Confesso publicamente, e também humildemente, para não dizer acachapantemente, que não tenho a resposta segura e inviolável do quanto há de interesse da sociedade como um todo na atuação dos prefeitos da região nesta temporada em que prevalece o ambiente federal de eleições polarizadas.
Não só no ambiente político das eleições desta temporada, mas desde que o Brasil passou a viver atmosfera de Fla-Flu político-ideológico com o desembarque da caravana da direita comandada por Jair Bolsonaro.
Temos desde então um confronto pedagógico. O “nunca antes” do então presidente Lula da Silva perdeu espaço para o “tudo somente agora” com que a mídia em geral trata a gestão de Jair Bolsonaro.
SEM COMPETIDOR
Até que desabrochasse no território nacional o outro lado do balcão do mercado de votos, o Brasil fingia que tinha dois times em campo (tucanos e petistas e suas nuances cromáticas) e o campo da direita era renegado pelos direitistas em geral, de direita extrema ou direita mais suave.
A cultura nacional de execração aos conservadores prevalecia como um combate aos pecadores. O inchaço do Estado perpetuava-se tanto quanto a ineficiência.
Em suma, entre os assumidamente de esquerda e os disfarçadamente moderados que dominaram a política nacional desde a redemocratização, tivemos uma turma burra que confunde capitalismo financeiro com capitalismo produtivo.
E é mais burra ainda quando não se dá conta ou finge que não se dá conta de que o capitalismo financeiro guloso e cruel só existe onde o Estado fracassa. Mas, vamos voltar ao que interessa.
VALOR AGREGADO
O que coloco em forma de desafio do que se passa na região em termos políticos e partidários e suas relações com a Administração Pública Municipal é tentar definir até que ponto temos de fato algo que se poderia chamar de interesse de valor agregado a reboque do ambiente nacional.
Outro dia escrevi aqui mesmo a respeito de uma pesquisa do Instituto Badra. Disse com todas as letras e pontuações que era um exagero enorme dar aos atuais prefeitos a coroação de níveis de aprovação que prefeitos de várias capitais e mesmo de algumas cidades do Interior jamais imaginariam. E que os resultados também conflitam com o histórico de pesquisas semelhantes nestas praças da região.
Cheguei a expressar um desafio-desabafo no sentido de que, fossem aquelas consagrações verdades, certamente a sociedade regional teria descido ao inferno da apatia cívica.
APROVAÇÃO DEMAIS
Uma sociedade com vitalidade não aceita e não patrocina índices tão elevados de aprovação quando se sabe das especificidades nacionais e metropolitanas que nos abatem, não fossem suficientes os infortúnios econômicos locais da industrialização do empobrecimento.
Mantenho a posição e continuo a achar que o Instituto Badra está mais para Instituto Badala. Afinal, aquela não foi a primeira vez que andou enfeitando o pavão dos prefeitos mandantes do jogo.
Noves fora essa observação, da qual não abro mão porque é o mínimo a esperar como válvula de segurança avaliativa de uma região, insisto, incrustrada numa metrópole de exigências sociais sempre alertas, vou seguido o desafio.
EXTREMISMO INFLUI
E o desafio é mesmo saber até que ponto os políticos da região, sobretudo os prefeitos de plantão, são escrutinados para valer, com senso crítico de região metropolitana, num momento sequencial de extremismos à direita e à esquerda.
A leitura também pode ser a seguinte, considerando-se que escanteio o Instituto Brada e suas alquimias: até que ponto políticas públicas dos atuais prefeitos não estariam subestimadas diante de extremismos do ambiente federal e também de rescaldos da pandemia?
Em tantos outros textos que fiz levando-se em conta o impacto sociológico na região desde que os celulares endiabrados passaram a fazer parte da cultura de comunicação individual e respectivas transformações, sempre deixei uma porta aberta a reposicionamentos, quando não ao cumprimento de avaliações complementares.
