Economia

Emprego na crise: Diadema em
último, Barueri única a resistir

  DANIEL LIMA - 14/12/2021

Fizemos um recorte no G-22, o Clube dos 20 Maiores Municípios do Estado de São Paulo (exceto a Capital e incluídas Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra para a formação do Grande ABC). Transformamos o G-22 em G-13. Resultado? Barueri é o único Município que resistiu à avalanche de queda de emprego formal desde janeiro de 2015, quando começou a crise econômica no País. E Diadema é o pior endereço.  

O Grande ABC sofre muito mais que a vizinhança mais poderosa da Grande São Paulo e semelhantemente às capitais das maiores regiões metropolitanas do Estado.  

Ainda vamos produzir análise tratando do G-22 como um todo, mas o G-13 é precioso na medida que contempla praticamente todos os maiores municípios do Estado. Comparar o Grande ABC como outras áreas do Estado é um exercício permanente porque não somos uma bolha. Estamos inseridos no mundo dos negócios globalizados.  

O emprego formal em todas as atividades é um indicador importante para estabelecer juízo de valor sobre o comportamento da economia em cada território e em cada região.  

Santo André e Mauá  

Tanto é verdade que não é por acaso, mas pela infraestrutura logística, que Barueri, Osasco e Guarulhos, que formam o G-3M (M de Metropolitano), explicitam melhores resultados que o Grande ABC e o G-3I (I de Interior), formado por Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. O G-13 tem nuances próprias municipais e regionais.  

Nem mesmo onde há semelhança numérica do saldo negativo nos últimos seis anos, caso especifico do Grande ABC e das três capitais do Interior do Estado, existe convergência explicativa à derrocada do emprego formal.  

Apesar de os resultados gerais do Grande ABC serem comprometedores, Mauá e Santo André escaparam da derrocada quase generalizada do G-13. Mauá está em segundo lugar e Santo André em terceiro no ranking do grupo. Ou seja: só estão atrás da líder Barueri. Os registros dos dois municípios da região são negativos, mas muito menos dramáticos do que dos demais.  

Serviços ajudam muito 

A melhor explicação para a resistência relativamente forte de Santo André e de Mauá é a influência do Polo Petroquímico e a indústria química que o rodeia, atividades que geram menos emprego que Valor Adicionado, mas que também estão menos suscetíveis a perdas no mercado de trabalho.  

No caso específico de Santo André, houve incremento de empregos no setor de serviços. À parte a influência da atividade no PIB, inferior a do setor industrial, os serviços podem ser sim uma válvula de escape em situação de gravidade econômica, como a que vive o Brasil desde 2015.  

É tão verdadeiro colocar o setor como colchão amenizador da queda de emprego geral que Barueri lidera não por acaso, mas porque conta com serviços muito acima do setor industrial em carteiras assinadas. Santo André tem cada vez mais contingente de carteiras assinadas nas atividades de serviços. A indústria emprega relativamente pouco.  

Quase metade 

O Grande ABC colecionou no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2020 uma dura realidade de esvaziamento econômico que se impõe no século e que ganhou fôlego apenas durante o segundo mandato do governo Lula da Silva com incrementos na indústria automotiva.  

Situação bem diferente de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, que, não só veem de um passado menos destrutivo como também agregam valor mesmo quando perdem participação no emprego formal, porque são capitais de regiões importantes do Estado.  

Do total de 198.77 empregos com carteira assinada que desapareceram em seis anos no G-13, parcela significativa de 47,30% saiu do Grande ABC. Ou uma taxa acumulada de 11,48%. O G-3I (Campinas, Sorocaba e São José dos Campos) perdeu um pouco menos (92.858), que representou baixa do estoque de 10,79%. Já o G-3M (casos de Guarulhos, Osasco e Barueri) viu o estoque ser rebaixado em apenas 1,49%, com queda de 11.905 empregos formais. É nesse grupo que o peso de Barueri faz a diferença.  

Dependência automotiva  

Excessivamente dependente do setor automotivo, com enorme contingente de autopeças, e mesmo tendo também uma certa diversidade industrial, mas prevalecentente dominada por pequenas empresas industriais, a encalacrada Diadema é o endereço mais terrivelmente abatido no emprego formal durante os seis anos de crise nacional.  

Com rebaixamento do estoque de trabalhadores com carteira assinada de 28,46%, (saldo negativo líquido de 23.832), Diadema é a última colocada no ranking do G-13. 

