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Sociedade

DANIEL LIMA - 01/06/2022

GRANDE ABC – Desculpem a mudança da programação. Tinha prometido que iriamos almoçar, mas o pessoal do restaurante pediu mais uns 60 minutos para dar conta do recado. Espero que vocês entendam. É o pessoal aqui do próprio Residencial Grande ABC que está cuidando do rango. Não estamos vivendo tempos de glória, como todos sabem. Não temos mordomias de um hotel-fazenda como há 20 anos. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Não se preocupe, Grande ABC. Viemos aqui para colaborar e não seria um atraso qualquer do almoço que atrapalharia nossos planos. Uma comida caseira é até melhor. 

GRANDE ABC – Agradeço e vou pedir desculpas de novo porque pretendia e pretendo botar as redes sociais em debate depois do almoço. E como o almoço vai atrasar, vamos tratar de outra coisa até que a cozinha libere o almoço.  

DIADEMA – Minha sugestão é que tratemos das eleições presidenciais. O Lula está pronto para voltar à Brasília. 

GRANDE ABC – Escuta aqui, Vermelhão. Essa não é nossa agenda. Já ficou claro que trataremos dos interesses do Grande ABC. A eleição presidencial não é de nossa alçada, porque Brasília é uma ficção. Nós é que fazemos Brasília existir e, também, todos que para Brasília deslocam. Inclusive o ex-metalúrgico de São Bernardo. Ele virou presidente duas vezes e liderou o PT durante uma década e meia em Brasília, até que a Dilma fez o estrago que fez.  

SÃO BERNARDO – Desculpe, Grande ABC, mas desta vez acho que vou ficar com minha vizinha indigesta e enxerida. Diadema tem razão. Brasília pode até não existir, porque o que tem lá é o que somos aqui e nos demais municípios brasileiros, mas não podemos ignorar a disputa presidencial. Sempre há uma fatura a vencer quando Brasília, existindo ou não, entra em campo. 

SANTO ANDRÉ – Sei que o interesse nessa mesa deve ser concentrado no que somos e no que pretendemos. Sobre isso não há dúvida, mas deixar de lado a briga eleitoral pela presidência e mesmo pelo governo do Estado não é uma boa ideia, caro Grande ABC.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Sou forçado a dizer que Diadema, São Bernardo e Santo André têm razão, caro Grande ABC. 

MAUÁ – Também acho. 

RIBEIRÃO PIRES – Penso o mesmo. 

RIO GRANDE DA SERRA – Estou com a maioria que, parece, é a totalidade. 

SÃO CAETANO – Sem dúvida é a totalidade, porque também acho que é importante discutir quem vai ocupar o Palácio dos Bandeirantes e o Palácio do Planalto.  

GRANDE ABC – Tudo bem, tudo bem. Mas vamos fazer o seguinte: falaremos agora de disputas eleitorais para a presidência e em seguida, depois do almoço, vamos voltar ao que programamos, ou seja, às questões das redes sociais. Sobre a disputa estadual, vamos deixar para outra etapa. Combinado? Ótimo. 

DIADEMA – Alguém tem dúvida de que o Lula vai dar um jeito no Grande ABC, pelo menos no campo econômico, porque ele conhece bem o que somos? 

SÃO BERNARDO – Tenho dúvida. Ele nasceu aqui politicamente, embora jamais tenha sido eleito a qualquer cargo público aqui. O Lula tem muita história, mas quero dizer uma coisa que vai chocar Diadema e quem pensa como Diadema. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Não vai dizer que vai dizer mais ou menos o que pretendo dizer? 

SANTO ANDRÉ – Que troca de palavras interessante e instigante, Estado de São Paulo. Gostei da fonética. 

SÃO CAETANO – Escute vizinho invejoso, aqui não tratamos de fonética. Nosso negócio é, como diria o centroavante Dario Maravilha, nosso negócio é a solucionática, porque a problemática é emaranhadíssima. 

MAUÁ – Se até São Caetano está desfilando ares de espirituosidade, conservadora que é de cabo a rabo, só posso decifrar esse nosso ambiente como um convite a resoluções sem traumas.  

CIDADE DE SÃO PAUO – Vamos lá, São Bernardo. Conte o que tanto o incomoda quando se fala em Lula da Silva voltar à presidência? 

