Regionalidade

Só um Clube do Bolinha para
melhorar a economia regional

  DANIEL LIMA - 15/11/2021

Essa é uma manchetíssima que poderá levar muitos leitores a dar interpretação equivocada a um alerta. Nada mais compreensível. É de propósito que assim decidi fazer. Somente quem está mal das pernas como o Grande ABC em Regionalidade Econômica pode ganhar. Para isso, basta deixar de perder. E, mesmo que tenuamente, começar a reagir.  

Clube do Bolinha não é um artificio de gênero para colocar a economia do Grande ABC nos trilhos. É puramente uma expressão temática. Vamos explicar.  

Somos uma arma descarregada ante leões famintos, um corda ensaboada num muro de presidio e um corredor de obstáculos semiparalisado. Você vai entender essas metáforas mais adiante. 

O Grande ABC Econômico é um time da Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro de Competitividade. Qualquer lufada de reformismo basta para tudo começar a mudar. E precisa mudar.  

Outro dia explico em detalhes porque somos de Quarta Divisão, embora com potencial de Primeira. De G-4 de Libertadores de Aflições.  

Pretendo nos próximos tempos regionalizar ainda mais a economia do Grande ABC como uma das pautas obrigatórias da linha editorial. Tanto que até adotei neste texto uma nova expressão, obrigatória de agora em diante.  

Até que me decidisse como me decidi hoje a utilizar mais constantemente a expressão “Regionalidade Econômica”, raras vezes em mais de 30 anos de LivreMercado/CapitalSocial havia me decidido por essa configuração. A primeira vez data de 2001; portanto há 20 anos. 

Tudo é fruto da Via Preferencial da política como meio de se alcançarem resultados imprescindíveis nos ramais da Economia e do Social.  

Contexto focalizado  

Regionalidade Econômica no contexto que passo a usar é uma ação editorial pioneira. Trata-se de campanha subliminar para alguns e compulsória para mim de enfatizar a relevância de se erguerem barricadas de coletivismo intelectual para impedir que assuntos de menor importância ao futuro sigam a atropelar um conjunto de medidas que dariam um norte de políticas efetivas e intransigentes em direção a resoluções já postergadas demais.  

Quando o varejo ganha do atacado na política, é sinal de que a situação está péssima. Quando o varejo perde espaço e empata com o atacado, é sinal de que existe alguma coisa em movimento reativo. É isso que se pretende. Até que o varejo seja varejo de circunstâncias naturais, uma peça menor ante do atacado bem selecionado e resolvido.  

Como registrei numa das últimas abordagens, a logística é parte obrigatória de uma agenda que tenha a Regionalidade Econômico como linha de frente. E Regionalidade Econômica é linha de frente mesmo.  

Deslocando artilharia  

Qualquer batalhão de gente do Poder Público e da Sociedade que se pretenda formar para tratar dos percalços e dos sonhos do Grande ABC deverá girar em torno da Regionalidade Econômica. O resto é complemento, não diversionismo.  

Como disse outro dia a alguns interlocutores com os quais iniciamos contatos visando entregar alguma coisa às próximas gerações, não seria inicialmente o Clube dos Prefeitos o espaço institucional adequado à formulação de um diagnóstico seguido de planejamento e de fase de execução da Regionalidade Econômica.  

O colégio de prefeitos tem seu valor mas caiu num redemoinho de pautas múltiplas dispersivas demais. Os prefeitos precisam ser realocados temporal e estrategicamente em outro espaço, longe inclusive de idiossincrasias presentes.  

Clube do Bolinha 

Para tratar a Economia do Grande ABC em termos inovadores, pragmáticos e relativamente perenes, é imperiosa uma reconfiguração do conceito de regionalidade. É aí que entra a especificidade econômica.  

O ferramental que daria um tiro de largada em novas empreitadas teria de ser espécie do Clube do Bolinha -- não no sentido de gênero, mas de temática, como expliquei logo acima. Só entraria no Clube do Bolinha quem entende de economia, com foco regional e insumos nacionais e internacionais.  

Tenho uma montanha de ideias a propósito da Regionalidade Econômica. Não duvido que outros possíveis integrantes dessa agremiação inconsolada com os rumos do PIB do Grande ABC ao longo das últimas quatro décadas também ofereceriam cardápio variado, mas focado numa cirúrgica intervenção doutrinária.  

