O empresário Milton Bigucci recebe nesta terça-feira nova tentativa de CapitalSocial retirá-lo do esconderijo da omissão informativa. Pela sétima vez, esta revista digital pretende obter respostas do presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários e do conglomerado MBigucci. Entrevista Indesejada é uma novidade no jornalismo verde e amarelo porque é deliberadamente forte, contundente e esclarecedora, mesmo quando não respondida. Ou seja: não há filigranas diplomáticas que, em muitas situações, mascaram as reais demandas dos consumidores de informações. Milton Bigucci correu da raia em todas as situações anteriores porque não é dirigente de entidade de classe nem de conglomerado empresarial que trabalhe democraticamente à luz do sol. Os bastidores são seu habitat. Ou eram até recentemente -- até ser desmascarado em casos de escândalos.
Exatamente por ser do jeito que é, imaginando que tudo é possível na relação com a mídia quando se tem relacionamentos poderosos, Milton Bigucci precisa ser tratado com a deferência de CapitalSocial: sem a menor possibilidade de tergiversar, de utilizar a semântica para respondera questões importantes para a sociedade. Milton Bigucci não tem traquejo algum para lidar com uma Imprensa transparente, quanto mais com um modelo de jornalismo que não lhe poupa incômodos.
São mais de nove mil caracteres em forma de perguntas desta Entrevista Indesejada ao dirigente que é uma verdadeira coletânea de complicações na esfera ministerial, policial e judiciária. Quem acredita que Milton Bigucci mudará desta vez de roteiro e vai enfrentar a bateria de perguntas certamente desconhece o viés do dirigente. Ele é amplamente favorável à democracia da informação e de tantas outras democracias, desde que seja contemplado com deferência especial, preferencialmente como exemplo a ser seguido.
Até recentemente, quando seus descaminhos eram sufocados por jogos de interesse e por permanente capacidade de desvencilhar-se de escândalos, a trajetória do dirigente empresarial e dirigente classista parecia intocável. Até que a casa caiu. Vejam as perguntas que constam de Entrevista Indesejada:
CapitalSocial – Como o senhor justifica o fato, divulgado recentemente pelo Diário do Grande ABC, de ter pressionado vereadores de São Bernardo para impedir a apuração do caso do escândalo do terreno onde constrói o empreendimento Marco Zero, de propriedade da MBigucci? É eticamente razoável tomar essa iniciativa? Não seria esse procedimento evidência clara de que o senhor teme o aprofundamento de investigação muito mal executada pela 12ª Promotoria do Ministério Público de São Bernardo?
Milton Bigucci –
CapitalSocial – Por que o senhor que se tem preocupado tanto em divulgar uma sentença judicial que só Deus sabe como chegou àqueles termos não pormenoriza as razões que levaram àquela decisão? Por que o senhor não explica que aquela absurda sentença, que será devidamente reparada, não tem nenhuma gota sequer da enxurrada de irregularidades que CapitalSocial divulgou nos últimos tempos sobre suas estripulias empresariais? Por que o senhor não diz que o Judiciário lhe deu trela numa barbaridade de interpretação semântica que o coloca como pobre e indefesa pessoa física atingida por um jornalista cruel quando a realidade dos fatos é completamente outra, ou seja, as críticas que lhe foram feitas se referiam única e exclusivamente às suas atividades como dirigente empresarial e dirigente classista da pior qualidade que se espera de um Brasil diferente da podridão destes tempos?
Milton Bigucci –
CapitalSocial – Por que o senhor sempre fugiu da raia de uma disputa democrática e transparente com este jornalista, escolhendo local, hora e a mídia que lhe convier para um debate público sobre as atividades profissionais que exercemos, em vez de, com o suporte de milionária conta bancária, buscar abrigo em escaninhos do Judiciário nem sempre sensíveis à realidade dos fatos?
Milton Bigucci --
CapitalSocial – O projeto aprovado pelo Legislativo que amplia o potencial de construção no entorno do monotrilho e que tomaria grande parte do território de São Bernardo era de conhecimento do senhor há muito tempo. Tanto que a MBigucci adquiriu pelo menos uma área estratégica que teve impulsionado à estratosfera o valor do metro quadrado após a decisão dos legisladores municipais em atender ao projeto da Administração Luiz Marinho. Há informações de que a MBigucci adquiriu outros espaços igualmente beneficiados pela nova legislação. O senhor acha tudo isso simples coincidência ou a relação com o prefeito petista, a ponto de convidá-lo para prefaciar pretenso livro que o senhor lançou na praça está na raiz das explicações?
Milton Bigucci –
CapitalSocial – Por que a Acigabc, associação de classe que o senhor dirige a duas décadas, não promoveu um único evento com os associados, embora sejam poucos, e também com formadores de opinião em geral, para debater o projeto enviado pelo prefeito Luiz Marinho sobre a ocupação do entorno do monotrilho? Haveria alguma explicação sensata para uma suposta associação de classe -- que não passa de um grupinho fechado que produz lobby setorial para privilegiar negócios particulares -- não ter socializado discussões sobre esse polêmico instrumento de ocupação do solo urbano?
