PESQUISAS ELEITORAIS
ALÉM DOS NÚMEROS (21)
DANIEL LIMA - 05/11/2024
Confesso aos leitores que bater no Datafolha da Folha de S. Paulo é um de meus esportes jornalísticos preferidos. Seria um desastre caso não o fizesse como jornalista, leitor e assinante. Pelo menos ou principalmente durante o período eleitoral de 2022. O texto que se segue mostra isso nesta série que está caminhando para o encerramento.
O Datafolha da Folha e a Folha do Datafolha devem ser sempre escrutinados, porque são as maiores fontes de informações e também de delitos interpretativos da indústria de pesquisas eleitorais.
É verdade que tanto a Folha quanto o Datafolha melhoraram nas últimas eleições, especialmente as eleições deste ano. Há mais concorrência e mais lentes críticas. Concorrência e lentes críticas recomendam maiores cuidados para a casa da reputação já frágil não desabar de vez. Estou devendo uma análise sobre esse assunto. Farei ainda nesta temporada.
Folha e Datafolha ignoram os
erros e excedem em descrédito
DANIEL LIMA - 05/10/2022
O que parecia impossível no pós-eleitoral de domingo se consumou ontem, terça-feira. O Instituto Datafolha e a Folha de S. Paulo, irmãos siameses dentro do Consórcio de Imprensa, ou seja, a Velha Imprensa organizada como nunca, saíram do primeiro andar de desconfiança e desabaram no subsolo de descrédito absoluto.
Não há campanha de marketing que restaure a vergonha que passaram. São cristais partidos. Nem mesmo a falta de memória nacional minimizará o estrago. Agora a implacável Internet virou aquela vizinha fofoqueira que sabe de tudo e de todos.
A manchete de página interna da Folha de S. Paulo de ontem (“Bolsonaro recebeu voto útil na última hora, aponta Datafolha”) é o atestado de óbito moral e ético das duas organizações.
À falta de explicações técnicas, porque as pesquisas do Datafolha têm sido constantes em manipulações, procurou-se tergiversar e chamar cada leitor de estúpido.
FESTA FRUSTRADA
Resumidamente, o fenômeno alegado pelo Datafolha e interpretado sempre com vieses alucinantes da Folha de S. Paulo quis dizer que houve uma faixa de eleitores que, à última hora, decidiu votar em Jair Bolsonaro e, com isso, impediu a festa preparada na Avenida Paulista pelo PT. Uma festa, que, como se sabe, como mostrou a TV, parecia um velório.
Mais que isso: num velório, há sim o dor e a solidariedade como elementos sagrados. Na suposta festa pela vitória no primeiro turno de domingo, os petistas, Lula da Silva adiante, pareciam estar num velório sim, mas de vez em quando se lembravam que organizaram uma comemoração e, por isso, colhidos no contrapé das urnas, ensaiaram sorrisos de felicidade fraudulenta.
NADA DE FENÕMENO
Há tantos indicadores que nocauteiam a Folha de S. Paulo e o Datafolha a ponto de tornar esse texto longo demais. Por isso, o suposto fenômeno de votos úteis atribuído a Jair Bolsonaro é tão ridículo como explicação que o texto da Folha de S. Paulo descarta outros resultados, como o do candidato a governador casado com Bolsonaro, Tarcísio de Freitas.
O provável novo governador do Estado deu um pinote ainda mais extraordinário ao transformar derrota implacável em vitória acachapante no confronto com o petista Fernando Haddad. Nada de votos vazantes de Ciro Gomes e Simone Tebet no caminho. Até porque, no caso da disputa presidencial, os dois candidatos oscilaram dentro da margem de erro da última pesquisa. Da mesma forma se configurou a vitória do igualmente candidato bolsonarista Marcos Ponte ao Senado contra o ex-governador tampão e aliado do PT, Marcio França.
COLEÇÃO DE ERROS
A coleção de tropeços estatísticos do Instituto Datafolha é extensa e não se estabeleceu especificamente nos dados publicados na edição impressa de domingo.
Veio ao longo dos últimos meses como complemento de um processo de desgaste da imagem do presidente da República (muitas vezes motivado pelo próprio presidente) com o propósito evidente de torná-lo peça fora do baralho nas eleições. Escrevemos muito sobre isso.
Da mesma forma que desconfio das urnas eletrônicas, embora não as demonize nem as considere descartáveis, também entendo que pesquisas eleitorais são um mecanismo de verificação dos humores da sociedade em geral.
Tanto num caso como no outro a melhor alternativa é dar transparência. Mais que dar transparência, produzir curadoria de transparência.
