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Economia

DANIEL LIMA - 27/05/2022

Parei para pensar se utilizava “machista” ou “masculino” na manchetíssima aí de cima. Optei por “machista” porque o sindicalismo na região ao longo dos tempos tem influência prevalecente no perfil de trabalhadores, que é mais restritivo às mulheres do que na vizinha Capital.  

O Novo Sindicalismo de Lula da Silva, a partir do fim dos anos 1970, construiu universo machista relativamente superior ao da Capital, de modelo mais conservador de representação dos trabalhadores industriais. 

Vamos diretamente aos números e depois incursionaremos no campo filosófico.  

Para cada grupo de 100 trabalhadores com carteira assinada nas fábricas do Grande ABC há apenas 25,21 de mulheres. Em São Paulo, a proporção é de 40,67. Uma diferença de 38%.  

NOVO SINDICALISMO  

Outros endereços municipais agregados no G-22, o Clube dos Maiores Municípios do Estado, exceto a Capital, também registram proporções superiores de mulheres no ambiente industrial em confronto com o Grande ABC. Onde existe semelhança, a ação sindical também é forte.  

Prefiro utilizar o conceito de “machista” ao de “masculino” porque a distância não se restringe somente à proporcionalidade de homens e mulheres nas fabricas. Também invade a grande área salarial.  

As mulheres que trabalham nas fábricas da região fortemente influenciadas pelo Novo Sindicalismo recebem proporcionalmente menos que os homens no embate com as mulheres paulistanas que trabalham igualmente em fábricas.  

TRAÇOS CULTURAIS  

Ou seja: não se trata de precipitação classificatória dizer que temos maioria machista nas indústrias. Nem que todos os homens que trabalham nas fábricas do Grande ABC são literalmente machistas.  

Não é disso que se trata inteiramente, mas também se trata disso.  

É impossível esterilizar traços culturais machistas na maioria dos homens tanto quanto negar traços feministas menos preponderantes nas mulheres.  

A tradição patriarcal explica parte da equação em que homens estão muito mais para o machismo do que as mulheres para o feminismo, especialmente no ambiente fabril.  

Isso não quer dizer (e os escândalos sexuais estão aí para provar) que a parcela de feministas radicais enraizadas na sociedade seja diferente da parcela machista radical dominante na mesma sociedade: são metades da mesma laranja de impetuosidades, por assim dizer.  

FEMISMO E MACHISMO  

Quero dizer com isso que não há nada mais complementar ao entendimento do comportamento humano do que as faixas de exagero comportamental que envolvem parcela da minoria feminista e a preponderância da maioria machista.  

Há entre uma minoria de mulheres um femismo tão arraigado quanto o machismo dominador entre os homens.  

A diferença está na proporcionalidade entre homens e mulheres radicais, por assim dizer de novo. Femismo exacerbado e machismo são irmãos siameses. Feminismo exacerbado é femismo.  

O ambiente do trabalho industrial na maioria dos municípios brasileiros é mesmo masculino com forte tendência machista, ou machista com baixa tendência masculina. 

MAIS QUE OUTROS  

Também não estou politizando neste ano eleitoral essa variável importante para detectar até que ponto o discurso de igualdade de gênero da esquerda casa com a prática funcional da esquerda.  

Um dos mais baixos índices de mulheres no ambiente fabril na região  (só se rivaliza com Santo André) está em São Bernardo do Novo Sindicalismo de Lula da Silva. É onde também os salários entre homens e mulheres são profundamente distantes.  

O fato é que o ambiente fabril no Grande ABC é mesmo mais masculino ou preferencialmente machista do que em muitos outros endereços. A comparação com a Capital vizinha é letal. Para não dizer mortífera.  

SINDICALISMO INFLUENCIADOR  

Somente estudos minuciosos poderiam diagnosticar com algum grau de precisão mais elevado as razões que tornaram as fábricas do Grande ABC mais machistas que as fábricas de São Paulo e de tantas outras localidades.  

