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Política

DANIEL LIMA - 23/11/2021

Somente após a final da Libertadores de Futebol entre Palmeiras e Flamengo neste sábado será possível construir uma analogia numérica mais precisa com a Libertadores de Votos de São Caetano. Em Montevideo o Flamengo é levemente favorito. Nada que signifique vitória garantida e sacramentada. Em Brasília, onde está o caso envolvendo o prefeito eleito de São Caetano, o segundo colocado e um prefeito interino, tudo indica que teremos goleada. Do prefeito eleito impedido de tomar posse. Mas o melhor mesmo é esperar. 

É quase certo que não haverá correlação numérica, de placar final, entre uma coisa no campo de futebol e outra coisa no campo da política.  

Goleada na Capital do Uruguai é tão improvável quanto é mais que possível em Brasília. Tanto que o jogo no Tribunal Superior Eleitoral foi interrompido com dois a zero para o time de Auricchio e dos cinco votos restantes, projeta-se que quatro vão seguir o mesmo roteiro.  

No Ano Novo?  

A única dúvida é saber quando será decidida a final da Libertadores de Votos de São Caetano. Provavelmente ainda nesta temporada, para que na temporada seguinte, já em janeiro, Auricchio volte ao lugar que lhe foi retirado em primeira e segunda instâncias, fase classificatória da Libertadores de Votos. Fosse mata-mata, estaria eliminado. A eliminação é agora no TSE.  

Os especuladores políticos menos envolvidos no caso asseguram que Auricchio volta com os pés nas costas, figura de imagem que descarta qualquer outro resultado porque as facilidades estariam postas.  

Os especuladores envolvidos com Auricchio apostam que Auricchio já está de volta não só com os pés nas costas, mas também trocando orelhas, ou seja, que tudo é uma questão de formalidade.  

E os especuladores defensores de Tite Campanella e de Fabio Palacio propagam que o jogo será revertido. Tanto com a marcação de nova disputa ou com o fim da interinidade de Tite Campanella, que passaria a ser efetivo. Uma nova disputa, portanto, está no radar de Palacio mas não necessariamente de Tite.  

Tirando interrogações    

Na edição de três de novembro último publiquei o único texto até então a respeito da disputa eleitoral sub-judice em São Caetano. Sob o título “Auricchio vai ser o próximo prefeito? Quem quer apostar?”, praticamente eliminei os dois sinais gráficos de interrogação no decorrer do texto. Levando-se em conta que em política tudo pode, inclusive a especulação jornalística fundamentada, cheguei a escrever o seguinte:   

 O jogo talvez não termine com um placar semelhante ao de Brasil e Alemanha na Copa do Mundo de 2014, mas tudo indica que não será tão diferente. Ou existe alguma carta na manga do TSE que mudaria o rumo dos ventos?  Se no jogo real da Copa do Mundo não há VAR que refaça o resultado, o que fazer diante do que se apresenta no TSE no Caso Auricchio, um VAR de terceira instância? Que o jogo prossiga, claro. Até a sentença final. Que tarda. Menos para Tite Campanella. 

Comedimento ancorado   

É claro que reitero aqueles trechos e todos os demais que compuseram aquele texto. Não houve nada significativamente relevante desde então, passadas três semanas, que justificasse alterações. O que está escrito, portanto, está dito.   

O encaminhamento à vitória de José Auricchio Junior parece consolidado na medida em que mais vozes se unem em coro praticamente uníssono em direção à liquidação da fatura antes do Ano Novo do calendário gregoriano. O VAR definidor do que deve vir nos próximos dias é o posicionamento de quem é neutro na avaliação do caso.  

Já escrevi o suficiente no início de novembro para justificar a retirada das duas interrogações do título. Algo, aliás, que deveria ter feito antes mesmo de editar aquela análise. Deixei as interrogações de propósito, como âncora de comedimento interpretativo que -- verdade das verdades -- não abandonei no texto propriamente dito. Mas também não me deixei escravizar.  

Jogando limpo  

O pior do jornalismo é a obliquidade, ou seja, essa coisa de ter razões de sobra para emitir uma avaliação conclusiva e se fingir de morto, deixando a resposta aos leitores geralmente incapazes de alcançar o âmago de questões que somente os jornalistas detêm em profundidade porque essa é a função precípua de quem está metido nesse negócio de informação. Assim como o médico sabe muito mais do paciente do que o próprio paciente.  