MAIS TRANSPARÊNCIA
No caso das urnas, tornando-as conferíveis, ou seja, adaptando-as a mecanismos de aferição que associe tecnologia digital e tecnologia impressa, para conferência instantânea dos votos. Como se faz em qualquer compra no mercado.
No caso das pesquisas, qualquer tentativa restritiva ou de cerceamento será em vão. O mercado negro aflora e a bagunça de agora se tornará ainda muito pior. Alguns experimentos autoritários em outros países se comprovaram inúteis.
COMO MANIPULAR
A saída é definir e aplicar dispositivos que tornem as unas eletrônicas menos suscetíveis a manipulações.
E manipulação não é nada mais que alguns macetes que influenciam o resultado final, principalmente no uso do questionário aplicado e muito pouco provável de serem detectados.
Quer um exemplo? A ordem de perguntas aos eleitores induz respostas subsequentes de tal forma que o que a princípio poderia ser a construção do perfil de uma disputa, torna-se completamente diferente.
Quer um exemplo do exemplo? Quando se pergunta e da forma que se pergunta qual a opinião do eleitor sobre o presidente da República, sabendo-se como se sabe que nestes tempos de tecnologias portáteis e Velha Imprensa esfomeada por recursos publicitários não há como escapar à reprovação ou à aprovação precária, a resposta condiciona respostas seguintes. Ou seja: com o simples enunciado de “aprovação ou reprovação” de um incumbente, coloca-se em dúvida a qualidade da gestão. Qualquer questionamento que contenha condicionalidade interpretativa é o caminho da perdição científica, no caso das pesquisas eleitorais.
PROVIDÊNCIAS A TOMAR
Escrevi outro dia espécie de manual de como analisar pesquisas eleitorais. Acho que esgotei o assunto pontualmente.
Estruturalmente, seria preciso aprofundar cada um dos quesitos selecionados. Por isso não vou ser repetitivo.
O resumo da ópera do Datafolha e da Folha de S. Paulo pós-apuração dos votos domingo é, imaginava este idiota, que as duas organizações iriam fazer reflexão sincera sobre a hecatombe numérica. Qual nada. A patetice é sólida tanto quanto a arrogância.
A Folha de S. Paulo, que interpreta as pesquisas do Datafolha da forma que lhe convém, numa fórmula que se repete na cadeia de transmissão da Velha Imprensa, parceira da guerra insana contra a presidência da República, precisa se dar conta de que o prestígio que amealhou no passado está esboroando a cada nova edição.
E A AUTORIDADE?
A Folha de S. Paulo não tem mais autoridade moral e ética para ofender a sociedade brasileira ao afirmar em coro nacional dos insatisfeitos da mídia que os dois últimos Sete de Setembro foram o coroamento de atos antidemocráticos.
Tanto quanto o presidente da República precisa vir a público em rede nacional de rádio e televisão, aproveitando o calor eleitoral, e solicitar desculpas ao mesmo povo brasileiro pelas barbeiragens que cometeu durante o período mais recrudescente da pandemia do Coronavírus.
Igualmente, o ex-presidente da República ,Lula da Silva, precisa vir a público e confessar que o período petista foi o mais agressivamente destruidor de balizas de moralidade, espalhando como metástase a roubalheira como política de gestão pública.
CASO CELSO DANIEL
Lula da Silva deveria seguir o exemplo de Gilberto Carvalho, assessor de todas as horas, que, como prova de respeito à sociedade, não só admitiu como afirmou que havia esquema de desvios de recursos financeiros da Prefeitura de Santo André no período em que Celso Daniel se preparava para dar um salto extraordinário ao assumir a coordenação da campanha de Lula da Silva rumo a Brasília.
Acho que passou da hora de o Brasil demonstrar na prática o quanto essa e tantas outras cargas de equívocos e abusos fizeram explodir a confiança da população nos homens públicos.
Não se espera, evidentemente, que a política nacional se transforme num paraíso de respeitabilidade, confiança, zelo pelos recursos públicos e tantos outros ingredientes em falta, mas não custa nada dar um pontapé nessa direção.
VELHA, VELHA, VELHA
A Velha Imprensa, que faz escola na mídia em geral, a Velha Imprensa cada vez menos respeitada pelos consumidores de informação, a Velha Imprensa que ainda não caiu na real de que o mundo mudou e que o Brasil está em efervescente mudança, a Velha Imprensa precisa deixar de ser a Velha Imprensa do presente e, mesmo com os vícios conhecidos, volte a ser a Velha Imprensa do passado de imperfeições, abusos, exageros, omissões, mas profundamente menos ridícula e nociva quanto hoje.
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