É claro que a ficcional (no organograma) mas real (no marketing) Secretaria de Premiações e Indicadores da Prefeitura de Santo André não vai colocar esse estudo no catálogo aos eleitores que também são contribuintes e tantas outras coisas mais.
O fato é que neste século, depois de duas décadas, Santo André e Mauá lideram o Ranking de Criminalidade Sobrerrodas no Grande ABC.
Vou explicar do que se trata, mas antecipo que os números de crimes sobrerrodas no Grande ABC são bastante positivos, considerando-se a realidade que vivíamos em 2001, ano-base dessa exposição. Claro que ainda estamos distantes do ideal.
Criminalidade Sobrerrodas é um índice que mede o tamanho da encrenca de roubos e furtos de veículos automotores no Grande ABC e no Estado de São Paulo. Números históricos são sempre melhores que números circunstanciais.
Números históricos contam por natureza a história, para ser propositadamente redundante.
Números circunstanciais se limitam a determinado período, geralmente mais curtos.
Números circunstanciais podem carregar elevada carga de sazonalidade que não combina com a solidez de números históricos.
VEJA METODOLOGIA
Por isso optei por uma metodologia mais sólida para construir o Ranking de Criminalidade Sobrerrodas do Grande ABC, envolvendo seis das sete cidades. Rio Grande da Serra é tão pequena que não faz refresco e não aparece nas estatísticas.
Há um procedimento-padrão que precisa ser respeitado para que os leitores não sejam ludibriados. A fundamentação do ranking segue a metodologia mais que correta aplicada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Os especialistas adotam o critério de furto e roubo (no primeiro há prática de violência) de acordo com o universo local de veículos registrados. No ranking de homicídios, divide-se o total de casos para cada grupo de 100 mil habitantes. No ranking sobrerrodas a divisão é para cada grupo de 100 mil veículos.
Modelos análogos de medição são praticados em inúmeras modalidades, mas de vez em quando a imprensa interesseira ou descuidada, quando não falsificadora, deriva a outros referenciais.
E o Poder Público também pratica desvirtuamentos em vários casos, entre os quais quando surgem dados novos sobre contratações de trabalhadores, por exemplo. Esquecem os marqueteiros das prefeituras os dados consolidados, e partem para dados absolutos.
A maquinaria publicitária disfarçada de informação jornalística provoca enormes maus-tratos à realidade.
OS DOIS PIORES
Mas vamos ao que interessa: Mauá e Santo André, nessa ordem, lideram o ranking de furtos e roubos de veículos em 2021.
No ano passado, Mauá registrou o total de 2.294 casos, o que significou 932,76 roubos e furtos para cada grupo de 100 mil veículos. Em 2001 (vejam só que queda extraordinária) Mauá contabilizou 3.097,22 casos para cada grupo de 100 mil veículos. Foram surrupiados naquele ano 2.226.
Os números absolutos de Mauá praticamente não se alteraram no século. A explicação é que a frota de veículos aumentou consideravelmente, bem acima do crescimento demográfico.
MELHORA ACENTUADA
Santo André veio logo em seguida à classificação de Mauá com 4.839 casos de furtos e roubos de veículos na temporada passada, incidindo na taxa de 874,12 roubos e furtos para cada 100 mil veículos. Em 2001, Santo André contabilizou 11.867 veículos furtados e roubados e registrou índice de 4.520,11 para cada 100 mil veículos. Uma queda de 80,66%.
Antes que insira os dados dos demais municípios da região, não custa lembrar que, assim como o PIB, assim como o total de residências com esgoto, água encanada, tratamento de água, custo do IPTU e tantos outros condimentos de infraestrutura física, o índice de criminalidade sobrerrodas não é uma corrida de 100 metros raros. É uma maratona à qual estão sujeitos todos os prefeitos atuais. A mesma maratona a que se expuseram os prefeitos antecessores.
SÃO CAETANO MELHOR
Agora, continuando no ranking, a segunda marca mais expressiva do ponto de vista positivo é de Ribeirão Pires, que registrou no ano passado 359,76 roubos e furtos para cada 100 mil veículos registrados. Foram 265 casos apontados na estatística oficial entre primeiro de janeiro e 31 de dezembro. Uma queda no século de 85,68%. Em 2001 foram registrados 558 furtos e roubos e o índice por 100 mil alcançava 2.513,40.
