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Imprensa

DANIEL LIMA - 04/11/2024

Está imperdível esta nova edição de Capital Digital Online, ferramenta que utilizei durante os nove meses em que ocupei a direção de Redação do Diário do Grande ABC para me comunicar com todos os colaboradores da empresa, inclusive de outras áreas. Leiam com atenção a edição que se segue, de 9 de agosto de 2004 e também a seguinte, de 16 de agosto. Você vai começar a entender as razões que a transformação geral foi interrompida. 

 EDIÇÃO QUATRO

Grande ABC, segunda-feira, 9 de agosto de 2004. Estamos iniciando mais uma semana de trabalho. Acredito que o saldo da equipe seja positivo, embora saltem evidentes alguns problemas que só serão eliminados com vagar. Entretanto, reações imediatas não podem ser proteladas.

O desmembramento da pesquisa do Instituto Brasmarket e o tratamento editorial que a equipe deu ao material garantem um novo perfil jornalístico que precisa ser colocado como marco de uma nova etapa da publicação. Essa iniciativa não é exclusiva minha.

Contei com suporte de vários profissionais da Redação na fase de introdução da medida, rompendo paradigmas. É sempre muito complicado quebrar conceitos que aparentemente se apresentam monolíticos.

 NÓS PAUTAMOS

Aos poucos a redação vai entendendo que quem pauta e quem ancora os acontecimentos no Grande ABC somos nós, jornalistas pagos para conduzir o jornal, não os aproveitadores de sempre. Isso não significa, é claro, que estamos blindados contra o bom senso que também surge da comunidade. Pelo contrário. Acontece que, na medida em que apurarmos nossas baterias de discernimento, mais passaremos a compreender o que é importante e o que é puramente oportunismo. Vamos estar atentos a tudo que parecer manipulável. Vivemos período eleitoral e todo cuidado é pouco. Ninguém vai nos transformar em marionetes.

 REPÚBLICA REPUBLIQUETA

Solicitei a entrega ainda hoje a todos os componentes da redação de exemplares do livro República Republiqueta, que lancei em 1º de outubro do ano passado. Trato de questões sociais, econômicas e culturais do Grande ABC. Quem ler com atenção passará a compreender melhor a profundidade de mudanças que pretendemos aplicar no jornal.

 INFORMEDIÁRIO NOVO

Vamos estabelecer nova filosofia editorial para o Informediário, cuja titular, se não me engano, volta de longa jornada de descanso proporcionada pelo banco de horas. Uma calamidade. Teremos uma reunião específica sobre o assunto. Inclusive com participação do fotógrafo que acompanha os acontecimentos. Ele tem muito de conhecimento para transmitir a quem precisa entender esse mundo sempre tratado à parte no jornalismo.

 NOVO REFORÇO

Contamos a partir de hoje com um profissional que conheço mais de trabalho do que de relações pessoais — Marcelo Moreira, que deixou a Gazeta Mercantil a meu pedido. Sou admirador de Marcelo Moreira e tenho absoluta certeza de que todos ganharemos com sua presença na redação. Ele vai reforçar a Secretaria e as editorias que estarão sob sua jurisdição, conforme o planejamento tático que adotaremos a partir de hoje.

Para tanto, teremos uma reunião com profissionais da Secretaria e de editorias para destrinchar as mudanças. Juntamente com Eduardo Reina, espero de Marcelo Moreira reformas conceituais na área operacional, cuja burocratização me desagrada intensamente. Eles têm experiência prática de jornalismo diário e saberão aplicar os fundamentos teóricos que me levaram a assegurar que a mesmice de atravancamento editorial faz parte do cenário das redações de muitos periódicos brasileiros. O conceito de multifuncionalidade é meu dogma.

