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Economia

DANIEL LIMA - 01/12/2021

Se o pretendido e já embrionário Pacto de Governança Regional é a bala de prata do futuro do Grande ABC, a cadeia produtiva do setor automotivo é a peça-chave para que o processo tenha um tiro de largada com perspectiva de emulação consistente e novas conquistas.  

Esse é o resumo da ópera do que pretendo alinhavar hoje para concluir dizendo que qualquer coisa que se faça sem a perspectiva de imediatismo de resultados é chover no molhado de desilusões já conhecidas. Precisamos lubrificar com credibilidade efetiva, no campo de provas de ações materializadas, essa engrenagem enferrujada pela ação do tempo de muito mais desacertos do que acertos coletivos.  

Aos leigos e aos desavisados, quando não aos ignorantes no sentido literal do termo, as primeiras linhas deste texto podem soar algo como autoritário, arrogante, coisas do tipo. Posso garantir que estão todos enganados. Assisti recorrentemente ao longo dos anos a frustração individual e coletiva de bom-mocismos, de diplomacias e de tudo que cheira à simpatia, mas que se consolidaram pouco férteis.   

Cadeias entupidas  

Ações coletivas, mesmo que de um grupo restrito de profissionais, precisam partir da premissa de que o tempo vale muito mais que dinheiro no caso do Grande ABC. Tempo, no Grande ABC, é compromisso com a cidadania.  

O Grande ABC deste início de terceira década do novo século, e que está a apenas 30 anos do secular desencadeamento de um desabrochar fabuloso, com a chegada da indústria automotiva, não tem mais tempo a perder com a repetição patética de fórmulas desgastadas e que se comprovaram integralmente descartáveis ou pouco aproveitáveis.  

Quem acompanha o noticiário econômico sabe a extensão e a profundidade, além da gravidade, dos estragos provocados pela Covid na área de suprimento fabril internacional. Sobretudo na indústria automotiva, motivada principalmente pelo entupimento da cadeia de abastecimento de peças e componentes eletrônicos, coração, alma e corpo da atividade nestes tempos de tecnologia à flor da pele.  

Ranking de dramas  

Está aqui o Grande ABC que não me deixa mentir: quantas montadoras e autopeças estão ainda à meia-força para debelar a crise de desembarque de peças metálicas e digitais? Muitas, muitas e muitas.  

O que poucos imaginam e se deram conta no Grande ABC é que muito antes da pandemia e da crise nos portos, estradas e aeroportos no mundo inteiro, com estrangulamento do processo de produção, já sofríamos com a dificuldade de conciliar inúmeros fatores de produção local relacionada exatamente à agilidade logística de suprimento industrial. A pandemia só internacionalizou um quadro que se não era dramático na região, era e continua abaixo das expectativas exploratórias, ou seja, de acumulação de riqueza no chão de fábrica.  

Se fosse estabelecer um ranking dos 10 maiores dramas da economia do Grande ABC a serem atacados para valer no Pacto pela Governança Regional, o qual centralizaria fogo nas atividades produtivas, não teria dúvida em apontar a alça de mira para a logística industrial especificamente na área de suprimento, conciliando tempo, espaço, custos, produtividade e qualidade, entre muitos vetores que sensibilizam e viabilizam investimentos.   

Sem perda de tempo  

Tenho uma coleção de razões que apontam em direção à cadeia automotiva como o núcleo de convergência de uma prática muito pouco provável de habilitação técnico-empreendedora no Grande ABC: tirar nossos maiores problemas do papel de projeções e dar encaminhamento ao campo de ações práticas.  

Estou mais que cansado de guerra de ver e rever textos relacionados à economia e à institucionalidade do Grande ABC nos últimos 30 anos, período no qual houve coincidência que apurou meu faro jornalístico às questões regionais.  

Primeiro, a criação da revista LivreMercado, em março de 1990, com foco total (e depois com variáveis complementares) nas atividades econômicas até então pecaminosas na região (em outro texto vou explicar aquele ambiente de hostilidade ao capital também nas redações).   

Segundo, o surgimento, em dezembro do mesmo ano, do Clube dos Prefeitos (então Consórcio Intermunicipal). 

Economia de fora  

Convém ressalvar que, mesmo a institucionalidade do Clube dos Prefeitos naquele dezembro de 1990, não veio com o carregamento adequado na ordem de prioridades que deveriam ser definidas. A Economia não constava do portfólio de iniciativas comandadas pelo então prefeito Celso Daniel. Havia abrangência temática de ordem ambiental e de infraestrutura pública e quase nada de inquietação econômica.  

Como aquilo era possível, ou seja, como uma organização comandada pelos prefeitos ignorava o veio econômico como ponto-chave de qualquer equação preventiva, corretiva ou prospectiva de um Grande ABC cantado em prosa e verso?  

Exatamente porque a mídia em geral e o ambiente regional em particular cultivavam o triunfalismo descuidado. Ainda não haviam percebido que a vaca da qualidade de vida, da mobilidade social, da infraestrutura viária, entre outros pontos, estava indo para o brejo.   

Palavra maldita  

Pouco adiantava aos agentes formadores de opinião e tomadores de decisões que já na primeira edição da revista LivreMercado se apontava e se registrava um palavrão detestado até hoje, e com provas estatísticas de que não se tratava de bravata jornalista. Afinal, do que estamos falando? De de-sin-dus-tri-a-li-za-ção. Assim mesmo, silaba por sílaba.  

Dar prioridade total no escopo do Pacto de Governança Regional às atividades econômicas relacionadas ao setor automotivo como experimento disseminador de organização coletiva não é, portanto, uma assertiva arrogante, autoritária ou algo assemelhado. É questão de discernimento, de definição de uma agenda que se preocupe sobretudo com o pragmatismo.  

É preciso botar fogo na canjica regional de Desenvolvimento Econômico e isso só será possível com resultados práticos e resultados práticos precisam ter focos e elementos técnicos resolutivos. 

Para que os leitores não pensem que estou apenas desfilando teorias, vou me fixar preliminarmente, além de precariamente, num ponto sobre a questão de suprimento automotivo.   

Para especialistas  

Para que se chegue rapidamente a um diagnóstico que tenha como chave de ignição a largada efetiva em busca de resultados é indispensável tomar o pulso do espaço físico disponível a atividades industriais na região. Não faltam áreas ociosas na maioria dos municípios.  

É claro que não basta ter na tela de um computador os eventuais ramais que lubrificariam as engrenagens das grandes empresas. Contextualizar essas áreas tendo como premissa critérios de logística numa Grande São Paulo sempre a procura de alternativas de produtividade é essencial. 

Tanto quanto a participação estratégica de profissionais das indústrias do vetor preferencial, porque integram um amplo espectro de empreendimentos disseminadores de riquezas internas em forma de produtos e salários. Uma cadeia de prosperidade, todos sabem.  

Tudo começará bem à Governança Regional se não faltarem ciência e conhecimento de uma consultoria especializada em competitividade industrial a partir do setor automotivo e o engajamento de gente comprometida com o futuro da região. Gente que não tenha receio de dizer a palavra mágica que exorcizaria um fantasma de triunfalismo: “desindustrialização”. 



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