Luiz Tortorello está para a economia de São Caetano assim como Celso Daniel para Santo André e William Dib para São Bernardo. Eis o resultado do comportamento do Valor Adicionado de São Caetano nos últimos 24 anos, ou seja, pós-implantação do Plano Real.
Prefeito durante oito anos quase completos (morreu no fim de 2004), Tortorello teve dois sucessores: José Auricchio Júnior durante 12 anos de três mandatos e Paulo Pinheiro.
Auricchio apresenta saldo praticamente zero na geração de riqueza, em dois períodos distintos de resultados. Paulo Pinheiro fez dos quatro anos de mandato multiplicação de derrotas.
Esta é a terceira análise de uma série que pretende revelar o comportamento dos prefeitos dos principais municípios do Grande ABC nos últimos 24 anos. Duas década e meia, praticamente, em que o resultado geral da região é sofrível.
RIBEIRÃO TAMBÉM
Estou em dúvida se devo incluir Ribeirão Pires nessa tomada de pulso. Talvez o faça. Ribeirão Pires representa 2% do PIB do Grande ABC. Rio Grande da Serra está praticamente fora de cogitação. Não passa de 0,2% do PIB da região. Excluir Rio Grande da Serra não significa discriminação. É que os números são tão voláteis, porque pouco expressivos, que nem vale a pena.
O fato é que o Grande ABC perde cada vez mais participação absoluta e relativa no bolo do Valor Adicionado do Estado. Somos cada vez mais menos importantes economicamente.
Esse longo período de quebra do dinamismo econômico do Grande ABC começou no início dos anos 1980 com a mobilização sindical combinada com a descentralização industrial incentivada pelo governo do Estado. Uma situação que não ofereceu um contraponto sequer de planejamento estruturado para o enfrentamento de crises que se seguiram.
Sobram manchetes ufanistas. Rareiam resoluções construtivistas.
GUERRA FISCAL
Embora não estejam disponíveis nas estatísticas oficiais detalhamentos que possam clarear as atividades que mais se destacaram em São Caetano desde o primeiro mandato de Luiz Tortorello, é certo que a guerra fiscal no setor de serviços fez a diferença nos resultados.
Tortorello deu um nó cego nos supostos parceiros de mandatos no Grande ABC, eleitos em 1996, e fez da redução do ISS (Imposto Sobre Serviços) o Ovo de Colombo para impedir que São Caetano continuasse a perder musculatura econômica.
É verdade que ISS não é o mesmo que Valor Adicionado e tampouco pode ser traduzido como empregos de qualidade, que o setor industrial oferece, mas quebrou o galho. Tanto que nos oito anos de mandatos, Tortorello acumulou crescimento real do Valor Adicionado de 47,75%, com média anual de 5,97%.
Em seguida, seu sucessor, eleito em 2004, o médico José Auricchio Júnior, respondeu com crescimento acumulado em dois mandatos de 37,74%, com avanço médio anual de 4,72%.
PAULO PINHEIRO SOFRE
Após ter deixado a Prefeitura com a eleição de Paulo Pinheiro (a candidata apoiada pelo prefeito, Regina Maura Zetone, não aguentou a ofensiva adversária reforçada pelo PT do Grande ABC), José Auricchio viu o Valor Adicionado de São Caetano rebaixado cumulativamente pelo sucessor em 35,87%, com média anual de queda de 8,96%.
Para completar o circo de horrores, a volta de José Auricchio Júnior em janeiro de 1997 e o encerramento do mandato em 31 de dezembro de 2020 determinaram queda acumulada do Valor Adicionado de 20,83%, com média anual de 5,20%.
No ano passado, 2021, que ainda não consta das estatísticas, o vereador Tite Campanella assumiu a Prefeitura por conta de decisões da Justiça Eleitoral. Auricchio só recuperou o cargo conquistado nas urnas no fim do ano.
TEMPOS DE TORTORELLO
No período de janeiro de 1997 a dezembro de 2004, Luiz Tortorello comandou uma Prefeitura cujo Valor Adicionado saltou em termos nominais, sem considerar a inflação, de R$ 1.891.137 bilhão (da temporada de 1996) para R$ 4.916.974 bilhões.
Se corresse na mesma raia da inflação do período de 96 meses (75,97% segundo o IPCA do IBGE), o Valor Adicionado de São Caetano teria alcançado R$ 3.327.834 bilhões. Como registrou R$ 4.916.974 bilhões (47,75% acima do desgaste da moeda), o crescimento médio anual chegou a 5,97%.
