroladores de sempre que a UFABC está alterando a rota do desastre de regionalidade anunciada, com alguns cursos voltados à realidade econômica e social da Província do Grande ABC. Tudo não passa de manobras diversionistas, para tentar amenizar a pressão dos raríssimos opositores. 

Menos mal que os próprios petistas, raiz ideológica e partidária da desídia, começam a se dar conta de que a UFABC é um estorvo para a Província do Grande ABC, porque o dinheiro que o governo federal canaliza para sustentá-la é debitado na conta dois de transferência aos sete municípios da Província. 

DINHEIRO DESPERDIÇADO  

Quanto dinheiro desperdiçado com uma maioria de alunos (cerca de 80%) sem entranhamento com a região e uma quase totalidade de cursos que fogem completamente dos cromossomos de desenvolvimento econômico de quase três milhões de pessoas.   

Foi por conta de todo um histórico de tranqueiras em forma de planejamento que, ao empunhar o microfone na manhã de anteontem para formular uma pergunta a um dos prefeituráveis de Santo André, coincidentemente Carlos Grana, deputado estadual petista que pretende tomar o posto do petebista Aidan Ravin, não pude resistir à coceira do inconformismo de bater forte na UFABC. A reação de Grana foi em forma de promessa de que, ele prefeito, tudo mudará, com mobilização dos Executivos da Província.  

OMISSÃO GERAL  

Embora o candidato me mereça respeito, tenho sérias dúvidas sobre isso, porque o PT não tem vocação a redirecionamentos mais que flagrados em desatinos de Inteligência, enquanto os outros políticos, de outras agremiações, não querem meter a mão numa cumbuca da qual foram barrados do baile e na qual pouco se empenharam a colaborar.   

Sabem os leitores o que é regionalidade para a cúpula da UFABC? Basta ler a notícia estampada em manchete de página do jornal ABCD Maior, de vertente de centro-esquerda, editado em São Bernardo: “UFABC discute fronteiras”.  

QUE EXEMPLO!! 

Faço questão de reproduzir alguns parágrafos para que, quem estiver de queixo em pé fique de queixo caído, de decepção:  “Fronteiras e segurança na América do Sul: perspectivas regionais”, foi o tema da aula pública nesta segunda-feira (06/08) pela UFABC (Universidade Federal do ABC). A atividade faz parte do ciclo de debates “Desigualdade Regional e as Políticas Públicas” (...). Especialistas de cinco regiões do Brasil participaram da discussão, que destacou a preocupação com o que acontece nas fronteiras brasileiras, como tráfico de drogas e de armas. “As fronteiras estão bem delimitadas, o problema é o que acontece nelas. São problemas não tanto de defesa, mas de segurança pública que estão afetando o Brasil, avaliou o professor e mediador do debate, José Blanes Sala. Blanes Salas destacou que a questão não está tão distante da realidade do ABCD como pode parecer, já que a Região está próxima da região portuária de Santos. Além disso, existe a participação de São Bernardo na produção e pesquisa no setor de defesa. Desde o ano passado a cidade possui o CISB (Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro). Os investimentos na Região podem aumentar caso o modelo sueco de caça supersônico seja o escolhido pela presidente Dilma Rousseff para equipar a Força Aérea Brasileira. “O ABCD quer ser um polo de tecnologia industrial avançada. As universidades, como a Federal do ABC, podem contribuir com cursos de engenharia em áreas importantes de tecnologia avançada, aeroespacial, meio ambiente. O ABCD tem a possibilidade de conseguir um espaço importante de discussão na área de defesa no Brasil” – afirmou o professor.   

DESCASO PEDAGÓGICO  

Reproduzida a matéria do ABCD Maior, alguns esclarecimentos se fazem necessários, mesmo que breves:  

a) o professor entrevistado apenas confirma o descaso pedagógico e curricular da UFABC com o território que a sedia;  

b) o polo de defesa pretendido pelo prefeito Luiz Marinho sofreu duro revés cronológico porque os investimentos do governo federal estão suspensos;  

c) o centro de pesquisa mencionado está longe, longe mesmo, de qualquer coisa que possa ser catalogada, por enquanto, como instrumento de implementação do suposto polo de defesa. É uma iniciativa importante, mas que vive quase que embrionariamente, quando, infelizmente, o problema econômico da Província está pelo menos duas décadas a saltar aos olhos e aos bolsos.



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