Clique aqui para imprimir




Sociedade

DANIEL LIMA - 03/09/2021

Presidente-executivo durante quase duas décadas e presidente atual do Conselho de Administração da Coop, Cooperativa de Consumo, Antonio José Monte tirou de letra e com classe o ponto de interrogação da manchetíssima de ontem. Melhor dizendo: tirou os dois pontos de interrogação (“Cadê as Nossas Madres Terezas. Afinal, onde estão essas mulheres?”).  

A Coop multiplicou de tal maneira a iniciativa da revista de papel LivreMercado, introduzida que foi na grade dos vencedores do Prêmio Desempenho em setembro de 2001, que chega a 314 o total de entidades contempladas em 19 anos. Inclui-se nessa grandiosidade a vertente masculina de Nossas Madres Terezas, os Freis Galvão, homenageados na edição de 2008, décima-quinta e última edição daquele evento.  

Mensagem esclarecedora  

A mensagem que Antonio José Monte me enviou ontem no aplicativo WhatsApp demonstra bem o quanto a ação junto a entidades assistenciais é importante no portfólio de atividades sociais da Coop. Leiam: 

 Quando assistimos a um filme que nos emociona indelevelmente, o esquecemos após ida a uma pizzaria na saída do cinema. Naquela noite de setembro de 2001, não fui a uma. Não me saía da cabeça a ideia de contribuir com as Madres Terezas, visto que a Coop não podia oferecer doações, proibidas por regulamentação, sem o acordo dos cooperados. Foi quando em março de 2002, ainda sem ir a uma pizzaria, resolvi pedir uma verba na AGO dos cooperados. Aprovação unanime|! Desde aquele ano a Coop repete a dose. Com a estrutura modificada, saindo do ABC para outras cidades onde a Coop está instalada, essa verba nunca parou de ser aprovada. Até agora devemos ter atendido de 300 entidades (314) nos mesmos moldes criados ao longo de 19 anos. E vamos continuar até que eu seja o presidente do Conselho, tudo de comum acordo com meus pares. Aliás, essa ação vai ao encontro de um dos sete objetivos do cooperativismo mundial, qual seja, o de estarmos próximos às comunidades que nos cercam. Aliás, atendemos também a Freis Galvão, visto que não definimos a natureza de quem precisa.  

Prestígio consolidado  

Com mais de 100 unidades entre lojas de consumo e farmácias, a Coop é um sucesso de produtos e caixas registradoras que ultrapassou os limites geoeconômicos do Grande ABC. Espalhou-se por vários dos principais municípios paulistas. É o que se poderia chamar de empreendedorismo a ser estudado obrigatoriamente como fonte de inspiração.  

Possivelmente não haveria concorrente que chegasse aos pés da Coop numa pesquisa que procurasse responder à seguinte pergunta: qual é a marca de empreendimento comercial que mais dá orgulho ao Grande ABC?  

É claro que tudo isso é consequência de uma política organizacional que vem do passado em forma de competência na gestão de uma atividade intimamente ligada aos consumidores como também às ramificações de apoio a iniciativas que tenham foco no atendimento às fissuras sociais. No cooperativismo, não basta satisfazer a clientela. É indispensável participar de demandas sociais.  

Sem exagero, até porque no fundo se trata de uma constatação óbvia, a Coop deveria servir de inspiração institucional à regionalidade tão maltratada. Enquanto o Grande ABC patina pateticamente nesse mecanismo, incapaz de unir os pedaços territoriais divididos pela sede emancipacionista, a Coop costura um modelo que se utiliza do potencial sistêmico das sete unidades municipais como combustível ao crescimento continuado.  

Entre os Imortais  

Tudo isso sem perder a ternura, ou seja, atenta aos descaminhos de uma sociedade cada vez mais desigual e, pior que isso, acentuadamente refém de poderosíssimas correntes de infortúnios: perda constante de famílias de classe alta e média e gigantismo de famílias de pobres e miseráveis.  