 ECONOMIA DEVAGAR

Das editorias do jornal a única sobre a qual lamento dizer que não consegui ainda resultados minimamente palpáveis é a de Economia. Sinto alguma coisa estranha na engrenagem da editoria. Não podemos abrir mão, de forma alguma, de uma editoria que seja ponta-de-lança da reviravolta de nossa publicação. Trata-se, sem dúvida, de uma área complexa, mas é possível sim melhorar continuamente. Há inconformidades de todas as espécies e creio que com a chegada de Marcelo Moreira, a quem atribuirei entre outras funções a jurisdição filosófica da Economia, a situação tenderá a melhorar. Escrevo com a experiência de quem está há mais de 20 anos trafegando pela estrada econômica. Precisamos detectar as razões que nos colocam, nessa área, muito abaixo do mínimo necessário para o reerguimento da publicação.

 ESPORTE ENCAIXADO

A Editoria de Esportes está encaixando golpes cirúrgicos. O editor e seus comandados pegaram rapidinho a filosofia de transformar personagens em objetos centrais das matérias. Começa-se também a investigar detalhes estatísticos que viram atração jornalística. Sem segredo. Quando se capta o conceito, o resto fica fácil. A página de pescaria está na minha mira. Acho um exagero.

 POLÍTICA EMPENHADA

Não posso deixar de registrar também o avanço qualitativo e quantitativo da Editoria de Política. Entre outros aspectos, deixamos de correr atrás de pautas alheias e tratamos de enquadrar os personagens da vida partidária de acordo com nossos interesses jornalísticos. Isso também é conceito ramificado e bem aproveitado.

 SETECIDADES FÉRTIL

Em termos de qualidade editorial, Setecidades também vem mostrando avanços significativos. A setorização vai dar grandes resultados no curto prazo porque nada resiste à especialização dos profissionais.

 CULTURA ESPERTÍSSIMA

A matéria da edição de ontem da Editoria de Cultura & Lazer sobre o estado calamitoso da Orquestra Sinfônica de Santo André mostra que Ditchun e seus companheiros de trabalho estão atentíssimos a uma das ramificações editoriais, que trata de desvendar os problemas da infra-estrutura material e humana do acervo de cultura e lazer do Grande ABC. Tenho algumas ideias sobre novos incrementos na editoria, mas, dadas as circunstâncias de hierarquizar prioridades, prefiro deixar para depois. Cultura & Lazer me agrada porque, entre outros pontos, conseguiu resistir a muitos problemas que atingiram a redação ao longo dos anos.

 PESQUISAS ELEITORAIS (I)

Escrevi alguns textos ontem em meu escritório domiciliar e que serão utilizados na edição de amanhã do nosso jornal. São dados complementares da pesquisa da Brasmarket que interessam ser dissecados. Por exemplo: a influência de Lula e Alckmin nos votos para prefeitos é maior em São Bernardo.

 PESQUISAS ELEITORAIS (II)

O empenho de James Capelli e de Danilo Angrimani no reforço da cobertura das pesquisas eleitorais mostra que temos profissionais dispostos a colaborar intensamente com o produto final. Não poderia esquecer também do Roney Domingos. Ele adiou férias (ou banco de horas?) para não prejudicar a divulgação do material da Brasmarket.

 DESINTERESSE, NÃO!

Não detectei, até agora, um só exemplar de desinteresse na redação. Se houver qualquer possibilidade de identificar algo parecido, tenham certeza de uma coisa: não darei trégua. Entre outras razões porque o negligente sobrecarrega o companheiro de trabalho. Não posso admitir que quem esteja bem de saúde, seja jovem e tenha compromissos coletivos se distancie do processo de recuperação do produto.

 PAUTAS MÚLTIPLAS

Lembramos um dos princípios básicos de dar uma reviravolta na produtividade: trabalhem com três ou mais pautas simultaneamente, porque assim sempre será possível contar com disponibilidade de matérias. Quem trabalha com uma pauta de cada vez certamente será improdutivo.