SÃO BERNARDO – Estou sempre cutucando meus cromossomos, divididos entre o azul e o vermelho. Às vezes o vermelho me toma conta. Tenho um lado de endorfina que adora o Lula da Silva, mas a razão deve prevalecer. Mais que a razão, a reflexão. Meu lado racional diz que não adianta Diadema vir com esse proselitismo favorável ao Lula, com esse voluntarismo engajado no Lula, porque os 14 anos do PT federal aqui, e mesmo em Diadema, para não dizer o restante do Grande ABC, não foram nada satisfatórios. O PT deixou uma bomba-relógio que já explodiu e ainda não encontramos o rumo do Desenvolvimento Econômico, pátria de todas as temáticas.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Se continuar nessa toada, acho que Diadema fez péssimo negócio ao meter o Lula nessa reunião.  

SANTO ANDRÉ – Também acho. 

SÃO CAETANO – Não só acho como tenho certeza. 

SÃO BERNARDO – E olha que, por enquanto, não invadi a área da ética e da moralidade. Estou tocando apenas o terreno econômico. Quando chegar às interferências regionais do governo petista em Brasília, o quadro será ainda mais dramático. Repito que esse é meu lado racional. 

DIADEMA – Isso é pressão de quem não tem o que falar. 

SÃO BERNARDO – Como não tem o que falar? Você sabe muito bem o quanto nossa indústria caiu nos 14 anos do PT. A sua e a minha. Para não dizer de Santo André, São Caetano e os demais.  

MAUÁ – Demais não, porque me dei bem com o PT. 

GRANDE ABC – Essa história conheço bem, Mauá. Você só se deu bem porque o governo Lula recebeu de herança do Fernando Henrique Cardoso o aumento de produção do Polo Petroquímico de Capuava, que representa perto de 60% de suas receitas. Com um presentão desses qualquer um sabe como tocar a vida pública.  

SANTO ANDRÉ – Também fui beneficiado pelo Polo Petroquímico e os investimentos setoriais que vieram em seguida, mas meus dados são menos lustrosos. Primeiro, porque recebo menos recursos fiscais do que Mauá em termos proporcionais ao orçamento geral. Segundo porque continuei a perder indústrias de várias atividades sem encontrar até agora o rumo da reação. Meu setor de serviços é a baba do ovo em matéria de produtividade e renda. Não posso esconder isso de ninguém, embora meu lado triunfalista faça tudo para enganar o distinto público.  

SÃO BERNARDO – Não podemos cair na armadilha de Diadema. O fato incontestável é que o Grande ABC se deu mal durante o governo federal do PT. Parecia impossível que o balanço final fosse negativo depois de, no segundo mandato, o Lula ter estourado em sucesso com o crescimento da arrecadação, bombado que foi pela exportação de commodities, entre outros fatores. Mas o mesmo Lula deixou uma bomba de efeito retardado de crescimento do PIB que a Dilma detonou de vez. Caímos como Pais em dois anos de recessão. Aqui no Grande ABC ainda estamos colecionando perdas.  

DIADEMA – Está vendo, Estado de São Paulo? Está vendo? Veja como você tem parceiras maledicentes para metralhar o PT. Mas isso vai acabar esse ano, porque nosso candidato, finalmente, vai chegar ao Palácio dos Bandeirantes. É o líder das pesquisas. São Bernardo é muito ingrato com o uso desse negócio de enrolação chamado de racionalidade.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Calma Diadema, calma que o jogo ainda está longe de ser consumado. Posso até deixar de ter uma tonalidade que parecia eterna de azul, mas ainda acho que não vamos cair no extremo de vestir vermelho, qualquer tonalidade de vermelho. Tem um amarelo chegando aí. Mais que isso, reconheço, também tem um lilás, por assim dizer, que flerta com o vermelho do PT mas tem vida própria. O Márcio França está longe de ser vermelho como você.  

GRANDE ABC – Por gentileza, peço que não falem sobre eleições no Estado de São Paulo. Vamos deixar isso para mais tarde. Vamos nos concentrar na pauta de Diadema.  

SÃO BERNARDO – Quero voltar a falar do governo petista em Brasília. Sou o endereço-testemunha de barbaridades neste século. Foram uma década e meia de intensas oscilações no meu tecido industrial, que gera a maioria dos bons empregos não só internamente, mas também no Grande ABC como efeito-multiplicador. Conseguiu o PT do Lula e companhia a proeza de deixar o estoque de emprego industrial abaixo do Fernando Henrique Cardoso, que foi um desastre. Tanto foi um desastre que levou o PT nadar de braçadas em meu território nas disputas eleitorais. 

GRANDE ABC – E aí, Diadema, não vai dizer que escapou dessa degringolada? 

