Prepare-se para a edição do último (seria mesmo o último?) capítulo da segunda temporada da série relacionada ao Complexo de Gata Borralheira do Grande ABC. Denominada “Uma vez Borralheira, sempre Borralheira”, a série retrata em forma de alegoria a realidade do Grande ABC. Há promessa de que será um capítulo de surpresas.
Seria o décimo-segundo capítulo da segunda temporada o capítulo final mesmo?
Afinal, quem garante que entre as novidades o personagem “Grande ABC”, que comanda o encontro, não decidirá mudar o roteiro inicialmente traçado de programar uma nova temporada dentro de alguns anos, em intervalo muito mais breve que os 20 anos que separou a primeira e a segunda temporada? Quem pode garantir que a atual temporada não teria mais um capítulo?
VINTE ANOS DEPOIS
Passaram-se 20 anos desde que Complexo de Gata Borralheira foi lançado em formato de livro impresso. “Uma vez Borralheira, sempre Borralheira” se tornou nova etapa de avaliação dos principais temas do Grande ABC.
A primeira temporada, a do livro impresso lançado numa noite de 16 de abril de 2002 num Teatro Municipal de Santo André completamente lotado, foi transformada em leitura dramática.
O palco do Municipal foi tomado por atores profissionais que homenagearam o prefeito Celso Daniel. Era a data de aniversário do maior prefeito regional do Grande ABC.
QUEBRA-CABEÇA
A segunda temporada do gataborralheirismo do Grande ABC chegará ao décimo-segundo capítulo nesta quarta-feira tendo como ponto mais instigante uma dúvida que incomoda todos os personagens.
O que Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Estado de São Paulo e Cidade de São Paulo vão fazer com as peças de quebra-cabeça que receberam de assessores do personagem Grande ABC após o chá da tarde?
Os protagonistas se encaminham às cabines individuais invioláveis. E deveriam, em 30 minutos, dar conexidade às peças recebidas numa valiosa caixa de madeira, chamada de porta-joias porque um verdadeiro tesouro, ou vários tesouros, estariam acondicionados.
QUANTAS PEÇAS?
Quantas peças de quebra-cabeça cada personagem teria disponível? O que surgiria ao fim de cada montagem? O que cada montagem representaria? Teremos uma configuração única e coletiva pós-complementação sincronizada das peças do brinquedo ou cada personagem obterá um determinado resultado, diferente dos demais?
Esses questionamentos e outros mais serão tratados na edição de “Uma vez Borralheira, sempre Borralheira” desta quarta-feira. E é nesse ponto que o tensionamento deverá tomar conta do ambiente.
O chá-da-tarde não teria sido complementado por uma experiência de formato lúdico das mais satisfatórios. O que, afinal, teria ocorrido na montagem do quebra-cabeça recebido por cada convidado? O que deu de resultado cada quebra-cabeça?
FINAL MESMO?
Tudo é possível na construção do texto que preparei neste final de semana. Há conjecturas que podem levar a conclusões precipitadas ou o enredo do capítulo final (final mesmo?) é previsível?
Tudo vai depender de respostas dos personagens da ficção. A mesa retangular no Residencial Grande ABC comporta 10 participantes. O encontro foi marcado para o território do Grande ABC depois de, há 20 anos, realizar-se num hotel-fazenda no Interior do Estado. E o personagem Grande ABC tomou a liderança do encontro porque finalmente descobriu que sem que a integridade do território vire prioridade, nada terá sentido em qualquer debate, diagnóstico, planos e ações sobre regionalidade.
ONZE CAPÍTULOS
Por enquanto, em mais de 200 mil caracteres que reproduzem diálogos dos 11 capítulos já publicados, não houve ruptura na hierarquia do encontro. O Grande ABC dirige o espetáculo, instalado na cabeceira superior de imensa mesa retangular.
O Estado de São Paulo ocupa a cabeceira inferior, ou seja, na outra ponta do retângulo. Os sete municípios do Grande ABC e a Cidade de São Paulo estão distribuídos nas laterais da mesa. São Bernardo e a Cidade de São Paulo estão mais próximos do Grande ABC, cada um de um lado. O poderio econômico é prioritário na distribuição de poderes.
Essa distribuição ocupacional é emblemática de disputas idiossincráticas que caracterizam o Grande ABC ao longo da história. A Cidade de São Paulo aceitou as regras do jogo sugeridas pelo personagem Grande ABC porque se sente tão superior aos “sete anões” que não se incomodou. Nem o Estado de São Paulo se opôs a se instalar numa cabeceira inferior. O anfitrião Grande ABC não foi contestado.
INFORMAL E PEDAGÓGICA
Como na primeira temporada de 20 anos já passados, o gataborralheirismo do Grande ABC é tratado de forma informal, pedagógica.
A alegoria da primeira versão em livro físico e a segunda em formato de livro digital é metodologia acessível a leitores de todos os níveis educacionais, mas principalmente a jovens e crianças.
Os universitários também têm muito a ganhar em conhecimentos. O que dizer então, principalmente, de autoridades públicas. Como compreender qualquer projeto político sem levar em conta a regionalidade?
A segunda temporada do gataborralheirismo do Grande ABC trata da regionalidade do Grande ABC sem hesitação. Toca nas feridas profundas que impedem os sete municípios de darem um salto de quantidade na direção de ganhos sistêmicos de capacitação nesta terceira década de novo século. As duas primeiras décadas são uma enxurrada de danos e perdas.
RIVALIDADES INTERNAS
Tentar entender o Grande ABC tanto historicamente quanto neste século sem passar pelas páginas de gataborralheirismo regional talvez seja uma missão mais complexa do que parece.
Tanto “Complexo de Gata Borralheira” quanto “Uma vez Borralheira, sempre Borralheira” têm intimidade com os fatos numa narração leve, muitas vezes sarcástica, abusivamente contrária ao politicamente correto.
As rivalidades internas estão ali. Mais na segunda temporada do que na primeira. Santo André e São Caetano não se bicam por causa de rescaldos do emancipacionismo dos anos 1950. Como São Bernardo e Diadema.
BRINCADEIRA SÉRIA
E Santo André versus São Bernardo no campo econômico e político? Rio Grande da Serra sofre de duplo Complexo de Gata Borralheira. O original, que é regional, e o suplementar, derivado de ser “pequenininha”, como enfatiza a cada intervenção.
Ribeirão Pires, vizinha de Rio Grande da Serra, lhe é solidário. Como Mauá se relaciona com Santo André não só por conta da geografia e da gênese emancipatória, mas sobretudo porque o Polo Petroquímico de Capuava salva os cofres das duas prefeituras. E assim vai-se consumindo cada edição.
O gataborralheirismo do Grande ABC é um drama em forma de brincadeirinha. Fazer da derrapagem coletiva que vem do século passado um mergulho no mundo da fantasia talvez seja a fórmula mais eficaz de tocar corações e mentes que, ante a realidade, acreditam em Papai Noel. Ou seja: fazer de brincadeirinhas coisas sérias, e tratar coisas sérias como brincadeirinhas possivelmente se traduzam no melhor caminho da roça rumo à cidadania regional. É acreditar ou perecer de vez.