 ENTREVISTAS

Precisamos uniformizar o padrão gráfico das entrevistas publicadas nas mais diferentes editorias. A Rita Camacho parece ter encontrado o ponto nevrálgico ao editar a entrevista que fiz com Jaime Guedes e publicada na edição de ontem. Não podemos permitir que cada editoria faça o que bem entender com o conceito de editar entrevistas. A leveza gráfica torna a leitura mais atrativa.

 DIRETOR DE REDAÇÃO

Qualquer matéria que assine no jornal não poderá acrescentar ao meu nome a função editorial que exerço. Agradeço a complementaridade apresentada na entrevista com Jaime Guedes, mas os leitores precisam compreender que o Daniel Lima jornalista é uma coisa e o Daniel Lima diretor de Redação não necessariamente é a mesma coisa. Traduzindo: posso assumir posição individual em meus comentários que, necessariamente, não sincronizem com a linha editorial do jornal. Como jornalista sou responsável individual; como diretor de Redação sou resultado de um coletivo que envolve meus companheiros de trabalho, diretores e acionistas.

 BANCO DE RESERVAS

Tão importante quanto trabalhar com pautas múltiplas é, no caso para os editores, não se precipitar no aproveitamento do material. Aliás, a multiplicidade de pautas permite que se utilizem matérias de acordo com circunstâncias espaciais de fechamento. Saber trabalhar com banco de matérias é algo semelhante a mexer num time que está precisando virar o resultado e conta com reservas gabaritados. Discernimento é fundamental.

 PRESIDENTE NA REDAÇÃO

Recebo hoje o presidente do Sindicato dos Jornalistas. Vamos conversar sobre banco de horas e outras questões. Não pretendo me meter na parte negocial do banco de horas, exceto se a mim for concedido o direito de apresentar alternativas para resolver esse problemaço. Pretendo apresentar ao dirigente minhas impressões sobre o assunto. Todos aqui sabem o quanto abomino essa criação demoníaca que consegue ser, vejam só, ao mesmo tempo sofrível para a empresa, estúpida para a classe jornalística e intensamente prejudicial aos leitores. O inventor dessa sandice não entende patavina de jornalismo nem de administração de empresa. Mereceria o paredão.

 VENDA DE JORNAIS

Me perguntaram outro dia em reunião de editores quais eram os reflexos da venda de jornais depois da divisão cronológica da divulgação das pesquisas eleitorais. Respondi que não temos controle nem estratégico nem estatístico sobre o setor de Circulação. Chega-me agora a informação de que se registrou muito mais demanda do que exemplares do jornal numa região de Santo André cuja morte de três assaltantes foi manchete na edição de sábado. A falta de sinergia entre as diversas áreas da empresa nos impede de responder com precisão a indagações que procurem aferir o grau de eficiência de políticas editoriais. Por isso, não resiste a qualquer avaliação mais segura a interpretação de que o jornal melhorou ou piorou como produto de banca se não houver um feixe de informações e ações consistentes. Precisamos adotar medidas que desloquem o produto para pontos-de-venda de acordo com as especificidades da edição.

 DIÁRIO ONLINE

Teremos série de reuniões esta semana, entre as quais com profissionais do DOL. O Diário virtual está sob nossa responsabilidade entre outras razões porque é insumo jornalístico. Já ouvi histórias estranhas sobre competição interna envolvendo o jornal de papel e o jornal eletrônico. O que posso adiantar é que o jornal de papel não pode ser canibalizado por qualquer outro produto da empresa. Tanto que deslocamos os horários de aproveitamento das pesquisas eleitorais, retirando o jornal virtual da faixa de antecipação dos dados preparados pela redação do jornal de papel. A divulgação antecipada ou mesmo em paralelo com o jornal de papel seria inadmissível porque em primeiro lugar quebraria todo o esquema de sigilo que procuramos adotar e, em segundo, porque retiraria os leitores das bancas e os levaria para diante do computador. 