Por essas e outras tenho obrigação de repetir que a final da Libertadores de Votos de São Caetano é francamente favorável a José Auricchio Júnior. E de goleada.  

Alguém tem dúvida (e aí começo a repetir a fundamentação do texto anterior) de que o voto do relator do processo não é um caminhão em direção ao resultado favorável a Auricchio?  

Mais que isso: o voto do relator que também acumula a função de corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral não tem peso ainda mais especial?  

O voto de um relator e de um corregedor-geral que na mesma sessão cassou o mandato de um prestigiadíssimo deputado estadual do Paraná por uso inapropriado de redes sociais não vale a pena ser foco máximo de atenção?  

Abrindo a porteira  

Portanto, ao abrir a porteira de uma goleada iminente, que jamais até prova em contrário será antecipada em Montevideo, o voto do relator e corregedor-geral mais que determinou o rumo provável a ser tomado pela maioria dos demais ministros do TSE.  

Qualquer resultado fora desse enquadramento judicial é acreditar que o Palmeiras derrotado até os 45 minutos do segundo tempo por três a zero na final da Libertadores da América seria capaz de virar o jogo.  

Digo e repito que se trata de voto qualificadíssimo. E aqui não entra qualquer sentido de juízo de valor do jornalista na avaliação do processo em si. Aliás, tenho sim juízo de valor sobre o caso, e discordo do corregedor-geral e relator, porque não sou tatu nem nasci ontem. Mas não valho nada nessa arena de especialistas e prestidigitadores semânticos.  

Entretanto, nem por isso, ou seja, por supostamente estar sendo contrariado tecnicamente, vou me alinhar bovinamente à turma de Tite Campanella e de Fabio Palácio e promover, com isso, a distorção do processo no campo de julgamento.  

Resistindo a pressões  

O que os radicais não entendem e fazem pressão nesse sentido, pressão que também poderia ser chamada de coerção, quando não de retaliação, para não invadir o terreno do autoritarismo, é que não é possível fazer jornalismo maria-vai-com-as-outras porque não se deve abrir mão jamais de consistência técnica-jurídica, como é esse caso.  

Conheço gente que detestou o texto que escrevi no começo do mês. Queria, essa gente, ler algo diferente do que os elementos informativos indicavam.  

São gentes que acreditam piamente na possibilidade de encabrestar este jornalista. Tanto quanto gente que vende a ilusão de que pode tudo nas esferas judiciais e promete coisas que não cumprem.  

Andaram vendendo uma nova eleição em São Caetano tanto quanto a titularidade de Tite Campanella. Ainda não entregaram e dificilmente o farão. Se o conseguirem, quem vai ter de explicar uma reviravolta improvável são os próprios ministros do STE. Que raramente contrariam o voto do relator também corregedor-geral.  

Refrescando a memória  

Para terminar, e refrescar a memória dos leitores, reproduzo os primeiros trechos da análise que fiz no começo de novembro. Da qual não arredo-pé porque os fatos e as injunções éticas são os mesmos:  

 Façam suas apostas, senhoras e senhores. O Grande Prêmio da Prefeitura de São Caetano, ou seja, a própria e milionária Prefeitura de São Caetano, está em jogo. São três os candidatos. Um, o prefeito-interino Tite Campanella. Outro, o prefeito-barrado José Auricchio Júnior. E o terceiro, Fabio Palacio, candidato mais votado em novembro do ano passado, depois do prefeito-barrado. Quem dá mais, quem dá mais!!!  Desconfio que o nome que vai sair do tapetão judicial é o mesmo que saiu das urnas eletrônicas em novembro do ano passado:  José Auricchio Júnior. (...) A disputa pode não ser em forma de leilão, mas a atmosfera eleitoral é instigante em São Caetano, o pedaço mais rico por habitante da Grande São Paulo. Um pedaço cuja autoestima coletiva foi abalada pelo recorde nacional de casos letais provocados pelo esquadrão invisível do Coronavírus. Mas isso é outro assunto.  Um assunto delicadíssimo para o orgulho de São Caetano e que só entraria em campo para mexer com os brios do municipalismo sólido se o jogo for novamente jogado em campo, ou seja, nas urnas. Aí o vírus vai fazer furor. As urnas valem mais que conservadorismo coletivo.  Falar mal de São Caetano em São Caetano é um tiro no pé eleitoral. Mas o vírus impõe situação excepcional.



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