INFLUÊNCIA PODEROSA
Não teria coragem de apresentar sentenças definitivas sobre o futuro do Grande ABC diante desse choque tecnológico. Levo em conta as características morfológicas dessa construção de puxadinhos sociais ao longo de temporadas e, principalmente, da gigantesca capital tão vizinha quanto indutora do Complexo de Gata Borralheira.
Por essas e outras volto a especular sobre a identidade e as características do Grande ABC tendo como indexador essas mudanças que desconhecem fronteiras e culturas municipais e regionais.
Sei que estou na corda bamba, mas não tenho medo de permanecer balançando o coreto tanto meu quando dos leitores.
BANDA TECNOLÓGICA
O pior dos mundos mesmo seria ver a banda da tecnologia de bolso passando em nossa janela do tempo sem se dar conta de que é preciso estabelecer um jogo reativo que vise dar trança-pés nos obstáculos que se apresentam.
O pior da vida vivida é desprezar as oportunidades de tentar compreender o que se passa em nosso entorno.
Estar nesse mundo com o olhar perdido da dispersão e da desatenção é como se a vida não valesse o que vale. E acreditem que vale muito para ser desperdiçada a cada minuto que passa rápido a cada 60 segundos.
Exponho em seguida alguns posicionamentos que fazem parte do guarda-chuva que poderia levar às respostas ao questionamento que faço e refaço com evidente curiosidade.
Por outro lado, é preciso colocar na conta de prognósticos que esse mesmo guarda-chuva poderia embaralhar ainda mais o jogo de compreensão do que somos politicamente nestas alturas do campeonato, ou seja, de estar na periferia da Capital mais importante do País e diante daquela que poderá ser a disputa presidencial mais impactante desde a redemocratização. Vamos lá, então:
1. Quando a maioria da população está escravizada pelos aparelhinhos demoníacos de celulares e seus aplicativos, os quais despejam diariamente centenas de mensagens, imagens, textos e tudo o mais, o que sobra de tempo para dar atenção à classe política local?
2. Se nossos prefeitos, ou a maioria deles, foge de debates que o identifiquem como lulistas ou bolsonaristas, ou tucanos rodriguistas e amarelos freitistas, como imaginar que entrarão em rota de colisão com a maioria do eleitorado voltada à Brasília e em menor escala ao governo do Estado?
3. Se a mídia regional de maneira geral e irrestrita é uma caixa de ressonância de políticas públicas oficiais dos respectivos prefeitos, numa operação bem concatenada pelos poderosos de plantão que não são bobos nem nada, o que esperar de um eventual despertar analítico menos adocicado de formadores de opinião ocupados com as crises gêmeas da região e do País?
4. Como acreditar que por conta de tudo isso sobrarão tempo, disposição, ânimo e mesmo coragem para a sociedade como um todo encarar o jogo jogado nas cidades locais? Entre as prioridades ao engajamento político dos mais letrados ou dos mais fanáticos, não restaria quase nada de comprometimento com o que se passa nos paços municipais porque os paços municipais podem ficar para depois e mesmo que fiquem para depois as eleições de 2020 mostraram que o depois também não é lá essas coisas.
5. Até que ponto nas eleições municipais de daqui a dois anos e meio haveria mudança de comportamento político voltado aos interesses específicos das respectivas prefeituras se o quadro estadual e nacional se mostrar ainda mais enraivecido?
6. A especificidade cultural de um Grande ABC cortado e recortado territorialmente no século passado, gerando um mostrengo administrativo de sete cabeças, seria um redutor ou um irradiador de percepções em torno da individualidade dos prefeitos nesse ambiente de embates nacionais?
7. A ausência de mídia de massa própria e a massificação de aparelhos portáteis que guardam pouca afinidade regional não tornariam ainda mais potencialmente desperdiçáveis os votos do eleitorado também agora para os cargos de deputado estadual e federal?