 EDIÇÃO CINCO 

Grande ABC, segunda-feira, 16 de agosto de 2004. Uma semana depois, estamos de volta com mais uma edição desta newsletter especialmente preparada para os colaboradores, acionistas e diretores do Grupo Diário. Temos uma porção de assuntos para dar tratos à bola. É provável que nem tudo esteja aqui, mas temos certeza de que os pontos principais ocuparão os espaços que se seguem.

Lembramos a todos que não desgrudamos os olhos, a atenção e a preocupação com os pressupostos do Planejamento Estratégico Editorial que elaboramos em março e que passamos a aplicar efetivamente desde 21 de julho, quando assumimos a responsabilidade de compartilhar os destinos dos insumos editoriais do Grupo Diário. Trata-se de uma tarefa extraordinariamente importante.

 PAUTAR, NÃO SER PAUTADO (I)

Temos insistido muito na importância de a redação pautar e de não ser pautada. Infelizmente, sofremos recaídas lamentáveis ao longo da semana. Principalmente na Política e na Economia. Apesar de tudo, considero a enfermidade curável com o repasse contínuo de conceitos. Precisamos de agregado de conhecimento mais sólido em todas as editorias para impedir que os manipuladores de informações tomem conta da redação, como ocorreu durante muitos anos. Temos dialogado frequentemente com editores a respeito do assunto e voltaremos a fazê-lo. Contarei com os profissionais da secretaria para adensar a conceituação-eixo que moverá nossos passos.

 PAUTAR, NÃO SER PAUTADO (II)

Já disse que valemos o que escrevemos. Se damos destaque a determinado assunto que interessa mais de perto a um grupo específico, sinal de que usamos metralhadora para matar uma mosca. Entendo que é difícil romper com a tradição de abertura total e irrestrita das comportas do jornal a grupos de pressão, entregando-lhes a alma, o coração e a sensibilidade jornalísticas. Mas esses tempos acabaram, podem acreditar. Devagar, devagar, vamos colocar muita gente no eixo. Gente que estava acostumada a mandar na redação, enviando emissários que desfilavam versões estapafúrdias que o jornal repassava impunemente aos leitores. Agora somos nós que vamos brincar de rato e gato. Temos de ancorar os acontecimentos e as tendências na região. Não podemos perder a percepção de que nosso veículo é muito mais importante do que imaginamos.

 NOVO REFORÇO

Finalmente contaremos a partir de hoje com novo reforço no jornal. A chegada de Marcelo Moreira, ex-Gazeta Mercantil, soma-se à de Eduardo Reina, ex-Diário de São Paulo, como forças de Secretaria. Marcelo e Eduardo se juntam ao Sasaki, ao Paulo Carneiro e ao Milani como linhas de frente da cúpula de redação. A eles delegarei maiores recomendações sobre a forma mais conveniente de atuar em busca de um produto melhor.

 NOVA SOCIAL

Um novo desenho do Informediário deverá ser publicado a partir desta terça-feira. A coluna ganhou o reforço de Carla Fornazieri, da Editora Livre Mercado, que passou a ocupar áreas temáticas que o jornal cobria muito mal. Acredito que Cristie e Carla formarão uma grande dupla. Pretendo deslocar Informediário da editoria de Cultura & Lazer para a Secretaria. Vamos conversar a respeito do assunto hoje.

 FIM DA BUROCRACIA

Marcelo Moreira e Eduardo Reina chegam com várias missões. Entre as quais menciono a necessidade de desburocratizarem a operação do jornal. Escrevo no Planejamento Estratégico Editorial a respeito do assunto. Os editores do jornal precisam e devem escrever. Não é possível que grande parte deles não consiga aparecer nas páginas do jornal. Vamos retirar-lhes as funções de paginadores e colocá-los na linha de frente.