Quem lidera em positividade é São Caetano, com índice de 348,48 veículos por 100 mil roubados ou furtados na temporada de 2021. Foram 500 registros. No século, a queda é de 89,26%. Foram 2.693 motoristas contrariados em 2001.
São Bernardo registrou no ano passado índice de criminalidade sobrerrodas de 507,91 por 100 mil. Portanto, bem abaixo da segunda economia da região, no caso Santo André. Foram registrados 3.128 casos nas delegacias de Polícia. Bem menos que os 7.947 de 2001. Uma queda de 82,74% na comparação do índice por 100 mil veículos. Em 2001, São Bernardo contava com 2.942,73 casos de veículos roubados e furtados por 100 mil unidades de estoque.
Fosse a Secretaria de Premiações e Indicadores da Prefeitura de Santo André algo que carregasse responsabilidade social e compromisso com a verdade, não com a manipulação, não haveria problema algum em destacar a melhora de Santo André no Ranking de Criminalidade Sobrerrodas. Os números (como dos demais municípios) são satisfatórios.
A queda desse tipo de crime em Santo André registra 80,66%. Praticamente uma réplica dos demais municípios locais. Menos Mauá, onde os números absolutos não sofreram alteração no século, embora os relativos tenham sido rebaixados em 69,88%.
Diadema, especialmente Diadema, está perdendo uma grande oportunidade de utilizar o ranking como peça de marketing propositivo. Os índices ainda são elevados (abaixo de Santo André e de Mauá), principalmente quando comparados à média do Estado de São Paulo (358,87 para cada grupo de 100 mil veículos), mas tanto quanto no caso dos homicídios dolosos, que já analisei aqui, são portentosos.
DIADEMA É OUTRA
Quem não se lembra que a fama de Diadema como inferno criminal (tanto de homicídios quanto de roubos e furtos de veículos) levou um prefeito de plantão a promover campanha de incentivo ao emplacamento de veículos na cidade e, com isso, aumentar a arrecadação proporcionada pelo IPVA? Ter veículo com a chapa de Diadema remetia à desvalorização imediata por série de razões, entre as quais inquietação sobre a própria origem legal.
Para completar (o assunto que se segue é tão importante que vale um adicional nos próximos dias), convém lembrar que as apólices de seguros de veículos no Grande ABC eram as mais caras do Estado, exatamente por conta do índice de sinistralidade, como os especialistas chamam tudo que converge em direção a complicações no uso de veículos. Como estaria hoje essa equação toda. Se houve uma queda tão portentosa do índice de roubos e furtos de veículos, as apólices deveriam convergir a algo assemelhado. Eis os resultados:
1. Mauá registrou no ano passado índice de 932,76 casos de roubos e furtos de veículos para cada 100 mil unidades. Foram 2.294. Em 2001, o índice era de 3.097,22, com 2.226 casos registrados.
2. Santo André registrou no ano passado índice de 874,12 casos de roubos e furtos de veículos para cada 100 mil unidades. Foram 4.839. Em 2001, o índice era de 4.520,11, com 11.867 casos registrados.
3. Diadema registrou no ano passado índice de 703,76 casos de roubos e furtos de veículos por 100 mil unidades. Foram 1.591. Em 2001, o índice era de 4.953,42, com 2.930 casos registrados.
4. São Bernardo registrou no ano passado índice de 507,91 casos de roubos e furtos de veículos por 100 mil unidades. Foram 3.128. Em 2001, o índice era de 2.942,73, com 7.947 casos registrados.
5. Ribeirão Pires registrou no ano passado índice de 359,76 casos de roubos e furtos de veículos por 100 mil unidades. Foram 265. Em 2001, o índice era de 2.513,40 com 558 casos registrados.
6. São Caetano registrou no ano passado índice de 348,48 casos de roubos e furtos de veículos por 100 mil unidades. Foram 500. Em 2001, o índice era de 3.245,60 com 2.693 casos registrados.