Será um feito inédito um grupo de colaboradores instalados no Poder Público e em nichos de representações econômicas da região finalmente chegue não só à conclusão de que estamos vivendo uma crise econômica sistêmica, carecemos de reação e não temos mais tempo a perder.  

Linha de frente  

Postas essas constatações sem resquício de dúvida ou sofisma (pré-condição para que se definam os nomes dos convidados), eis que teremos instalado um organismo provavelmente informal, mas agregado a oficialidades institucionais, para dar, finalmente, um tapa nos fundilhos do descaso com que tratamos o que se apresenta como o elemento mais importante ao reequilíbrio social do Grande ABC.  

É gigantesca a tarefa de juntar um punhado de gente de primeira linha que possa, com diferenças naturais e complementares, alinhar-se a uma causa que é de toda a sociedade regional.  

Esterilizar os interesses corporativos, ideológicos e políticos em favor de prerrogativas transformadoras será um teste e tanto. Daí a necessidade de se criar espécie de agenda conceitual que dará suporte à agenda técnica propriamente dita.  

Conceitos e execuções  

Há ignorantes na praça que não sabem o valor de conceitos e condicionalidades à proposição de determinadas iniciativas. Acham esses alienados que “conceitos”, por exemplo, é algo periférico na linguagem estratégica, quando não uma avocação protocolar desprovida de conteúdo organizacional.  

De fato não falta na praça gente que gasta palavras para encantar incautos, mas esses patéticos não resistem a qualquer questionamento. Tanto quanto os demonizadores de “conceitos”, que preferem o improviso geralmente calamitoso.   

Por essas e outras, o fundamento intrínseco a qualquer atividade que se apresenta inovadora ou transformadora é a exploração de cenários possíveis e mesmo improváveis. Afinal, adaptações reduzem a carga de eventuais decepções quando se projetam resultados idealizados na plataforma de otimismo incontido.  

Tarefa para ilustradores 

A Regionalidade Econômica do Grande ABC, um desafio aos profissionais de linha de frente que deverão se juntar, poderia ser facilmente traduzida por craques dos traços.  

Refiro-me especialmente aos ilustradores, essa categoria de artistas do cotidiano de jornais e revistas, de mídias sociais, que traduzem com facilidade os fatos nem sempre compreensíveis aos leitores.  

Fosse este jornalista alguma coisa competente com lápis e pincéis (sempre pareci extremamente incompetente nos desenhos escolares e constatei mais tarde, já adulto, que além de extremamente incompetente sou tremendamente apaixonado pelos artistas, espécie de lei de compensação sem traumas) não teria dúvida em me dividir entre três possíveis imagens que retratariam a situação regional. 

Três cenários  

A primeira ilustração daria conta de um prisioneiro que tenta escalar um muro elevado e percebe que a corda que o catapultaria ao outro lado, o lado da liberdade, só conta com dois dos 10 metros aderentes, já que os demais foram maliciosamente lubrificados para impossibilitar a jornada vertical. 

A segunda ilustração daria conta de um caçador atemorizado numa selva ao se dar conta de que lhe falta munição na arma de grosso calibre que derrubou duas feras enquanto outras oito estão prontas à arremetida.  

A terceira ilustração é de uma corrida de obstáculos de mil metros na qual um potencial vencedor ultrapassa as duas primeiras barreiras com facilidade mas sofre os efeitos de uma preparação cansativa e estanca diante do terceiro cavalete que se agiganta à frente, enquanto outros sete se veem mais adiante. 

Façam a escolha  

Creio que qualquer ilustrador daria muito mais vida aos enunciados e transmitiria com mais facilidade e didatismo a posição do Grande ABC no campo da Regionalidade Econômica. Mas, em linha gerais, é assim que estamos, qualquer que seja a escolha da sugestão aos leitores.  

É claro que há saídas, porque a arma poderá ser recarregada a tempo, uma corda reserva poderá ser lançada e a baixa autoestima do corredor de mil metros desapareceria diante de pensamento assertivo próprio dos atletas e da endorfina.  

A corda da esperança, a munição da organização técnica e a autoestima do pragmatismo prospectivo estão disponíveis como elementos de junção de interesses em comum.  

O Grande ABC está na zona de rebaixamento de competitividade econômica nacional e só tem a ganhar se buscar alternativas que não flertem com charlatanismo. 

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