Entretanto, um fator resplandecerá como incontentável: as lideranças sindicais de trabalhadores impulsionaram a diferença porque supostamente os embates com o capital exigem características mais masculinas que femininas. Mais agressividade, menos diplomacia.  

Querem uma prova provada de que o discurso de igualdade entre homens e mulheres no ambiente de trabalho (isso vale à quantidade e também à valoração salarial) está recheado de cinismo, contradição e tudo o mais?  

PRESIDENTE MULHER?  

Não se tem notícia de que exista ou tenha existido na história da industrialização e do sindicalismo no Grande ABC uma única mulher a encabeçar uma diretoria. Um Lula da Silva, um Luiz Marinho, um outro presidente qualquer, de sutiã. Ou mesmo que não use sutiã, mas que poderia usar sutiã.  

Colocar o sindicalismo num patamar de masculinidade que se submete culturalmente aos conceitos de machismo como elemento-chave do perfil de trabalhadores nas fábricas do Grande ABC não é, portanto, nenhuma escorregadela abusivamente interpretativa.  

É compulsoriamente uma verdade que exigiria esquartejamento explicativo, mas que não resiste à própria integridade histórica.  

DOIS MODELOS SINDICAIS  

Comparar o Grande ABC como um todo e municípios do Grande ABC individualmente com a cidade de São Paulo é um ponto-chave às explicações, porque são vizinhos.  

São vasos comunicantes separados no campo trabalhista pelo Sindicalismo de Resultados na Capital e pelo Novo Sindicalismo no Grande ABC.  

Tradução: o sindicalismo paulistano caracterizou-se como menos agressivo na disputa entre capital e trabalho. No Grande ABC o pau cantou desde que Lula da Silva e seus companheiros assumiram o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e espalharam filosofia de combate por todo o território regional. 

Menos em São Caetano, ligada ao sindicalismo paulistano e que se tornou de efervescência trabalhista menos intensas.   

MAIS MULHERES  

Tanto São Caetano foi menos influenciada pelo Novo Sindicalismo de Lula da Silva que a proporção de mulheres nas fábricas é a maior do Grande ABC – são 33,94%, ante a média regional de 25,21.  

Das 18.879 carteiras assinadas nas fábricas de São Caetano, 6.407 têm mulheres como titulares. O Grande ABC como um todo conta (os dados são de 2020, do Ministério do Trabalho) com 176.561 carteiras assinadas, das quais 44.507 de mulheres.  

Diferentemente do que s imagina, as fábricas localizadas na cidade de São Paulo geram muito mais empregos com carteira assinada do que o Grande ABC como um todo.  

MAIORES MACHISTAS  

Em dezembro de 2020 eram 354.419, com 144.136 mulheres empregadas. Ou seja: São Paulo tem quase tanto mulheres nas fábricas quanto o conjunto de homens e mulheres nas sete cidades do Grande ABC.  

Se a participação feminina nas fábricas do Grande ABC é maior em São Caetano, Santo André e São Bernardo ocupam as piores colocações. Em Santo André apenas 23,76% das carteiras assinadas têm mulheres como titulares, enquanto em São Bernardo são 22,29%.  

Outros dois municípios fortemente industrializados na região são menos machistas que São Bernardo e Santo André, mas muito mais que a Capital e também que São Caetano: Mauá conta com 26,21% de mulheres ocupando postos de trabalho nas fábricas, enquanto em Diadema são 27,29%. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra têm trabalhadores industriais residuais no conjunto da região. Em Rio Grande da Serra 27,59% são mulheres, ante 20,86% em Ribeirão Pires. 

A robustez filosófica de que impera machismo e não masculinidade nas fábricas da região está configurada nas diferenças salariais de gênero. E São Paulo é muito superior novamente.  

Enquanto na Capital o salário médio das mulheres das indústrias equivale a 81.44% dos homens, em São Bernardo não passa de 68,45%, em Santo André de 64,34%, em Diadema de 72,49%, em Mauá de 70,77% e em São Caetano de 63,46%. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra completam a lista respectivamente com 81,20% e 82,60%. 



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