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Política

DANIEL LIMA - 13/08/2021

Não é novidade no mundo político o prefeito da vez fazer da primeira dama a deputada da hora.  O prefeito Paulinho Serra não é diferente, embora exagere na dosimetria estrutural de administrador público. Tanto que vai às últimas consequências para cavar espaço à Carolina Serra nas eleições do ano que vem.  

Para Paulinho Serra, política é o que interessa. O resto não tem pressa. Principalmente o alquebrado Desenvolvimento Econômico de Santo André, base de uma sociedade pretensamente sadia e esperançosa.  

Abrir a janela do Legislativo Estadual a Carolina Serra é a meta, além, claro, de desenhar um futuro próprio pós-titular do Paço. Paulinho Serra não quer no futuro pós-mandato ser conhecido como ex-prefeito e marido de Carolina Serra.  

O preço de Carolina Serra deputada com a raia sem concorrentes será a autofagia dos candidatos aliados do Paço Municipal que disputarão concorridíssimas vagas à Câmara dos Deputados. São com prévia concordância o que em termos populares todos chamam de bois de piranha, operação em que alguém ou vários se submetem a um sacrifício para favorecer terceiro ou terceiros. Eles fazem parte do jogo coletivo em prol da individualidade de Carolina Serra.   

Matadouro certo 

Dizer que os bois de piranha concorrerão à Câmara Federal não é forçar a barra. Eles sabem que vão para o matadouro do excesso de concorrentes e da redução de probabilidades de votos necessários. Vão competir entre si em busca de um coeficiente eleitoral improvável.  

Jogam, entretanto, com a sorte do momento e com a memória sequencial de, quem sabe, diante mais que previstos fracassos gerais, concorrerem ao Legislativo Municipal dois anos depois. Além de se fortalecerem internamente no jogo de xadrez de ocupação de cargos no topo da tabela de mandachuvas públicos. Como se vê, são bois de piranha especiais.  

Nessa operação pró-eleição de Carolina Serra há preços sobressalentes, claro. Como a continuidade da entrega do Paço Municipal a forças estranhas à cidade e à região. O segundo mandato de Paulinho Serra é um soco na cara do compromisso social. Atravessadores de viés político-partidário predominam.  

O loteamento a parceiros estaduais, os quais tem o ex-prefeito da Capital, Gilberto Kassab, como protagonista mais importante e mais escondido, é o símbolo da alienação de poderes do Executivo. Sem contar, claro, outros entornos.  

Entreguismo municipal  

Paulinho Serra é a personificação do entreguismo do Paço Municipal a parceiros que só tem cifrões diante de si. Cifrões e poder, que se confundem, se misturam e se retroalimentam. A sociedade que se dane.  

O prefeito Paulinho Serra é uma velharia administrativa porque só pensa em dar continuidade à carreira política, sua única fonte de inspiração.  

O mote da campanha de Carolina Serra deveria ser simples e objetivo, além de transparente e contundente. Que tal: “Todos por Carolina, Carolina por ninguém?”.  

Seria o retrato-conceitual mais que perfeito para a operação que deverá ser levada a campo.  

Otários transformados em candidatos por uma causa particular, familiar, não faltam. Eles abundarão na campanha à Câmara Federal, porta de entrada de proteção e privilégios eleitorais para que Carolina Serra reine isolada em direção à Assembleia Legislativa.   

Que representatividade?  

Hoje, como se sabe, Santo André não tem representante algum em Brasília. E se tivesse não faria diferença alguma ao conjunto dos contribuintes. Nem Celso Daniel quando deputado federal fez diferença. Na cova de leões, gatinhos regionais viram pó. Mas adoram sair nas redes sociais cantando de galo.  

É claro que não quero dizer com isso que se deva fugir de uma proposta para levar nossos políticos às casas legislativas, mas o preço não pode ser tão alto. Que preço? No caso específico de Paulinho Serra, protegidíssimo pela mídia cor de rosa, é o desprezo ao presente, ao passado e ao futuro de Santo André. E da região. É uma enxurrada de frases supostamente de efeito, de “nossa gente” como estratégia de intimidade que escorrega entre os dedos de privilégios aos mais próximos que signifiquem reciprocidades. 

