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Sociedade

DANIEL LIMA - 05/05/2022

Dei um tempo para ver o que aconteceria após a suposta conclusão (será mesmo conclusão?) do inquérito policial do Caso Saul Klein. Como não há novidades na feira-livre da mídia especulativa, e como nenhum passo se deu no âmbito ministerial e judicial nos dias subsequentes, faço projeção com base no emaranhado investigativo. 

Que projeção é essa? A titular da Delegacia da Mulher de Barueri, Priscila Camargo, exagerou na dose ao atribuir o comando de suposta organização criminosa ao homem que durante vários anos foi sequestrado por uma quadrilha, vítima que era de depressão, doença terrível que desafia a medicina.  

Esse inquérito precisa ser reformado a bem dos direitos individuais. Até porque, convenhamos, não foi um inquérito policial apenas. Trata-se de peça condenatória tão obcecadamente construída que, paradoxo dos paradoxos, fertiliza o contraditório devastador.   O relatório não resiste a contraprovas.  

CAMPEÃO DE BILHETERIA  

Há múltiplos vetores que enquadram o Caso Saul Klein na galeria de filmografias policiais com potencial de campeão de bilheteria nas plataformas de streaming.  

Não à toa o Fantástico, a CNN e o UOL já pegaram essa estrada da perdição ao consolidarem formatos diferentes, mas sempre na mesma direção da mensagem incriminadora: há um vilão a ser batido e pobres e inocentes mulheres a serem glorificadas.  

Exatamente por isso e de maneira geral a mídia que se tem ocupado do assunto, desde dezembro de 2020, esmera-se em cometer barbaridades unilaterais.  

A mídia de mesmices imperfeitas repete-se na reprodução preguiçosa de versões que conflitam com a realidade dos fatos e, principalmente, com a aridez, quando não com a inexistências, de provas.  

A delegada de Barueri deu vazão à enxurrada de versões, lubrificando-as com pitadas interpretativas lastreadas na premissa de que existe um vilão perigosíssimo à solta.   

E a realidade dos fatos começa e termina com a constatação de que há clamorosa ausência de provas materiais e, por outro lado, provas testemunhais que tanto incriminam como retiram Saul Klein do que os especialistas chamam de polo passivo.  

Tudo supostamente desfavorável a Saul Klein ganhou foro sagrado. Muito do enfaticamente favorável a Saul Klein recebeu tratamento tortuoso até se chegar à reviravolta em forma de reforço de acusação.  

As pobres meninas supostamente violadas por Saul Klein voltaram à cena do suposto crime dezenas de vezes.  Até que o dinheiro começou a rarear e elas, as meninas supostamente violentadas e chefiadas por duas mulheres de uma empresa de entretenimento sexual, associaram-se como denunciantes de uma operação incapaz de colocar uma das pontas da operação, Ana Banana, como sequestradora.  

Agora, no inquérito supostamente concluído, Ana Banana está do outro lado, mas do outro lado ainda insuficiente como controladora do depressivo Saul Klein.  

FEMINISMO E FEMISMO 

A delegada de Barueri mergulhou na versão de que Saul Klein é um predador sexual. E não o fez sozinha. Há evidências digitais de parceria com braços armados de um feminismo rastaquera que de fato é femismo – ou seja, a igualdade de gênero clássica e liberadora das relações entre homens e mulheres foi soterrada pelo ódio aos homens.  

O risco de chegar a essa conclusão – a conclusão de que o feminismo ponderado e maduro perde feio para a porralouquice femista -- sofre goleada diante da possibilidade de um desdobramento malicioso, no sentido de tentar estigmatizar quem o expõe, como estou escrevendo.  

Ou seja: dizer que feminino e femismo podem ser manipulados como conceitos é algo que deve ser objeto de investigação sim. No Caso Saul Klein, essa intersecção é translúcida. 

CONCLUSÃO APRESSADA   

Saul Klein é um predador e está acabado – eis a síntese do inquérito policial. Uma reprodução cristalinamente obsessiva do que personagens conhecidos do mundo feminista e femista propagaram ao longo de muitos meses.  

O relatório final (seria mesmo final, ou o Ministério Público estaria analisando detidamente cada parágrafo para configurar abuso da autoridade policial?) está recheadíssimo de imprecisões, interrogações, ilações, privilégios, estultices e outros quesitos que não condizem com o significado de Justiça, que se pretende, afinal, alcançar.  