Rodoanel define  

Num evidente contraste que tem como uma das explicações a logística privilegiada do trecho oeste do Rodoanel, além de política de guerra fiscal para atrair mais e mais empresas de serviços de várias áreas, Barueri é o único endereço do G-13 a resistir aos solavancos macroeconômicos e políticos: aumentou em 10,32% o estoque de trabalhadores formais, com saldo positivo de 30.284.  

O G-13 apresentou no fim do ano passado estoque geral de 2.278.354 trabalhadores formais. Desse total, 724.817 estão nos sete municípios do Grande ABC – ou 31,81%. A participação relativa do emprego formal na região é inferior à perda líquida do estoque durante os seis anos que se iniciaram no governo Dilma Rousseff, passou pelo governo Michel Temer e segue no governo Jair Bolsonaro.  

O Grande ABC acumulou no período perda de 47,30% dos trabalhadores do G-13. Ou seja: acima do limite máximo de equilíbrio entre as partes. Isso significa, em linhas gerais, que a vulnerabilidade do emprego formal no Grande ABC é maior que nos demais municípios do agrupamento.  

Ou seja: estamos mais suscetíveis às consequências deletérias de um País que insiste em patinar na Economia.  

Políticas locais  

Políticas locais podem fazer a diferença, como mostra particularmente Barueri, mas também Osasco e menos Guarulhos, que formam o G-3M. Entretanto, entre outros vetores, é decisivo que a logística interna e no entorno dos municípios seja compatível com a demanda. O Grande ABC está encalacrado. Virou uma cidade de São Paulo sem as vantagens comparativas da cidade de São Paulo.  

Uma pergunta que poderia ser feita para tentar colocar contra a parede da coerência a teoria de que a logística contribui imensamente para tornar uma cidade ou uma região mais robusta em competitividade é a que colocaria o resultado final do emprego formal do Grande ABC e dos três maiores municípios do Interior, Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, em situação numérica semelhante. 

Dez vezes mais  

Afinal, enquanto o Grande ABC perdeu 11,48% do estoque de trabalhadores formais em seis anos, o G-3I viu reduzido em 10,79%. Por que geografias diferentes, quando se compara o Grande ABC com cada uma das cidades do G-3M, comportaram-se em formato semelhante?  

Uma das explicações e provavelmente a mais consistente, porque comprovadamente histórica, é que aquelas três áreas metropolitanas passaram a crescer menos na medida em que a expansão do tecido econômico se dirige às cidades vizinhas, de competitividade superior.  

Algo como se deu na São Paulo antiga que aos poucos foi perdendo musculatura industrial (mas não econômica) para a vizinhança do Grande ABC e outras áreas da Região Metropolitana.  

Não bastasse isso, os próximos anos deverão confirmar a tendência igualmente reproduzida no passado: as capitais metropolitanas do Interior Paulista exibirão maior capacidade de recuperação do emprego em todas as atividades porque, entre outros motivos, atraem volume muito maior de investimentos.  

Principalmente agora que o Coronavírus colocou critérios de localização de empreendimentos na marca do pênalti, incrementando a interiorização de negócios.  

Ranking de seis anos   

Veja o ranking completo do G-13 no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2020. Os números revelam dados de empregos formais em todas as atividades – indústria, comércio, serviços, Administração Pública, Agropecuária e Construção Civil: 

1. Barueri aumentou o estoque em 30.284 trabalhadores, com crescimento de 10,32%. 

2. Mauá perdeu 2.460 no estoque de trabalhadores, ou 3,81%. 

3. Santo André perdeu 13.854 no estoque de trabalhadores, ou 6,85%. 

4. Guarulhos perdeu 25.537 no estoque de trabalhadores, ou 7,14%.  

5. Sorocaba perdeu 17;088 no estoque de trabalhadores, ou 8,09%.  

6. São Caetano perdeu 9.219 no estoque de trabalhadores, ou 8,92%. 

7. Osasco perdeu 16.742 no estoque de trabalhadores, ou 9.45%. 

8. Rio Grande da Serra perdeu 349 no estoque de trabalhadores, ou 9,95%. 

9. Campinas perdeu 49.527 no estoque de trabalhadores, ou 11,26%.  

10. São José dos Campos perdeu 26.243 no estoque de trabalhadores, ou 12,51%.  

11. São Bernardo perdeu 40.219 no estoque de trabalhadores, ou 16,29%. 

12. Ribeirão Pires perdeu 4.075 no estoque de trabalhadores, ou 19,68%. 

13. Diadema perdeu 23.832 no estoque de trabalhadores, ou 28,46%.  

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