 BANCO DE HORAS (I)

Sem apresentar detalhes da proposta à diretoria e acionistas da empresa — antecipei apenas que pretendia ajudar a desenrolar o novelo criado por um estúpido que criou o banco de horas no modelo que o jornal apresenta –, sugeri uma margem de negociação aos representantes dos jornalistas desta empresa. Espero que o bom senso prevaleça. A situação financeira do Diário não é das melhores, como se sabe. Estou conseguindo negociar a não-demissão de profissionais da redação. Pedi e consegui tempo da diretoria para analisar o grupo. Acredito que o jornal precisaria, sim, reforçar a equipe de redação, mas essa é, ainda, uma posição precária. Acho que o jornal está esfacelado sob o ponto de vista estrutural de redação e só será possível melhorar com muita eficiência, cuidado, empenho e determinação. E sem o banco de horas.

 BANCO DE HORAS (II)

Pretendo receber no próximo dia 22 o balanço dos meus primeiros 30 dias como diretor de redação. Preciso dos números sobre o comportamento do banco de horas entre 21 de julho e 21 de agosto, período que completa meu primeiro mês na empresa. Quero especificamente os números do banco de horas comparados com o período de três meses anteriores. Precisamos de dados referenciais para consubstanciar ações. Espero que os editores estejam praticando o que lhes recomendei em reuniões: façam a gestão do produto que está sob sua jurisdição. Isso significa não só o controle de insumos produzidos como também o tempo despendido individual e coletivamente pelos colaboradores. Precisamos de paradigmas de empreendedorismo interno para dar efetivas respostas aos desafios. O banco de horas é um bumerangue que, se não resolvido, vai fazer muitas vítimas na redação. É uma questão lógica sob o ponto de vista empresarial porque avoluma-se terrivelmente o passivo nesse quesito.

 CONSELHO DE JORNALISTAS

Vou reproduzir numa edição específica desta newsletter, hoje, o artigo assinado por Mino Carta, de CartaCapital, sobre o Conselho Federal de Jornalismo. Com outras palavras e exemplos, o decano da imprensa brasileira escreve exatamente na mesma linha deste jornalista, cujas ideias preliminares foram impressas no “Contexto” de domingo. O fato é que precisamos, como classe, contar com muito mais proteção contra os malversadores de informações e de interesses. E isso só será possível com um Conselho Regional de Jornalismo democraticamente representado por jornalistas de diferentes veículos de comunicação. Abaixo os aproveitadores hierárquicos que mandam e desmandam em redações por esse Brasil afora, diante de uma classe jornalística omissa, quando não covarde.

 DIÁRIO ONLINE (I)

Falei rapidamente na sexta-feira com Carlos Serrão, do Diário Online. Fiz ver-lhe, sem rodeios, que, até prova em contrário, o produto está superestimado em custos, comparativamente aos valores de receita. Mas que isso não significa, necessariamente, que os cortes devem ser profundos. O próprio Serrão admite que há possibilidade de redução de custos. O fato é que há determinação diretiva de melhoria de rendimento da empresa e nesse sentido o Diário Online, entre outros produtos, estaria na linha de corte. Dois especialistas em Internet estarão nesta segunda-feira na empresa, a meu pedido, para avaliar o Diário Online sob vários aspectos. Ficaria muito feliz se a empresa conseguisse superar as dificuldades e tornar o produto virtual tão bom quanto sustentável.