E não se podem deliberar passos subsequentes ao conjunto de arbitrariedades do inquérito policial nas esferas do MP e do Judiciário sem considerar vácuos explícitos e implícitos.  

MORTE MORAL  

Saul Klein é um homem morto moralmente, por conta e risco não só da extravagância comportamental que é um direito individual legítimo -- como reconheceu, inclusive, um dos magistrados que já constam do processo. Agora o querem muito além do banco dos réus, jogando-o nos calabouços de uma sentença condenatória dinamitadora do devido processo legal.  

Vou ser direto e reto na inadequação deflagrada pela delegada de Barueri, rebocando o que ela mencionou nas acusações direcionadas a Saul Klein.  

Trata-se de uma entrevista que concedi ao portal UOL, principal endereço da mídia a acompanhar e deliberar o destino midiático do Caso Saul Klein. 

Ao fazer uso da entrevista que concedi ao UOL, a delegada de Barueri e invisíveis colaboradoras da peça acusatória cometeram o erro de confiar num produto jornalístico que corrompeu o princípio da responsabilidade social e da preservação da imagem de um entrevistado.  

ENTREVISTA ESTIOLADA  

A delegada de Barueri, repito, usa um trecho da entrevista (absolutamente verdadeiro no conteúdo, mas não no sentido que a delegada impôs à interpretação acusatória) para adicionar elementos conclusivos de que Saul Klein é, vejam só, o comandante de uma organização criminoso que explorou durante anos mulheres indefesas. 

A entrevista ao UOL, objeto mais que secundário do documentário dilacerador da imagem de Saul Klein, jamais poderia ser incorporada ao inquérito policial nas condições apresentadas, de deturpação drástica do conteúdo. Aliás, por mim contestada junto à direção do portal imediatamente após a exibição do documentário. Estou à espera de reparação. 

Foram 80 minutos de entrevista. Nem dois minutos compuseram a lateralidade de minha participação no documentário. E dois minutos completamente divorciados do conjunto da obra, do contexto da obra.  

Uma entrevista muito bem elaborada pelos jornalistas do UOL virou sucata ao ganhar o formato de documentário. O circuito de informações foi abalroado. A delegada pegou carona errada.   

HORA DE AGIR  

Ora, bolas: se a delegada de Barueri e suas acompanhantes invisíveis fizeram o que fizeram ao interpretar a entrevista brutalizada pela edição do documentário do UOL, imagine o resto, ou o principal.  

Tive acesso ao relatório final do inquérito assinado pela delegada de Barueri e mesmo sem ler tudo de forma mais aprofundada (e a forma mais aprofundada é a leitura no papel, não na tela de computador) sobrou desconfiança, quase certeza, de que o Ministério Público Estadual cometeria grave equívoco se seguir a recomendação, quando não a determinação, de que Saul Klein e outros denunciados devem ser preso preventivamente.  

No fundo, a peça da delegada de Polícia de Barueri e suas colaboradoras invisíveis é uma grande oportunidade de o Ministério Público Estadual colocar ordem no Caso Saul Klein, de nascedouro enviesado e protetivo a mulheres que estão na mente e no coração das relações estabelecidas.  

Para que os leitores possam recuperar ou estabelecer um contato imediato com o Caso Saul Klein, reproduzo abaixo a primeira matéria que preparei sobre o tema, em janeiro de 2021. Exceto num ponto aqui, outro acolá sem relevância final, o que o leitor vai encontrar em seguida é mais que o fio da meada explicativa às impropriedades do relatório da titular da Delegacia da Mulher de Barueri.  

 

 

O que estaria mesmo por trás do

assassinato social de Saul Klein? 

 DANIEL LIMA - 04/01/2021 

 

O que os leitores vão acompanhar a partir de hoje e em datas cronologicamente arbitrárias é muito mais que a história e um homem bem-sucedido, namorador de mulheres, mas atacado exatamente por mulheres controladas por outras mulheres. Paradoxalmente, essas mesmas mulheres usam de ardilosos artifícios para se autoproclamarem vítimas de estrupo e de outras supostas transgressões que ditam regras contemporâneas de comportamento social.   

