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Administração Pública

DANIEL LIMA - 08/03/2022

O período em que o petista Celso Daniel (1997-2001) esteve à frente da Prefeitura de Santo André pós-Plano Real foi economicamente o melhor de um Município que insiste em perder o rumo do Desenvolvimento Econômico neste século, depois de sofrer duramente com a desindustrialização nas duas últimas décadas do século passado. Só para se ter uma ideia: o atual prefeito, Paulinho Serra, em quatro anos de mandato, só conseguiu 26% do índice médio anual de cinco temporadas em que Celso Daniel comandou Santo André.   

Todos os prefeitos desse período de 24 anos (João Avamileno, Aidan Ravin, Carlos Grana e Paulinho Serra) tiveram comportamento muito abaixo da média anual registrada por Celso Daniel. Infinitamente abaixo.  

Mais que isso: o também petista Carlos Grana foi pior ainda: os quatro anos de gestão de Santo André acumularam perda da geração de riqueza. 

Medir o tamanho da competência de administrar Santo André ou qualquer Município no campo estritamente econômico é uma tarefa mais complexa e mesmo suscetível à vulnerabilidade do que quando se trata de um País, por exemplo. O PIB (Produto Interno Bruto) é uma métrica conhecida e respeitada, embora condicionada por especialista como o indicador menos indicado, exceto todos os demais.  

VALOR ADICIONADO  

Por isso, tornou-se um desafio partir para o ataque da ousadia. Afinal, a quem dar méritos ou não quando se trata de aquilatar o desempenho econômico de Santo André desde a implementação do Plano Real, em 1994?  

Criamos uma metodologia que possivelmente não sofrerá grandes reparos. Ao invés do uso do PIB, perdido no tempo e inacessível antes dos anos 2000, adotamos o Valor Adicionado. Afinal, o Valor Adicionado é o parente mais próximo do PIB.  

Dessa forma, é até melhor a adoção do Valor Adicionado, que em resumo significa o que se agregou de riqueza em forma de salários e produtos e serviços em geral a determinado endereço. 

Depois de laçar a resposta em forma de uma âncora sobre a qual girariam os demais números, tudo se tornou menos nebuloso para definir dados que determinariam o comportamento dos prefeitos de Santo André em um quarto de século, ou as duas primeiras décadas deste século mais os quatro últimos anos do século passado. 

CELSO DANIEL NA FRENTE  

O resultado final é que os cinco anos de gestão de Celso Daniel, entre janeiro de 1997 e dezembro de 2001 (Celso Daniel foi assassinado em janeiro de 2002 e João Avamileno assumiu o cargo, vencendo a disputa em outubro de 2004) foi de crescimento do Valor Adicionado de 13,84%, descontando-se a inflação do período de 32,97%. Ou crescimento médio anual de 2,77%. Disparadamente o melhor entre todos os prefeitos.  

Afinal, do que se trata o crescimento do Valor Adicionado? Vamos explicar. A metodologia foi aplicada a todos os demais prefeitos. 

O Valor Adicionado de Santo André durante os cinco anos de gestão Celso Daniel cresceu em termos nominais (sem considerar a inflação do período) 55,72%. A inflação do período (IPCA do IBGE) registrou 32,97.  

DADOS EXPLICADOS  

Em termos líquidos, o Valor Adicionado que antecedeu a posse de Celso Daniel em janeiro de 1997, correspondia a R$ 2.786.681 bilhões em valores de dezembro de 1996. Para que não houvesse perda de riqueza produzida em dezembro de 2001, último mês de Celso Daniel como prefeito, o Valor Adicionado deveria ter registrado R$ 3.811.997 bilhões. O resultado final foi melhor: R$ 4.339.530 bilhões. Houve, portanto, ganho de R$ 527.533 milhões em valores de dezembro de 2001 ante os R$ 3.811.997 bilhões de dezembro de 1996 corrigidos monetariamente no período de cinco anos.  

Para chegar ao resultado final de que a gestão Celso Daniel registrou ganho acumulado de 13,84%, a conta é simples: basta confrontar o Valor Adicionado corrigido monetariamente da temporada de 1996 com o Valor Adicionado da temporada de 2001.   

Repetimos essas operações matemáticas para as gestões subsequentes de João Avamileno (2002-2008), de Aidan Ravin (2009-2012), Carlos Grana (2013-2016) e também para o primeiro mandato de Paulinho Serra (2017-2020).  

AVAMILENO DISTANTE  

Os sete anos de João Avamileno à frente da Prefeitura de Santo André (de janeiro de 2002 a dezembro de 2008) representaram crescimento real acumulado do Valor Adicionado de apenas 1,03%. Ou seja: muito distante dos mais de 13,84% alcançados por Celso Daniel.  

O Valor Adicionado de Santo André de 2001 (última temporada da gestão de Celso Daniel) registrou R$ 4.339.530 bilhões. Na outra ponta, da última temporada de João Avamileno, em 2008, o Valor Adicionado registrado foi de R$ 6.997.681 bilhões. Um resultado praticamente igual ao do Valor Adicionado de 2001 quando se aplica a correção monetária pelo IPCA: os originais R$ 4.339.530 bilhões passam para R$ 6.925.456 bilhões quando se aplica a inflação de 59,59% do período de sete anos. Resultado final? O crescimento acumulado de mísero 1,04% vira crescimento médio anual de apenas 0,149%.  