Antonio José Monte está entre os ganhadores de outra modalidade individual que robusteceu o cardápio do Prêmio Desempenho, no caso o de Empreendedor Histórico. Ou seja: está entre os Imortais do Grande ABC, uma consagração que não saiu da cartola de um grupinho de amigos ou aleatoriamente da cabeça de alguém metido a juiz dos juízes.  

Monte entrou para a lista de Imortais por conta de um escrutínio que contou com um exército de concorrentes e dezenas de conselheiros editoriais da revista LivreMercado. Formadores de opinião que respaldam de credibilidade todos aqueles que subiram aos palcos da premiação mais longeva a respeitada já produzida no Grande ABC.   

Melhor dos Melhores  

Aliás, a propósito do Prêmio Desempenho, não custa lembrar que incluímos o evento entre os produtos derivados da revista LivreMercado porque entendia que o marketing da publicação precisava ser reforçado constantemente, levando-se em conta os princípios editoriais.  

Que princípios eram esses? Defesa da livre-iniciativa e compromisso social, inclusive ao valorizar a eficiência do Estado, na esfera municipal, em programas que se consagraram nos eventos com a conquista do troféu mais disputado, no caso de Melhor dos Melhores.   

A periocidade mensal da publicação sempre foi vista como desafio a ser superado com medidas que tornassem o tempo entre uma edição e outra aliado. A definição de uma linha editorial com longa durabilidade analítica e o conceito de “leitura o mês inteiro” já na edição de lançamento do então tabloide, em março de 1990, cimentaram uma doutrina jamais subestimada. Diferentemente disso: foi constantemente aperfeiçoada.  

Tanto é verdade que ocupar o mês inteiro era espécie de dogma que já em 2001 criamos a então newsletter Capital Social Online justamente para estabelecer uma linha de comunicação diária com os leitores cadastrados.  

O mês inteiro  

O Prêmio Desempenho contava com duas edições (e até três) anuais, no que poderia ser chamado de divisões de acesso, como no futebol. Os cases corporativos (inclusive do setor público) eram apresentados num primeiro evento como Destaques do Ano, geralmente em março. Daí em diante, até setembro, os conselheiros contavam com cronograma de análises e estabeleciam as respectivas notas que redundariam nas categorias de Melhores do Ano e Melhor dos Melhores. Nada, absolutamente nada, era aleatório. 

O que, afinal, eram os cases? As reportagens publicadas na revista LivreMercado e selecionadas como Destaques do Ano eram divididas tematicamente e encaminhadas em bloco aos conselheiros editoriais. O que estava relatado em cada trabalho jornalístico era mensurado pelos conselheiros.  

Haveria muito mais a contar sobre o escopo que lastreou o sucesso do Prêmio Desempenho ao longo de 15 anos. Inicialmente se configurou um evento voltado exclusivamente a cases empresariais. Mas logo incorporamos o que chamaria de toda a sociedade produtiva na grade de análises e consagração.  

Não à toa a Coop se tornou espécie de papa-tudo do Prêmio Desempenho. Chegou-se ao ponto de se tornar hours-concurse, porque cada case era uma barbada para constar da lista dos Melhores do Ano.  

Período fértil  

Quem viveu o Grande ABC da última década do século passado e mesmo os primeiros anos deste século sabe o quanto perdemos em legitimidade institucional de organizações públicas e privadas.  

Há um vácuo de representatividade dilacerante. Vivemos numa sociedade cada vez mais vilipendiada em forma de um regionalismo negligente e enganador, porque sobram exemplos de descaso e abundam incursões diversionistas.  

Felizmente as Madres Terezas e os Freis Galvão estão à salvo. Mais que a salvo, estão brilhando nos balancetes da Coop em forma de empenho financeiro obrigatório com a prática de ações que não só socorrem tecnicamente as entidades sociais como também as reforçam materialmente para que possam ter melhor desempenho no atendimento a milhares de excluídos sociais.  

E pensar que lideranças como Antonio José Monte não constam de uma grande ofensiva de reconstrução institucional de um Grande ABC amorfo.



IMPRIMIR