Na primeira leva de denunciantes supostamente violentadas somaram-se 14 nomes. Outras 25 estariam na ponta da agulha de acusações que seguem o mesmo roteiro de detalhes, como cópias fiéis. É, portanto, um festival de versão única. Tão única que parece saída do forno da combinação prévia.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

Uma combinação tão prévia que está na alça de mira de ceticismo de quem não tem por ofício acreditar em tudo ou mesmo em quase nada. Até que se prove a verdade dos fatos. Depoimentos previamente preparados não oferecem garantia alguma de isenção e credibilidade.   

E a verdade dos fatos que dá suporte à avaliação de que se trata de assassinato social é que, por enquanto, o jogo jogado pela mídia é unilateral tanto quanto o jogo narrado pelo Ministério Público Estadual. Há muita água de contraditório a correr sob a ponte da Justiça, que não pode ser confundida com Justiçamento.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

A Industria do Sexo, constelação de pequenas, médias e grandes empresas de eventos, está no centro do palco.  Quem acredita em combustão espontânea do Caso Saul Klein não sabe onde está colocando a própria reputação. Duvidar do conjunto de parágrafos sentenciosos da denúncia do Ministério Público Estadual é medida providencial. Explicações não faltam.    

Há muito mais ingredientes idiossincráticos em jogo. Inclusive mais dinheiro do que supõe quem conhece objetivamente a meta de moças em busca de futuro de abundâncias materiais. Ou alguém tem dúvida de que o que move a montanha de prazer das mulheres do prazer e dos homens namoradores igualmente desperta ambições na Bolsa de Valores, por exemplo?   

Os mais entranhados no mundo do sexo sabem que a comparação não é um crime. Uma coisa estaria ligada à outra em muitas cabeças masculinas. E femininas também.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

A bolsa de valores de mulheres é informal e praticada conforme as mãos invisíveis do mercado. Não apenas as mãos invisíveis do mercado. O instrumental é outro e se configura sob o princípio do consentimento, da conjunção carnal e de outras situações com ou sem eventuais restrições. Também flexibilizadas pelo mesmo mercado de acordo com a precificação monetária.    

Uma espiadinha nos sites da abrangente e abrasiva indústria do sexo discrimina preferências individuais e preços sobressalentes. Resta saber se, de tão massificado, trata-se mesmo de mercado paralelo ou o filão principal no interior da indústria de entretenimento sexual sob a cortina de eventos e outros badulaques de sensibilização.    

É muito difícil examinar o setor com olhares cândidos. Nem tudo que brilha de suposta sofisticação profissional é de fato atributo que valoriza a mulher sob o ponto de vista de comportamento convencional.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

Muitas das deslumbrantes mulheres que desfilam em eventos requisitadíssimos pela mídia, como os tradicionais salões do automóvel ou mesmo as etapas locais da Fórmula-1, são mulheres que não são apenas mulheres em atividade profissional explicitada. Há duplas ou triplas especialidades.   

Abundam mulheres que saltam dos sites do mercado digital de sexo diretamente às imediações das pistas de corridas e dos imensos centros de exposição de produtos e serviços.   

Diante da constatação de que o inquérito é uma coleção de depoimentos de supostas vítimas de estupro, mas sem provas, alguém tem dúvida de que, além da condenação judicial, mulheres denunciantes pretendem se refestelar no dinheiro de Saul Klein?   

MAIS JANEIRO DE 2021 

Não há entre as retardatárias denunciantes quem participou de festas e tenha registrado formalmente um único e eventual abuso do anfitrião namorador. Mais que isso: a frequência com que retornavam aos endereços citados no inquérito ministerial não se conecta a dissabores e horrores; muito pelo contrário.   

A situação se agrava com a propagação do crime de estupro denunciado por uma representante do Ministério Público Estadual. A etimologia técnico-judicial de estupro, em muitos casos, não é exatamente o que imagina a opinião pública. Sim, há diferença na definição técnica e na construção popular entre estupro que pressupõe penetração e estupro que também caracteriza pressão psicológica ou mesmo física sem consumação carnal. Quando o estupro técnico vira estupro jornalístico não há VAR cultural que reduza o estrago ao denunciado.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

Muitos personagens do Caso Saul Klein são mulheres. As principais protagonistas são mulheres. Muitas mulheres a prospectar a possibilidade de levar Saul Klein a nocaute judicial não é uma ironia para um homem metido com as mulheres. É consequência. Tanto quanto as mulheres que começam a se movimentar em defesa de Saul Klein.   

