Esportes

SAF desnuda imperialismo
e covardia em Santo André

  DANIEL LIMA - 01/07/2022

O prefeito Paulinho Serra só está agindo com dissimulada covardia, mas incontrolável imperialismo na questão da SAF do Esporte Clube Santo André, porque conta com ambiente político-institucional apropriado. 

Uma das ramificações dessa situação é a covardia escancarada do próprio clube, somada à omissão de instituições em geral do Município, da mídia benevolente com uma Administração Pública medíocre, das torcidas organizadas no bolso do colete de proeminências pardas da gestão da Prefeitura e tudo o mais que quiserem colocar no pacote de vagabundagem coletiva. 

Quem entender que os termos colocados acima são agressivos (até parece que o dito jornalismo profissional da Velha Imprensa só é integrado por religiosos) provavelmente se insere numa ou em mais das seguintes alternativas: 

a) Não tem amor nenhum pelo futebol da cidade. 

b) Não está nem aí com o cheiro da brilhantina do que se convencionou chamar de pertencimento cidadão. 

c) Não dá a mínima atenção ao que se passa nos bastidores de horrores do Paço Municipal de Santo André. 

d) Considera o prefeito acima de qualquer suspeita. 

e) Eleva o entorno do prefeito à condição de santos parceiros. 

f) Não bota fé em nada que se refere ao futebol como empreendimento privado. 

g) Acredita piamente que o autor destes parágrafos quer mesmo é tumultuar. 

h) Não acredita em nada que possa ao menos sugerir que o prefeito é protegido da mídia.   

JUNTE AS ALTERNATIVAS 

Poderia aumentar a lista de alternativas, mas, pensando bem, há latente multiplicidade implícita no que está aí. Afinal, quem fizer a opção por um dos enunciados, unzinho apenas, certamente está muito próximo de aderir aos demais.   

Portanto, qualquer coisa que se escreva tendo como base (e agora chegamos ao ponto crucial) que a questão do modelo de SAF (Sociedade Anônima do Futebol) não se restringe à esfera exclusivamente esportiva, colocando-a no campo da cidadania municipal (vamos esquecer a regional, maltratada por natureza e safadeza), será pura perda de tempo. Mas é disso que se trata.  

O futebol do Santo André é apenas um pretexto (pretexto no bom sentido) para chegar aonde sempre quero chegar e jamais chego porque os abutres são vorazes: alertar a sociedade de Santo André de que o que o prefeito e sua turma fazem com a agremiação virou lugar-comum em outras instituições do Município. A quase totalidade está entregue aos desígnios e aos encantos do Paço Municipal. 

IMPÉRIO PARTIDÁRIO  

Ou seja: o desprezo associado à gulodice é um método resultante da convicção de entender que se está no comando de um bando de borralheiras. Borralheiras, nesse caso, são uma população de tapados, de ignorantes, de marias-vão-com-as-outras. É assim que o Paço Municipal vê a sociedade de Santo André. Não o fosse, a respeitaria. 

Afinal, faça o que fizer, nada ameaçará sequer levemente o império de partido único em que se transformou a política partidária do antigo Viveiro Industrial. 

Em outros tempos, num passado em que Santo André e suas instituições tinham vergonha na cara, ou pelo menos fingiam que tinham vergonha na cara, nenhum prefeito ousou sequer sugerir que o Estádio Bruno Daniel escapuliria dos domínios do clube que motivou a construção e a ampliação da praça que propaga o maior patrimônio cultural do Município. 

PETULÂNCIA DECISÓRIA  

Que prefeito do passado não muito distante (até mesmo o antecessor de Paulinho Serra, o petista Carlos Grana) teria a petulância de fechar as portas a relações cooperativas com investidores numa modalidade cada vez mais frequente nos distintivos de equipes do futebol brasileiro? A demanda por sobrevivência competitiva sempre falaria mais alto. E com racionalidade.  

Pois não é que Paulinho Serra, até outro dia secretário municipal também medíocre do então prefeito petista Carlos Grana, não está nem aí, certo de que, com os parceiros de jornada aos quais se uniu numa operação indigesta para quem tem certos pudores, coloca-se como obstáculo intransponível ao caráter de urgência ou de certa urgência que tipifica a passagem do Esporte Clube Santo André para um patamar mais elevado. 

Um patamar que poderia ser parelho ao São Bernardo, clube-empresa, com quem se defronta neste sábado pela Série D do Campeonato Brasileiro.  

VIZINHO DÁ EXEMPLO  

Enquanto o São Bernardo lidera a competição e coleciona não só vitórias, mas uma invencibilidade defensiva que coloca seu goleiro na lista dos mais indevassáveis na história do futebol brasileiro, o Santo André de baixo orçamento e nenhum apoio faz das tripas coração para ainda sonhar com a classificação.  

Provavelmente o Santo André morrerá na praia como de outras vezes, desde que foi rebaixado sucessivamente do calendário nacional.  

Não custa lembrar que o São Bernardo recebeu do prefeito Orlando Morando a concessão do Estádio Primeiro de Maio sem embaraços de bastidores e em condições financeiras praticamente protocolares. O retorno à imagem da cidade tem valor inestimável.  