Milton Bigucci –
CapitalSocial – O senhor infringiu contundentemente o estatuto do Clube dos Especuladores Imobiliários ao omitir-se durante todo o processo que culminou na aprovação da legislação sobre o entorno espacial do traçado do monotrilho em São Bernardo. O estatuto daquela entidade é apenas um penduricalho de suposta roupagem ética e moral utilizado como biombo para dar ares de democracia ao que não passa de autoritarismo e privilégios?
Milton Bigucci --
CapitalSocial – Como o senhor se sente como autoproclamado benemerente ao ser colhido em flagrante delito como delinquente empresarial envolvido intestinamente com a Máfia do ISS de São Paulo, conforme apuração do Ministério Público Estadual em associação com a Controladoria-Geral da Prefeitura paulistana? O senhor tem ideia do quanto do sonegado em impostos, em associação criminosa com servidores corruptos, significaria de dinheiro para atendimento a entidades assistenciais?
Milton Bigucci --
CapitalSocial -- Quanto é o orçamento anual da Associação dos Pequenos Leões, da qual o senhor se diz benemerente, e quanto isso representa dos recursos financeiros que o conglomerado de empresas que o senhor representa deixou de pagar à Prefeitura de São Paulo em operações fraudulentas, conforme denúncias do Ministério Público Estadual?
Milton Bigucci –
CapitalSocial – Por que o senhor não promove revolução no tecido empresarial de São Bernardo ao lutar pela democratização do setor imobiliário. incorporando avanços urbanísticos e econômicos proporcionados pelos pequenos e médios construtores de Santo André? Qual a razão de o senhor não se perturbar com a mudança da lei de uso e ocupação do solo de forma a permitir o crescimento dos pequenos construtores que, em Santo André, por exemplo, representam fôlego diferenciado à constituição de empreendimentos descentralizados dos grandes corredores comerciais e residenciais? Os pequenos construtores não lhe agradam?
Milton Bigucci –
CapitalSocial – O senhor é acusado por lideranças dos pequenos construtores de Santo André de inimigo visceral da disseminação do conceito de empreendedorismo no setor imobiliário, trabalhando efetivamente para restringir a atuação deles por defender grandes construtoras e incorporadoras locais, como a MBigucci. O senhor tem conhecimento dessas críticas? Quantos associados de pequeno porte de Santo André integram a lista de filiados do Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC, presidido pelo senhor?
Milton Bigucci –
CapitalSocial – Como um dos integrantes da Máfia do ISS, conforme declarações de membros do Ministério Público Estadual, que medida o senhor tomou para preservar a imagem tanto o Secovi, Sindicato da Habitação de São Paulo, do qual é membro diretivo, como também do Clube dos Especuladores Imobiliários? A historiografia converge para um ponto em comum: até que se definam os resultados das investigações, o acusado solicita afastamento dos cargos. O senhor considerou desnecessário tomar essa iniciativa levado pelo sentimento de que a impunidade lhe garantirá coerência à permanência nos respectivos cargos ou entende que instâncias diretivas do mercado imobiliário são um mundo de ética e responsabilidade social à parte e, portanto, não devem satisfação à sociedade?
Milton Bigucci --
CapitalSocial – O advogado Calixto Antônio Júnior, um dos envolvidos e denunciados no escândalo do Semasa, afirmou categoricamente que o senhor participou de ilicitudes naquela autarquia pública de Santo André. O senhor tem conhecimento disso? E tendo conhecimento, tomou iniciativa para defender-se?
Milton Bigucci –
CapitalSocial – O senhor conta com blindagem de uma parte da mídia regional que ignora as lambanças que já patrocinou. Ao mesmo tempo, procura de todas as formas calar representantes do jornalismo independente. Essa postura já foi denunciada por fontes deste jornalista como ação corriqueira durante as mais de duas décadas de controle do Clube dos Especuladores Imobiliários, daí o fato de a entidade ter virado pó de representatividade. O senhor entende que esse tipo de relacionamento está de acordo com os tempos de transparência, compartilhamento e interação social que vivemos?
Milton Bigucci –
CapitalSocial -- Até quando o senhor vai continuar desfilando números ilusionistas sobre o mercado imobiliário, induzindo a sociedade a desembolsar valores irreais? O senhor acredita que há algum erro de avaliação crítica quando se afirma que, na condição de presidente de uma entidade com amplo espaço na mídia, está a cometer persistentes crimes contra a economia popular ao divulgar dados sobretudo sobre o valor do metro quadrado construído como referencial ao fechamento de contratos de financiamento bancário? O senhor tem alguma dúvida sobre a justeza dessa crítica ou acha natural que atue como espécie de Espertíssima Trindade, fenômeno que funde suas atividades de corretor de imóveis, empresário e presidente de entidade de classe?
Milton Bigucci --
CapitalSocial -- Recentemente o senhor publicou texto em defesa dos compradores de imóveis ao afirmar que eles sempre saem perdendo ante supostas dificuldades que administradores públicos criam com mudanças na lei de uso e ocupação do solo. Entretanto, o que não falta no Judiciário são ações de compradores de imóveis do conglomerado que o senhor dirige, todos convergindo para um mesmo destino: são ludibriados pela companhia. O senhor escreve ou manda escrever artigos como jogo de cena deliberado?