Há duas listas em confronto nesse começo de disputa por uma narrativa que pretende capturar a atenção da opinião pública e influenciar as investigações. Uma das quais já escandalizada pela mídia.   

A primeira turma, articuladíssima e que redundou na denúncia do Ministério Público Estadual, é capitaneada por duas mulheres com a anuência ingênua ou crédula demais de outras duas mulheres.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

A segunda turma, em defesa do relacionamento namorador com Saul Klein, pretende restaurar a verdade dos fatos que o outro lado de mulheres combate por manter, depois de sair na dianteira contando com o apoio maciço da chamada Grande Mídia.   

Não se tem ideia, ainda, do quanto será intenso e dramático o processo de assassinato social de Saul Klein. Essa fase antecede investigações policiais e eventual decisão judicial.   

O empresário está subjugado pela mídia de versão única ou apenas supostamente equilibrada que dá destaque a versões que causam danos muitas vezes irreparáveis -- e mitigam o que é contraponto, como se fosse o resto do resto de argumentação.   

A Grande Mídia constrói imprecisões, omissões, falsas verdades e meias-verdades. Vai à velocidade máxima. Até que a opinião pública seja plenamente convencida de que o alvo em questão está aniquilado.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

Saul Klein é um corpo estendido no chão social. Mesmo que redes sociais, surpreendentemente, saiam em sua defesa. Mas redes sociais são uma coisa; interesses profissionais e pessoais de Saul Klein são outros. Os danos já são muitos. O que é difuso de um lado é específico de outro. As redes sociais servem de consolo a Saul Klein, mas não são o imunizam das denúncias.   

A vingança de uma ex-namorada está se confirmando. Uma ex-namorada que virou fonte de informação do Ministério Público Estadual. Uma ex-namorada que a Imprensa poupa. Uma ex-namorada e coordenadora de jovens que, incrível, está entre as vítimas. Expor a ex-namorada é um passo à frente ao descredenciamento do modelo prescrito da versão de estupro do caso Saul Klein.   

Não é isso que a Grande Mídia pretende. Pior que isso: transforma a ex-namorada em fonte privilegiada e quase única de acusação. Caso do Fantástico, programa da Rede Globo no qual a ex-selecionadora atuou como espécie de âncora mascarada, quando não com imagem distorcida. Um recado subliminar de que a ex-namorada estaria supostamente em risco. Como se não fosse conhecida fartamente nas redes sociais em vestimentas íntimas e ações privadas.  A ex-namorada tem passivos desclassificatórios.  

MAIS JANEIRO DE 2021 

A guerra deflagrada tem várias frentes que se fecham num mesmo objetivo: colocar Saul Klein fora de combate. Há certezas já caracterizadas e materializadas e especulações a apurar. São imensas e abrangentes as alternativas não excludentes de que tudo não tem parentesco algum com a denúncia de estupro.    

Teorias conspiratórias à parte, o que está em execução é um jogo pesado. Várias nuances ganham a perspectiva de ocuparem a mesma rede de interesses. Tudo tutelado pela ganância, pelo dinheiro. Muito dinheiro. Dinheiro do passado de fartura e do presente de escassez.    

O que era entretenimento, diversão, pecados da carne, virou crime. Pinta-se um monstro. Falta combinar com as imagens de felicidade geral do passado, que nem o Fantástico conseguiu esconder, embora transpirasse interesse no uso como prova denunciatória.    

Falta combinar também com o contraditório de moças que, defensoras de Saul Klein, refutam a versão maciçamente divulgada. Elas defendem a namorador que outras chamam de estuprador.  

MAIS JANEIRO DE 2021 

Gradativamente se revelarão todos os pontos do caso Saul Klein. Alguns dos quais ainda fora de uma rede de segurança investigativa.   

Pense em tudo na órbita pessoal e profissional do empresário. Da política ao futebol. Da indústria do sexo ao inventário milionário da Família Klein. De amor não correspondido às tentativas de achaques tendo segredos íntimos como moeda de troca aviltante. Ter muitas mulheres é a multiplicação de prazeres e problemas de ter apenas uma mulher.    

Coloque tudo isso no mesmo invólucro, como se fosse um imenso presente de inimigos secretos e inimigos declarados. O resultado aparece em forma de Saul Klein.  