Depois de oito anos de bons resultados de Luiz Tortorello, São Caetano também viveu oito anos de sucesso com seu sucessor, José Auricchio. O Valor Adicionado herdado do antecessor (R$ 4.916.74 bilhões) registrou R$ 11.860.112 bilhões em dezembro de 2012. Um avanço nominal de 141,20%, que, descontada a inflação de 50,17%, significou crescimento real de 60,63 no período, ou 7,58% ano. Caso seguisse rigorosamente a inflação do período, o Valor Adicionado de São Caetano em 2012 teria sido de R$ 7.383.468 bilhões.
Paulo Pinheiro não segurou o repuxo da decadência de São Caetano nos quatro anos de Prefeitura. Os R$ 11.860.112 bilhões de Valor Adicionado deixados por José Auricchio viraram, quatro anos depois, sempre em termos nominais, R$ 11.557.692 bilhões. Ou seja: mesmo desconsiderando-se o desgaste do Real, São Caetano não repetiu quatro anos depois o legado de Auricchio.
Considerando-se a inflação de 32,57% do período de quatro anos (janeiro de 2013 a dezembro de 2016), o Valor Adicionado de São Caetano deveria ser de R$ 15.722.950 ao fim de 2016. Uma queda acumulada de 35,87%, ou média anual de 8,96%.
COMPLETANDO O CICLO
Para completar o ciclo de prefeitos, José Auricchio Júnior voltou em primeiro de janeiro de 2017 tendo como vantagem para efeitos comparativos a derrocada do antecessor Paulo Pinheiro. Mas, de novo, São Caetano voltou a perder.
O Valor Adicionado recebido por Auricchio (R$ 11.557.692 bilhões, sempre em termos nominais) virou R$ 11.136.645 bilhões ao fim do mandato. Ou seja: como Paulo Pinheiro, José Auricchio não conseguiu sequer empatar com a inflação do IPCA, de 16,43%.
A perda real de 20,83% refletiu o processo inflacionário. São Caetano deveria ter chegado ao fim do terceiro mandato de José Auricchio a R$ 13.456.620 se ao menos empatasse com a inflação do IPCA. A queda de 17,24%, com média anual de 5,20%, praticamente apagava o brilho dos oito anos anteriores à frente do Município.
PEÇAS DA GM
Há pelo menos um decisivo vetor que ajuda a explicar a derrocada de São Caetano nos últimos oito anos, de 2013 a 2020: o setor industrial sofreu duras baixas a partir da descentralização produtiva da General Motors.
Parte do setor de autopeças da GM foi deslocado para Mogi das Cruzes, enquanto a produção de veículos em São Caetano perdeu a força com o refluxo do setor automotivo nacional que abateu duramente São Bernardo.
Houvesse por parte das prefeituras da região maior transparência nos dados arrecadatórios de diversas atividades econômicas, principalmente do setor industrial, seria menos complexo apontar de forma específica os calcanhares de Aquiles que dificultam a manutenção de padrões mesmo que conservadores do Valor Adicionado.
Por isso os números gerais respondem à questão básica: há um empobrecimento na geração de riquezas (de salários a lucros) no Grande ABC desde muito tempo. Os números internos não querem dizer muita coisa para que se tenha a dimensão dos estragos.
MUITA DESVANTAGEM
Por isso constituímos o G-22, o Clube dos Maiores Municípios do Estado de São Paulo. Os dados do PIB dos Municípios Brasileiros são implacáveis.
Neste século, enquanto o melhor rendimento entre os municípios da região está em Mauá, por causa do setor químico-petroquímico, com crescimento nominal de 473,69% de 1999 a 2019, Osasco, Campinas, Guarulhos, Barueri, Jundiaí, São José do Rio Preto, Paulínia, Sorocaba, Ribeirão Preto, Piracicaba, Santos, Taubaté, Mogi das Cruzes e Sumaré têm resultados muito superiores. Ou seja: apenas São José dos Campos perde para a melhor cidade do Grande ABC.
O pior dos mundos é que nem mesmo o discurso de acadêmicos cabe na tentativa de explicar a derrocada do Grande ABC neste século como fenômeno gerado pelo que chamam de deseconomias de escala, por conta da geografia da Grande São Paulo: Osasco, Guarulhos e Barueri, vizinhos à Oeste do Grande ABC, ocupam as primeiras quatro colocações no ranking do PIB dos Municípios do G-22 neste século. Esses municípios só não estão enfileirados sequencialmente porque há um penetra chamado Campinas, que ocupa a segunda posição no ranking. Capital Econômica do Grande ABC, São Bernardo caiu do segundo para o quinto lugar, Santo André é 11ª, Mauá 16ª, Diadema 18ª e São Caetano em vigésimo neste século.