CONHECE BRAGANÇA? 

Tem ou não tem? Você, só para dar um exemplo, colocaria a pequena Bragança Paulista numa lista de cidades capturadas imediatamente pela mente ou só liga o nome à notoriedade e notabilidade por conta do futebol, antes mesmo da chegada do energético Red Bull?  

Mas, vamos voltar ao que de fato interessa, ou seja, muito além do gramado, da SAF e de tudo que tenha relação direta com o futebol. 

Houvesse uma Santo André vibrante como expressão social, o prefeito Paulinho Serra seria escorraçado do Paço Municipal. Como quase fizeram   contribuintes que no segundo ano de gestão do tucano foram ao Paço Municipal e o levaram a recuar do aumento abusivo do IPTU.  

Pena que, na sequência, com novos abusos de cobranças, mas com opositores calados ou cooptados, a sanha arrecadatória não encontrou limites. É assim que se adestra uma sociedade e as instituições no modelo ditatorial de Paulinho Serra.  

TUDO SOB CONTROLE  

Mas como conduzir a algo contestador se até mesmo as torcidas organizadas do Santo André, boa de briga nos estádios, está silente, omissa, entregue a intermediários da Administração Municipal em benesses que anestesiam a bravura nas imediações do Estádio Bruno Daniel em dias de jogos. 

E a diretoria do Esporte Clube Santo André, sem respaldo institucional de quem quer que seja, comporta-se covardemente, como se a própria sobrevivência competitiva não estivesse em jogo.  

Nenhum comunicado foi exposto aos associados e à sociedade em geral para tratar com transparência a cessão do Estádio Bruno Daniel. E olhem que não faltam associados do Parque Poliesportivo Jairo Livolis, identidade de um presidente que não aceitaria a prorrogação desse jogo de interesses particulares.   

LIVOLIS REAGIRIA  

Um posicionamento crítico da direção do Esporte Clube Santo André ao imperialismo do Paço Municipal provocaria alguma coisa. Bem melhor que o fechamento do fechamento do caixão de dignidade em forma de silêncio.  

Portanto, deixem o Estádio Bruno Daniel de lado. Pensem no quanto a cidade de Santo André, mais que a covardia do Esporte Clube Santo André, está imobilizada por um grupo opressor que tomou conta do Paço Municipal. Um grupo que goza de total apoio ou omissão da mídia regional.  

Santo André é um endereço de partido único, de mandachuvas opressores, de arreglos que ofendem o regime democrático.  

TUDO PASSA 

A morte matada do PT na cidade após as diabruras do PT nacional não encontra uma única liderança com lastro para reconstruir as teias do contraditório.  

Todos foram docilmente levados à correnteza opressora do grupo de Paulinho Serra, inclusive dezenas de lideranças petistas.  

O mesmo Paulinho Serra, repita-se, introduzido na gestão do petista Grana e de lá saiu para os braços do povo porque os estragos nacionais do PT favoreceram oposicionistas de todos os calibres nas eleições municipais de 2016. Tanto quanto a pandemia, quatro anos depois, sustentou reeleição recorde dos titulares ou de seus indicados.  

A esperança de que tudo isso vai passar deve embalar os sonhos daqueles que desaprovam o estágio de absolutismo político em Santo André.  

PROJETO POPULISTA  

Os efeitos vinculantes do todo-poderoso prefeito aniquilaram movimentos de rebeldia e de inconformismo.  

Há um ambiente de medo e de retaliações no ar. O medo é justificado entre outras razões porque há situações que comprovam o mandonismo avassalador. 

Ver o Esporte Clube Santo André chegar ao estágio a que chegou, ou seja, aceitando calado o que o Paço Municipal lhe impõe num jogo sórdido, só é menos vexatório que a inação da sociedade de Santo André, ludibriada na cara dura por um projeto populista recheadíssimo de mentiras e meias-verdades que têm na Secretaria de Premiações e Indicadores referência máxima de inutilidades.   

Uma situação acintosa para quem tem vergonha na cara e, no caso do jornalismo, rejeita qualquer tipo de encabrestamento vil. 

CIDADE ENTREGUE  

Santo André de esvaziamento econômico quase cinquentenário arrefeceu como sociedade que jamais foi organizada (como as demais sociedades da região), mas sempre contou com nichos de resistência e de paixão pelas suas cores, tanto do Município quanto do clube que sempre a representou.  

Faltam dados atualizados, mas por volta de 40% da População Economicamente Ativa de Santo André trabalha fora de Santo André.  

A fuga de cérebros e braços representa vulnerabilidade no campo social. Não se transforma um Município, retomando-se o vigor do passado, contando com moradores de verdade apenas dois dias por semana.  

As relações sociais em Santo André -- e em larga parte dos demais municípios da região -- explicam parte dessa descomunal força dos mandachuvas e mandachuvinhas.  

Octaviano Gaiarsa escreveu faz algum tempo que Santo André dormiu três séculos. Antes Santo André dos últimos anos houvesse voltado a dormir. Pelo menos não passaria o vexame de acompanhar passivamente um constante desfalque de peças preciosas de sua cultura associado à incapacidade de reagir aos ditadores de plantão.  

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