DIADEMA – De forma alguma. Reconheço que tropeçamos no tomate. Achamos que o jogo está mais que ganho com o Lula na presidência, mas reconheço que a Dilma fez inúmeras lambanças, até ser defenestrada. Quanto a isso não posso negar. Mas não quero que me perguntem sobre isso porque somente os oito anos do Lula é que podem ser contabilizados como anos do PT em Diadema, no Grande ABC e no Brasil. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Viram como o PT está sempre dando um jeito de escapar de situações incômodas? Essa história do Lula dizer que o relógio é do amigo, que o apartamento é do amigo, que o sitio é do amigo, isso é mais que desculpa esfarrapada, é uma alucinação que se pretende cognitivamente saudável. Os loucos somos nós, vejam só?  

GRANDE ABC – O que mais lamento é que durante todo o tempo em que o PT foi federal, e quando falo federal não estou querendo fazer troça e dizer que era federal no âmbito policial, o que mais lamento, como ia dizendo, é que o PT não tenha tido na região, em lugar algum da razão, um plano econômico para nossa recuperação. Antes do Lula virar presidente só falavam nisso. O Lula ganhou, babau. 

SÃO BERNARDO – A bem da verdade o PT plantou o ideal de uma indústria de defesa em meu território, mas não deu certo. 

GRANDE ABC – Pare com isso, São Bernardo. Seu lado metalúrgico quer nos levar a acreditar que aquele projeto seria a ressurreição do Grande ABC? Pare com isso. O que deixaram de legado nessa área foi uma fabricazinha sem potencial para mudar uma vírgula o processo de desindustrialização que, aliás, o mesmo Lula ajudou a patrocinar lá atrás, quando era sindicalista.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Não queria botar minha colher nessa questão paroquial dos sete anões, mas acho que Diadema está se lascando toda ao pautar o Lula nessa conversa. Parece não haver dúvida de que houve uma catástrofe na região durante aqueles quase 15 anos. 

GRANDE ABC – Quanto a isso, não tenha dúvida. Perdemos economicamente menos que durante os oito anos do Fernando Henrique Cardoso, que antecedeu o Lula na presidência da República, mas voltamos a perder empregos e PIB Industrial. Ora, quando se perdem tanto uma coisa quanto outra tendo como base anterior o desastre do FHC, é claro que o fracasso dos petistas foi uma calamidade.  

MAUÁ – Ainda bem que sou menos dependente de veículos que o resto da turma dessa mesa. Aqui minha arrecadação é cada vez maior com químicos e petroquímicos. Quanto mais o óleo diesel sobe, quanto mais a gasolina sobe, mais sobem meus indicadores de receitas. Pode até acontecer de outros setores estarem em pandarecos, mas para meus cofres, particularmente para meus cofres, o que interessa é a massa de dinheiro que entra na contabilidade da Prefeitura. 

GRANDE ABC – Mauá, Mauá, você fala como se fosse apenas o Poder Público. Aliás, como todos os demais daqui. Mas não é assim que funciona. Se outras atividades econômicas vão mal e são mascaradas pela eficiência química e petroquímica, isso não quer dizer que a realidade é positiva. 

SANTO ANDRÉ – O Grande ABC tem razão, cara vizinha petroquímica. Também sou portador da Doença Holandesa Petroquímica e Química, com vantagens e desvantagens, mas como sou menos favorecido pelos tributos petroquímicos, não dá para esconder problemas em outros setores produtivos. Já perdi muitas atividades econômicas em 40 anos. Minha indústria de móveis desapareceu. De têxteis também. Entre outras. Sei bem o que é ficar dependente demais de uma determinada atividade.  

SÃO BERNARDO – Sabe pouco, Santo André, sabe pouco. Sei muito mais. Perdi toneladas de PIB Industrial ao longo deste século. Minha Doença Holandesa Automotiva é muito pior que sua Doença Holandesa Química/Petroquímica. Por isso, minha sensibilidade em relação ao Lula da Silva e ao Fernando Henrique Cardoso está sempre aguçada. Diadema também deveria ser assim, não fosse tão avermelhada e cega.  

GRANDE ABC – Em matéria de cegueira, diria que não faltam concorrentes aqui na região. Meus anões são ávidos por aparecer na mídia de forma sensacionalista. Quem não se lembra do caso do Aeroporto Internacional na área dos mananciais de São Bernardo? O Aeroportozão que virou Aeroportozinho?  

ESTADO DE SÃO PAULO – Aeroporto Internacional nos mananciais de São Bernardo? Na Serra do Mar? É isso mesmo? 

SANTO ANDRÉ – Vai dizer que você não sabe desse caso, Estado de São Paulo? 

ESTADO DE SÃO PAULO – Não sei mas quero saber agora. Também é obra do PT? 