O grande desafio à compreensão do Caso Saul Klein é observar a situação além da simplificação denunciatória. O importante é unir os pontos em comum que dariam suporte a imensa constelação de interesses convergentes. O maior dos desafios é conciliar retalhos aparentemente dispersos; é unir alguns ou muitos pontos que fermentam o contexto.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

O que parece uma série de complicações distintas pode ser uma massa de possíveis conexões. Seriam peças do mesmo jogo de xadrez. Há situações concretas, inquestionáveis, mas também algumas ilhotas de interesses específicos e desgarradas no arquipélago de investigação.  Descobrir a natureza do Caso Saul Klein poderá levar as investigações a inimaginável plataforma de verdades secretas.   

A ordem do Caso Saul Klein é que tudo se torne espetaculoso desenlace policial, regado de moralidade cínica no campo comportamental, recheado de vantagens financeiras de quem esqueceu que o tempo passa e, para completar, um riquíssimo elevador de ascensão institucional.    

O ponto em comum desta série é tornar a denúncia do Ministério Público Estadual um bloco resistente ou frágil ao contraditório policial e judicial. Exatamente o que a Grande Mídia sonega.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

Esta série de análises sem data para terminar pretende definir premissas com base em documentos, informações e evidências incontornáveis, mas não fugirá da possibilidade de tangenciar algumas questões que estariam no horizonte de investigações.   

Recorro à expressão “assassinato social” desde as primeiras chamadas que preparei nas redes sociais à leitura desta série. Não me parece identificação mais apropriada ao se tratar de caso que envolva relações entre homens e mulheres em conflito público.   

Optei por “assassinato social” à “assassinato de reputação”, título de livro relatado pelo ex-delegado Romeu Ruma Júnior numa coleção de casos famosos. “Assassinato de reputações” explorou o Caso Celso Daniel. Tratei durante anos da morte do então prefeito de Santo André. Celso Daniel seria um dos cinco homens mais fortes do presidente Lula da Silva, eleito oito meses depois à Presidência.    

Como fiquei traumatizado com a narrativa da Grande Mídia repleta de imprecisões, não repetiria o título quando me referir ao Caso Saul Klein. É “assassinato social” com variantes, vejam só, de “realismo social”, nas redes disponíveis na Internet.   

O que vem a ser assassinato social? Afora a possibilidade de a denúncia do Ministério Público consagrar-se como verdades acumuladas, a precipitação é clamorosa ao atribuir a Saul Klein protagonismo criminoso.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

A denúncia apressada do MPE não pressupõe que a proclamação de um assaltante sexual tenha robustez de provas. Ao contrário disso: quando tudo se estruturou no terreno movediço de duas mulheres enfurecidas com o fim de uma longa jornada de benesses financeiras para manterem a coleção de mulheres que divertiam Saul Klein, o que resta constar é que o modesto tabuleiro denunciatório abriga inquietações à luz de evidências e provas em contrário.    

Tomam-se contrariedades profissionais (selecionar mulheres conforme prescrição do freguês é a atividade profissional das duas mulheres que estão no centro das ações, embora uma delas nem apareça na denúncia) por fatos que estão longe de se comprovarem no inquérito ministerial.   

O assassinato social é um enquadramento jornalístico adequado. O estilhaçamento da reputação de Saul Klein é resultado da retirada do lacre de confidencialidade do processo. O vazamento à imprensa, a começar pela Folha de S. Paulo, é um dos aspectos que integraram a rede de informações a serem apuradas.   

MAIS JANEIRO DE 2021 

A liberdade de imprensa é pressuposto a ser guardado a sete chaves contra o autoritarismo, mas não pode ser utilizada como correia de transmissão de informações alquebradas, de endereçamento acusatório associado a protecionismo escandaloso.  

O inquérito do Caso Saul Klein está protegido pelo segredo de Justiça. Saul Klein foi assassinado socialmente porque o segredo de Justiça foi violado e, mais que isso, manipulado pela Grande Mídia. Teremos um capítulo ou mais para tratar disso. Também teremos protagonismos que vão muito além de Saul Klein e que a Grande Mídia esconde. Segredo de Justiça com direcionamento deliberado à condenação é espécie de arma clandestina a serviço de matadores profissionais.



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