AIDAN MELHOR  

Os quatro anos de Aidan Ravin, sucessor de João Avamileno, foram melhores que os quatro anos de Carlos Grana e também melhores que os quatro anos de Paulinho Serra. No caso do embate com Carlos Grana, Aidan Ravin não foi apenas melhor, mas muito melhor. 

O resultado da gestão de Aidan Ravin acumulou Valor Adicionado de 4,27% de crescimento. Bem melhor que o resultado negativo de Carlos Grana, período no qual o Valor Adicionado perdeu 3,09% de força. Já com Paulinho Serra, quatro anos do primeiro mandato, o Valor Adicionado conta com saldo positivo acumulado de 2,52% -- ou média anual de 0,63%, ou apenas 26% do obtido durante cinco anos por Celso Daniel. 

Reparem que diante do comportamento da gestão de Celso Daniel, os prefeitos que os sucederam apresentaram resultados muito aquém para uma cidade que não consegue crescer, depois de rebaixar significativamente a qualidade de vida e a capacidade de gerar riqueza no século passado. 

GRANA NO PREJUÍZO   

Aidan Ravin recebeu uma Santo André em janeiro de 2009 cujo Valor Adicionado da temporada imediatamente anterior, ou seja, 2008, registrou R$ 6.997.517 bilhões. Quando entregou a Prefeitura, depois de perder a disputa à reeleição, Aidan Ravin somava R$ 9.086.646 bilhões de Valor Adicionado.  

A inflação do período de gestão de Aidan Ravin somou 24,53%, enquanto a variação positiva do Valor Adicionado apontou 29,85%. Resultado? Um ganho de Valor Adicionado de R$ 372.638 milhões. Os 4,27% de crescimento no período. O Valor Adicionado atualizado encontrado pelo prefeito em janeiro de 2009, corresponde a R$ 8.714.008 bilhões.  

Dos cinco prefeitos que ocuparam o Paço Municipal nesses 24 anos, apenas Carlos Grana saiu no prejuízo. Ao assumir a Prefeitura em janeiro de 2013, o Valor Adicionado de Santo André da temporada passada era de R$ 9.086,646 bilhões.  

PAULINHO BEM ABAIXO  

Atualizado a dezembro de 2016, quando deixou o cargo ao não ser reeleito, o Valor Adicionado de Santo André registrava R$ 11.674.636 bilhões. Para que não houvesse perda por causa da inflação (32,57%) o Valor Adicionado daquele fim de 2016 deveria ser de R$ 12.046.166 bilhões. Mas não teve fôlego: registrou R$ 11.674.636 bilhões. Uma queda de R$ 371.530 milhões, correspondente a 3,18% do Valor Adicionado de uma ponta à outra. Queda média anual de 0,77%.  

Finalmente, os quatro anos do primeiro mandato de Paulinho Serra, que registrou ganho de 2,58%. Quando assumiu a Prefeitura em janeiro de 2017, Paulinho Serra ganhou de herança um Valor Adicionado do prefeito anterior de R$ 11.674.636. Quando terminou o mandato quatro anos depois, o Valor Adicionado chegou a R$ 13.943.971 bilhões. A inflação do período, de 16,43%, foi levemente inferior ao crescimento do Valor Adicionado de quatro anos, de 19,44%.  

Isso quer dizer que em valores atualizados a dezembro de 2020, o Valor Adicionado anterior à chegada de Paulinho Serra à Prefeitura alcançava R$ 13.592.778 bilhões, ou R$351.193 milhões abaixo do obtido pelo tucano.  O Valor Adicionado de 2020 em confronto com o Valor Adicionado atualizado de 2016 registra resultado positivo de 2,58%.   

SÃO BERNARDO VEM AÍ  

São Bernardo, Capital Econômica do Grande ABC, será o novo alvo comparativo. No mesmo período estudado no caso de Santo André. O tom da indústria automotiva definirá os resultados.  

A dependência de São Bernardo do mundo sobrerrodas é muito mais incisiva do que movimentações econômicas em Santo André. A indústria química e petroquímica pesa no comportamento do Valor Adicionado de Santo André bem menos que as automotivas em São Bernardo.  

As características econômicas dos municípios da região são, portanto, vetor que deve ser levado em consideração em eventuais confrontos intermunicipais. Há riscos de se cometerem erros. Por isso, dados que instalam prefeitos de um determinado Município, somente de um determinado Município, parecem mais aconselháveis. É o caso inicial de Santo André.  

E mesmo assim, a bem da verdade, há influências estaduais e federais no comportamento econômico local. O que chega a ser extraordinário é que Celso Daniel lidera com facilidade o crescimento anual do Valor Adicionado mesmo tendo sofrido efeitos da desindustrialização que abateu ainda mais Santo André no fim do século passado.

O governo federal Fernando Henrique Cardoso promoveu chacina industrial que atingiu em cheio pequenas e médias empresas da região, em contraste com a proteção alfandegária que beneficiou as montadoras de veículos.



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