SÃO BERNARDO – Infelizmente sou forçado a lamentar que abri esse flanco para Santo André, meu vizinho invejoso, deitar e rolar. Mas gostaria que esse assunto não fosse introduzido em detalhes nessa reunião. Vamos falar de outra coisa. 

SANTO ANDRÉ – Nada disso, São Bernardo. Você só quer aplausos? Assuma suas fanfarronices que não se limitam à grandiosa indústria de defesa que jamais existiu e jamais existirá porque não é a especialidade da casa. É como pedir camarão em restaurantezinho de beira de estrada que serve prato feito e nada mais.  

SÃO BERNARDO – Pediria encarecidamente, para não estragarem meu almoço, que a gente deixe esse assunto de lado. Me ajude, Diadema? 

DIADEMA – Não posso fazer nada porque também acho que você, meu vizinho de entranhas, andou se expondo demais na sede de mostrar que era o maioral da região durante o governo federal do PT. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Conte para nós, Grande ABC, conte logo. E deixe São Bernardo lamuriar à vontade.  

GRANDE ABC – Não tem muito o que contar além do que já foi dito. São Bernardo simplesmente anunciou em primeira página de jornal diário que iria construir em parceria com a iniciativa privada um aeroporto internacional nas imediações da Rodovia Imigrantes. Uma loucura que conflitava com aspectos centrais de meio-ambiente, viabilidade econômico e acessibilidade aérea. Com o Aeroporto de Congonhas tão perto, como se não bastasse o Aeroporto de Guarulhos, o anúncio de São Bernardo virou piada nacional. Mas tem gente que fala até hoje como se fosse a coisa mais séria do mundo.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Estão vendo? Isso é mania de querer competir comigo. Meu aeroporto pode não ser tão internacional como o de Guarulhos, mas é muito mais charmoso, disputado, requisitado e realçado. Quem iria se importar com um aeroporto mesmo que de grande porte na terra dos anões? 

GRANDE ABC – Calma, Cidade de São Paulo, não é bem assim. Não é porque somos sua sombra mal-acabada que não temos o direito de sonhar. O nosso problema, e conto isso com certa dor no coração, é que temos a mania gataborralheiresca de enfrentar nossos fantasmas da pior forma possível, ou seja, tendo alucinações. E o Aeroporto Internacional foi uma alucinação que gente descuidada transformou em notícia importante. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Mas não apareceu ninguém para atenuar o vexame? 

GRANDE ABC – Sim, houve quem se dispusesse a minimizar a bobagem, mas quando uma bobagem sai da boca e ganha manchete de jornal, primeira página de jornal, não há quem segure. É vexame mesmo. Falaram em seguida que o aeroporto seria para executivos, ou seja, de menor porte, mas não colou. Investidores sérios construíram um baita de aeroporto executivo na Rodovia Castelo Branco, bem longe daqui.  

DIADEMA – Agora quero me reposicionar contra essa chuva de críticas ao PT. Vocês estão pegando muito no pé do governo federal que comandamos durante tanto tempo. Acham que tudo foi ruim, apesar dos anos de ouro do Lula, e não olham para o próprio umbigo. Afinal, que fizeram antes do Lula e da Dilma? 

SÃO CAETANO – Seria melhor que esses dois não tivessem feito nada do que supostamente fosse bom. A herança maldita que disseram ser do Fernando Henrique Cardoso de fato é deles. E olha que ainda não falamos da Operação Lava Jato. 

GRANDE ABC – Nem vamos falar agora. Não há quem me convença de que o Sérgio Moro e sua turma tenham alguma coisa a ver com o Grande ABC deste momento, desta reunião.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Insisto em dizer que não quero interferir deliberadamente na pauta dessa reunião, porque sou um convidado sem compromisso tácito com o destino dos anões. Entretanto, caro Grande ABC, não há como separar uma coisa da outra, ou seja, a Operação Lava Jato está impregnada em cada pedacinho deste país. Não há como não dar importância ao que aconteceu. Até porque, e vocês são provas provadas de tudo isso, o estrago nas eleições de 2016 foi greve.  

DIADEMA – Devo reconhecer que sim. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Nem poderia, Diadema. Você é minha vizinha ao Sul, me dá uma mão de obra danada com seus indicadores de exclusão social que se misturam com minha periferia, é verdade, e não pode negar que a Lava Jato fez uma faxina no PT. Estou enganado ou vocês todos não ficaram com um único exemplar petista nas prefeituras em 2016 e só voltaram com duas representações quatro anos depois? Duas em sete endereços me parece muito pouco.  