 DIÁRIO ONLINE (II)

A avaliação preliminar que fiz sobre os custos do Diário Online leva em conta comparativos com editorias do jornal. É possível que chegará o dia em que o jornalismo virtual superará o jornalismo impresso, mas creio, também, que há muito tempo se construíram algumas alegorias fantasiosas a respeito do assunto. Debate-se muito sobre audiência, mas quando se confronta a necessidade de geração de recursos testados e aprovados pelo critério de consulta às páginas, os idólatras da Internet ficam reticentes. Sou francamente favorável ao uso intensivo do campo virtual — por isso criei Capital Social Online há quatro anos e uso este novo ferramental para me comunicar com a companhia –, mas não posso me tornar tiete irresponsável de algo que, por razões diversas, no caso do Diário Online, não só não se sustenta como canibaliza o jornal de papel. O Serrão me parece profissional sério e comprometido com resultados. Tomara que a empresa consiga superar as dificuldades financeiras sem precisar recorrer a medidas drásticas. A animosidade entre a redação do jornal de papel e o jornal eletrônico será superada sem problemas. Creio muito nisso, mas para tanto é preciso se respeitar limites editoriais.

 FOLGAS NA COMPANHIA

Sugiro aos editores que evitem gozar de folga às sextas-feiras. Como se sabe, o fechamento de sexta-feira tem grande influência sobre a edição de sábado, de domingo e de segunda-feira. Folgar na sexta-feira significa, entre outras questões, entregar a editoria a profissional que, por melhor que seja, não conduz o dia-a-dia do setor. Esticar o final de semana com a folga de sexta-feira é uma ótima alternativa para quem precisa descansar, mas não é a melhor das pedidas para quem quer fazer um jornal interessante.

 NOVOS HORIZONTES

A manchete de domingo do nosso jornal pode ter decepcionado alguns políticos que sempre fizeram mau uso de nossas páginas, mas mostra aos leitores o quanto temos nossa liberdade editorial reconquistada. Aqueles que imaginam que o Diário se submeterá às conveniências de plantonistas de tutela vão quebrar a cara. Não temos compromissos com ninguém e contamos com retaguarda acionária que nos assegura a execução de nosso projeto de potencialização do jornal. Seremos cada vez mais respeitados como publicação na medida em que não nos submetamos a injunções de qualquer espécie. Não faltam detratores a espionar nossas atividades porque eles imaginam que reproduziremos tempos nada gloriosos. Vão cair todos do cavalo. Poderemos errar, cometer deslizes, mas jamais sob o jugo de tiranos de plantão.

 QUESTÃO DE QUALIDADE

Sonho com o dia em que o jornal terá a mesma qualidade, a mesma acuidade, a mesma precisão analítica da revista LivreMercado. Estamos utilizando alguns dos profissionais daquela publicação justamente porque precisamos ter alguns espelhos de qualificação. Sei perfeitamente o quanto a redação do jornal sofreu ao longo dos tempos e o quanto foi submetida a exercícios arbitrários, por isso a recomposição será gradual e sistemática. Nada mais interessante, portanto, que os leitores possam ser brindados com eventuais incursões de profissionais da revista. Temos em nossos quadros do jornal muitos profissionais que subirão de produção na medida em que se sentirem fora da zona traumática de indecisões editoriais do passado. Por isso estamos insistindo na importância de se descontaminarem. Não se deixem levar pelos falseadores de informações. Não tenham medo de avançar o sinal, porque, em última instância, os editores saberão como agir. E, se não souberem, estamos à disposição para dirimir dúvidas. 

 COZINHA E JORNALISMO

Se há algo com que não devemos nos preocupar ainda é com a venda de exemplares nas bancas. Temos inconformidades em várias áreas da empresa que acabam por entorpecer reações de qualidade da redação. É insensatez imaginar que um restaurante dará grandes saltos de receitas apenas por trocar de cozinheiro. Se o atendimento continuar falho, se os preços estão fora do mercado, se a higiene não for devidamente cuidada, se o marketing for canhestro, se a imagem de erros do passado não for devidamente neutralizada, se as mesas forem depósitos de mosquitos, se a iluminação for de má qualidade, se o som ambiente for de fanfarra, se tudo isso e muitos outros pontos não forem devidamente solucionados, o cozinheiro e seus auxiliares provavelmente serão dispensados — se o dono do restaurante entender de tudo, menos de negócio.



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