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Economia

DANIEL LIMA - 17/11/2021

Uma realidade que contempla uma contradição preocupante e que não deixará de ser avaliada pelo prefeito Orlando Morando na possível nova configuração de gestão da economia regional a partir do princípio de união estratégica: São Bernardo é Capital Econômica do Grande ABC porque segue sendo Capital Industrial, mas perde espaço regional e principalmente estadual que pode comprometer ainda mais tanto o próprio futuro quanto da vizinhança.  

Traduzindo em miúdos, que é isso que interessa: não dá para São Bernardo salvar a própria pele industrial e econômica ao olhar para o próprio umbigo de comando regional de economia porque a situação é enganosa. É um tiro no próprio pé quando se vai além da superficialidade numérica desgarrada de uma linha de movimentos históricos.  

Daí não haver dúvida de que o prefeito Orlando Morando, que tem procurado reduzir a vulnerabilidade competitiva de São Bernardo com obras de infraestrutura importantes, possivelmente se juntará na composição de um batalhão de especialistas que tratarão especificamente da economia regional.  

Três por um  

Para se ter ideia mais precisa e emblemática do quanto São Bernardo é líder no PIB Industrial, base do Desenvolvimento Econômico regional, os dados mais recentes, ainda de 2018, expressam que é necessário somar os resultados de São Caetano, Diadema e Mauá para chegar ao resultado do território comandado por Orlando Morando nos últimos cinco anos.  

Entretanto, e por outro lado, todavia e contudo, ou mais algum advérbio a critério dos leitores, há um contraponto aterrorizante: somente nos primeiros 19 anos deste século, tendo como base de comparação o ano de 1999, São Bernardo perdeu o equivalente, em PIB Industrial, a toda a produção anual de Mauá, que tem o Polo Petroquímico como principal matriz desenvolvimentista.  

Quem acha que isso é pouca coisa é doente do pé de sensibilidade ou da cabeça de desatenção.  

Crianças e marmanjos  

Os resultados indicam que o andar da carruagem do setor de transformação industrial da região visto exclusivamente pela criação de riqueza em forma de produção não é uma notícia que se conte a crianças prodígios que sabem o significado de PIB (Produto Interno Bruto). E sobretudo a marmanjos que entendem do riscado e sabem que menos produção é mais complicação social.  

A participação de São Bernardo no bolo do PIB Industrial da região neste século sofreu queda relativa de 11,37% quando comparada internamente, ou seja, aos demais municípios locais. Mas nem por isso São Bernardo deixa de comandar o PB Industrial, com participação de 38,66%, enquanto Santo André conta com 19,83%, Mauá com 16,04%, Diadema com 12,93%, São Caetano com 10,07%, Ribeirão Pires com 2,00% e Rio Grande da Serra com 0,04%. 

Mas nada disso deixa de escancarar a realidade dos fatos:  o estrago em São Bernardo é muito maior que a média paulista, que envolve mais de 600 municípios. O PIB Industrial do Estado cresceu em ritmo 43,88% superior ao registrado p0r São Bernardo.  

Guarulhos na frente  

A liderança de São Bernardo no PIB Industrial entre os municípios paulistas (exceto a Capital) foi perdida neste século para a vizinha Guarulhos, enquanto pelotões antes distantes avançam e encurtam a distância. A guerra fiscal e o Custo ABC, entre outros vetores, explicam o declínio de São Bernardo em particular e do Grande ABC como um todo no setor industrial.  

A liderança regional de São Bernardo precisa, portanto, ser percebida e entendida tendo esse prisma como bussola à região. Orlando Morando pegou uma bucha tanto quanto outros prefeitos que estão no comando dos municípios da região nesta temporada. As perdas e danos começaram no passado e se cristalizaram ou se agravaram neste século.  

O PIB Industrial Paulista, incluindo os sete municípios do Grande ABC, avançou em média 210,14% neste século até 2018. Bem mais que os 117,91% registrados por São Bernardo e os 145,85% do Grande ABC. Mas abaixo da inflação do período.  

Queda em dois ambientes  

Os paulistas somavam R$ 126.191.88 bilhões de PIB Industrial em 1999 e passaram para R$ 391.375,33 bilhões em 2018. Avanço nominal de 210,14%. Já São Bernardo de 1999 registrava 5.519.13 bilhões e passou para R$ 12.026,85 bilhões em 2018, com avanço nominal de 117,91%. O Grande ABC registrava PIB Industrial de R$ 12.652,19 bilhões em 1999 e passou para R$ 31.105,86 bilhões em 2018.  

São Bernardo contava com participação relativa do PIB Industrial no Estado de São Paulo de 4,37% em 1999. Em 2018 caiu para 3,07%. Uma redução participativa de 29,75%. O Grande ABC como um todo participava em 1999 com 10,03% do PIB Industrial do Estado de São Paulo (R$ 12.652,19 bilhões ante R$ 126.191,88 bilhões e caiu para R$ 31.105,86 bilhões ante R$ 391.375,33 bilhões dos paulistas). Ou seja: de 10,03$ para 7,95%.  

Abaixo do Estado  

É importante prestar atenção à participação relativa cruzada com os resultados efetivos. São Bernardo e o Grande ABC poderiam ter perdido participação relativa no Estado sem sofrer impacto de perdas efetivas. Não é o caso. O baixo desempenho do PIB Industrial do Grande ABC está muito aquém dos números do Estado e também da inflação do período.  

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE registra inflação de 221,09% entre janeiro de 2000 e dezembro de 2018. Portanto, muito além do crescimento nominal do PIB Industrial do Grande ABC e do Estado no período. A isso se dá o esquadrinhamento de desindustrialização.  

Dos sete municípios locais apenas Mauá superou a média de crescimento relativo do Estado no período de 19 anos, com avanço de 287,63% contra 210,14%. O resultado não pode ser avaliado como surto espetacular de Mauá. O Município da região foi beneficamente impactado pelo aumento de produção do Polo Petroquímico, que também auxilia Santo André nas estatísticas. O problema é que a indústria química e petroquímica produz muito Valor Adicionado Fiscal mas baixíssima incidência de emprego e renda.  

Doenças holandesas  

Fora Mauá da Doença Holandesa Petroquímica, os demais municípios da região escorregaram no tomate da desindustrialização clássica. Tanto que nenhum registrou crescimento médio dos paulistas. Santo André chegou a 176,36%, São Caetano a 142,85%, Diadema a 103,82%, Ribeirão Pires a 135,55% e Rio Grande da Serra a 132,92% no período. A Doença Holandesa Automotiva, como se observa, atingiu duramente os dois municípios mais fortes no setor sobrerrodas, São Bernardo e Diadema.  

Esse é um alerta a São Bernardo: o setor automotivo lustra os números de empregos e de Valor Adicionado da Capital Econômica da região, mas é cada vez mais centro de atenções mundiais em busca de produtividade.  

Competitividade é a palavra mágica que define investimentos. São Bernardo tem-se aparelhado em infraestrutura viária na Administração de Orlando Morando para combater o processo de queda industrial, mas é provável que isso não bastará. Será indispensável participar de um enxadrismo de recuperação que inclui os municípios vizinhos.  



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