SANTO ANDRÉ – Acertou em cheio, Cidade de São Paulo. Até parece que acompanha atentamente nossa vida política. Isso não é coisa de Cinderela que se preza. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Você está enganado, Santo André. Tenho olheiros direcionados a toda a Grande São Paulo. O que ocorre ao meu redor é valioso para mim. Como vou traçar correções em meu destino ocupacional se não verifico atentamente o que se passa no Grande ABC, na Grande Osasco, na Grande Guarulhos e em outros endereços? Até a Baixada Santista nos importa muito. 

GRANDE ABC – É isso que chamo de experiência a ser atentamente seguida. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Não vou dizer a vocês que sou uma maravilha de organização estratégica. Longe disso. Está aí minha bagunça em mobilidade urbana para comprovar falhas enormes de planejamento. Mas como centro nervoso da metrópole, o mínimo que posso fazer é observar atentamente meu entorno. Posso não reagir como deveria, mas estou atento. Até porque o Estado de São Paulo não está nem aí. Meu voto também é de baixa produtividade e o Estado de São Paulo tem muitos municípios para atender. 

ESTADO DE SÃO PAULO – Ainda bem que você, Cidade de São Paulo, deu uma corrigidinha. Se falasse que não faço nada, responderia que seria muita injustiça. Com tanta arrecadação, seria o fim da picada exigir que me dedicasse a seus problemas tendo o que tenho desde sempre, uma montanha de municípios carentes.  

GRANDE ABC – Calma a vocês dois. Não vamos desviar o foco. E nosso foco são os sete anões, como vocês tanto falam. De vez em quando nossa pauta sofre avaria, e isso não é nada interessante. Chamar a Cidade de São Paulo e o Estado de São Paulo a um encontro tendo como contraponto a choradeira que se ensaia, cá entre nós, não dá mesmo.  

CIDADE DE SÃO PAULO – Concordo com você, Grande ABC. Não só concordo como, também, quero me divertir. E não há nada melhor do que a desgraça alheia, principalmente de vizinhos tão divisionistas, não é verdade? Além da indústria de defesa de fantasia e do Aeroporto Internacional nos mananciais, deve ter mais coisas para a gente tirar o sarro. 

GRANDE ABC – Você não tem ideia, caríssima Cinderela. Temos uma coleção de asneiras de administradores públicos na região ao longo dos anos que, sem dúvida, fariam parte de uma coletânea do Stanislaw Ponte Preta, aquele personagem de um jornalista carioca, o Sérgio Porto, que criou o Febeapa, Festival de Besteira que Assola o País. Aqui também temos coisas desse tipo. 

CIDADE DE SÃO PAULO –Ninguém nunca se preocupou em registrar esse lado folclórico, por assim dizer, de todos vocês borralheiras? 

GRANDE ABC – Temos aqui um jornalista que organizou durante três ou quatro anos o que chamou de Observatório de Promessas e Lorotas. Se vocês toparem, a gente pega uns quatro exemplos para não dizerem que estamos perseguindo o PT durante o governo do PT federal e do Luiz Marinho como prefeito. 

SANTO ANDRÉ – Acho que não é uma boa ideia. Vamos deixar isso para lá. 

SÃO BERNARDO – Nada disso: pau que bate e Bernardo bate em André. Voto pelo apontamento de promessas e lorotas. 

DIADEMA – Sei que pode sobrar para mim, mas aprovo a medida. 

SÃO CAETANO – Não quero perder essa oportunidade de rir, ou de chorar, de jeito nenhum.  

MAUÁ – Nem eu. 

RIBEIRÃO PIRES – Muito menos eu. 

RIO GRANDE DA SERRA – Como a possibilidade de estar envolvido em bobagens é tão ínfima quanto minha importância na região, topo a parada.  

GRANDE ABC – Então está combinado. Só não sei se colocarei esses passivos administrativos na mesa logo após o almoço, ou deixo para tratar na sequência da abordagem sobre as redes sociais.  

ESTADO DE SÃO PAULO – Desde que você não se esqueça de nos presentear com pérolas em forma de promessas e lorotas, tudo bem. 

CIDADE DE SÃO PAULO – Não vejo a hora de saber mais detalhes desses anões.  

GRANDE ABC – Recebi agora a informação de que o almoço vai ser servido. Só não revelo o prato preparado com esmero e carinho. Não coloquei em votação porque seria uma tremenda burrice. Com Santo André, São Caetano, Diadema, Mauá e São Bernardo numa mesma mesa, não há unanimidade em vista. Nem maioria, provavelmente. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra topam qualquer parada. Com 2,2% do PIB da região, os dois se sentem inexpressivos demais para contestar qualquer coisa. São marias-vão-com-as-outras. E quem seria diferente?  



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