O modelo exaltado pelo político que dirige uma Santo André que segue concorrendo entre os piores municípios do G-22 neste século é o corolário da insensatez e da insensibilidade.  

Fanfarronice verbal  

Fosse algo que lembrasse um gestor que procuraria deixar marcas indeléveis à sociedade, nestas alturas do campeonato Paulinho Serra teria uma equipe de Desenvolvimento Econômico de primeira linha. Mas o que esperar de um chefe de governo que chega ao desplante de afirmar como afirmou recentemente que Santo André é um espetáculo em logística? É uma lorotada candidatíssima à aberração do século. Fanfarronice verbal desclassificatória.  

Fotografem a Avenida do Estado a qualquer hora do dia e vejam como está a principal artéria intermunicipal.  

Paulinho Serra e seu entorno fazem das tripas do oportunismo coração de medidas políticas para botar Carolina Serra na Assembleia Legislativa. Há batalhão de sanguessugas que sonham com uma vaga na Câmara Federal, mas no fundo sabem que não passarão mesmo de cabos-eleitorais de luxo, com dinheiro público, muito dinheiro público, ou seja, dinheiro dos contribuintes, para se sustentarem como agentes públicos por mais temporadas.   

Mudança possível  

Talvez as possibilidades de aumento do quadro de deputados estaduais e federais do Grande ABC nas eleições do ano que vem sejam mais robustas. Aquela camada de chamados forasteiros que estouraram as urnas eletrônicas nas eleições passadas, na esteira do presidente Jair Bolsonaro e de redes sociais, não brilha tanto. Há alguns previamente condenados à derrota ao romperem com o espectro político-ideológico que os elegeu. Caíram em desgraça. Mas como as redes sociais não têm fronteiras, convém ficar de olho porque novos exemplares emergirão.  

Mas há sim a possibilidade de nomes locais, lacaios ou não, sobreviverem. Talvez seja isso que esteja sendo vendido a quase uma dezena de concorrentes federais que já teriam fechado acordo com a Carolina privilegiada. Faz parte do show democrático, mas que se deixe claro que tudo não passa mesmo de democracia de araque: o bem da sociedade é soterrado por projetos individuais e grupais de políticos sem lastro como agentes públicos transformadores.  

Sonho com algo que nem o Fórum da Cidadania conseguiu nos dias seguintes da campanha Voto no Grande ABC, do qual participei discretamente, mesmo não sendo convidado. Foram 13 deputados federais e estaduais eleitos em 1996.  

Pauta-compromisso  

Uma vitória parcial, porque faltou uma pauta-compromisso para valer dos eleitos. Eles se beneficiaram da mobilização em torno da valorização do voto regional mas tocaram a vida parlamentar dançando cada um de um jeito, e quando políticos dançam do jeito que lhes convém, não tem jeito: a harmonia vira bagaço produtivo.  

Velho de guerra e de decepções, não caio nessa armadilha de regionalismo que os candidatos aos legislativos apregoam. Nem em municipalistas. A quase totalidade quer mesmo é se projetar com agendas próprias. Basta dar uma espiadinha nos que estão representando supostamente a região nesta jornada legislativa.  

Xenofobismo seletivo  

Ganha um doce de batata doce quem apontar uma única ação que coloque na condição de porta-bandeira institucional algo voltado para o combate à degringolada econômica regional. E não faltam propostas a desafiar essa turma. 

Carolina Serra é porta-bandeira de um grupo de poder que quer mais poder e se perpetuar na geopolítica do Grande ABC, utilizando-se para tanto de todas as artimanhas possíveis. Inclusive o abandono seletivo do xenofobismo tão propagado ao longo de décadas contra os chamados forasteiros que invadem paços municipais. Agora esses mesmos forasteiros tomaram conta dos barracos e são festejados.  

A degringolada econômica da região virou café pequeno quando comparada ao entreguismo político-administrativo. A Prefeitura de Santo André é o símbolo maior e mais ofensivo desse esquadrinhamento nefasto. Gataborralheirismo é pouco. Síndrome de Avestruz, também.  



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